As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Lançamento de Livros em Macapá (Novembro/2011)

Os amantes da literatura tiveram a grata satisfação de conhecer novas obras em Macapá, publicadas este mês. Foram três os lançamentos que pude prestigiar e, claro, ter oportunidade de conhecer os autores e um pouco mais da história , contos e encantos desta Amazônia amapaense. Veja o que foi lançado e prestigie estes autores conhecendo suas obras:
Dia 04/11  - Lançamento do livro "Do lado de cá: Fragmentos da História do Amapá". Uma rica coletânea de 22 textos de diferentes autores (todos da área de ciências humanas e ligados ao Curso de História da UNIFAP), organizada por cinco professores da instituição (Alexandre Amaral, Augusto Oliveira, Dorival Santos, Paulo Cambraia e Sidney Lobato) e que faz um resgate de importantes passagens históricas deste Estado. O evento ocorreu no Centro Franco-Amapaense e contou com a presença maciça de muitos acadêmicos e estudiosos da história amapaense. "Do lado de cá" vem somar um pouco mais de  conhecimentos e reflexão  sobre a história e eventos ligados a esse pedaço da Amazônia tão desconhecido e que tem muito a revelar.
Rapaz!! O auditório do Centro ficou lotado, os organizadores teceram suas considerações e todos os autores foram apresentados. Foi o lançamento em que vi mais gente. Também! Trata-se de um importante material para o acervo histórico amapaense. Ih... essa mania é ridícula (ah, mas tô nem aí!!) e aí está o velho Samsa posando mais uma vez de papagaio de pirata. Ufa! Deu um trabalhão para que vários dos autores fizessem uma dedicatória. Deixo meus agradecimentos ao organizador Sidney Lobato, que doou um destes exemplares para a Biblioteca SEMA em Macapá - através da Gerente do NIDA/Biblioteca, a ilustríssima senhorita Rosa Dalva.
"...Os trabalhos reunidos na obra a seguir apresentam aspectos da vida brasileira, do lado de cá do país. Eles ressaltam processos históricos que, mesmo assumindo dimensões próprias no espaço amazônico, expressam tensões que constituem o drama brasileiro. Por meio deles, a Amazônia deixa de ser vista, unicamente, como reduto natural, no qual a humanidade parece sempre deslocada ou indevida. Tais trabalhos dão conta, ainda, da produção de conhecimento histórico a partir do lado de cá e testemunham que o Brasil, como disse o poeta, é muito mais que a zona sul." (Mauro Cezar Coelho)
"A obra que agora sai do prelo impressiona pelo seu tamanho e variedade de temas. Ela apresenta um novo e promissor momento da pesquisa histórica amapaense... É crescente o descontentamento em relação à falta de um sistemático estudo desta história nas redes estadual e municipais de ensino. Indo ao encontro de tal demanda, esta coletânea parece ter a vocação de ocupar o lugar de obra de primeira grandeza no estudo de nossa história." (Os organizadores)

Os textos (artigos) estão dispostos em 04 partes no livro:
PARTE 1 - Tramas do Poder: Estratégias, Projetos e Governanças
1) Nesse sertão não nomeio nenhum cabo de canoa: o público e o privado na Amazônia portuguesa do séc. XVIII (Paulo Marcelo Cambraia da Costa)
2) Em busca do país das amazonas (Janaína Valério Pinto Camilo)
3) A cruzada de Oswaldo Cruz nas tramas do poder: o tour de force e o combate à febre amarela na Amazônia (Alexandre Souza Amaral)
4) Integração, nacionalização e povoamento nas margens do território nacional (Maura Silva)
5) Os descaminhos da fortuna: a política de colonização no AP/1940-1958 (Sidney Lobato)
6) Os museus do Amapá e a modernização da Amazônia: a natureza nos escritos de Waldemiro de Oliveira Gomes / 1965-1970 (Evelanne Samara Alves da Silva)
7) Acordo quadro de cooperação Brasil-França: um estudo da política externa brasileira para a fronteira Amapá-Guiana Francesa (Carmentilla das Chagas Martins)
PARTE 2 - Amarras do discurso: sujeitos e representações nas lutas político-sociais
1) Veiga Cabral e os jogos políticos na transição da monarquia a república (Willian Gaia Farias & Raimundo Nonato da Silva)
2) O presídio de Clevelândia do Norte: a imprensa e as disputas políticas (Edson Brito)
3) A voz de Deus no lar amapaense: potencialidades de pesquisas no jornal A Voz Católica (Tatiana Pantoja Oliveira)
4) Representações sociais na história recente dos povos indígenas do Oiapoque/AP (Cecília Maria Chaves Brito & Simone Pereira Garcia)
5) Conflitos rurais no Amapá / 1970-1990 (Allyne Colares Távora Modesto, Kelly Leão Machado & Rafaele Costa Flexa)
6) Entre masmorras reais e imaginárias vicejou o terror: a violência do estado durante a ditadura militar no Amapá (Dorival da Costa dos Santos)
7) Movimentos sociais na nova república: AP em evidência (Ricardo Corrêa & Leonel Martins)
PARTE 3 - Faces do preconceito: etnicidade, negociação e conflito
1) A máscara e o espelho: revelando as desigualdades raciais no Amapá (Alexsara Maciel)
2) "Primeiro macumba era coisa de preto, de pobre, de marginal": as religiões afro-brasileiras em Macapá (Marília Nascimento)
3) As cotas raciais e os negros: da legitimação do racismo às lutas contra as desigualdades sociais no Amapá (Ney Oliveira da Costa)
4) Conflitos ambientais e processos de territorialização na comunidade negra da ressaca Lagoa dos Índios, em Macapá/AP (Cecília Bastos & Simone Garcia)
PARTE 4 - A (re) produção da riqueza: alimentação, moradia e relações de classe
1) Maldição de Tântalo: alimento e fome como contradição no desenvolvimento do AP (Augusto Oliveira)
2) "Uma ferrovia vara a selva": governo territorial, ferrovia e progresso (Ana Silva)
3) Capital, trabalho e moradia em complexos habitacionais de empresa: Serra do Navio e o Amapá na década de 1950 (Adalberto Júnior Ferreira Paz)
4) O cotidiano do trabalhador da ICOMI dentro e fora do espaço fabril: como se efetivava o controle social (Elke Daniela Rocha Nunes)
A obra pode ser adquirida em livrarias de Macapá.
Mais informações em escritoresap.blogspot.com

Dia 17/11 - Lançamento da obra "As Aventuras de Dona Florzinha" de Esmeraldina dos Santos. É no dia 20/11 que celebramos o Dia da Consciência Negra, data de reflexão e de muitos eventos educativos sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. O dia foi criado em 1965 e coincide com o da morte de Zumbi dos Palmares, ícone da história e cultura neste país. A Semana da Consciência Negra celebra isso e em 17/11 (na Escola Estadual Maria do Carmo Viana dos Anjos, no Bairro Jardim II) pude prestigiar um evento com exposição sobre o tema e o lançamento do livro da Esmeraldina.
Esmeraldina dos Santos é amapaense, nascida em Macapá, de raízes no Curiaú e autora do livro "Histórias do meu povo".
Na foto é a que está de saia verde e a senhora do meio é a Dona Francisca Ramos (protagonista da publicação).
Esta obra é direcionada ao público infantil e apresenta histórias vividas e contadas em textos curtos.
As ilustrações são de Silva e os desenhos podem ser coloridos pelas crianças. 
Lá está o Gregor Samsa na sua pose de sempre... solta esse queixo, rapaz, que não vai cair!
Veja aí um pouco da diversidade de coisas feitas pelos alunos, na exposição escolar. Parabéns a essa moçada! 
... Mais um pouco da produção dos alunos, houve também a venda de artefatos e apresentações culturais. Algumas pessoas encheram a bola, demais até, de Gregor Samsa, que foi apresentado como um intelectual da cultura amapaense.... que é isso! Meio sem graça, não pode permanecer muito tempo, pois havia fugido do trabalho em uma tarde movimentada na biblioteca, voltando a jato para suas funções!!! Valeu muito por conhecer a Esmeraldina, autora muito simpática e, esta sim, merecedora de todo agradecimento pela contribuição e incentivos a cultura do Amapá. 
Agradecimentos à autora pela soma de mais um tijolo na bonita e forte edificação LITERATURA DO AMAPÁ.
Dia 28/11 - Lançamento do livro "Mestre Açaizeiro e Assembléia dos Peixes" de César Bernardo de Souza. São dois contos amazônicos, o evento ocorreu na Assembléia Legislativa do Estado do Amapá e, paralelamente, houve a exposição de quadros do artista plástico Herivelto Maciel.
"Mestre Açaizeiro é um texto com características de realismo mágico que nos faz pensar na relação homem-natureza... O autor foi bastante privilegiado ao contar uma singela história que ressalta o amor, a ternura, a sensibilidade e o que há de mais elevado na alma do ser humano quando este demonstra a solidariedade, o interesse verdadeiro por seu semelhante e por todos os seres vivos que compõem a vida em nosso planeta. Já Assembléia dos Peixes é uma história em que irrequietos cardumes do rio Iratapuru, que passa no município de Laranjal do Jari, estão em polvorosa depois da morter do Mandubé, o que vai ocasionar uma verdadeira caçada ao assassino em muitos episódios - ora grotescos, ora engraçados, em que as suspeitas recaem sobre vários habitantes subaquáticos daquela região de floresta amazônica... A junção destas duas fábulas com certeza vai ao encontro de uma necessidade dos nossos estudantes e professores de tomar contato com uma produção literária de cunho ficcional que tem tudo a ver com a nossa realidade amazônica..." (Paulo Tarso Barros)
Gregor Samsa e suas papagaiadas!
Mais um vez, agradecimentos ao César pela boa obra. Particularmente, o tema contos amazônicos está em grande cota em minhas preferências.
Mais informações em LITERATURA NO AMAPÁ, o Blog da APES (Associação Amapaense de Escritores) editado por Paulo Tarso (escritor e professor).

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Nossa Casa de Cultura e Cidadania e o movimento cultural com ribeirinhos

"A vida deve ser uma constante educação." 
Gustave Flaubert 
"As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor.
Aprendemos palavras para melhorar os olhos."
Rubem Alves
Frases que revelam a importância e o alcance do saber em nossas vidas. Neste mundo de ideologias, transformações e culturas profundamente arraigadas - gerações seguidas de  acertos... ou erros - somente à luz e persistência da educação podemos inserir uma nova visão de mundo em nossa sociedade. Estamos em época de dar um basta ao descaso e   descompromisso à falta de zelo com o ambiente em que vivemos. Há coisas que estão em nosso alcance, há atitudes que podem ser tomadas, há pessoas carentes de amparo e há exemplos a serem conhecidos e divulgados. 
É nesse contexto que quero falar um pouco do Movimento Nossa Casa de Cultura e Cidadania, há algum tempo (desde 2008) levando conhecimento e oportunizando a leitura, em comunidades ribeirinhas e isoladas, pelos interiores desse nosso Amapá. O movimento, não sem razão também chamado de Pororoca Cultural, tem à frente como idealizadores os arte-educadores JONAS BANHOS e RITA DE CÁCIA (mochileiros da cultura, incentivadores das artes e semeadores dos princípios da educação ambiental).
Educadores com  objetivos de visitação a essas comunidades  carentes e esquecidas do Poder Público e que já estiveram realizando atividades culturais em outros Estados, sempre com a proposta de semear transformações (com a distribuição de livros, incentivo e trabalho para a formação de bibliotecas comunitárias, oficinas de reciclagem, desenho, pintura, poesia, cinema educativo e muito mais... sempre com a busca por novas dinâmicas e oportunidades educativas, o que geralmente acaba surgindo também na participação voluntária de pessoas convidadas). 
"Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo,
os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo." 
(Paulo Freire)
A Biblioteca Comunitária Barca das Letras é o ponto de encontro e saída para estas jornadas culturais no Amapá. Está aberta à visitação lá no Bairro do Laguinho, na Av. Ernestino Borges - Nº 567 (entre ruas General Rondon e Eliezer Levy).
Que bom seria se outras bibliotecas comunitárias como esta existissem em outros bairros de Macapá. Qualquer cidadão têm a liberdade de chegar, escolher uma publicação e levar, sem também esquecer de devolver né. Mas olha aí.... este é um bem comunitário, por isso os idealizadores (Sr Jonas e Dona Rita) procuram também a conscientização dos visitantes  no sentido de conservá-la, algo que deve partir de todos. Qualquer doação é enriquecedora e bem-vinda. Dá uma aparecida por lá!!! Afinal, não vistes já aquela frase: um país se faz com homens e livros (Monteiro Lobato, moçada!!).
"Mudar é difícil mas é possível"
Paulo Freire
Esse aí é o Jonas, quando o conheci, em preparativos para a jornada cultural realizada no final de agosto e início de setembro, em comunidades ribeirinhas do Macacoari. Me foi estendido um convite e tive a grata satisfação de participar da última neste ano.

Já essa nega maluca aí é a Rita, também muito popular entre a criançada, na realização do projeto. Foi com estes dois malucos (pelas boas causas) que, entre os dias 11 e 15 de novembro, fui para o Município de Itaubal do Piririm. Na bagagem, além do mala chamado Rogério Castelo (lá da Biblioteca da SEMA-AP), foram levados muitos livros e disposição também.
Este ano foram arrecadadas 5 mil publicações em campanhas de apoio do SEBRAE e da Escola Conexão Aquarela, em Macapá. Uma equipe do SEBRAE se deslocou também conosco até a comunidade de Carmo do Macacoari.
"Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra,
no trabalho, na ação-reflexão"
(Paulo Freire)

Itaubal do Piririm é um dos jovens municípios do Amapá (criado em 1992), tem população em torno de 5 mil habitantes e localiza-se na divisa com o município de Macapá (na parte oriental do Estado). A rede hidrográfica é constituída por rios e igarapés, sendo banhado ao NORTE pelos rios Piririm e Jupati, ao SUL pelo rio Amazonas, a OESTE pelo rio Macacoari e a LESTE pelo rio Amazonas. O clima predominante é o tropical chuvoso e o acesso sé dá por via fluvial e terrestre (diga-se aqui que muitas das estradas de acesso a comunidades interioranas do município estão em más condições, principalmente em época chuvosa).
As principais comunidades são: Aracu, Bom Sucesso, Cristo Libertador, Curicaca, Carmo do Macacoari, Cobra Capim, Cacau, Foz do Macacoari, Inajá, Igarapé Fundo, Igarapé Novo, Ilha da Pedreira, Ipixuna Grande, Itaubal do Piririm, Jupati, Uruá, Ramal do Adonias, Rio Jordão, São Miguel, São Tomé do Macacoari, São Raimundo do Macacoari, Pescado ,Puraquê e Pau Mulato. 
Conversa mole prá boi dormir: o nome do município "Itaubal" origina-se de uma árvore presente na região (Itaúba), já "Carmo do Macacoari" é uma homenagem à N. Srª do Carmo e o "Macacoari" vem da presença de macacos que eram muito avistados ao se navegar o rio, era macaco ali... macaco aí... daí foi um pulo para redundar em "macacoari" (informações repassadas pela diretora Edilene da escola local do Carmo).                                                
Visitamos, na seguinte ordem, as comunidades de: Carmo do Macacoari, São Tomé e Foz do Macacoari.
Olha aí Carmo do Macacoari! Comunidade tipicamente interiorana, distante cerca de 120 km de Macapá. Há muitas crianças no lugar e, reconhecendo a chegada da van com os educadores Jonas e Rita, recebem-nos com alegria e já vão em busca de informações do que se realizará. Vi relatos de  que aguardam com muita expectativa, principalmente nas proximidades dos dias marcados para a chegada. Essa comunidade tem recebido há 3 anos o projeto e acredito que as primeiras sementes da educação ambiental já germinam em muitos. 
... E mais um pouco de Carmo! Veja aí o rio Macacoari, é um desses rio encantados. Na altura de Carmo não é largo, com águas claras e uma biodiversidade incrível. Navegando pelo rio, tive oportunidade de presenciar pássaros, quelônios, macacos e um encantador encontro com muitos botos. A região ainda é bem preservada, tem um ninhal e a presença histórica do Quilombo de Conceição do Macacoari, mas estes não deu para conhecer. Carmo do Macacoari, como toda comunidade do interior, tem seus atrativos e necessidades de melhorias pelo Poder Público.
"Um livro é um mudo que fala, um surdo que responde,
um cego que guia, um morto que vive." (Padre Antonio Vieira)

Chegamos em Carmo do Macacoari no início da tarde e os primeiros trabalhos consistiram em distribuir os livros às crianças. Nas imagens vemos o Telecentro de Cultura Nossa Casa, encontramos aí uma biblioteca comunitária e um espaço destinado à realização de eventos educativos (desenho, pintura, educação ambiental, etc). O centro está sob responsabiblidade da Srª Raimunda, moradora local. A van da foto faz o transporte para a comunidade (cerca de 1:3oh, ou menos, quando a estrada está em boas condições) sendo motorista o Sr Othon.
Ao contrário de outros anos, em que se focou a construção da biblioteca comunitária, neste ano o objetivo foi estimular o gosto e apego pelos livros com a formação de bibliotecas individuais. Incentivou-se também a troca de publicações entre os leitores e uma futura doação a biblioteca comunitária.
Na distribuição das publicações, os livros, revistas, folhetos, quadrinhos e textos foram espalhados em uma lona multicolorida e os jovens leitores e moradores foram convidados a conhecer e escolher. Frente a intensa procura, foi estipulado um número de 20 publicações para cada visitante. Houve a presença de mais de 100 pessoas, entre crianças, adolescentes, estudantes, professores e moradores locais. A equipe de apoio do SEBRAE ajudou também neste momento.
Sempre em evidência o estímulo: à leitura, à conservação dos livros, à busca por novas coisas com a troca e à visão de se enriquecer a biblioteca comunitária com a doação futura dos mesmos livros.
Conheci também uma dinâmica em educação ambiental muito bacana. As crianças são convidadas a construir com os arte-educadores um grande varal, onde o lixo local é coletado e exposto. Recebem pintura (frases sobre lixo e lixeira são estimuladas)  e deixam uma impressão impactante no final a quem observa. Seja pela curiosidade que despertam ou desconforto de alguns em ver aquele lixaral pendurado. No contexto as crianças vão sendo educadas e estimuladas a cuidar do ambiente.
Foi construído também um desses varais no balneário da cidade. Lembrete, em um lugar de bonito ambiente, a se preservar e cuidar melhor da natureza. As gerações seguintes agradecem! Bem como a saúde ambiental... hoje!!!
"Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre."
(Paulo Freire)
... E à noite tem o cineminha! Rapaz, isto é algo extremamente aguardado pelas crianças. Marcamos a hora e algumas já esperam na porta da casa bem cedo. A proposta é passar filminhos educativos e há sempre a solicitação por animações relacionadas às lendas e Turma da Mônica, principalmente do Chico Bento. Acredito ser uma identificação coletiva e subconsciente com os temas. As animações são uma excelente fonte educativa. As crianças dessa comunidade foram muito receptivas, mesmo a um seleto Dom Casmurro como eu, ou ainda, Sr Caladão. 
Nos dias 11 e 12/11 as atividades foram estas que narrei, em Carmo do Macacoari. Na foto (dia 13) a trupe está embarcando para a distante comunidade ribeirinha de São Tomé (ih... foram cerca de 3 h de viagem). Como descrevi antes, o rio vai oferendo uma grande oportunidade de ver coisas incríveis... como o encontro com botos, algo corriqueiro ali, mas inédito para cabocos sem essa vivência ribeirinha. Vi um monte, só que minha máquina fotográfica me deixou na mão. Vemos na foto Gregor Samsa (chapéu verde), Rita, Jonas e o Sr Zé Picanço no barco (um dos mestres, naquela região, da navegação fluvial). O outro ribeirinho não identifiquei o nome.
"O importante da educação não é o conhecimento dos fatos, mas dos valores."
(Dean William R. Inge)    
Esta é São Tomé do Macacoari! Comunidade ribeirinha em uma das muitas curvas do rio Macacori (3 h de barco partindo de Carmo). O rio neste trecho já não é aquele de águas claras e estreito de onde saímos. Já vai assumindo as características de rio com muitos sedimentos, com águas  daquele marrom característico do rio Amazonas - onde deságua - e vai ficando mais largo até a foz. O ambiente é bem preservado e o ribeirinho tem no pescado seu principal alimento (exemplo disso foi presenciar a chegada de um pequeno barco e o piloto, no porto mesmo, jogar a linha e "puxar" quase em seguida um grande peixe chamado "Filhote".... jantar garantido). Essa comunidade não é  grande e teve fundação recente, uma forma de atrair mais atenção  da Administração Pública para suas necessidades... o que para um é difícil, para muitos torna-se mais fácil. Cada comunidade tem suas características e nesta, talvez pelo trabalho ser mais recente, os moradores foram um pouco mais esquivos. Essa vida ribeirinha é sempre um mar de contrastes, onde vamos temos sempre a oportunidade de conhecer e aprender novas coisas... ali não foi diferente. Alguns adolescentes chegaram e o que procuraram de imediato foram livros de poesia... creio ser resultado de sementes que foram plantadas e estimuladas. Um pouco de oportunidade e grandes coisas podem ser descobertas ou surgirem (este ano, para quem não sabe, três meninas do Estado do Amapá foram as primeiras colocadas em um concurso nacional de histórias... olha aí, na vida ribeirinha também temos muitos talentos... só estimular e dar oportunidades). Trabalhos como este devem receber todo reconhecimento merecido e apoio.
Em São Tomé estivemos uma parte do dia (13/11)... novamente a mesma dinâmica de distribuição de livros. A criançada foi direto nos gibis, principalmente da Turma da Mônica e de um familiar Chico Bento, enquanto alguns adolescentes procuraram romances, aventuras e poesias.
Apesar do pouco tempo que passamos, a comunidade recebeu um grande número de publicações.
"É claro que meus filhos terão computadores, mas antes terão livros."  
(Bill Gates)
"A leitura de um bom livro é um diálogo incessante:
o livro fala e a alma responde."
(André Maurois)
Esta é a Biblioteca Comunitária de São Tomé do Macacoari. Nestes interiores a energia elétrica é distribuída das 17 às 22h, ou seja, não encontramos a influência direta da televisão. A biblioteca oportuniza uma boa fonte de leitura na rotina do ribeirinho.
 "A leitura especializada é útil, a diversificada dá prazer."
(Sêneca)
"O importante é motivar a criança para leitura, para a aventura de ler."
(Ziraldo)
E assim foi nossa passagem em São Tomé. Descemos o rio, após o almoço, em direção a Foz do Macacoari... uma nova história. Mais 3h de viagem e a disposição de aprender com eles e compartilhar um pouco mais do fundamental encanto da literatura. 
"O amor é uma intercomunicação íntima de duas consciências que se respeitam. Cada um tem o outro como sujeito de seu amor. Não se trata de apropriar-se do outro.” Paulo Freire
No final da tarde do dia 13/11 chegamos em Foz do Macacoari, última comunidade ribeirinha percorrida nesta jornada. Um povo hospitaleiro, com sua ciência peculiar de vida ribeirinha e de grande receptividade ao projeto. Como  esperava... lá estou eu vendo aquela criançada bonita, recebendo com carinho os educadores Rita e Jonas, se informando das novidades previstas e de coração aberto para boas sementes. Acredito que gestos de acolhida são incentivo e entusiasmo à realização de trabalhos em lugares tão distantes como este, desconhecidos até de muitos amapaenses.
"Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes."
(Paulo Freire) 
Olha como a comunidade é isolada! Essa foto construí no Google Earth e a imagem refere-se ao ano de 2001, mas as coisas não se alteraram muito. No detalhe vemos um grande prédio branco - era uma fábrica de palmito que já não existe mais. Também as águas avançaram em uma boa parte da margem a direita, bem na foz. Ora, oras... aí chegaram também muitos livros e foram realizadas atividades culturais com as crianças... tudo bem recebido.
"A educação sozinha não transforma a sociedade,
sem ela tão pouco a sociedade muda."
(Paulo Freire)
E aqui está Foz do Macacoari! Tipicamente ribeirinha... com suas passarelas e povo acostumado a uma rotina diferente, é uma outra realidade... Energia limitada, pescado presente na mesa (um peixe fresco que pescam rotineiramente lá pelas altas horas da madrugada), das criações de subsistência, da confecção do azeite de andiroba, das retretis e sentinas... retreti e sentina???,  da necessidade de aprimoramento na educação ambiental, do extrativismo do açaí (meu amigo pense em um tomador de açaí... tens daquelas tigelas de colocar feijão na mesa, pois é... é a "cuia" de tomar açaí de alguns -"o cabra enchi inté as buca... fora a repitoca"), e de muito mais... Um povo que me deu oportunidades de muito aprendizado. Às vezes, me perguntam como é ali e digo que são sábios em sua ciências. Conhecem a fauna e flora local, as características do rio - oportunidades, encantos e perigos - são mestres na navegação fluvial, na farmacêutica natural,  no lidar com situações inesperadas frente o rio e mais... nessa indomável, misteriosa, encantadora, desconhecida, isolada, discriminada, triste, alegre, preservada, destruída, amada, odiada, esquecida, enganada, imponente, forte, frágil,  necessitada de assistência, sofrida e abençoada Amazônia destes torrões do  Amapá... domínios ribeirinhos.
"Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade." (Paulo Freire)
Percorri tudo que pude por lá e aqui mais uma janela mostrando essa comunidade ribeirinha.
"A educação é um processo social, é desenvolvimento.
Não é a preparação para a vida, é a própria vida."
(John Dewey)
Você que nunca foi em uma comunidade ribeirinha, veja que a vida por lá é bem simples... mas não sem dificuldades... não é um mar de rosas. A Amazônia tem suas dádivas e também suas intempéries (chuvas, cheias, distância, endemias... só um povo forte e adaptado para conviver com tudo... ah, mas é tudo difícil mais para quem não é de lá mesmo). A casa em destaque é um posto de saúde (a assistência médica é vez por outra e quando se faz presente, vem ribeirinhos desta e de outras comunidades - o atendimento acaba acontecendo na escola). A árvore em destaque deixei por apresentar um ninhal de japim... tem muito desse pássaro por lá.
"A educação é a higiene do espírito,
assim como a higiene é uma verdadeira educação do corpo."
(Paolo Mantegazza)
Esta é a escola da comunidade e fica um pouco afastada, no final de uma grande passarela. Com um pouco de exageros - sou muito ruim em cálculos - vou dizer que tem uns 800 metros e segue rodeada da imponente Amazônia (estes termos de exaltação à Amazônia não são novos e gosto de usar... uma homenagem, de um narrador furreca, à citações de grandes escritores - como Euclides da Cunha - que escreveu em À Margem da História: "a Amazônia selvagem sempre teve o dom de impressionar a civilização distante"). Durante um tempo não soube o porquê do "isolamento" da escola e depois entendi que seu porto fica em um lugar estratégico onde a vazante das marés não afeta tanto. Para esta escola chegam estudantes em embarcações de outras localidades também, alguns moram do outro lado do rio. Percorrendo estes locais "suzinho" vi muitas coisas encantadoras... até um grande pássaro que ficou me encarando bem de pertinho e sem medo, mesmo olhando a minha cara... identifiquei depois como uma Matinta-perera... MATINTA-PERERA!!!! MEU JESUS QUERIDO!!! Rapaz, acho que me encantou!!! pois estou ficando cada vez "mais avoado nos meus sonhos" e muito mais apaixonado por estas terras ribeirinhas do Amapá.
Eu não disse que encontrei a matinta...
"A educação desenvolve as qualidades, não as cria."
(Luc de Clapiers Vauvenargues)
Imagens do acervo da Biblioteca Comunitária da Foz. São duas salas no que sobrou das instalações de uma antiga escola. Os livros podem ser emprestados e a biblioteca está sendo conservada pela Kelly.
"Muitos homens iniciaram uma nova era na sua vida
a partir da leitura de um livro."
(Henry David Thoreau)
... E Foz tem tambêm seus problemas de trânsito.
Atenção! Atenção! Senhores e autoridades ribeirinhas da Foz. O pau torou e estropiou a passarela que vai para a escola. Por favor comparecer no local para cortar o pau e liberar o canal. Epa! Acho que isso não soou lá muito bem, né? Mas os meus camaradas da Foz são gente boa e não vão ligar para essa tirada sem graça do Gregor Samsa.
 "Amar a leitura é trocar horas de fastio
por horas de inefável e deliciosa companhia."
( John F. Kennedy )
Espera lá! Já não vejo beleza aqui... é uma imagem comum também na minha cidade Macapá... na sua também.... e em todo lugar onde há pessoas que ainda não entenderam a importância, responsabilidade, bem comum, dever e atitude nada difícil de se preservar o meio ambiente. Entre os ribeirinhos não é diferente. Oras... uma lata como essa, feita em um lugar muito distante, que viajou e navegou um monte de horas para chegar, não pode se aposentar da sua vida de lata passando uns 200 anos enfeiando, sujando e querendo destruir esse lugar. É preciso um trabalho de conscientização e educação ambiental. Ah.... é hora de falar um pouco do trabalho educativo do Jonas e Rita na Foz do Macacoari.  
"A leitura é a viagem de quem não pode pegar um trem."
( Francis de Croisset )
A chegada se deu no início da noite de 13/11 e exibimos algumas animações.
A garotada viaja nestas histórias.
 Pipoca no cinema?
Que nada... O ribeirinho tem outra opção bem mais familiar
"Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante!"
(Paulo Freire)
Nesta velha escola, desativada, encontramos a Biblioteca Comunitária nas salas restantes.  Nela desenvolveram-se atividades de educação ambiental. 
"A educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida."
(Sêneca)
Bem-vindos ao admirável mundo da leitura!
Como em outras comunidades, novamente a distribuição de livros e incentivos para a formação de mini-bibliotecas particulares, conservação, troca e doação à Biblioteca Comunitária. Muitas crianças e adolescentes compareceram, numa busca prazerosa por quadrinhos, poesias, aventuras, revistas... alguns até bem seletivos, como o Sr Martinho (figura bem conhecida e com grande conhecimento da navegação naquele rio), este procurava "O mundo de Sofia" de Jostein Gaarder e citou outras obras lidas de cunho filosófico. Você já leu "Assim falou Zaratustra" de Nietzsche? Pois então.... é um dos livros de cabeceira do singular ribeirinho. Providenciei-lhe a obra que procurava, aguardando sua visita na Biblioteca SEMA em Macapá.
"A boa educação é moeda de ouro. Em toda a parte tem valor."
(António Vieira)
 
 "Educação é aquilo que fica depois que você esquece o que a escola ensinou."
(Albert Einstein)
Os educadores vão trabalhando a educação ambiental em atividades de desenho e pintura com as crianças. Uma das ações consiste em recolher lixo nas redondezas e transformá-los em obras de arte, através da pintura. Essas ações são bem recebidas e a criançada vai soltando a criatividade nas artes, sempre com o foco para a preservação ambiental.
Olha aí a Gabi...
 
"Todo o homem recebe duas espécies de educação:
a que lhe é dada pelos outros, e, muito mais importante,
a que ele dá a si mesmo."
(Edward Gibbon)
... Só artista!
E a galeria de artes vai se formando,
o lixo se transformando,
as crianças se educando,
e a comunidade melhorando.
Assim seja!!!!
Mais um pouco da produção dos jovens artistas.
Esse aí é o "Mudo", assim chamado na região. Um dos pilotos de embarcação que nos transportou em algumas comunidades.
...E foi assim meus amigos, de comunidade em comunidade, navegando por esse encantador rio chamado Macacoari, com os livros, os desenhos, os filminhos, as pinturas, a visão de boas coisas e a mente aberta para a aprendizagem, que estivemos nestes dias semeando um pouco da educação ambiental e do apego à leitura, entre essas crianças e jovens ribeirinhos.... no Município de Itaubal do Piririm, em comunidades do rio Macacoari, no Estado do Amapá. Lugares desconhecidos de muitos, ricos em sua cultura e necessitados de mais e melhores ações da Administração Pública.

Veja aí um vídeo, feito e postado pelo Jonas, mostrando a partida de uma família de ribeirinhos após receberem livros.

É... hoje não tem só açaí e peixe na mesa!!!!


Neste outro vídeo, vemos a chegada de livros em Foz do Macacoari. A criançada recebeu com entusiasmo e ajudou muito no transporte. Gregor Samsa se acabou para carregar um pouquinho... ô moleza!! Eita! criançada animada e de dar entusiasmo!!!!
Bem na foz! Daqui prá frente a grandiosidade do rio Amazonas, quatro horas de navegação para o desembarque em Macapá (na orla do Perpétuo Socorro em 15/11), muito aprendizado e satisfação por conhecer e participar deste projeto... penso que deveria ser mais divulgado e receber mais apoio.... Não sei como nenhum cineasta - destes documentaristas - ainda não o descobriu e documentou. São tantas histórias, tantos contrastes e tanto a se revelar de um Amapá pouco conhecido.
"Nada melhor pode dar um pai a seu filho do que uma boa educação."
(Textos Islâmicos)
Agradeço ao Jonas e Rita a oportunidade e as muitas pessoas que conheci e me ensinaram grandes coisas... como o Sr Zé Picanço, Dona Raimunda, Seu Martinho, Dona Creuza, o Mudo, etc... especialmente às crianças. Para vocês, eu tiro o meu chapéu!

Fontes para essa postagem:

- Biblioteca Barca das Letras
- Mochileiro Tuxaua
- Wikipédia: Itaubal do Piririm
- DLIS (Itaubal do Piririm/2002): Doc do acervo da Biblioteca SEMA em Macapá
- Canal Youtube Nossa Casa de Cultura