As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

terça-feira, 31 de maio de 2011

A Biblioteca Ambiental da SEMA em Macapá

A SEMA é um órgão da Administração Direta do Poder Executivo do Estado do Amapá, criada para formular e coordenar as políticas de Meio Ambiente do Estado. 
Placa da CEMA (1992)
Sua origem foi como Coordenadoria Estadual do Meio Ambiente (CEMA), através do Decreto 0011 de 12/05/1989 e sendo regulamentada pelo Decreto 0304 de 18/12/1991, com a finalidade de orientar a política de Meio Ambiente do Estado do Amapá.
No decreto, entre os objetivos da CEMA estava a formação de acervo técnico, material informativo, divulgação e organização de documentação histórica e cultural relacionada ao meio ambiente. Estava se iniciando a Biblioteca Ambiental da SEMA.

Em sua história a SEMA passou por importantes reformulações:


- Em 1996 deixou de ser Coordenadoria (CEMA) e passou a ser Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA), através da Lei 0267 de 09/04/1996.

- Em 1997, a Lei 0338 de 16/04/1997, transformou a SEMA em Secretaria de Estado Ciência e Tecnologia.

- Em 1999, a Lei 0452 de 09/07/1999, separa a Área de Ciência e tecnologia da Área do Meio Ambiente. Voltando a sua anterior denominação de SEMA.

- Em 2007, a Lei 1.073 de 02/04/2007, altera dispositivo da Lei 0811, de 20/02/2004, que dispõe sobre a Organização do Poder Executivo do Estado do Amapá. No mesmo dia o Sistema Estadual de Meio Ambiente passa a contar com o IMAP, criado através da Lei 1.078.
Biblioteca SEMA (1995)

 
Cartaz do ano 2000                                Cartaz do ano 2007

Durante esse processo a Biblioteca Ambiental da SEMA foi se estruturando, desenvolveu o Projeto de Implantação de Bibliotecas Ambientais nos Municípios  e hoje está localizada em um prédio reformado.
Prédio da Biblioteca SEMA em reforma (2009/2010)
Blocos da SEMA em reforma (2009/2010)
Em sua estrutura a Biblioteca apresenta:
Sala de Leitura 

03 Computadores on-line para pesquisas

Memorial Ambiental (Documentos da Instituição e EIA-RIMA de empresas no Estado do Amapá). Alguns desses documentos são:
  • Projeto Tracajatuba (EIA/RIMA 2010),
  • PCH Capivara (EIA/RIMA 2008),
  • Aproveitamento Hidrelétrico Ferreira Gomes (EIA/RIMA 2010),
  • Terminal MMX (EIA/RIMA 2006),
  • MPBA (EIA/RIMA 2006),
  • Projeto Amapari - Mineração Itajobí (EIA/RIMA 1999),
  • Aeroporto de Macapá (EIA/RIMA 2006),
  • Hidrelétrica de Santo Antônio (EIA/RIMA 2009),
  • Estudo e Diagnóstico  do Sistema de Abastecimento de Água, Drenagem e Esgoto em Macapá e Santana (2005),
  • Perfuração Marítima na Foz do Amazonas (EIA/RIMA 2010),
  • entre outros.
Acervo Técnico na área ambiental (Livros, folhetos e periódicos)

Videoteca - Alguns vídeos de maior procura são:
  • Unidades de Conservação do Amapá,
  • APA da Fazendinha,
  • RDS do Rio Iratapuru,
  • APA do Curiaú,
  • PARNA do Cabo Orange,
  • Série Natureza Sabe Tudo,
  • Globo Repórter PARNA Tumucumaque,
  • Globo Mar Pororoca no Araguari,
  • Globo Repórter Amapá, Terra das águas,
  • Nossa água, Nossa Vida,
  • Verdade Inconveniente,
  • Globo Rural Especial Buriti,
  • Globo Repórter Amazônia Francesa,
  • Mudanças Climáticas,
  • Vira Volta, Vira Plático,
  • Desmatamento na Amazônia,
  • Parque Municipal do Cancão em Serra do Navio,
  • Vídeos sobre Dengue,
  • Comitê Ambiental da Ressaca do Pantanal,
  • Agente Ambiental Comunitário,
  • Bailique e Parazinho,
  • Série Reciclagem,
  • Projeto Jarí,
  • Corredor da Biodiversidade do Amapá,
  • Fortaleza de São José de Macapá,
  • Animação Lendas,
  • entre outros.
Diários Oficiais do Estado do Amapá


Folder da Biblioteca SEMA e o Projeto Bibliotecas Ambientais nos Municípios (SEMA/2007)
Sua localização é no prédio da SEMA:
Av. Mendonça Furtado - Nº 53, Bairro Central - Macapá
(atrás da Biblioteca Pública e Igreja de São José).
Google Mapas/2011
 O horário de funcionamento é de segunda a sexta-feira:
- Manhã: 8h às 12h
- Tarde: 14:30h às 18h
Telefone: (096) 3212-5385
sema.ap.gov.br
                               Acervo da Biblioteca / Dona Nelziana                                        
Acervo da Biblioteca / Dona Gracieth
Dona Gracieth foi Gerente do NIDA no I Semestre/2011
Rosa Dalva é a Gerente no II Semestre/2011 
       Acervo da Biblioteca / Folhetos
Rogério Castelo / Memorial Ambiental

Memorial Ambiental / Computadores on-line
            Sala de Leitura / Manoel e Clementino   
               Aline / Denilson     
Edgar (Maycon Tosh) / João     
As bibliotecas são locais de aprendizagem e de aquisição de conhecimento. As ambientais, além dessas características, fomentam o desenvolvimento de cidadãos ecologicamente conscientizados, dando suporte para a pesquisa sobre o meio ambiente.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

XODÓ: Esquina da saudade com a boêmia


Faço aqui o resgate de textos, pois sei de sua importância na história dessa cidade ou Estado. Limito-me a publicar os textos na íntegra, com os devidos créditos, na certeza de estar propagando algo já esquecido, destinado ao esquecimento ou pouco visto na atualidade.

O texto a seguir trata do Bar Xodó, um bar tradicional em Macapá que começou a funcionar no início dos anos 70. Foi publicado no Jornal do Dia, de 27 e 28 de fevereiro de 1994.

XODÓ: A esquina da saudade com a boemia
 Texto de Cláudio Mendes


Macapá mudou muito nos últimos 23 anos. O tempo passou rápido e até mesmo despercebido, transportando gerações após gerações. No entanto o velho Bar Xodó continua ali (Jornal de 1994), bem na esquina da rua General  Rondon com a avenida Iracema carvão Nunes, no centro da cidade, sempre de cara nova e parecendo observar tudo o que acontece ao seu redor.  Se pudesse falar, com certeza, relataria fatos bem interessantes que certos pais ainda não contaram aos filhos.

Muitos de seus atuais freqüentadores nem sequer desconfiam, mas aquele tão bem equipado bar já foi um humilde boteco, porém, sempre de primeira categoria. Funcionou primeiramente no Santa Rita, no tempo em que o bairro era considerado o mais movimentado da cidade se tratando de vida noturna. Na esquina onde está localizada atualmente a Madeireira Amazônia, o Xodó ficou durante um ano, quando mudou-se para o local onde mantem até os dias atuais.

TEMPO DE CAVALO E BOIS

No início da década de 70, época em que ainda se podia ver cavalos e bois caminhando pelo centro da cidade, o comerciante Albino Marçal resolveu alugar o ponto comercial pertencente ao prédio Arnô. Parecia ser o início de um grande negócio. O Colégio Amapaense já havia sido construído e lá “estudavam” alguns jovens boêmios que adoravam matar aula para curtir uma boa farra. Definitivamente, aquele era o local ideal para a nova instalação do bar.

Para conquistar rápida freguesia, Albino não deu moleza. Uma vela aqui, um incenso ali, uma boa oração à São Benedito e em pouco tempo o pequeno empreendimento se tornou um dos mais freqüentados da cidade. Deixou de ser chamado de bar da Esquina, popularizando-se com seu verdadeiro nome: Bar Xodó. Por ele passaram muitas gerações de jovens que muito andaram aprontando.

Começou a funcionar no início dos anos 70.
Albino conta que nos primeiros anos de funcionamento do bar havia uma turminha que sempre dava o que falar. A tão agitada turma era formada por jovens estudantes como Roberto Rodrigues, Roberval Picanço, Maurício Mescouto, Luíz Eduardo (o popular Run), Paulão do Atabaque; Eitor Picanço Júnior e outros. Certo dia a turma se reuniu no bar, comprou uma garrafa de bebida e resolveu tomá-la em cima da caixa d’água, localizada em frente ao IETA. A polícia chegou e fez todos descerem, mas no momento em que a turma descia, alguém exclamava: “falta o Run, falta o Run”. Um dos policiais não sabendo do que se tratava retrucou: “Vocês já tomaram todas e ainda querem Run?”. Nessa ocasião o Run, que não era bebida, mostrava a carinha de fininho.

Mas os tempos mudaram e os integrantes da antiga turminha da pesada se tornaram pessoas bem sucedidas. Infelizmente, Eitor Picanço (Eitorzinho) e Paulão do atabaque já são falecidos.

Albino também conta que em outra noite, o soldado que encontrava-se de plantão no Palácio do Governo, chegou apavorado no bar porque teria visto um bicho pela redondeza. Todos que estavam presentes, inclusive alguns membros da “turma da pesada”, se armaram de pau e pedra para enfrentar o tal bicho. Foi o maior corre-corre até todos perceberem que tratava-se de um tamanduá-bandeira que acabou parando na panela de um deles.

É isso aí. Até tamanduá-bandeira passeava pelo centro de Macapá no início da década de 70, quando o bar Xodó começou a funcionar. Aquele era o tempo em que calça boca de sino e blusa de lastex faziam sucesso. O esmalte Cutéx era o favorito das meninas e a brilhantina ainda era muito usada pelos rapazes.

OUTRA GERAÇÃO

Quando chegaram os anos 80, o Xodó já havia se tornado tradição. O Colégio Amapaense havia recebido mais um pavimento, que agora atendia a um maior número de estudantes e, consequentemente, o bar ganhava mais freqüentadores dia e noite. O Xodó conheceu muitas mulheres bonitas e sempre soube atendê-las muito bem. Albino Marçal disse que Sandra Ohana Nery, considerada uma das mais belas misses que o Amapá já teve, também foi sua freguesa e quando por lá passava, não conseguia evitar os galanteios. “Era carro buzinando pra todo lado”, relembra o dono do bar.

A amizade da jornalistas Márcia Corrêa e Hanne Capiberibe existe há muitos anos. As duas cresceram juntas e quando estudantes do Colégio Amapaense, sempre davam uma escapadinha para papear no Xodó. Tanto Márcia como Hanne sempre tiveram idéias revolucionárias e agitavam o movimento estudantil da época. “Era um tempo de inesquecíveis amizades. No bar Xodó acontecia de tudo”, relembra Márcia.

Foram tantos os fatos que aconteceram envolvendo o Xodó, que hoje o bar é tido por muitos como um verdadeiro patrimônio da cidade. Se algum dia deixar de existir, com certeza deixará também muitas saudades.

Em 1995 o Xodó fez bodas de prata, contando com o ano que funcionou no Santa Rita.

O lugar hoje é ocupado por uma loja.
Jornal do Dia (27 e 28 de fevereiro de 1994).

O sangue que corre na tua veia (Banda Yesbanana)

A Banda Yesbanana, criada em 2003, por Judas Sacaca, Valério de Lucca, Alvaro Gomes e Alan Gomes, surgiu da necessidade de resgatar o rock no Amapá.
“O sangue que corre na tua veia” teve veiculação em todo o país inclusive na “MTV” onde obteve uma boa repercução, feito inédito se trando de uma banda do Estado do Amapá. (Fonte: myspace.com/yesbanana).

 O Sangue que corre na tua veia
(Banda Yesbanana)

Ei irmão! A tua cor é tua onda!
Que papo errado é esse de ser uma sombra?
Nem tudo que parece é, nem tudo que parece foi
Da vida a gente leva fé e a vida é o que se compõe

O sangue que corre na tua veia
Que corre na veia

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A verdadeira história do Bar Caboclo

Vendo velhos recortes de jornais, encontrei uma reportagem sobre o Bar Caboclo. Sabe-se que se tornou histórico em uma Macapá de outros tempos (década de 60), com suas histórias e boêmia, inspirando também a mais conhecida peça teatral no Amapá.  
Era freqüentado por caboclos vindos das ilhas do Pará e por trabalhadores da ICOMI e da Usina Coracy Nunes. Os estilos musicais em voga na época eram o bolero, samba e merengue. As mulheres mais famosas eram: Maria Batelão, Quinta Feira, Cinco Mil , Vadoca, entre outras.  
Num resgate da história, posto a matéria na íntegra. A data precisa não deu para indentificar, mas foi publicada pelo Jornal Folha do Amapá, em 1995. O texto é assinado por Cláudio Mendes e a resenha sobre a peça teatral é de Archibaldo Antunes
O jornal foi consultado na Biblioteca Municipal de Macapá.

A VERDADEIRA HISTÓRIA DO BAR CABOCLO

Bar Caboclo:
inauguração de
seu segundo endereço
Bastou apenas a decisão de um comerciante para que uma história de mais de quatro décadas chegasse ao fim e deixasse estampada a tristeza no rosto de seus protagonistas. O popular Bar do Chico, localizado na esquina da rua São José com a avenida Mendonça Júnior, foi demolido na última semana para dar lugar a uma edificação moderna. Com isso, o que restava da memória viva do velho Bar Caboclo deixa de existir e a esquina da boemia passa a ser a esquina da saudade.
Local de mulheres extrovertidas e homens valentes, o Bar do Chico era o único sobrado de madeira no centro comercial da cidade que vinha resistindo ao progresso. O ambiente era movimentado de domingo a domingo e no período de pagamento a freguesia aumentava. Todos sabiam que naquele velho sobrado a profissão mais antiga do mundo ainda podia ser exercitada à moda antiga.
Como nos velhos tempos em que se usava o palavreado “cabelo, barba e bigode” para deixar subtendido que as prostitutas topavam tudo com o freguês. Resumindo, o Bar do Chico era, de fato, resquício do Bar Caboclo, cuja história ninguém conta melhor que seu próprio fundador, Abrão Serrão de castro. Hoje, aos 73 anos de idade (Jornal de 1995), ele relata o quanto foi importante para ele aqueles anos boêmios.
Bar Caboclo: inauguração de seu segundo endereço
O INÍCIO DA HISTÓRIA

No final dos anos 40, um homem vindo da cidade de Mazagão Velho resolveu montar um negócio. Comprou a área onde funciona atualmente a sede do Sindicato dos Bancários e lá montou uma venda, construída em madeira. Um ponto comercial simples, porém, bem equipado. Lá tinha confecções, picolé, sorvete, produtos alimentícios, suco, refrigerante, aguardente e um nome sugestivo: Bar caboclo. Abrão havia despertado a atenção do povo de uma simples cidade onde quase não havia entretenimento e tudo era novidade.
O bar ficava em área alagada, onde pontes de madeira serviam como passarela para o vai-e-vem dos dias e das noites. O novo ponto comercial da cidade foi visto como uma mina de ouro por mulheres que sobreviviam da prostituição. Não havia local melhor na cidade para se conseguir fregueses. Ali próximo atracavam todas as embarcações que chegavam à Macapá trazendo caboclos ribeirinhos e também marinheiros estrangeiros que ao desembarcarem faziam logo procuração pelo bar.
De acordo com Abrão, o Bar Caboclo nunca serviu como pista de dança e muito menos chegou a ser hospedaria de prostitutas. Segundo ele, o que não faltava eram quartos naquelas imediações para que elas desenvolvessem suas atividades.
“Eram apenas minhas freguesas. Me davam certo problema porque afastavam outro tipo de freguesia. Mas não poderia proibi-las de entrar no bar, mesmo porque elas também me davam lucro”, conta pensativo.
O proprietário do bar tinha lucro com as prostitutas porque quando um freguês se engraçava com alguma delas não tinha pena de esbanjar dinheiro. Abrão cita um costume das freqüentadoras de seu bar: “Adoravam pedir para os caboclos pagarem cerveja para elas e me diziam no ouvido para eu esquecer a bebida e entregá-las o dinheiro mais tarde. Nunca gostei disso”.
Quando os marinheiros não tinham dinheiro para pagar o serviço de bar e o serviço das mulheres, sempre deixavam jóias para cobrir a dívida. Abrão exibe até hoje um anel que recebeu de um gringo (jornal de 1995). Quanto aos caboclos, esses, quando não tinham dinheiro para cobrir suas despesas, o dono do bar até que aceitava um pagamento posterior. Mas com as prostitutas não tinha acordo. A pancada comia e a Guarda Territorial entrava em ação. 
O bar enfrentava outros problemas. Macapá era abastecida de energia das 22h até às 6 da manhã. Por determinação da Guarda Territorial o ponto poderia funcionar apenas até a meia-noite. “Era a época em que tínhamos como Governador Evanhoer Gonçalves e havia um delegado de polícia chamado Isnar Leão que não dava mole. Ninguém ficava fora de casa depois da meia-noite”, enfatiza Abrão.

UM NOVO BAR


O ponto comercial de Abrão deu certo e em três anos ele inaugurou um outro bar, todo em alvenaria, muito mais equipado e pintado em cor rosa. No seu interior tinha uma gravura, de um casal de índios, feita pelo pintor Herivelto. Era um prédio, segundo Abrão, bastante chamativo. Havia poucos como aquele na cidade. O empreendimento mudou de cara e de local, mas o nome permaneceu o mesmo.
Agora o bar caboclo passava a funcionar onde está localizada atualmente uma loja de discos. A freguesia aumentava mais ainda. Em menos de uma hora de funcionamento o comerciante conseguia vender quase quatro grades de cerveja. O bar já era freqüentado até por p3essoas consideradas da “alta”, mas alguns homens não admitiam que suas mulheres pisassem no local. Há um antigo comentário de que um radialista da Rádio Difusora de Macapá chegou a ir buscar sua esposa aos tapas na porta do bar. Ali também era considerado o ponto da fofoca. Depois de alguns copos de cerveja, os homens costumavam fazer comentários sobre os casos de adultérios da cidade. Outro assunto de mesa de bar era virgindade. Todos pareciam saber quais as garotas que eram e as que não eram virgens.
Com o passar dos anos foram aparecendo outros estabelecimentos comerciais na cidade como as boates Merengue e Suerda. Como tudo o que aparecia em Macapá era novidade, essas casas chegaram a roubar a freguesia do Bar Caboclo. A Suerda funcionava como prostíbulo e suas prostitutas tinham fama de ser bonitas. Muitas vinham de outros estados para disputar o mercado com as amapaenses do Bar Caboclo. Mas essa concorrência não foi fato para prejudicar o sucesso do ponto comercial de Abrão. As freqüentadoras do bar caboclo não inflacionavam o preço de seus serviços e recuperavam seus fregueses.
Seria um erro falar sobre o ponto comercial de Abrão sem citar que o bar era uma espécie de reduto dos literatos e jornalistas da época. Muitos deles não iam para o bar com intenção de pegar uma prostituta e levar para um quarto. A movimentação de ir para a cama com alguma prostituta, as brigas, o comportamento de quem olhava o movimento de fora, a fofoca, enfim os intelectuais sabiam que estavam freqüentando um ambiente que ia entrar para a história do Amapá.
O poeta Isnar Lima declarou, em um artigo que escreveu para um jornal de Macapá, que foi no Bar caboclo que foi acometido de sífilis pela primeira vez. 

Apesar da fama, o local tinha um comércio diversificado.

O FIM DO BAR 


Abrão diz que com o aparecimento do Plano Cruzado ficou sem condições de trabalhar devido a crise financeira.

“A crise me pegou de jeito e tive que fechar o negócio”, lamenta. O velho Bar Caboblo foi alugado então ao comerciante Edivar Juarez que lá montou a loja Discão Sucesso. Foram anos de trabalho insuficientes para dar a Abrão a vida de homem rico. A história do bar Caboclo hoje é enredo de peça teatral. O que não é de agrado daquele que foi proprietário do bar. “Ninguém veio me procurar para saber da história. Tudo foi desvirtuado e é compreendido como fato verídico. Isso não poderia ter acontecido”, enfatiza.

Atualmente Abrão reside na avenida Iracema carvão Nunes, em frente a caixa Econômica (jornal de 1995). Divide uma casa simples com uma filha de criação e a esposa, Mirian Fonseca de Castro, que trabalhou também no bar, ao lado do marido, e hoje vive em uma cadeira de rodas compartilhando com Abrão as memórias dos velhos tempos.

Com o fechamento do bar caboclo, as prostitutas passaram a freqüentar o Bar do Chico que dificilmente era chamado pelo nome. As pessoas sempre se referiam ao ponto como se ali fosse o bar caboclo. Agora o sobrado foi demolido e lá será construída uma loja. As prostitutas nada puderam fazer para evitar o fechamento. Mas prepararam uma feijoada para dar adeus a uma história onde foram as personagens principais.
No último endereço, já perto do fim.
UMA MONTAGEM EQUIVOCADA
(Por Archibaldo Antunes) 
A opinião aqui expressa são considerações do autor do texto.
Resolvi conservá-las por expressar um ponto de vista. Cada um faça seu julgamento e tenha suas considerações.
A existência do Bar Caboclo seria restrita ao conhecimento de uma minoria se não tivesse sido pinçada para o palco. O teatro popularizou esse momento da história amapaense que, sem o toque de Midas das artes cênicas, estaria fadado ao ralo do esquecimento. Foram cerca de 100 apresentações em vários municípios do estado e fora dele, arrebatando públicos de vários níveis sociais e diferentes faixas etárias. No Piauí, em maio deste ano (1996), Bar Caboclo recebeu o “troféu aplausos”.

    O autor da peça, Disney Silva, garante que tentou ser fiel à realidade. Não foram seus lampejos de imaginação que construíram a trama mais conhecida do teatro amapaense, mas a história resultou de algumas pesquisas feitas por Disney. Não obstante a seriedade dos esforços, a peça é um exemplo de pobreza artística. Os personagens soam artificiais, inclusive o travesti Veruska, sem o qual “Bar Caboclo” seria um fracasso de público. Os excessos são inúmeros. Abusa-se dos palavrões quando estes deveriam ser usados em momentos-chave, causando no público o impacto que não mais existe pela insistente repetição. Há diálogos e situações desnecessárias, que parecem ter sido incluídas no texto à força de tapas e pescoções.

    Ademais, Bar Caboclo tem uma trama simplória, que se resume no seguinte: Xandico é um boêmio desocupado e sua vida desregrada é motivo para as brigas com Bebel, amante e prostituta. A chegada de um marinheiro agrava as divergências do casal, pois Bebel transa com o desconhecido, enquanto em primeiro plano Xandico é acometido por crise de ciúme. A cena termina em tragédia, com o boêmio assassinado pelo marinheiro. A tragicomédia reinventou uma realidade que está desvinculada da história do Amapá. Na tentativa de retratar hm momento social, as lentes do dramaturgo não poderiam deixar de registrar outras nuances daquele período. Pode ser que daqui a alguns anos a peça Bar caboclo seja lembrada apenas como uma forma de entretenimento, o que se ajusta muito bem ao seu perfil.

A peça teatral já teve inúmeras encenações e, vez por outra, tem a participação de convidados prá lá de inusitados, como Os cabuçus.

Acredito que sempre é válido conhecer e prestigiar o teatro amapaense que, bem ou mal, faz um resgate dessa história, de uma Macapá de outros tempos.

Jornal "Folha do Amapá", 1995


quarta-feira, 25 de maio de 2011

LENDAS DO AMAPÁ - A Pororoca

Antigamente a água do rio era amena, calma, e corria mansamente. As canoas à vela e remo navegavam sem perigo algum. A Mãe D'água, mulher do Boto Tucuxi, morava com sua filha mais velha na Baía do Marajó. Certa noite, na hora da janta, ouviram-se gritos: os cães latiram, as galinhas e galos cocoricaram. Tinham roubado Jaci, a canoa de estimação da família.
Remexeram, procuraram e não encontraram nada. Diante do resultado, a Mãe D'água resolveu convocar todos os seu filhos: Repiquete, Correnteza, Rebujo, Remanso, Vazante, Enchente, Preamar, Reponta, Maré Morta e Maré Viva. Ela queria que encalhassem a embarcação desaparecida. No entanto, passaram-se vários anos e nehuma notícia de Jaci. Ninguém a viu entrando em nenhum igarapé, algum furo, ou mesmo atracada em algum lugar. Certamente estava escondida.
Então resolveram chamar também os parentes mais distantes: os lagos, lagoas, igarapés, canais, estreitos, para discutir o caso, ficando provada a necessidade de se criar umas três ou quatro ondas fortes que entrassem em todos os buracos que encontrassem, quebrando, encalhando, destruindo tudo. Assim poderiam encontrar Jaci e o ladrão.
Ficou determinado que a caçula da Mãe D'água, Maré da Lua, moça danada, namoradeira e briguenta, avisasse qualquer coisa anormal que acontecesse.
De repente, pela primeira vez, surge em alguns lugares o fenômeno, empurrando madeira, invadindo rios, naufragando barcos, repartindo ilhas, ameaçando palhoças, derrubando árvores, abrindo furos e amedrontando pescadores.
E até hoje, sempre que a Maré da Lua vai ver a família é um "Deus-nos-acuda": ninguém sabe de Jaci e a cunhantã segue em frente,destruindo quem não ousa sair da frente, cumprindo as ordens do Boto Tucuxi, que resmungando danado da vida, diz: "Pois então continuem arrastano tudo". E assim a pororoca continua.

 Texto de Joseli Dias, no livro "Mitos & Lendas do Amapá"
...Mas que engraçado!! Na mitologia a pororoca é causada por Maré da Lua, filha do Boto Tucuxi, que ficou fulo por lhe roubarem a canoa preferida e nunca mais recuperar. /  Foto: latimesblogs.latimes.com
Veja também:
Cutias do Araguari (Parte 1 - O fenômeno natural da pororoca)