As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Baluarte da luta contra os piratas e saqueadores (Revista O Cruzeiro - 04/11/1950)

Fortaleza de São José de Macapá em reportagem publicada na revista O Cruzeiro, de 04 de Novembro de 1950. O texto é de Jorge Ferreira e as fotos de Roberto Maia.

O FORTE DE SÃO JOSÉ DE MACAPÁ, imponente obra de Portugal na Amazônia, foi inaugurado em 04/02/1782, dezoito anos depois de iniciada a sua construção, que obedeceu ao sistema do famoso marechal francês Vauban. Notem o quadrilátero central com os baluartes se projetando agressivamente nas quinas.
A largura da muralha é fabulosa: 7 homens de braços abertos.
Portão de entrada.
Do lado de dentro, a guarnição portuguesa defendia o local.
Naquele tempo, fazia-se diariamente a ronda extramuros, para evitar surpresas funestas.
O soldado colonial usava farda semelhante a esta, que envergou também 
a Guarda Territorial do Amapá, nos dias de festa no forte.
Portões de ferro como esse eram usados na defesa interna, isolando os baluartes.
A bandeira colonial subia aos céus na ponta 
do baluarte que dominava sobranceiro o rio Amazonas.
Sentinelas postadas nas guaritas dos baluartes velavam pela segurança 
da fortaleza real de Macapá.
O canhão pronto para abrir fogo, os artilheiros se punham a postos,
 cada um a cargo de uma operação.
Munição para os canhões do Forte de São José: petardos redondos de ferro. 
O municiador trazia a bala, amontoada com outras por detrás dos canhões, 
e colocava-a no cano.
O socador, manejado com habilidade e precisão por um dos homens, 
empurrava carga e bala cano abaixo.
O estopim aceso era levado à mecha da espoleta que ia deflagrar a carga,
lançando o projétil.
 Afastavam-se então os artilheiros para evitar 
o choque do recuo do canhão no momento da explosão.
O atirador, porém, permanecia em seu posto.
A carga se incendiava em meio a grande fumaceira.
Por El-Rei e Portugal! Lá vai bala!
E lá vai ela, mesmo. Com tanta velocidade que, de redonda, virou oblonga, como se pode ver no meio da fumaceira que solta o canhão do século XVIII.
Conversa de soldados, à sombra protetora das velhas muralhas, 
um dos bastiões da nossa integridade.
Fortaleza de São José de Macapá, 
bastião da nacionalidade na Amazônia!

Texto da reportagem na íntegra:
Baluarte da luta contra os ... by on Scribd

segunda-feira, 1 de julho de 2019

A Casa dos Padres (Ricardo Smith, 2008)

Um povo de muitas memórias é um povo que cultua a inteligência e o respeito por seus antepassados; assim podemos falar de um povo do extremo norte do país. No Estado do Amapá, ao longo dos anos, percebemos que seus habitantes não medem esforços para registrar o que vai marcando a história.
Ricardo Smith, que tem descendência alemã, mas que teve o privilégio de ser amazônida, viveu o que também marcou a vida desse povo nos anos 60/70: a Casa dos Padres. É dessa casa que ele abre as janelas e vive a paisagem com pessoas como Estandico, Edu, Rock Lane, Professora Ernestina, Tia Nenê, Pe. Jorge Basile, D. Eulice, mãe do autor, e tantos outros que o leitor vai conhecer. Pessoas simples, que fizeram a história nessa época. O que Ricardo traz são histórias vividas por seus contemporâneos, que tem pouco ou quase nada de registro. Caso se pergunte para autoridades do setor de Transporte o que era o "Caixa de Cebola" nos anos 60 em Macapá, só vai responder quem conheceu a cidade da época. Esses detalhes são revelados em "A Casa dos Padres".
Enfim, um livro que fala do Pe. Antônio Cocco e Biroba, e outros, contando suas histórias e estórias... A Casa dos Padres é um livro marcado pela irreverência e simplicidade de sua gente. 
Ricardo, a palavra é sua...
JOSÉ AMORAS
(Apresentação do livro)

Título: A Casa dos Padres
Autor: Ricardo Smith
Editora: Smith Produções Gráficas Ltda
Ano: 2008
Páginas: 104

Ricardo Smith, amapaense nascido em Oiapoque, mistura lembranças de sua infância com a história de Macapá nas décadas de 60 e 70. A obra é referencial interessante na percepção da época, com informações do cotidiano, eventos de destaque, costumes e atrativos no recorte temporal.
Destaque para informações sobre o antigo seminário na Ilha de Santana (educandário de origem católica também conhecido como o orfanato São José, impressionante como não tenha sobrado quase nada da antiga construção em poucas décadas); para o Cine João XXIII (point da juventude do contexto); para as histórias e importância histórica da Prelazia de Macapá (segundo o autor, abrigou também o Colégio Comercial do Amapá) e para os relatos sobre o Caixa de Cebola (primeiro ônibus da cidade, com histórias que se misturaram ao folclore).
O livro tem também relatos da passagem do autor pelo interior do Pará e, apesar de serem suas lembranças, o protagonismo da história é transferido para um menino chamado Edu. Acompanhamos este da infância à adolescência nas terras tucujus. 
Leitura curiosa, divertida enquanto observação de época, enriquecida com fotografias de relevância histórica (principalmente a do educandário na Ilha de Santana, pouco conhecida).
Registro final, o título é alusão a local de encontro rotineiro da juventude macapaense na década de 1960, a Casa dos Padres.
Trapiche com alunos do seminário em Santana (foto e informação publicada no livro)
Uma leitura sugerida pela
Biblioteca Ambiental da SEMA
em Macapá

terça-feira, 18 de junho de 2019

Biblioteca do TJAP em Macapá (2019)

Reportagem sobre a Biblioteca do Tribunal de Justiça do Amapá, exibida em 17/06/2019 na TV-AP, com imagens de Edson Ribeiro e apresentação de Narah Pollyne.


Com mais de 22 mil títulos, entre livros de Direito e História do Amapá, a Biblioteca Juiz Francisco Souza de Oliveira, localizada dentro do prédio do Tribunal de Justiça (TJAP), atrai servidores e estudantes de concursos públicos, que buscam conteúdo atualizado e gratuito, em um espaço adequado para pesquisas. 
Cerca de 90% do acervo é de livros de Direito, mas o espaço conta ainda com obras literárias diversas, revistas, trabalhos acadêmicos, jornais, periódicos e outras mídias. 
Além disso, no local encontram-se processos antigos, abertos para consulta pública no museu existente no local. 
Foto: jdia.com.br
O TJAP está localizado na Rua General Rondon, no centro de Macapá, e a biblioteca está aberta ao público em geral de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 14h30.
O texto da reportagem foi disponibilizado na íntegra em g1.globo.com/ap e o vídeo original em globoplay.globo.com.   
Confira também este LINK com outra reportagem sobre a biblioteca, produzida em 2012.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

No limiar da incredulidade (Alci Conceição de Jesus)

Quando, em circunstâncias adversas, passamos por dificuldades, às vezes, chegamos ao início da incredulidade. Não sei qual o seu problema, mas sei que ele tem solução. 
Esta obra tem como objetivo geral contribuir para a diminuição do uso e abuso de substância entorpecente. O meu principal alvo é o ser humano despertar a força de vontade que existe dentro de cada um, ajudá-lo através de uma boa leitura a superar dificuldades. 
Acredito que o caminho do saber é uma fórmula eficaz ao convívio social.    
(Alci Conceição de Jesus)


Título:  No limiar da incredulidade 
Autor: Alci Conceição de Jesus
Editora: Gráfica e Editora Brasil
Ano: 2005
Páginas: 84

Pensei que a obra abordaria a questão das drogas e vícios. Conheci o autor, educador palestrante na área, mas o direcionamento foi outro, numa agradável surpresa.

É um livro poético, que enaltece a vida, o amor, a espiritualidade, os sonhos, o recomeço, a poesia.

Duas coisas se destacam e a primeira é a simplicidade da sabedoria popular, concepção expressa em cada texto de maneira tocante, principalmente quando percebemos o segundo aspecto na identidade do livro...

No limiar da incredulidade traduz um recomeço, diante de abismo que poderia ser ponto final a vida, com textos de apego ardoroso ao saber, a Deus, às artes. Tem relação com o testemunho de vida de Alci Conceição, um sobrevivente das drogas que, entre outras coisas, vivenciou o submundo do crime e cárcere. É aí que entra o poder transformador em Jesus Cristo e redirecionamento. Os textos expressam o momento de descobertas, onde aflora o recomeço e esse ardor em novidade de vida é o segundo aspecto.

O livro traz a biografia de Alci, poesia de momentos diversos e textos com reflexões.

Gostei principalmente de Um clarão na escuridão (singelo autoretrato), Querida mamãe (mensagem no cárcere, escrita no mês de Maio) e Paixão (declaração de amor).

Mais informações sobre o autor em:


Em Macapá, 
a obra está disponível para leituras na 
Biblioteca Pública Elcy Lacerda

sexta-feira, 31 de maio de 2019

Ensaio sobre a cegueira (José Saramago)

Ensaio sobre a Cegueira é um romance do escritor português José Saramago, publicado em 1995 e traduzido para diversas línguas. A obra narra a história da epidemia de cegueira branca que se espalha por uma cidade, causando um grande colapso na vida das pessoas e abalando as estruturas sociais. O romance se tornou um dos mais famosos e renomados do autor e fora, sem dúvida, um dos principais motivos para a escolha dele ao Prêmio Nobel de Literatura em 1998.
Fonte: Wikipédia 


Título: Ensaio sobre a cegueira
Autor: José Saramago
Editora: Companhia da Letras
Páginas: 312
Ano 1995

Certo homem de ações impiedosas um dia encontrou luz que provocou-lhe cegueira, seguindo-se transformação radical quando percebeu que, mais que a debilidade nos olhos, sua maior cegueira era no coração, referente ao obscurantismo em que vivia. História do apóstolo Paulo em seu encontro com o Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Breve lembrança que misturou-se aos primeiros momentos da leitura e ajudou-me a ter direcionamento em algo aparentemente confuso e caótico. É um livro sobre o obscurantismo, em metáfora para o viver, a história que, em temos gerais, tem se construído na humanidade, onde as primeiras ações daquele homem citado se repetem na indiferença à percepção. 
A tal cegueira branca expressa no livro é como uma página nova diante de cada um dos afetados, onde a vida é redirecionada na percepção do oportunismo, injustiça, egoísmo, exploração, insensibilidade e barreiras criadas entre as pessoas. Esses e outros elementos determinam histórias de sofrimento, de decadência, de disposições horrendas, tudo em proceder insensível para quem pratica, como se fossem justificáveis. Os olhos então se abrem para essas coisas na experimentação, ficando cegos para ver.
O livro é um tanto pessimista, pois enfatiza esses aspectos intrínsecos à humanidade, o que somos, revelando-se indistintamente como prática entre todos. Os cegos padecem sob elas, mas também praticam. Uns tem noção, outros não. Será preciso ficar cego para vê-las? O livro é oportunidade para que não...
Com certeza é obra aberta a mais interpretações, mas essas me satisfazem.
Referências também para o texto, idealizado em estética alguma coisa está fora da ordem mundial. Um mar de vírgulas que, apesar de não parecer caracterização legal, entendo como mais uma das provocações do autor, na ruptura com o senso comum.
Não vou dizer que é história maravilhosa, coisa e tal, suspirando amores, mas é uma excelente reflexão sobre o obscurantismo e revelação - conclusão final. 
Encerro com o que iniciei: nesse mundo tenebroso, Jesus é a luz que liberta!
"Então Jesus tornou a falar-lhes, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue de modo algum andará em trevas, mas terá a luz da vida." João 8:12  

Em Macapá, 
é uma das valorosas obras disponibilizadas para leitura na
 Biblioteca Pública Elcy Lacerda.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Zoologia Fantástica do Brasil (Afonso de Taunay)

Tenho empolgação por estudos mitológicos, devido a influência a desdobramentos diversos na História, e também por revelarem conhecimentos surpreendentes e inusitados. Proposta desse livro. 

Título: Zoologia fantástica do Brasil  
Autor: Afonso d'Escragnolle Taunay
Editora: Melhoramentos  
Ano: 193?

Foi publicado na década de 1930, tendo como autor Afonso Taunay, um estudioso do tema e imortal na ABL. Está dividido em 8 partes. 

Destas, a primeira é das mais interessantes, onde o autor resgata estudos de Ferdinad Denis, francês naturalista que viajou pelo interior do Brasil no século 19, resultando em valorosas pesquisas (entre elas, a mitológica).
As impressões são multifacetadas e vários autores são citados, começando por Aristóteles e Plínio da antiguidade clássica. O que há de pioneiros neles, de acordo com os pareceres do livro, é a organização dos estudos biológicos, ainda que em conceitos hoje obsoletos, onde se privilegiava a observação para as conceituações, que eram mais intuitivas que racionais (como acontece com as lendas). Caso, por exemplo, da teoria da geração espontânea, ou abiogênese, defendida por Aristóteles. Perdurou por séculos e influenciou a história com conceitos que também impactaram as navegações e descobertas na Idade Moderna. Observemos que as lendas e mitos misturavam-se com o conhecimento científico na visão de mundo, determinando desdobramentos curiosos.
O autor relata a visão desafiadora para os exploradores diante do que era enunciado; fala de bestiários que se formaram nos idos medievais; da visão de cristianismo que era equivocadamente imposta pelos que se diziam representantes na igreja (criando barreiras desafiadoras para os exploradores); e do medo do desconhecido.
Enfim, a percepção e delineamento do capítulo é o entendimento dos mitos e lendas como fatores determinantes na história, devido o caráter científico a que se associavam.
 

Visão que é detalhada nos capítulos seguintes, onde o Novo Mundo é percebido com expectativas de descobertas zoológicas fantásticas (seres teratológicos), o que em termos se confirmou nas incompreensões no contexto.  

A terceira parte traz os primeiros relatos sobre a fauna americana; a quarta fala de mitos que se projetaram na nova terra (como o Eldorado); a quinta, sobre relatos pioneiros no Brasil; e as últimas partes detalham descobertas sobre a fauna que surpreenderam (como a boiúna, relatada em encontros pra lá de aventureiros, com dimensões titânicas, o que não duvido naquele ambiente, mas certamente também com exageros ante ao desconhecido),  além de mitos indígenas (como boitatá e curupira). 

Gostei, em especial, dos relatos sobre o Ipupiara (mito tupi), vendo-o na linha mitológica do boto, referente a seres dos rios. Explico, e isso não está no livro. Um devaneio...
O que há sobre o boto sedutor e encantador das caboclas é mito que se estabeleceu por influência da colonização e suas convenções sociais. É coisa nascida do colonizador. Na época pré-Cabral não são mencionadas lendas do boto como conhecemos. O que existia no imaginário indígena sobre seres aquáticos humanizados (categoria onde o boto se enquadra) era de monstros que aterrorizavam e afogavam as pessoas. Esses seres eram os Ipupiaras. Observe que a natureza, em suas incompreensões,  tinha interpretação em que os índios concebiam um monstro fluvial (diante do meio selvagem, desconhecido e temido) através da intuição, como faziam estudiosos do passado.
O ser dos rios depois foi configurado em encantador caboclo pelos colonizadores, em contexto para justificar gravidez fora das convenções sociais. Assim, o sedutor boto tornou-se mais conhecido que o monstro Ipupiara (como ainda é hoje). Esse seria um segundo momento na mitologia sobre seres dos rios.
Na atualidade, o mito do boto tem se associado cada vez mais a protetor da natureza, com potencialidade de educador ambiental. A lenda encaixando-se na atual visão de valorização da natureza, segundo o pensamento que se estimula. Um terceiro momento da lenda do boto ou homens aquáticos...
E no futuro, dentro de quadro pessimista (tomara que assim não ocorra) a lenda poderá se condensar apenas no simples avistamento dele, em cenário que tem se levantado de extinção.
 

As lendas são uma viagem e hoje projetam-se de maneiras e interesses diferenciados...   

Vale a conferida para quem tem interesse em estudos mitológicos.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

História de Oiapoque (Sonia Zaghetto, 2019)

Obra valorosa para as pesquisas sobre Oiapoque, trazendo aspectos históricos e pitorescos enriquecedores à limitada produção literária. Volumosa, com mais de 400 páginas, apresenta leitura envolvente, dando a sensação de vários livros em um só.
 
A autora é a jornalista Sonia Zaghetto, neta de Rocque Pennafort, um protagonista na história amapaense, testemunha de transformações na trajetória oiapoquense no século passado, onde foi prefeito e também memorialista, assentando-se o livro no resgate de seus registros. 


Título: 'História de Oiapoque: com o arquivo e as memórias de Rocque Pennafort'
Autora: Sonia Zaghetto
Páginas: 456 
Ano: 2019
Editora: Senado Federal

São cinco as partes: 

A primeira é um passeio pela história, onde destacam-se eventos direta ou indiretamente relacionados à região em cada século. É uma das mais interessantes, proporcionando descobertas curiosas e importantes.
Das histórias quinhentistas registro navegações pioneiras como de Vicente Pinzón, descobridor da foz do Amazonas e o primeiro europeu a navegar o rio Oiapoque (que por anos recebeu seu nome). O seiscentismo traz histórias da França Equinocial; no setecentismo, destaque para a pitoresca história da introdução do café no Brasil; no oitocentismo desponta a disputa pelo Contestado entre Brasil e França (com detalhamentos do famigerado embate no atual município de Amapá); e no novecentismo, a consolidação da região para o Brasil.  
Parte I - Histórias

Rocque Pennafort em sua mesa de trabalho na Prefeitura. 
Arquivo Rocque Pennafort. Foto extraída do livro.
 
A segunda e terceira trazem as memórias de Rocque Pennafort em textos diversos que contam de maneira romanceada a história de Oiapoque no século XX, passando por Clevelândia, instalação da colônia militar, desenvolvimento da cidade e outras narrativas, como a visita de um pesquisador da revista National Geographic. Encontramos biografia de Pennafort, que também foi prefeito em Mazagão.
Parte II - O livro de Memórias de Rocque Penafort - 1976 
Parto na Amazônia - Um navio passa ao longe - O menino, a onça e o fim do medo - A viagem para o Oiapoque - A inauguração - Primeiro registro de nascimento do Oiapoque - Primeiro casamento na fronteira - O navio - Demonti e Martinica - Clevelândia, campo de concentração - "Comecemos a morrê" - Colonos e deportados dividem espaço - Inferno verde - O pega-pega de 1932 - O ouro e o fim - A presença militar no Oiapoque - A revolução do Formiga - A estrada Oiapoque-Clevelândia
Parte III - Outras histórias do século XX
Ramón Renau Ferrer - Jornada ao País dos Índios - Professora - Pilotos, árvores e rios - Anjo viúvo - A ninfa das águas e o Cientista da Nacional Geographic - De Beit Mery ao Oiapoque

Vista parcial da Praça Epitácio Pessoa em Clevelândia. 
Arquivo Público Mineiro. Acervo Artur Bernardes. Foto Extraída do livro.

Na quarta parte, destaque para a história da construção do monumento à pátria (cartão postal da cidade), e para a história dos primeiros vereadores indígenas no Brasil, eleitos em Oiapoque em 1969 (episódio pouco conhecido e ignorado no país). 
Parte IV - O arquivo de Rocque Pennafort: informações para a História de Oiapoque
O Monumento à Pátria - A Avenida FAB - O CAN na Amazônia - O primeiro vereador indígena do Brasil - Os primeiros prefeitos do Oiapoque

 O Monumento à Pátria na década de 80. Arquivo IBGE. Foto extraída do livro.

A última parte traz crônicas regionais de Rocque Pennafort e de seu filho Hélio Pennafort. Textos que apresentam aspectos históricos, com drama e humor, sobretudo curiosos. 
Parte V - Artigos e Crônicas
E agora, Dumont? - Pelos ermos tristonhos dos manguezais - Pelas lonjuras do Curipi - O peixe do Oiapoque - Cassiporé - A festa dos Caripunas no Uaçá - Histórias do cacique Coco - Campesinato escanifrado e forticulídeo - Curiosas e eengraçadíssimas histórias de campanha políticas

O livro tem também posfácio que aborda assuntos da atualidade (como a ponte binacional), cronologia da história de Oiapoque e valoroso anexo com mais de 100 imagens (entre registros históricos raros, mapas e ilustrações). 
PRINCIPAIS DATAS DA HISTÓRIA DE OIAPOQUE (lista parcial, em ilustração)
1493 - O Tratado de Tordesilhas mantém o Amapá entre as terras pertencentes à Coroa espanhola.
1500 - Vicente Pinzon é o primeiro europeu a navegar no rio Oiapoque.
1637 - 14 de julho. Filipe IV da Espanha cria a Capitania do Cabo Norte.
1713 - Tratado de Utrech.
1886 - Em 23 de outubro é proclamada a independ~encia da república do Cunani.
1900 - 1 de dezembro. O Laudo Suíço dá ao Brasil a posse do antigo território contestado, que inclui a região do atual Oiapoque.
1922 - Em 5 de maio é inaugurado o Centro Agrícola Cleveland.
2017 - 18 de março. Inaugurada a ponte binacional que liga o Brasil à Guiana Francesa;

 Antiga Avenida FAB (Oiapoque). Foto extraída do livro.


Gostei bastante do livro! Recomendável para estudiosos e interessados no tema, sendo extremamente valoroso para todas as bibliotecas e escolas amapaenses.

DISPONÍVEL PARA CONSULTAS NA
 BIBLIOTECA AMBIENTAL DA SEMA-AP

terça-feira, 23 de abril de 2019

Biblioteca Pública Estadual Elcy Lacerda completou 74 anos de fundação (Abril/2019)

A Biblioteca Pública Estadual Elcy Lacerda completou 74 anos de fundação no dia 20 de abril. A instituição possui um importante papel de informar e incentivar a leitura, além de preservar a história e cultura amapaense. Ao longo dos anos, a instituição educacional tornou-se também um ambiente onde se concentra toda a forma de manifestação cultural.
O prédio abre diariamente das 8h às 18h e possui 16 salas, onde são promovidas atividades relacionadas à cultura e a educação para pessoas de qualquer idade.

Sete décadas da “Biblioteca Viva”

Fundada em 20 de abril de 1945, atualmente conta com um acervo de aproximadamente 60 mil itens, entre livros, CDs, DVDs e periódicos (revistas, jornais e diários). Também guarda acervo de obras raras, como exemplares dos jornais Pisônia e Amapá - os primeiros a circularem no estado.
O espaço possui 16 salas temáticas para estudos e pesquisas: a Amapaense (livros e documentos com assuntos e temáticas do Amapá e da Amazônia); Sala Afro-indígena; Sala do Ensino Médio e Superior; Sala Circulante (com obras literárias nacionais e estrangeiras disponíveis para leitura e empréstimo domiciliar); Sala de Artes; Sala Infantojuvenil (que conta com o Grupo de Contadores de Histórias); duas Salas com Jornais e Periódicos (com destaque para a Sala de Obras Raras); uma Sala de Braille e a Reserva Técnica (onde os livros são recebidos e distribuídos às salas).

Mensalmente são realizados os eventos ‘encontro com o escritor’, ‘roda viva’ e contação de histórias, principalmente, em datas comemorativas e, durante a semana, acontecem os cursos de xadrez; teatro e curso preparatório para concursos públicos.

(TEXTO EXTRAÍDO DO JORNAL TRIBUNA AMAPAENSE - ABRIL/2019)

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Opúsculo Humanitário (Nísia Floresta, 1853)

Nísia Floresta, um dos vários pseudônimos adotados pela potiguara Dionísia Gonçalves Pinto, foi uma ilustre e notável brasileira, precursora do feminismo no Brasil, mais conhecida entre intelectuais estrangeiros do que em sua própria nação. Claro, excetuando-se seu estado natal (RN), onde nomeia um município, e meios fechados como os acadêmicos (tipo na Sociologia). Em termos gerais, principalmente na rede de ensino público, existem raríssimas referências (isso para não generalizar algo mais dramático).
Nossa nação homenageia tanta coisa tosca e esquece de figuras verdadeiramente relevantes. Não entendo como nunca encontrei qualquer citação a ela em minha vida estudantil. Nenhum professor expôs qualquer coisa...
Quer ver como não valorizamos muitas pessoas merecedoras? Pense na Malala, com justiça recebeu um Nobel pela luta a favor da educação das crianças paquistanesas, em idos que pensávamos que direitos como esse seriam já uma conquista em todo canto. O mundo a reverencia. Agora retroceda dois séculos em nossa sociedade brasileira, dominada por machismo e conservadorismo pra lá de tosco, e veja como eram as lutas, mobilizações e aspirações de uma jovem, nordestina, também chamada Nísia Floresta. Grandessíssimas descobertas se apresentarão. Podemos dizer que de certa maneira é reverenciada no mundo, mas em nossa nação...

Cheguei a seu nome através de uma revista de história (AH) e fiquei curioso, no que poderia ter satisfação de duas formas: em rolé pelas biografias ou, o que achei mais interessante no momento, conhecendo alguma de suas várias e revolucionárias obras.

Feita as devidas apresentações e contexto da leitura, não poderia deixar de registrar que essa foi uma descoberta que impactou. Nísia destacou-se como escritora, jornalista e educadora, entre outras coisas, de maneira extraordinária para seu tempo, onde escreveu sobre direitos inerentes não apenas às mulheres, mas também a favor da abolição da escravatura, direitos indígenas e pelas mazelas desfavorecidas e excluídas pelos ditames do dinheiro.

Essa obra é de 1853, do tempo do Brasil imperial, e foi concebida na forma de textos curtos publicados em jornal.
O texto instiga o público a pensamento transformador, assemelhando-se a um discurso, revolucionário em propostas e, o que é interessante, contextualizado com transformações em andamento na época. Apesar do português arcaico, a leitura foi empolgante.

Nos primeiros textos, Nísia faz um passeio pela história, destacando o papel destinado à mulher, onde prevalece a cultura do servilismo, com afastamento da oportunidade ao conhecimento científico, restando apenas a formação educativa para ser esposa e mãe. A autora discorre sobre várias culturas e faz essas observações. Na grega, por exemplo, prevalecia o pensamento da mulher ser incompleta para a compreensão do pensamento, segundo o texto, um conceito de origem aristotélica. Surpreende o tanto de citações a mulheres e culturas e o livro apresenta fartas notas de rodapés. Mas não apenas os aspectos retrógrados são mencionados, os positivos também, como citações de contexto bíblico à Débora (do Antigo Testamento) e Judite (dos livros apócrifos adotados no catolicismo).
Falando em fé, a autora não se opõem a ela, pois manifesta ter e destaca a importância, mas vai contra o conservadorismo educativo ditado por líderes da igreja na época.

No contexto da sociedade, Nísia apresenta a atual situação da educação, propondo reformas. Também critica o conservadorismo em costumes de época, como: o papel de servilismo e exclusão da mulher no protagonismo cultural; a supervalorização da futilidade em vaidades (como o uso do espartilho, onde a autora conta a história de uma menina de 6 anos morta em sala de aula, em decorrência da imposição da vaidade pelos pais); a exclusão dos indígenas negros e pobres da educação; a ausência dos pais nesse processo (transferindo para aias ou colégios internos); e costumes como o de deixar as crianças suscetíveis a ouvir conversações de adultos sem o menor pudor. É curioso, mas a autora elogia até mesmo o hábito frequente e exemplar de higienização indígena.

O texto propõe reformulação no ensino não apenas como direito às mulheres, mas também como necessidade requerida pelas transformações em ebulição no mundo. Isso é tão sério que, na visão do progresso, ela propõe que fosse criada uma classe operária feminina.
Se a Malala consagrou aquela frase de que uma caneta e caderno podem transformar o mundo (mais ou menos assim), Nísia encerra sua obra com citação não menos icônica: educai as mulheres! 


Nísia Floresta

O livro traz também breve biografia e o que destacou-se nesse meu primeiro contato foi o envolvimento com intelectuais na Europa que lhe influenciaram (elogiando as nações abertas a transformação no pensamento) e paralelos que percebi em sua cronologia. Veja só: sua primeira obra já tem essa pegada revolucionária e foi publicada em 1832, alguns anos antes da introdução do Romantismo no Brasil. Enquanto os intelectuais valorizados do contexto traçavam a idealização da mulher em devaneios, Nísia escrevia coisas mais coerentes e importantes; o mesmo se aplica antes de iniciarem a escola realista em nosso país, quando já dissertava pioneiramente sobre muita coisa de nossa sociedade.
E aí, por seus escritos, por seus posicionamentos, por suas inovações, ainda assim nada costumam incluir nos livros de história, literatura, ou outra ciência no meio estudantil...
Foi realmente boa descoberta e vou seguir nelas. A juventude de hoje poderia ser apresentada de alguma maneira a essa mulher na rede de ensino, e aí tenha suas conclusões...

Vou deixar em registro frase sua que gostei, sendo um incentivo e uma crítica, tudo de maneira poética:

"Deus depôs no coração da brasileira o germe de todas as virtudes. Vejamos o impulso que o governo e os homens da nossa nação têm dado a este germe precioso, como têm eles cultivado e feito desabrochar as flores, madurar os frutos que se deve esperar de uma planta de abundante seiva, sob os cuidados de um hábil e sábio horticultor."
(Nísia Floresta)

SUGESTÃO DE LEITURA DA
BIBLIOTECA AMBIENTAL DA SEMA EM MACAPÁ