As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Opúsculo Humanitário (Nísia Floresta, 1853)

Nísia Floresta, um dos vários pseudônimos adotados pela potiguara Dionísia Gonçalves Pinto, foi uma ilustre e notável brasileira, precursora do feminismo no Brasil, mais conhecida entre intelectuais estrangeiros do que em sua própria nação. Claro, excetuando-se seu estado natal (RN), onde nomeia um município, e meios fechados como os acadêmicos (tipo na Sociologia). Em termos gerais, principalmente na rede de ensino público, existem raríssimas referências (isso para não generalizar algo mais dramático).
Nossa nação homenageia tanta coisa tosca e esquece de figuras verdadeiramente relevantes. Não entendo como nunca encontrei qualquer citação a ela em minha vida estudantil. Nenhum professor expôs qualquer coisa...
Quer ver como não valorizamos muitas pessoas merecedoras? Pense na Malala, com justiça recebeu um Nobel pela luta a favor da educação das crianças paquistanesas, em idos que pensávamos que direitos como esse seriam já uma conquista em todo canto. O mundo a reverencia. Agora retroceda dois séculos em nossa sociedade brasileira, dominada por machismo e conservadorismo pra lá de tosco, e veja como eram as lutas, mobilizações e aspirações de uma jovem, nordestina, também chamada Nísia Floresta. Grandessíssimas descobertas se apresentarão. Podemos dizer que de certa maneira é reverenciada no mundo, mas em nossa nação...

Cheguei a seu nome através de uma revista de história (AH) e fiquei curioso, no que poderia ter satisfação de duas formas: em rolé pelas biografias ou, o que achei mais interessante no momento, conhecendo alguma de suas várias e revolucionárias obras.

Feita as devidas apresentações e contexto da leitura, não poderia deixar de registrar que essa foi uma descoberta que impactou. Nísia destacou-se como escritora, jornalista e educadora, entre outras coisas, de maneira extraordinária para seu tempo, onde escreveu sobre direitos inerentes não apenas às mulheres, mas também a favor da abolição da escravatura, direitos indígenas e pelas mazelas desfavorecidas e excluídas pelos ditames do dinheiro.

Essa obra é de 1853, do tempo do Brasil imperial, e foi concebida na forma de textos curtos publicados em jornal.
O texto instiga o público a pensamento transformador, assemelhando-se a um discurso, revolucionário em propostas e, o que é interessante, contextualizado com transformações em andamento na época. Apesar do português arcaico, a leitura foi empolgante.

Nos primeiros textos, Nísia faz um passeio pela história, destacando o papel destinado à mulher, onde prevalece a cultura do servilismo, com afastamento da oportunidade ao conhecimento científico, restando apenas a formação educativa para ser esposa e mãe. A autora discorre sobre várias culturas e faz essas observações. Na grega, por exemplo, prevalecia o pensamento da mulher ser incompleta para a compreensão do pensamento, segundo o texto, um conceito de origem aristotélica. Surpreende o tanto de citações a mulheres e culturas e o livro apresenta fartas notas de rodapés. Mas não apenas os aspectos retrógrados são mencionados, os positivos também, como citações de contexto bíblico à Débora (do Antigo Testamento) e Judite (dos livros apócrifos adotados no catolicismo).
Falando em fé, a autora não se opõem a ela, pois manifesta ter e destaca a importância, mas vai contra o conservadorismo educativo ditado por líderes da igreja na época.

No contexto da sociedade, Nísia apresenta a atual situação da educação, propondo reformas. Também critica o conservadorismo em costumes de época, como: o papel de servilismo e exclusão da mulher no protagonismo cultural; a supervalorização da futilidade em vaidades (como o uso do espartilho, onde a autora conta a história de uma menina de 6 anos morta em sala de aula, em decorrência da imposição da vaidade pelos pais); a exclusão dos indígenas negros e pobres da educação; a ausência dos pais nesse processo (transferindo para aias ou colégios internos); e costumes como o de deixar as crianças suscetíveis a ouvir conversações de adultos sem o menor pudor. É curioso, mas a autora elogia até mesmo o hábito frequente e exemplar de higienização indígena.

O texto propõe reformulação no ensino não apenas como direito às mulheres, mas também como necessidade requerida pelas transformações em ebulição no mundo. Isso é tão sério que, na visão do progresso, ela propõe que fosse criada uma classe operária feminina.
Se a Malala consagrou aquela frase de que uma caneta e caderno podem transformar o mundo (mais ou menos assim), Nísia encerra sua obra com citação não menos icônica: educai as mulheres! 


Nísia Floresta

O livro traz também breve biografia e o que destacou-se nesse meu primeiro contato foi o envolvimento com intelectuais na Europa que lhe influenciaram (elogiando as nações abertas a transformação no pensamento) e paralelos que percebi em sua cronologia. Veja só: sua primeira obra já tem essa pegada revolucionária e foi publicada em 1832, alguns anos antes da introdução do Romantismo no Brasil. Enquanto os intelectuais valorizados do contexto traçavam a idealização da mulher em devaneios, Nísia escrevia coisas mais coerentes e importantes; o mesmo se aplica antes de iniciarem a escola realista em nosso país, quando já dissertava pioneiramente sobre muita coisa de nossa sociedade.
E aí, por seus escritos, por seus posicionamentos, por suas inovações, ainda assim nada costumam incluir nos livros de história, literatura, ou outra ciência no meio estudantil...
Foi realmente boa descoberta e vou seguir nelas. A juventude de hoje poderia ser apresentada de alguma maneira a essa mulher na rede de ensino, e aí tenha suas conclusões...

Vou deixar em registro frase sua que gostei, sendo um incentivo e uma crítica, tudo de maneira poética:

"Deus depôs no coração da brasileira o germe de todas as virtudes. Vejamos o impulso que o governo e os homens da nossa nação têm dado a este germe precioso, como têm eles cultivado e feito desabrochar as flores, madurar os frutos que se deve esperar de uma planta de abundante seiva, sob os cuidados de um hábil e sábio horticultor."
(Nísia Floresta)

SUGESTÃO DE LEITURA DA
BIBLIOTECA AMBIENTAL DA SEMA EM MACAPÁ

segunda-feira, 18 de março de 2019

A capital do meio do mundo (Brasil Visto de Cima)

Brasil Visto de Cima é uma série exibida em canal a cabo, que faz  emocionantes voos pelo Brasil. Por meio de imagens feitas em helicópteros e drones, surgem ângulos, visões e reflexões sobre os encantos, as belezas, as histórias, as curiosidades e os contrastes de um país imenso e cheio de surpresas.
Em 2017 Macapá foi tema, em programa intitulado A capital do meio do mundo. Documentário de 22 minutos, com imagens e informações interessantes narradas pelo ator Caio Blat.

A capital do meio do mundo 
(Brasil Visto de Cima - Temporada 4 - Episódio 28, Outubro de 2017)
O início do programa - apenas 8 minutos, em qualidade baixa de vídeo

Veja algumas imagens do programa!

Macapá é a única capital brasileira atravessada pela Linha do Equador. Um famoso monumento registra o fato. Outras atrações fazem dela um dos mais interessantes centros turísticos da Amazônia.

FORTALEZA SÃO JOSÉ DE MACAPÁ
MACAPÁ
BAIRRO DO TREM E IGREJA N. S. CONCEIÇÃO
BAIRRO CENTRAL E PRAÇA FLORIANO PEIXOTO
MACAPÁ EM VISÃO DE SEUS ARREDORES
MONUMENTO MARCO ZERO E ESTÁDIO ZERÃO
MUSEU JOAQUIM CAETANO DA SILVA
TEATRO DAS BACABEIRAS
BAIRRO CENTRAL E PRAÇA VEIGA CABRAL
PRAÇA VEIGA CABRAL
IGREJA SÃO JOSÉ
PRAÇA DA BANDEIRA

Documentário: A capital do meio do mundo
Série: Brasil Visto de Cima
Temporada: 4
Episódio: 28
Ano: 2017
Duração: 22 minutos
Narração: Caio Blat

O vídeo pode ser visto no acervo da
BIBLIOTECA AMBIENTAL DA SEMA
 EM MACAPÁ

sexta-feira, 15 de março de 2019

A tragédia Sobral Santos II (Pernambuco - poeta nordestino)

Há tempos procurava alguma publicação sobre o Sobral Santos II, embarcação paraense que naufragou nas proximidades de Óbidos, em 1981. Encontrei este singelo cordel, assinalado por um cordelista autoproclamado Pernambuco, poeta nordestino. Tem apenas 32 estrofes e foi publicado pouco depois da tragédia, com grande ênfase à questão da superlotação por conta da ganância dos responsáveis. Não se detêm em histórias isoladas, conta um pouco do contexto ocorrido na famigerada madrugada e cita também o naufrágio do Novo Amapá. Paralelo surreal, pois foram os dois maiores desastres fluviais na Amazônia, com número de vítimas parecido, separados por meses no mesmo ano - o fatídico 1981 - onde a história de superlotação, omissão ou conivência na fiscalização, além da ganância, como diz o cordelista, escandalosamente se fizeram presentes. O Novo Amapá naufragou em 06 de janeiro e o Sobral Santos II em 19 de setembro. Nas duas embarcações, histórias de centenas de mortes. A obra é mais emotiva que informativa e a leitura foi movida por curiosidade.

Título:  A tragédia Sobral Santos II
Autor: Pernambuco, poeta nordestino
Páginas: 8
Ano: 1981 (Outubro)
Edição do Autor
Literatura de Cordel


"Deus Pai Todo Poderoso
abre a minha memória
com sentimento profundo
para contar esta história
com a ajuda de Jesus
e da Virgem Nossa Senhora

Falo do barco motor
Sobral Santos malfadado
no dia 19 de setembro
viajava superlotado
em Óbidos naufragou
matando o povo afogado."

(estrofes iniciais do cordel)
PERNAMBUCO, poeta nordestino



Para conhecer essa história: 


SUGESTÃO DE LEITURA DA
BIBLIOTECA AMBIENTAL DA SEMA
 EM MACAPÁ

quarta-feira, 13 de março de 2019

Ad Majorem Dei Gloriam (Bruno Rafael Machado Nascimento)

Título: Ad Majorem Dei Gloriam - Missões jesuíticas setecentistas no Oiapoque e os usos de documentos históricos para ensino de História no Amapá
Autor:  Bruno Rafael Machado Nascimento (mais informações NESTE LINK)
Editora: Autografia
Páginas: 254 
Ano: 2018

"Este livro versa sobre a presença jesuítica francesa na região do Oiapoque durante a primeira metade do século XVIII com enfoque nas cartas escritas pelos missionários e de como utilizá-las no Ensino de História escolar na Educação Básica. Objetiva-se compreender a partir desses escritos as relações entre indígenas e jesuítas enfatizando as táticas de sobrevivência e ressignificação dos ameríndios enquanto protagonistas do processo histórico."
 ...
'Traz duas grandes contribuições: uma historiográfica, pois revela por meio de análises das fontes a presença jesuítica francesa na região do Oiapoque durante a primeira metade do século XVIII e as ações dos 'filhos de Loyola' na segunda metade do século XVII nas 'terras do Cabo norte'. A segunda contribuição diz respeito aos usos das cartas dos inacianos que estiveram na região do Oiapoque para o ensino de História no Amapá. É importante destacar que a reflexão esteve pautada não em uma suposta ação 'civilizadora' dos missionários, mas se buscou desvendar as complexas relações entre indígenas e os religiosos tomando os ameríndios como agentes do processo histórico."
...
"É uma temática em muitos aspectos original, pois pouco se conhece sobre as relações entre ameríndios e os missionários jesuítas franceses que atuavam na fronteira colonial em plena Amazônia. Costumo afirmar que onde o Estado não se fazia presente lá estava um jesuíta para tentar converter as gentes das regiões. Por que vieram para o Oiapoque e o 'Cabo Norte'? Quais as intenções pessoais, comunitárias, econômicas e políticas? Como os indígenas reagiram? Permitiram a conquista física e espiritual? Como utilizar os documentos em sala de aula? Que metodologia aplicar? São algumas questões que busquei responder ao longo da obra. Boa leitura!"

(TEXTOS DE APRESENTAÇÃO EXTRAÍDOS DO LIVRO)

Expansão dos jesuítas no norte do Brasil
(Ilustração do livro)


"Contribuição de grande relevância para a historiografia amapaense, com fatores interessantes na temática, na metodologia utilizada e, sobretudo, na proposta estabelecida pelo autor.
 

As missões jesuíticas na região do Oiapoque constituem tema de raríssima produção bibliográfica. A partir do fato, o autor fez uma interessante investigação sobre as missões e correlação com povos indígenas, conforme percepção no contexto escolar. Os resultados, seja em livros de abrangência nacional ou regional, além de conteúdo limitadíssimo e com ausência de aspectos relacionados à historia amapaense,  em geral, apontam conhecimento que vem se perpetuando com europeização (a História resumida a ações europeias no chamado "Novo Mundo"), invisibilidade dos povos nativos (apresentados sem protagonismo) e estereótipos diversos no paralelo entre 'civilizados ' europeus e 'selvagens' indígenas.  Esse é o primeiro atrativo do livro, a abordagem que se desvincula do tradicionalismo e vai em busca do conhecimento histórico em fontes do contexto: desconhecidas cartas missionárias.

Em seu processo construtivo, de cerca de dois anos, a obra teve como metodologia a análise dessas cartas, de origem francesa setecentista, onde o conhecimento expresso permite ressignificações sobre as missões e povos indígenas. Entre outras descrições: o cenário revelado é de região até então pouco valorizada no contexto governamental e com disposições missionárias em condições desafiadoras, onde ocorreram mortes, doenças e impactos culturais como a poligamia. Havia a valorização da catequese para as crianças (mais suscetíveis a proposta jesuíta) e com o tempo, nos interesses crescentes sobre a região, ocorreram 'concessões' dos padres para manter a influência. Entre os ameríndios, a adesão às missões também tinha interesses, como fuga do domínio português e visão diferenciada atrativa que os padres aparentavam em suas práticas espirituais, interpretados como xamãs, ressignificando posicionamentos. São alguns dos aspectos descobertos e abordados na fase de pesquisas.

Na proposta, ênfase para a valorização no ensino escolar dessa documentação epistolar, outrora desconhecida, motivando-se construção do conhecimento na análise destas. Possibilidade viável, instigante a criticidade e interpretações mais coerentes com a realidade histórica, especialmente na região do Oiapoque, campo abordado pelo autor, em novidades destacadas para a história. Há apresentação dos passos e importância de uma interessante metodologia.
Ressalte-se que o Amapá tem grande parte de suas terras homologadas como unidades indígenas, secularmente foi cenário de disputa territorial e tem curso voltado para a área indígena.

O livro é mais abrangente que essas meras considerações e vale muito a conferida. Acredito que o termo 'ressignificações', expresso pelo autor em vários momentos, seja o diferencial em tudo que apresenta e propõe.
Obra preciosa para redescobertas e proposta escolar."

(Registro no SKOOB)


Pode ser adquiro em:

- autografia.com.br
- amazon.com.br

SUGESTÃO DE LEITURA DA
BIBLIOTECA AMBIENTAL DA SEMA EM MACAPÁ

segunda-feira, 11 de março de 2019

Amazônia: manual para as futuras gerações (Sebastião Antônio Ferrarini)

Título: Amazônia: manual para as futuras gerações
Autor: Sebastião Antônio Ferrarini
Editora: Dinâmica
Páginas: 130
Ano: 2011

"Recebi este livro é fiquei muito grato por ser uma obra que retrata nossa Amazônia através da sátira, do humor e da interpelação. Sebastião Ferrarini procura transmitir conceitos, expressões, projetos e iniciativas referentes à Amazônia e denunciar a avassaladora pilhagem dela. Parabéns a este autor e a esta obra" 
(CABO MACIEL) 

"Coisa complicada quando o reconhecimento de valores outrora ignorados se dá através da perda. É o que diz o dito popular "Quem não aprende por bem, aprende por mal" e o que veio na mente ao terminar a leitura desse livro, que faz uma mistura de curiosidades, humor e aprendizagens surreais.
Expressando melhor a proposta, o autor, através de perguntas e respostas, aborda vários temas referentes à Amazônia, mas em um diferencial futurista, como se em seu contexto todas as projeções destrutivas tivessem se realizado, ao ponto da Amazônia ter se tornado remota lembrança e lenda, respondendo para seus contemporâneos o que teria sido.
Leitura instigante e curiosa.
As interpelações passam pela fauna, flora, cultura, personagens, entre outros aspectos da identidade amazônica em seus tempos pujantes, respondidas com sarcasmo ao descuido e ignorância ambiental.
Para não dizer que tudo é cenário caótico, destaque para a última parte, em que o autor volta à atualidade e, naquilo que está implícito na mensagem da obra, fala de Educação Ambiental em texto que assume tons poéticos - construção singelamente bonita e instigante à aprendizagens necessárias."
(REGISTRO NO SKOOB)

SUGESTÃO
 BIBLIOTECA AMBIENTAL DA SEMA EM MACAPÁ

quinta-feira, 7 de março de 2019

Índios e Explorações Geográficas (Boanerges Lopes de Sousa, 1955)


Título: Índios e Explorações Geográficas
Autor Boanerges Lopes de Sousa (Marechal)
Editora: Ministério da Agricultura - Conselho Nacional de Proteção aos Índios
Ano: 1955 (1ª edição)
Páginas: 178

O livro tem relatórios de viagens realizadas pelo Marechal Boanerges Lopes de Sousa, colaborador de Rondon, com estudos geográficos na década de 1920. 
Está dividido em 4 partes:

1ª Parte - "Explorações Geográficas na Região do Alto Rio Negro" - contribuição para o 9º Congresso de Geografia, realizado em 1942.

2ª Parte - "Uma viagem ao Oiapoque" - tema de uma conferência em que Boanerges conduz o leitor do porto de Belém (Pará) até o de Clevelândia, no Rio Oiapoque, proporcionando-nos excelentes informações do contexto de época.

3ª Parte - Constituída por palestras e conferências em que o autor aborda aspectos concernentes à proteção e assistência a povos indígenas. 

4ª Parte - Exposição sucinta de trabalhos da Comissão Rondon no Sul de Mato Grosso, na construção de linhas telegráficas. E uma homenagem ao Marechal Rondon pela Sociedade Brasileira de Telecomunicações, em 1954.

Veja AQUI o Sumário completo da obra.

Na parte referente ao Amapá (página 78 à 120), apresentada em Conferência realizada em 23/11/1942 pelo Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, extraí algumas imagens e texto interessantes.

No desembarque em Macapá, as carroças cooperam no transporte dos passageiros.
"...Chegada a Macapá... O navio ficou à distância. O porto é pior que o de 'Chaves'. A praia é extensa e rasa, de leito coberto de lama endurecida. Para o desembarque, recorre-se ao serviço de carroças, puxadas por muares; estas se adentram pelo mar, ao encontro das canoas, para receber os passageiros e as bagagens.
É um espetáculo interessante e um tanto cômico esta baldeação das canoas para as carroças e o acesso ao ponto de desembarque. Poder-se-ia evita-la construindo um trapiche para atracação dos vapores, mas isso demanda estudos especiais, porque são fortes os ventos que sopram do norte e a ação demolidora do mar, acossado pelo vento, faz a costa recuar, dia a dia, o que é agravado pelo fluxo e refluxo das marés. A cidade bicentenária já perdeu algumas ruas, recuando cerca de quatrocentos metros para o interior. Entre os edifícios que desapareceram com o efeito da erosão, cita-se o Hospital Militar da antiga guarnição."
Pedra do Guindaste.
"Uma testemunha da costa de outrora é a 'Pedra do Guindaste', um bloco de argila tão endurecido que ali permanece cerca de 500 metros afastado do cais de proteção contra a ação hidro eólica. Contam que foi ali que os portugueses desembarcaram para construir a Fortaleza."
O 'Cassiporé' atracado no pátio de Santo Antônio ou Vila Oiapoque... 
Na outra margem, a Vila 'Saint George'.
"... O 'Cassiporé' lançou ferros no porto da Vila Oiapoque, também conhecida por 'Demonti' ou 'Ponta dos Índios', seu primitivo nome. É o primeiro povoado brasileiro da fronteira e nele o Governo instalou um Posto Fiscal e o Estado do Pará, uma Coletoria...
... Em frente à povoação, está situada a Vila Saint George, de aspecto bizarro, com algumas casas em estilo chinês, cobertas de zinco umas, de palha outras e onde se agita uma população de cerca de 600 almas, de crioulos e de mestiços de franceses... O comércio é ativo e muito procurado pelos viajantes brasileiros. Saint George é servido por dois vapores que fazem viagens quinzenais diretas para Caiena, no Atlântico."
O porto de desembarque em Clevelândia.
"Afinal, Clevelândia à vista!
... Cleveland ou Clevelândia foi fundada em 1922, no governo de Epitácio Pessoa, com o objetivo de fixar as populações do baixo Oiapoque, criando e incrementando naquela região privilegiada para agricultura os produtos da lavoura e mesmo da pecuária. Destinava-se a abastecer a região e a prover o Destacamento Militar da Fronteira...
O hospital de Clevelândia.
"Clevelândia... Dispunha de uma estação de rádio, de excelentes casas para a administração e escritórios, de uma escola e de várias casas para seus funcionários. Possui ainda um ótimo hospital, que, no momento, não agasalhava um só doente, e de uma hospedaria para imigrantes...
...Tudo havia sido previsto para o desenvolvimento da Colônia... As terras foram loteadas e teriam produzido e fomentado a riqueza desejada se a fatalidade não houvesse conspirado contra os seus destinos e a falta de firmeza e de tenacidade da administração pública não lhe tivesse paralisado a vida."
Esquema do Itinerário de Inspeção da Fronteira (1927)
Boanerges Lopes de Sousa foi um dos eficientes colaboradores de Rondon, servindo na Comissão de Linhas Telegráficas de Mato Grosso ao Amazonas (Comissão Rondon) no período de 1910 a 1922; foi chefe de Estado Maior do Marechal Rondon na Inspeção de Fronteiras (Comissão organizada no governo do Presidente Washington Luiz); e entre outras atribuições, também foi Presidente do Conselho Supremo de Justiça Militar e integrou o Conselho Nacional de Proteção aos Índios, do qual, durante 9 anos, foi um dos mais estudiosos e dedicados membros. Os trabalhos que apresentou no decorrer do longo período que serviu sob a chefia de Rondon estão consubstanciados em minuciosos relatórios contendo valiosa documentação ilustrada com mapas, fotografias e dados estatísticos, os quais merecem ser divulgados.

SUGESTÃO
BIBLIOTECA AMBIENTAL DA SEMA EM MACAPÁ

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Lurdinha (Rui do Carmo)

O primeiro romance escrito por Rui do Carmo. As 140 páginas desta narrativa linear, escrita em terceira pessoa, convidam o leitor a acompanhar a vida da personagem-título. 
O narrador começa apresentando Lurdinha, uma garota de 14 anos, moradora de um vilarejo em Barcarena (PA) no ano de 1950, que sonha estudar e se tornar professora. Ela recebe a proposta do comandante Salim para viajar a Belém, onde trabalhará nos afazeres domésticos em sua residência e onde também poderá estudar. Os pais de Lurdinha consentem e ela parte para a capital paraense, rapidamente criando um vínculo de amizade com a esposa do comandante. Tudo corre conforme o planejado até que a jovem retorna à casa paterna para férias de verão e conhece Oswaldo. A partir de então, muitas são as reviravoltas que ocorrem em sua vida até os 75 anos. 
A narrativa demonstra um grande trabalho de pesquisa histórica ao mencionar produtos e empresas há muito extintos. Percebe-se também uma idealização do ribeirinho e da vida no interior em trechos como: 
'Esta relação com a natureza faz do caboclo amazônico um sujeito sem grandes preocupação e não se ouve falar em pai que por algum fútil motivo, bater em um filho, quebrou a casa ou surrou a mulher, coisas de cidade grande' (pag. 29)."
Fonte: Wikipédia

Título: Lurdinha
Autor: Rui do Carmo
Editora: Gráfica e Editora Cometa
Ano: 2005
Páginas: 140

Romance de Rui do Carmo com o protagonismo de Lurdinha. A história acompanha sua trajetória de vida num hipotético retrato sobre o interior paraense, em recorte temporal entre as décadas de cinquenta a oitenta.
Os capítulos são curtos e a trama não tem grandes aprofundamentos, caracterizando-se por passagens de tempo em que destaca-se a constância da personagem ante as adversidades. Algo relacionado a posicionamentos de fé e propósito de vida (ser professora).
Três momentos tem maior atenção. O romance se inicia na década de 1950, quando encontramos Lurdinha adolescente, no município de Barcarena, cultivando sonhos com os estudos e convivendo com realidade de dificuldades e desafios. O texto é um tanto idílico sobre a vida interiorana (em particularidades que reconheço e gosto de ler) e o autor destaca sempre uma breve descrição de época. O desafio aos estudos é a maior ênfase.
Alguns desdobramentos importantes e encontramos Lurdinha na década de 1970, na vida adulta em realidade comum de: casamento muito jovem, vários filhos, viuvez e dramas familiares que o autor misturou com o contexto de época, direta ou indiretamente, abordando a ditadura, prisão e perseguição política, garimpo e prostituição, frustrações e morte precoce de filho.
Na década seguinte (1980), a maturidade, sugestionando-se percepção de ideais valorosos e dignos de inspiração, explícitos numa constância de vida decidida e revigorada pela fé - a história de Lurdinha.

Leitura fluida, porém, sem abordagens de maior complexidade, valorizando, basicamente, idealismo na vida.
Fonte: SKOOB


Sugestão de leitura na
Biblioteca Ambiental da SEMA em Macapá (AP)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Encantos Encontros: Poemas e Contos (Leacide Moura e Iramel Lima)


Título: Encantos Encontros: Poemas e Contos 
Autoras: Leacide Moura e Iramel Lima
Editora: JM Editora Gráfica
Ano: 2008
Páginas: 80

O livro tem autoria de duas professoras amapaenses, apresentando contos e poesias. 

Leacide Moura traz poesias entre a Amazônia idílica (exaltando encantos com entusiasmo singelo e bonito) e a maturidade feminina (expressa em devaneios, introspecções e desejos). A segunda vertente é o destaque, como no poema sensual "Uno". 
Os contos tem humor leve e jovial, como o da visita de um boto do Sudeste à Amazônia (gosto dessas abordagens surreais, instigantes em minhas buscas).

Iramel Lima traz a Amazônia em contexto de valorização indígena nas poesias e maior parte dos contos, que se expressa na linguagem e mitologia. Destaque para o conto "Os neuróticos", ilustração amorosa interessante, em que a construção em comunhão é substituída por uma desconstrução egoísta (fórmula para o desamor).

O livro foi publicado em 2008 e, no aspecto editorial, faltou tornar a parte de cada autora mais distinta. Pode parecer, pelas capas duplas e inversão das páginas, mas a identificação está muito sutil e confusa para o leitor.


Em Macapá, a obra pode ser apreciada na 
Biblioteca Pública Elcy Lacerda.

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Hoje, 04/02/2019, Macapá completa mais uma primavera: 261 anos! Cidade abençoada, que estimo com suas virtudes variadas e falta delas também. Minha amada terra, meu lar! Que a benção transformadora do Senhor esteja sempre em ti!