As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

terça-feira, 19 de abril de 2011

PATRIMÔNIOS DO AMAPÁ - Cultura Wajãpi (Homenagem ao Dia do Índio)


  Wajãpi é coisa nossa!!!!
 Cultura de índios do Amapá é  proclamada patrimônio da humanidade.
Mas a maior parte dos brasileiros nunca ouviu falar deles.

(Pablo Nogueira)

Embora seja pouco conhecida fora dos círculos dos antropólogos, a cultura dos índios wajãpi, que vivem no Amapá, acaba de ganhar o status de patrimônio da humanidade. O anúncio foi feito em novembro pela direção da Unesco - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, que conferiu o título também a outras 27 manifestações culturais de todos os continentes. A lista, cujo título oficial é "Obras-primas do patrimônio oral e imaterial da humanidade", contempla as mais diversas formas de tradição folclórica, como cantos religiosos, danças, teatro, dialetos e até festas de carnaval. No caso dos wajãpi, o item escolhido foi o kusiwa, uma forma de pintura corporal que reflete a mitologia da tribo.
O forte senso estético, porém, permite a eles incorporar a suas pinturas até mesmo padrões não-índios. Foi o que fez o jovem índio Ceni ao acrescentar o símbolo da marca esportiva Nike à sua pintura. Mas isso não seria contrário à idéia de tombamento? A diferença, explicam os antropólogos, está no fato de o patrimônio imaterial não ser um conteúdo específico, mas sim uma forma característica de expressão, um jeito próprio de pensar. E é essa forma de expressão que os wajãpi lutam para salvar da ameaça de extinção, presente no desinteresse dos mais jovens pelas tradições.
Beleza cotidiana
Os índios exibem suas pinturas 
em atividades do dia-a-dia, 
como nas aulas
Os wajãpi desenvolveram sua própria linguagem gráfica para representar o mundo ao seu redor. Ao invés de imagens realistas, eles usam padrões para representar temas e figuras sagradas de sua mitologia, como onças, cobras e peixes. No alto da página, por exemplo, pode-se ver à esquerda o padrão que identifica a tukã moj, ou cobra-tucano. A tukã moj é um ser mítico monstruoso que tem aparência de cobra, mas atrai suas vítimas perto da árvore onde se esconde cantando como um tucano.
Cada índio desenha em seu corpo combinações de vários desses padrões (na página ao lado vê-se uma dessas composições, com padrões de borboleta, de espinha de peixe pacu e até uma forma inspirada na bandeira nacional). Esses desenhos são pintados em cores vermelha e preta com tintas feitas a base de urucum e suco de jenipapo, e chegam a durar 20 dias.
Pintura protetora
Arte Abstrata
Em vez de figuras realistas, 
os wajãpi usam padrões   
que retratam seus seres mitológicos 
(acima, o da cobra-tucano)


Toda essa rica tradição de expressão simbólica, porém, estava um pouco desprestigiada. Os wajãpi foram contatados pela primeira vez há 300 anos, e desde então têm se relacionado continuamente com a sociedade branca, com maior ou menor grau de aproximação. Até 1995 havia forte presença de missionários junto às aldeias, e eles tinham bastante influência principalmente entre os jovens.
"Tudo isso criou um choque de gerações", reflete a antropóloga Dominique Gallois, do Núcleo de História Indígena e do Indigenismo da USP, que trabalha com os wajãpi há 25 anos e ajudou-os no processo que resultou na proclamação da Unesco. "Os mais novos têm uma fascinação pela escrita e muitos não se interessam pelos mitos. Vêem o saber deles como algo fragmentado e que não é real", conta.
Valor redescoberto
Aos poucos, porém, o quadro começou a mudar. Há 11 anos funciona um programa de formação de professores wajãpi. A formação acadêmica fez com que alguns desses professores, que são jovens, percebessem que não conheciam todos os nomes tradicionais da plantas nem sabiam de cor todas as etapas de certas cerimônias rituais.
Tradição renovada 
Os índios usam vários 
padrões para criar
composições originais. 
Esta incorpora até
símbolos da bandeira brasileira
Uma experiência menos gradual e mais chocante aconteceu em 1999, quando um índio viajou até Belém para fazer tratamento de saúde. Ao entrar numa loja de artesanato, viu expostas camisas e toalhas de mesa decoradas com os padrões kusiwa, sem que os wajãpi tivessem sido sequer consultados. Em série, essas experiências fizeram com que uma parte dos jovens despertasse para a importância de cultivar os conhecimentos tradicionais, bem como as formas de transmiti-los. O reconhecimento do kusiwa como patrimônio imaterial da humanidade é parte do esforço para chamar a atenção dos wajãpi para suas tradições.
O título acarreta também, por parte do nosso país, um compromisso ético oficial com iniciativas que ajudem a preservar o kusiwa. Dentre as iniciativas está a de conferir formação para pesquisa a alguns membros da tribo. Isso permitirá que os próprios índios passem a registrar suas tradições, ação até então restrita aos aos antropólogos. É uma cultura ajudando a preservar a outra.
Cópias da arte wajãpi são usadas ilegalmente para enfeitar camisetas.
O grande mosaico do mundo

Preservados
Carnaval belga e 
teatro indiano
O trabalho da Unesco para criar um acervo de patrimônio imaterial para a humanidade é um exemplo de globalização no que ela tem de melhor. De cara, desperta o interesse internacional por manifestações pouco conhecidas, como o carnaval de Binche, na Bélgica e o teatro Kutiyatam, da Índia.

"A Unesco selecionou essas manifestações não porque são excepcionais, mas sim representativas. Juntas, transmitem a idéia de que o mundo é um grande mosaico", diz Jurema Machado, coordenadora do setor de cultura da organização no Brasil. "Isso estimula as pessoas a olhar para as tradições mais próximas a elas de uma forma mais positiva", avalia.
Todas as tradições tombadas pela Unesco estão ameaçadas de desaparecimento, mas tiveram a sua preservação assegurada pelos respectivos países. Essa preservação, porém, não significa congelá-las no tempo. "Transformações são bem-vindas, desde que aconteçam por agregação. O que queremos evitar é que uma cultura soterre a outra completamente", defende Jurema.

 
 Fonte: Revista Galileu (Janeiro/2004)

Veja aqui o texto original da Revista Galileu (Janeiro / 2004)

LENDAS DO AMAPÁ - A Pedra do Guindaste

      A Pedra do Guindaste é um monumento localizado em frente à cidade de Macapá, ao lado do Trapiche Eliezer Levy, dentro do Rio Amazonas. Trata-se de uma pedra muito grande. Sobre ela encontra-se a imagem de São José abençoando a cidade, feita pelo escultor português Antônio Ferreira da Costa.
      No século passado, a Pedra do Guindaste teve como finalidade servir de alvo aos exercícios de tiro dos soldados, ao lado norte da Fortaleza de São José.
      A famosa pedra é connhecida por suas lendas que fazem parte da rica cultura do caboclo amapaense. Uma delas é contada pelos moradores  da antiga rua da Praia e Igarapé das mulheres, hoje bairro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Afirmam exixtir na pedra uma cobra grande, com dimensões ainda não calculadas, que na maré de reponta - ou seja, quando a água do rio não está na cheia e nem na vazante - sai dali para tomar água, de maneira que a mesma nunca conseguiu cobrir a pedra. Se porventura, alguma autoridade tiver a infelicidade de mandar retirar a pedra do rio, a água do Amazonas subirá tanto, que Macapá toda irá para o fundo.
      Outra versão da lenda é que havia na tribo dos Tucuju - primeiro povo habitante dessa terra - uma índia muito bonita, apaixonada por um índio que todas as manhãs saía pela praia em busca de alimento. Quando ele saía, a namorada acompanhava-o até a praia e lá ficava o dia todo, até o sol pousar na Lagoa dos Índios, quando o índio voltava e a levava para a maloca. Isso acontecia todos os dias e começou logo a ser observado pela tribo. Num certo dia, de manhã cedo, como acontecia todos os dias e começou logo a ser observado pela tribo. Num certo dia, de manhã cedo, como acontecia sempre, o índio desceu o rio pela praia e sua amada ficou à espera no local de sempre, mas aconteceu que ele não voltou. A noite chegou, a índia desesperada ainda o esperava em vão. Acocorou-se e chorou a noite toda, dias e dias, e lá morreu. No lugar de suas lágrimas nasceu a pedra com formato de corpo de mulher, que mais tarde, muitos anos depois passou a ser conhecida como Pedra do Guindaste.
  
Texto extraído do livro "Amapá - Cultura, poesia e tradição"
de Maria V. Lopes e Dêise G. V. Andrade
Anos 50 - Pedra do Guindaste – O detalhe fotográfico mostra como era aquele aglomerado de rochas localizadas em frente à cidade ao lado do Trapiche Eliezer Levy, cerca de 300 metros da margem do Rio Amazonas.
A pedra original foi derrubada pela colisão de um barco. Em seu lugar foi construído um bloco de concreto e sobre ele foi colocada uma imagem de São José – Padroeiro de Macapá.

A Fortaleza de São José de Macapá (Parte 2 - Fotos Antigas)

A sua construção empregou oficiais, soldados, artífices e trabalhadores (escravos) africanos e indígenas. 
O religioso D. Frei Caetano Brandão, que passou por Macapá em 23/03/1785, registou em seu diário de viagem a observação de que a fortaleza era "...regular, segura e espaçosa ao gosto moderno, que importou ao rei Dom José três milhões...; porém acha-se mui falta de gente para defender." 
....e a cidade vai crescendo!!!!

...Parece uma ilha!!!
Visão da Doca da Fortaleza.
Meu Jesóis!!! Parece a entrada de um castelo assombrado!
Ah! Aqui já está melhor cuidada.

Revista OS CABUÇUS Nº 03 (HQ)

Vida Boa (Zé Miguel)

Zé Miguel está entre os principais representantes da música na Amazônia, com valorização dos ritmos regionais como o batuque e o marabaixo, elementos marcantes da cultura afro no Amapá.
Em "Vida Boa" mostra de forma poética a vida do caboclo amazônida. A música encanta pela poesia e melodia.


Vida Boa 
(Zé Miguel)

O dia ela chega toda manhã   
Com nuvens de fogo pintando o céu   
Um ventinho frio sopra sim e assim   
Vez em quando se escuta o canto do Japiim.
A canoa balança bem devagar   
A maré vazou, encheu é preamar, eh   
O Zé vai pro mato apanhar açaí   
Maria pra roça vai capinar
A vida daqui é assim devagar   
Precisa mais nada não pra atrapalhar   
Basta o céu, o sol, o rio e o ar  
E um pirão de açaí com tamuatá.

Que vida boa su mano   
Nós não tem nem que fazer planos   
E assim vão passando os anos   
Eita! Que vida boa   
Que vida boa su primo   
Nós só tem que fazer menino   
E assim vão passando os anos   
Eita Que vida boa

A vida daqui é assim devagar...  

Que vida boa   
Que vida boa   
Que vida boa lê lê!   
Que vida boa   
Que vida boa su primo   
Que vida boa su mano   
Eita! Que vida boa

LENDAS DO AMAPÁ - O Poraquê

Ilustração de Honorato Jr
      Poraquê era um valente guerreiro de uma tribo às margens do Rio Amazonas. Caçador por excelência, era sempre quem trazia o maior animal durante as festividades da tribo. Também ele era muito forte, destacando-se dos outros membros da aldeia.
      Mas Poraquê era ambicioso. Não lhe bastavam a destreza do arco e da flecha. Não lhe bastava a força de seus braços e nem mesmo sua supremacia em combate. Ele queria ser o maior guerreiro da face da terra.
      Foi assim que tentou dominar o fogo, mas sua força nada valeu contra as labaredas. O índio então quis comandar os rios, mas Iara mandou contra ele a pororoca, que o derrotou. Vencido pela segunda vez, Poraquê subiu em um pé de vento e tomou um relâmpago emprestado ao deus trovão. Com ele fez uma borduna com a qual podia invocar os raios. 
     Certa vez uma tribo indígena atacou a aldeia em uma guerra que durou vários dias. Poraquê, com sua borduna de raios, dizimou milhares de inimigos. Tendo vencido a batalha, notou que a arma estava manchada de sangue e foi lavá-la à beira do Rio Amazonas. Um dos raios caiu na água e o transformou em um peixe feio, que quando atacado dispara rajadas elétricas para se protejer.

Texto extraído do livro "Mitos & Lendas do Amapá" de Joseli Dias

O poraquê é um peixe muito conhecido nos rios da bacia amazônica devido a grande descarga de energia que este libera ao ser incomodado. Pode chegar a 3 m de comprimento e pesar 30 kg. O nome vem da língua tupi e significa "o que faz dormir" ou "que entorpece". A geração elétrica varia de 300 até cerca de 1.500 volts.
Este é o poraquê.......e aí vai encarar???

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A Fortaleza de São José de Macapá (Parte 1 - Fotos Antigas)

A Fortaleza de São José de Macapá está localizada na foz do Rio Amazonas, bem à frente da cidade de Macapá e teve como função garantir o domínio lusitano no extremo norte do Brasil, cujo espaço territorial - na época - não tinha contorno físico definido.
Essas velhas fortificações são encontradas na costa do Brasil e nas fronteiras terrestres. São edificações do período colonial e símbolos de uma época remota.
O Forte em ruínas e cercado pela floresta em uma época remota.
A Fortaleza de São José de Macapá foi idealizada devido a necessidade de se afastar invasores ingleses e holandeses, assegurando ainda a conquista definitiva do Rio Amazonas.
Uau! Onde está a cidade?
Assim foi Macapá.
....Verdadeiros desbravadores!
... E a cidade vai se formando.

Curiaú, o quilombo da liberdade (Vídeo TV-AP /1998)

O documentário aborda a origem do Curiaú como comunidade quilombola, sua localização, as características da vila, a divisão da comunidade e as manifestações populares do MARABAIXO e BATUQUE.

(Produção da TV Amapá - 1998)
Veja AQUI
Descrições no vídeo:

- A Fortaleza de São José, em frente à cidade de Macapá, não representa apenas a história da resistência contra a invasão de corsários ingleses, franceses e holandeses, que desejavam invadir o Amapá na época em que o Brasil era colônia de Portugal. O forte representa também a origem de um povo.
- Na época de sua construção, para se livrar dos maus tratos a que eram submetidos, negros escravos (trazidos para erguer a Fortaleza) fugiam do trabalho e foram abrindo os caminhos impenetráveis rumo ao norte de Macapá. Os escravos formaram o quilombo onde passaram a ficar protegidos. Assim nasceu o Curiaú.
- Localizado a 12 km de Macapá, o Curiaú ainda guarda bem vivo a história de seus antepassados. São histórias contadas de geração pra geração, herança de pai pra filho que permanece viva na memória dos mais antigos moradores de hoje, como é o caso do Sr. Joaquim Tibúcio (76 anos). O bisavô dele foi um dos escravos que formaram a primeira geração do Curiaú.
- O quilombo de ontem se transformou na vila de hoje, mas a localidade ainda guarda vários aspectos da vida de seus antepassados: o estilo rústico da construção das moradias, a prevalência da cor negra de seus moradores (que não permitem a entrada de estranhos), a sobrevivência baseada na cultura de subsistência (como a plantação de mandioca e feijão e a criação de animais, que servem de base alimentar, como suínos e aves).
- A mais forte tradição preservada no Curiaú vem do profundo sentimento religioso da comunidade, dividida em dois locais: Curiaú de Fora e Curiaú de Dentro. Uma divisão que existe apenas no espaço geográfico de 1 km. As duas comunidades se unem também na veneração à santos da Igreja Católica, festejados em manifestações folclóricas como a dança do Marabaixo e o Batuque. São Sebastião é homenageado em janeiro e São Joaquim em agosto.
OBS: Atualmente o Curiaú está dividido em 8 comunidades.
- As crianças do Curiaú não tem hora para entrar na pequena capela que guarda as imagens dos santos, elas também aprendem a respeitar o sentimento religioso que vem dos antepassados e vão se encarregar de preservar e passar as festas religiosas às futuras gerações. Junto com os santos, os instrumentos musicais usados para os cântigos e ladainhas, também ficam guardados na capela. Os moradores do Curiaú sentem orgulho e emoção quando são perguntados de suas manifestações religiosas.
- A estrada de chão batido, que separa  o Curiaú de Fora do Curiaú de Dentro ainda é um longo caminho, mas o progresso já chegou aqui. A estrada asfaltada, que corta uma das vilas, veio facilitar o acesso. A energia elétrica é outro sinal de que a vila, mesmo se mantendo como uma sociedade fechada, precisa dos benefícios elementares da cidade.
- Quem vai a vila do Curiaú não se surpreende somente com a história e os aspectos de vida da localidade. O Curiaú preseva também belezas naturais que impressionam quem chega ali pela primeira vez. Os campos que se perdem na extensão servem de pastagem natural para os rebanhos de búfalos. As variedades de aves (como a garça, marreca e tu-iu-iú) compoem um dos cenários mais belos do local. As aves reunidas em bando são geralmente um espetáculo à parte.
- A paisagem do Curiaú costuma modificar conforme as estações do ano. No verão os imensos lagos naturais ficam secos e no inverno voltam a encher. No período intermediário, entre a seca e a chuva, os moradores aproveitam para pescar com mais intensidade. O lago raso significa tempo fértil para a pesca. Com uma zagaia na mão, o pescador do Curiaú mostra muita habilidade.
- E assim, o Curiaú segue preservando o misticismo, as tradições e as belezas naturais. Do quilombo  de ontem para a vila de hoje se mantem a história viva da cultura de um povo, que nem o tempo (em mais de 200 anos) e o progresso (que chega inevitável) conseguiu apagar.
 
Para mais informações consulte o acervo da
   BIBLIOTECA AMBIENTAL DA SEMA EM MACAPÁ.

Veja também:
O Curiaú (Fala Comunidade - Dezembro de 2011)  
Reinauguração do CENTRO CULTURAL DO CURIAÚ (26/08/2011)    
Presença e abate de grandes felinos na APA do Curiaú

Revista Os Cabuçus Nº. 06 (HQ)

Uma revista em quadrinhos com as aventuras e desventuras de Vardico e Lurdico, uma dupla de humoristas que, com muita propriedade, traduzem de forma bem divertida e caricata o caboclo amazônida. Um trabalho regional muito representativo da cultura nortista. Publicação de Dezembro de 2007.