As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Movimento Literário no Amapá (Globo News Literatura de 15/03/2013)

Em 15/03/2013 o Globo News Literatura apresentou uma reportagem sobre o movimento literário no Amapá. O programa apresentou a Caravana de Escritores em visita a escola ribeirinha na Ilha de Santana, perspectivas para a II FLAP, depoimentos de pessoas do meio literário sobre a produção amapaense, as dificuldades na acessibilidade e distribuição das obras dos autores locais e um pouco do Teatro Marco Zero, um belo exemplo de projeto com crianças conciliando arte, literatura e ação social.
O programa na íntegra pode ser visto no globo.com
A  reportagem sobre o Amapá pode ser vista neste link do youtube
Os pontos apresentados estão descritos a seguir.

Dados iniciais sobre o Amapá mostrados na abertura do programa.


"Eu vim ao Amapá a convite da Caravana dos Escritores para mostrar meu trabalho de poeta, mas a viagem me permite também conhecer o meio literário local e, para compartilhar essa experiência com vocês que acompanham o Globo News Literatura, eu trouxe a minha câmera digital e vou contar também com o apoio luxuoso do pessoal da TV Amapá."  
(Claufe Rodrigues)

OBS: Claufe Rodrigues é jornalista e poeta, tem mais de 10 livros publicados e atuação marcante no cenário cultural carioca há mais de 30 anos. Um pouco de sua obra pode ser conhecida em clauferodrigues.com

"Os escritores convidados participam dos eventos preparativos para a II FLAP - Feira do Livro do Amapá. São palestras e debates, contação de histórias, recitais com crianças e adolescentes, shows de música e poesia."
OBS: Veja algumas imagens da I FLAP no link  casteloroger.blogspot.com


"Fizemos a I FLAP em novembro de 2012. Foi um sucesso, foi unanimidade. Tinha já um movimento natural na sociedade, muitos grupos de jovens poetas aqui, que é uma coisa natural, então foi só conseguir transformar isso em política pública, é uma coisa que está florescendo no Amapá naturalmente." (Cláudia Capiberibe - Secretária da SIMS - sobre a FLAP).

"As instituições que promovem feiras e eventos literários podem solicitar uma caravana nos setores. Elas é que convidam os autores, que escolhem. Nós da coordenação apenas acolhemos e procuramos satisfazer as necessidades da programação cultural das feiras." (Suzana Vargas -  Coordenadora da Carana dos Escritores - sobre as ações do grupo).


"A Caravana dos Escritores é sempre uma coisa curiosa porque ela acaba lhe apresentando a novos autores, uma literatura que a gente de certa forma desconhece porque tem pouco acesso, pelo próprio isolamento dessas outras regiões."  
(Mauricio Melo Jr - jornalista e escritor - sobre a Carana dos Escritores)


"Costumo dizer que a gente tem um rio aqui que nos separa do resto do Brasil. Tudo tem uma certa dificuldade, tanto para virem de lá, como para irem daqui. Eu por exemplo participei em Belém, mas nunca fui para São Paulo proferir literatura". 
(Manoel Bispo Corrêa - escritor - sobre dificuldades para desenvolvimento da FLAP). 


No debate, com forte presença de estudantes de Letras, um dos temas mais discutidos foi sobre a dificuldade de acesso do público aos autores locais e vice-versa.

"Os livros dos autores amapaenses não estão acessíveis ao público. Primeiro, a pequena tiragem, geralmente são feitas 100 a 300 e rapidamente se esgotam. Há falta também de livrarias, recentemente tivemos mais uma livraria aqui no Amapá que, das quatro, fechou recentemente. Estou há 30 anos no Amapá e antigamente se fazia dois, três lançamentos. Hoje a gente faz quinze lançamentos por ano, então as coisas estão aumentando, o público está pedindo mais qualidade, hoje há um senso crítico muito grande, para você lançar um livro precisa ter uma certa qualidade que antes não havia." (Paulo Tarso - escritor - sobre a acessibilidade à Literatura Amapaense)


OBS: O escritor Paulo Tarso mantem um importante blog sobre a Literatura Amapaense em escritoresap.blogspot.com e a livraria recém fechada em Macapá foi a Livraria Amapaense (oficialmente em 22/02/2013).

"Estamos precisando muito disso, que haja uma política de publicação para incentivar não só os escritores que já existem, mas também os que vão se aventurar nessa trilha"
(Francisco de Assis - Professor de Literatura - sobre  a necessidade de políticas públicas de incentivo e apoio à Literatura Amapaense).

"Uma vez que não temos no Amapá editoras, não temos livrarias que façam essa distribuição, nem editores para publicar nossos livros a gente ainda depende do incentivo do Poder Público. Embora a gente tenha várias dificuldades de publicação, a gente tem uma literatura de qualidade. Se a gente conseguir colocar nos meios de comunicação e mostrar para o leitor aquilo que a gente está fazendo eu acredito que ele procura, ele mostra assim o seu interesse." (Lulih Rojanski - escritora e Diretora da Biblioteca Estadual Elcy Lacerda - sobre a distribuição da Literatura no Amapá).
"As pessoas prestam atenção, participam, perguntam e estão interagindo. Então a gente percebe que é um estado que tem muito que florescer na literatura."
(Ricardo Cabus - poeta)
Um passeio pelo rio Amazonas e chegamos a uma escola modelo no Município de Santana que atende a população ribeirinha da região
OBS: Essa escola localiza-se em uma comunidade ribeirinha conhecida como Cachoeirinha, na Ilha de Santana, e está localizada cerca de 25 minutos de barco saindo do Porto de Santana. Conheça um pouco mais dessa escola e sua realidade NESTE LINK e AQUI TAMBÉM.

"Ao longo do ano vocês trabalham a literatura também ou só nestes momentos?" (Repórter) "Não, é um todo, é um trabalho muito bom aqui na comunidade, a gente vai levando a vida como pode. Os alunos participam muito em tudo na escola." 
(Maria Célia Ribeiro - professora)
 
"A gente coloca a leitura, coloca contadores de histórias, sarau. O sarau aproxima muito porque ali o escritor e o leitor tem oportunidade de interagir no mesmo tempo e isso é bonito, e com arte, uma coisa meio teatral. Isso é bonito e bacana também.
(Carla Nobre - poeta e coordenadora da FLAP)

Imagens da  escola na Ilha de Santana. Ei turma, eu entendo a timidez!!!
Uma das experiências mais interessantes que presenciamos no Amapá foi o Teatro Marco Zero, que existe há 15 anos no Bairro Perpétuo Socorro. Um projeto particular que conta com a participação maciça da população. É a literatura fazendo diferença na periferia de Macapá. Fiquei impressionado com a participação das crianças principalmente.

"O ensaio é aqui, aí chamo as crianças, vou nas casas, convido e elas ficam satisfeitas, eu acho isso tão maravilhoso, uma satisfação tão grande dessas crianças estarem aqui dentro, é melhor do que estar na rua aprendendo o que não presta. Aqui dentro elas estão aprendendo arte e a arte é vida"
(Tina Araújo - Presidente do Grupo Teatral Marco Zero).

"Esse é um trabalho que venho fazendo, tenho duas filhas, todas duas são atrizes e recitam poesia. A mais velha tem 22 anos e hoje estava recitando com a menor, que tem 7 anos. No início era um pouco tímida, recitava meio de ladinho, hoje é toda metida e já chega chegando, ela quer fazer" (Andréa Lopes - atriz)

Esse foi o programa exibido sobre o Amapá e seus valores literários.

Conheça outros programas em:

sexta-feira, 15 de março de 2013

MUNICÍPIOS DO AMAPÁ - Bandeiras (Parte 3)

Mais duas bandeiras de municípios amapaenses. Geometricamente não estão perfeitas, mas dá para ter a idéia da concepção. São agora 11 identificadas das 16 existentes. Parece brincadeira e coisa trivial mas a maioria das bibliotecas amapaenses, todas que conheço, não reuniu ainda esta coleção que é frequentemente procurada em pesquisas. Os estudantes e professores que o digam. A busca ainda continua pelas de Pedra Branca, Cutias, Oiapoque, Amapá e Pracuúba. (Alguém me auxiliaria enviando a imagem para casteloroger@hotmail.com ?)

Bandeira de Ferreira Gomes
Bandeira de Tartarugalzinho 

Veja também:

terça-feira, 12 de março de 2013

Tirinhas dos CABUÇUS (Diário do Amapá - 02/05/06)

Tirinhas publicadas no Jornal Diário do Amapá, de 02/05/2006, desenhadas por Honorato Jr.

Os Cabuçus - Honorato Jr

Égua mano velho! Os cabocos agora são astros de teatro e, vira e mexe, 
se apresentam numa peça pai-d'égua de assistir...
...Mas bem que poderiam trazê-los de volta para as revistinhas né!
É o fraco não!!!!!

Quem se interessa por História Amapaense não pode deixar de conhecer a Sala de Periódicos da Biblioteca Pública Elcy Lacerda. Este e outros materiais vou conseguindo, às vezes, por lá mesmo. Tem até outra sala com jornais raros mais velhos que tu, do tempo do ronca na década de 1950. São obras que vou visitando e resgatando alguma coisa quando dá e, também e principalmente, conhecendo e aprendendo. Taí uma dica para quem é viajante e pesquisador da história.


Mais em:

segunda-feira, 11 de março de 2013

BAIRROS DE MACAPÁ - O Bairro do Beirol (Parte 2)

O Bairro do Beirol tem inúmeras histórias e, parte destas, foi apresentada pelo jornalista David Diogo em um vídeo no youtube. Dada a importância e procura pelo assunto, compartilhei o vídeo (com os devidos créditos) para referência a classe estudantil e professores. 
A história urbanística de Macapá é um assunto de grande procura nas bibliotecas amapaenses, invariavelmente com acervos muito limitados.

 O Bairro Beirol - Reportagem de David Diogo
(Produzida e postada no Canal TV DavidDiogo)
Duração: 10 minutos / Ano: 2012 

Pontos apresentados:
- O Programa Nosso Bairro veio à Macapá, capital do Amapá, para conhecer o BEIROL. O local foi conhecido por muito tempo como Bairro das Comunicações devido as antenas da EMBRATEL que existiam aqui, mas o tempo foi passando e a comunidade ganhou o nome de BEIROL. A partir de agora convido-o a acompanhar a história deste bairro, que se transformou e ficou conhecido como ponto de ligação para outras áreas da capital amapaense.  
- O BEIROL fica espremido entre os bairros Buritizal, Santa Inês e Trem (também pelo Buritizal, Muca, Pedrinhas e Jardim Equatorial).

- Segundo o último censo IBGE (2010) o bairro tem uma população de aproximadamente 9 mil pessoas, sendo a maioria jovem (veja alguns dados deste censo em correaneto.com.br).
- Com o passar do tempo o local foi se modernizando e recebendo serviços de infra-estrutura. A energia elétrica chega a todas as casas do bairro, mas no início não eram tantos os benefícios e nem tinha tanta gente, como conta a aposentada Maria Farias da Silva: "O bairro era um interior, não tinha muito morador. Quando cheguei as casinhas que tinham até a sede do Trem eram de barro, aí foi mudando, a cidade foi crescendo, a olaria era aonde tinha as casas do governo. Macapá tá grande e não conheço mais. Aqui era muito bom, o bairro melhorzinho para morar, eu acho bom." A aposentada vive um caso de amor com o bairro, de Afuá veio morar no Bairro do Trem e hoje vive no Beirol há mais de 50 anos.
- Durante um longo período o bairro foi conhecido como Bairro da Comunicação, é que no ponto onde hoje está contruído o Conjunto Mucajá funcionavam as antenas da EMBRATEL.
Antigas antenas da EMBRATEL (Fonte: Biblioteca Municipal de Macapá)    
Dê uma conferida também no link porta-retrato-ap.blogspot.com.br
- A comunicação tem haver mesmo com o BEIROL. Atualmente funciona no bairro uma das sedes da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) e os serviços acontecem no prédio ao lado do Conjunto Mucajá, onde moram mais de 100 famílias, remanejadas de áreas inadequadas para habitação.
Conjunto Mucajá (Fonte: macapalinda.blogspot.com)
"O conjunto recebeu dezenas de famílias cadastradas vindas principalmente da Vila do Mucajá, no Bairro Santa Inês. As condições de moradia nesta vila eram precárias. Frequentei o local nos anos 90 e testemunhei, em alguns pontos, fileiras de baldes para recolher água em uma única torneira e também casas em barrancos com sério risco de desabamento. O local também tinha fama de violência e vi algumas brigas entre participantes de gangues. Moro no Trem, mas frequentei uma igreja evangélica na vila entre 1994 a 2000. Lembro de um ponto, na saída do Mucajá, que era de muito risco a noite, era um beco margeando o muro para o SESC na saída para a Rua Jovino Dinoá. Com o tempo o povo o abandonou e a passagem se dava através da área onde hoje temos o Conjunto Mucajá. Este velho recorte de jornal nos dá uma panorâmica da antiga vila em uma reportagem de Ângelo Fernandes para o Jornal do Dia, de 16/01/2003." (R. Castelo)
Conjunto Mucajá (Fotos e informações: Prefeitura de Macapá)
Foi a primeira obra concluída no Amapá (e Região Norte) através do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) criado pelo governo federal na gestão do Presidente Lula (2007). Abrange 592 unidades habitacionais distribuídas em 37 blocos com 16 apartamentos cada. O custo da obra foi de aproximadamente 30 milhões de reais e a construção ficou a engargo da Prefeitura de Macapá, sendo inaugurado em outubro de 2011. O residencial, apesar de novo, já tem muita história, com pontos positivos ou negativos. Já se falou em especulação imobiliária, rachaduras na estrutura, aumento do índice de assaltos nas redondezas e conflitos entre os moradores (que são cerca de 3 mil).
- No vídeo, moradores do Mucajá relataram sobre as melhores condições encontradas no residencial.
 - Além do conjunto, uma oportunidade para quem não tinha um lugar regularizado para morar, o bairro tem outros privilégios. No bairro encontramos a sede do maior orgão de segurança do Amapá, o quartel do comando da Polícia Militar.
- A fé também está presente, São Pedro tem um lugar especial. Moradores do bairro são devotos e o escolheram como padroeiro. A Igreja São Pedro é uma das dezenas de paróquias da Diocese de Macapá. Diariamente é visita por moradores e por pessoas de outros pontos de Macapá.
- Na década de 70 foi criada a Polícia Militar do Amapá (1975) e instalado no bairro seu quartel. O orgão trabalha com crianças e adolescentes através do projeto Peixinhos Voadores. Um incentivo a prática esportiva através da natação.
Foto: Sebastião Mota / portalamazonia.com
O Peixinhos Voadores consiste na descoberta de novos talentos para a natação com estímulos para a responsabilidade, respeito e inserção social. O projeto iniciou em abril de 2002, com apenas sete crianças, e hoje atende mais de mil.  As atividades também foram expandidas para outros pólos nos municípios. (Fonte: coronelwalcyr.blogspot.com)
- Segundo moradores, o bairro é um local bom de se viver. Um lugar de esperança, que por mais que tarde, nunca falha.

Veja também:
  - O Bairro Beirol (Parte 1)

sexta-feira, 8 de março de 2013

Chorinho para Lúcia (Lolito do Bandolim)

Foto: Jornal AQUI AMAPÁ
Laurindo Trindade, o Lolito do Bandolim, paraense nascido em Igarapé-Açu (1934), é um talentoso instrumentista e, certamente, referência para muitos artistas no Amapá e Pará. 
Quando menino em Serra do Navio morei ao lado de sua residência (na BC-8) e Seu Lolito era visto pela vizinhança como grande músico. Recordo também de um pequeno viveiro no quintal de sua casa, uma atração para a garotada, que tinha um aloprado macaco-prego e umas enigmáticas coambas (macacos conhecidos por outros como coatá ou macaco-aranha). Nunca tinha visto e isso despertou e firmou em mim um amor eterno pela natureza, quando então conheci esses animais curiosos e cativantes. Por essas e outras deixo aqui uma singela homenagem.
A música "Chorinho para Lúcia" faz parte do CD "Amapá Instrumental" produzido pela AMCAP (Associação de Músicos e Compositores do Amapá). É uma composição de Lolito.

  "Chorinho para Lúcia"
Lolito do Bandolim 

Pandeiro: Giulian  /  Atabaque: Lindomar
Cavaco: Pinóquio  /  Violão: Leonardo Boca Trindade  /  Bandolim: Lolito Trindade


Veja uma pequena biografia de Lolito do Bandolim em:

quinta-feira, 7 de março de 2013

MUNICÍPIOS DO AMAPÁ - Bandeiras (Parte 2)

Quatro bandeiras municipais do Amapá. Estou tentando reunir dos 16 municípios, com estas já somei nove.

 Bandeira de Itaubal.
Bandeira de Calçoene.
 Bandeira de Mazagão.
Bandeira de Porto Grande.

  
Veja também:
MUNICÍPIOS DO AMAPÁ - Bandeiras (Parte 4)  

sexta-feira, 1 de março de 2013

Lembranças de casa (Histórias da Vó Nikita)

Era uma vez um paraense que constituiu uma família de cinco filhos: Sebastião (Guitão), Apolinário (Puluca), Cezarina, Nelson e Elísia (Lili), filhos de Maria Pena Castelo. O homem vivia em terras ribeirinhas, como seus irmãos Pedro e Judite, junto a amazônidas espalhados na região de um grande rio, o Jacaré Grande, vizinho do Rio Jacarezinho, vizinho do Rio Mututi, na região de Breves. 
Baía do Rio Jacaré Grande - Pará / Foto: Marcel Lima
Gira o mundo trazendo consigo suas portas do destino, diferente e abrangente a cada um de seus filhos. Ouvi falar que foram seringueiros e outros enveredaram pelo ramo do comércio, houve um renomado mestre-de-obras e outro seguiu os passos do pai como tabelião. Seja o que for, construindo uma história com o sobrenome daquele homem, o velho César Castelo
Arquipélago do Marajó - Foz do Amazonas (Foto: Wikipédia)
O tempo é mesmo uma ave de vôo rápido e, das histórias vividas no mundo retalhado pelas águas no arquipélago marajoara, três dos irmãos agora são moradores de uma jovem capital, Macapá. Lugar de sonhos renovados em oportunidades anunciadas desde 1943 com a criação territorial. Migraram para estas terras, como tantos outros, assumindo a identidade amapaense na década dos anos dourados. Os dados atuais mostram ainda essa realidade, grande parte da população amapaense é oriunda da região de ilhas paraenses.
Macapá, capital do jovem Território Federal do Amapá (Foto: AMAPATEC)
Ana e Apolinário (1969)
O homem teve outros filhos e destes, talvez com algum equívoco, sei citar os nomes da César, Ézio, Manduca e Zé Maria, havendo outros que não conheço e dos quais nada sei de histórias, a não ser de seu filho Apolinário, para sempre em minhas lembranças como o Puluca. Tal qual seu pai, também patriarca de muitos em uma família construída com a ribeirinha dos olhos claros, Ana Ferreira Castelo. Meus avós.


 Casamento civil de Apolinário e Ana (casal no centro) em Macapá, 1960.
A consolidação de um relacionamento desde os interiores de Breves.
O cidadão de costas, à direita era conhecido na história do bairro do Trem como "Barrigudo", dono de um bar (o "Estrela Dalva") que nos anos 50 e 60 promovia batalhas de confete no carnaval (isso é relembrado sempre na história do carnaval amapaense). Meu avô trabalhou no local e o Barrigudo foi testemunha em seu casamento civil.
Os casamentos religiosos nos confins ribeirinhos se davam quando algum padre visitava as comunidades anualmente em um batelão. Assim foi o de meus avós quando moravam às margens do Rio Jacarezinho (Breves - Pará).
  
Vila de Riberinhos (Obra de JERIEL SOUZA / 2009)
Em Macapá se estabeleceram em busca de realizações e oportunidades aos filhos, como a escola, acesso aos serviços de saúde e emprego, morando no Bairro do Laguinho (anos 50) na época fiel ao nome com áreas alagadas, onde a malária acometeu vários moradores. 

Bairro do Laguinho na década de 1960 (Foto: Acervo Biblioteca SEMA)
Das agruras fizeram-se fortes até firmarem-se em uma parte da cidade que estava sendo loteada e distribuída pela prefeitura (ainda nos anos 50). 


De lá viam-se campos ermos (veja na parte superior à esquerda na foto de Macapá no início da postagem), com um córrego e lagos, onde os buritizais se estendiam a perder de vista. Diziam que logo seria um grande bairro, restando hoje daquela mata  apenas o nome do maior dos bairros de Macapá, o Buritizal. O córrego e lagos já não existem, foram comprimidos no atual Canal do Beirol.


Meus avós e outros que conseguiram lotes vislumbraram melhores condições com a construção anunciada de uma escola, hospital e uma grande garagem da prefeitura nas adjacências de onde foram morar. Era o Bairro do Trem, reduto final dos irmãos Apolinário e Nelson Castelo. Nessa época os limites do Trem não se estendiam muito além da Praça da Conceição e já existiam as Escolas Alexandre Vaz Tavares e Castelo Branco. O loteamento expandiu o bairro e, durante muitos anos, até os anos 80, um lago ainda existia no que é hoje o Canal do Beirol, com muita gente residindo nesta área de ressaca.

Aí estão o PS Osvaldo Cruz, a Escola Coaracy Nunes (no Bairro Central próximos ao Bairro do Trem) e a garagem da prefeitura na Hamilton Silva (Trem). Pontos descritos no texto que entusiasmaram novos moradores do Trem nos idos iniciais de sua urbanização. Fotos de 2013.

A geração de Ana e Apolinário Castelo

Ana (centro) e seus filhos, respectivamente: Augusto (Teco), os gêmeos César e Bené, Zé Maria (na janela), Antonio (bebê), Maria José (Dedeca) e Alzira. Foto de 1963, já estabelecidos no Bairro do Trem. 
Outros filhos foram Maria Helena (ao lado de Ana, 1958?, em foto rara e única da família, o sarampo a levou aos 8 anos em 1960, realidade de uma Macapá de outrora.), Marcelo (com Ana, em 1970?) e Valdiney Castelo (em 1981).

Assim cresceu esta cidade, com muitos paraenses buscando por melhores dias. Dois fatores decisivos contribuíram para o aumento migratório: a criação do território federal nas terras que antes pertenciam ao Pará e a instalação da ICOMI (Indústria e Comércio de Mineração). 
Macapá, como jovem capital, passou a receber investimentos e melhorias básicas em sua infra-estrutura: escola, hospitais, abertura de ruas, delineamento dos bairros, etc. Tudo muito propício à migração também. 
A população macapaense na década de 1960, de acordo com o Anuário Estatístico do Amapá, era de 36.214 habitantes, e a atual está próxima dos 400 mil habitantes (IBGE 2010). Como nos tempos de meus avós, continua uma intensa migração, mas as oportunidades já não são como há tempos atrás e a ocupação e desaparecimento das verdejantes áreas de ressaca foram consequências imediatas com o inchaço populacional (como os lagos citados sobre o Buritizal), sem falar em outros graves problemas sociais.
  
Apolinário, em pé, quando trabalhador em um estabelecimento em Macapá na década de 60. 
Puluca, meu avô, uma das mais carismáticas pessoas que conheci, deixou seu nome para ser honrado através de seus dez filhos, iniciando-se esta geração com a "graça e beleza" (esse é o significado do nome na etmologia e abençoada vivência) de Alzira Castelo, professora em todos estes fatos contados, junto com minha avó Ana
 A geração de Alzira Castelo
Alzira (Década de 60)
Mulher batalhadora e admirada pelos familiares e amigos, Alzira Castelo é a primogênita de meus avós. Nascida em 1948 nas terras ribeirinhas de Breves, especificamente em um lugar conhecido como Arrozal, é uma das colunas mais bonitas desta família, com uma história de belos exemplos e vitórias contra adversidades, desde quando menina ribeirinha nos interiores brevenses. Uma auxiliadora fundamental de Ana. Pode ser chamada de mulher virtuosa, eu a chamo de mãe.

No ano de 1951 o estudo geológico e conclusivo da ICOMI confirmou a existência de quantidade superior a 10 milhões de toneladas de minério na região de Serra do Navio. Diagnóstico necessário para o início da construção das instalações industriais (embarcadouro e ferrovia) em 1954. 
Os projetos de urbanização e construção das vilas residenciais (Serra do Navio e Vila Amazonas) começaram em 1955. As obras concluiram-se em prazo inferior ao estipulado (previsto para quatro anos) e em 1957 começou o embarque de minérios no Porto de Santana. Tudo isso ressoou como uma oportunidade de emprego e melhores condições de vida para muitos trabalhadores. A ICOMI e suas vilas apresentavam um padrão e qualidade de vida acima do que era comum na Amazônia (educação, saúde, lazer, moradia, segurança, etc), despertando sonhos e incentivando ainda mais a migração para o Amapá. 

Porto de Santana e o embarque de minério (Biblioteca IBGE), Ferrovia Santana-Serra do Navio (Livro Mineração no Brasil/Léo Christiano Editorial) e Vila de Serra do Navio (Livro Vila Serra do Navio/Benjamin Ribeiro).
Alzira Castelo construiu sua história nesse sonho, residindo em Serra do Navio entre os anos de 1970 a 1982, casada com Osvaldo Nascimento (1969). Na Vila Amazonas teve os filhos Inara e Rogério, e em Serra do Navio os filhos Rogerson e Imara. Outros tempos de uma cidadania respeitada. Se meu Amapá primasse sempre por isso...
Alzira e filhos (1974).
Osvaldo e filhos (1975)
Ana (centro), Alzira e seus filhos (1985).
Ah se pudesse conhecer mais histórias! Nosso univeso costuma girar só em torno dos mais próximos que temos... Há coisas para sempre perdidas, ou que são capazes de unir pontos desconhecidos, e talvez tão próximos, de irmãos que vem se espalhando a gerações: minha Família Castelo.