As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

terça-feira, 24 de maio de 2011

A POROROCA - Programa Globo Mar

O Programa Globo Mar exibiu em 19/05/2011 uma reportagem sobre a pororoca. Destaque para um desses muitos surfistas que se arriscam nas ondas do Araguari.

"O Globo Mar foi até o Amapá e navegou em um pedaço pouco conhecido do nosso litoral, onde o Oceano Atlântico e o Rio Amazonas se encontram. O litoral no Amapá é marrom, da cor do barro, e a costa é toda tomada pelo mangue. A paisagem diferente é pintada pelo maior dos nossos rios, o Amazonas rasga a floresta e despeja no Atlântico um mundo de água doce." (Fonte: g1.globo.com)


Este vídeo pode ser visto na Biblioteca SEMA-AP,
 localizada no Bairro Central em Macapá.

Alguns pontos abordados:

A onda simplesmente não para, de margem a margem do rio. O surfista Denys se prepara para surfar. Ele espera a onda aumentar para entrar na água. Enquanto isso, a onda vem lambendo o barranco. Como os búfalos ouvem o ruído bem antes de nós, eles correm quando escutam a chegada da pororoca. E este é um dos sinais que os surfistas usam para perceber que a onda está se aproximando.
Nosso convidado pula na água e um sobe Jet Sky para pegar a onda, mas ele sofre para subir na prancha. A onda avança mais de 40 quilômetros rio adentro. “A onda veio maravilhosa, com dois metros. Fiquei um tempão na onda. No mar, são ondas de três, quatro ou cinco segundos, no máximo. Aqui tem onda de 20 minutos”, comenta o surfista.
De volta ao barco, recebemos a visita da chefe da Reserva Biológica do Lago Piratuba, Patrícia Ribeiro Salgado Pinha. “Devemos, principalmente, preservar o manguezal, que é um ecossistema que, considerando a ocupação brasileira no litoral, está bastante ameaçado. Aqui nessa região a gente tem uma das maiores extensões de manguezal das Américas”, comenta.
Depois de dois dias e meio de navegação fluvial, estamos de volta ao mar. Deixamos o rio e chegamos ao Atlântico. Mas olhando o mar nem dá para perceber, a água continua escura e barrenta.
Só a foz do Rio Amazonas tem 200 quilômetros de extensão, metade da distância entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Por ano, ele lança no mar 1,2 bilhão de toneladas de sedimentos, uma mistura de lama e nutrientes que vai alimentar peixes e outras espécies que vivem no Atlântico. A água do Amazonas tinge todo litoral do Amapá. Ela se espalha por até 200 quilômetros da costa e, levada pela corrente norte, chega até a Guiana Francesa.

Veja mais em g1.globo.com

A POROROCA - Onda lendária no Rio Araguari

Pororoca é um fenômeno natural produzido pelo encontro das correntes fluviais com as águas oceânicas, durante as luas novas e cheias. 

Um verdadeiro tsunami no rio
O termo pororoca vem do Tupi Porórka, gerúndio de porórog que significa estrondar. Quando avança no rio seu barulho é lendário, sendo escutado à distância.


...O embate entre o rio e o mar.

O fenômeno acontece quando as águas de maré crescente do oceano tentam invadir a foz do rio, no momento em que a massa fluvial se opõe com grande resistência. 




Como a água doce é mais leve, estende-se inicialmente a grande distância mar adentro,  atrasando a onda de maré . Em determinado momento o mar vence, rompendo o equilíbrio, e a onda de maré oceânica cresce gigantesca, alimentada pelos ventos, avançando pelo rio, cuja correnteza fica invertida.
..Sai da frente que não é brincadeira!! / Foto do surfpe.blogspot.com
  O rio tem sua corrente empurrada de volta pelo mar / Fotos do surfpe.blogspot.com

O fenômeno apesar de ter maior amplitude no rio Amazonas, também ocorre em vários rios do mundo.

A pororoca do Rio Araguari é procurada por surfistas de todas as partes por apresentar uma onda, dizendo eles,  uniforme.
Tu é doido, mano!! Quando ela vem, sempre pode haver perigos ocultos pela água barrenta.

Período de maior intensidade: época das chuvas, nos meses de Janeiro a maio e no mês de Setembro, durante as luas novas e cheias.
Altura das ondas: três a seis metros;
Duração da onda: 40 minutos
Espaço percorrido: 30 Km por mais de uma hora e meia
Área de ocorrência com maior intensidade: Próximo da Fazenda Redentor (margem direita) e o Sítio Paraíso (margem esquerda) até a Foz do Rio Araguari.
Velocidade: aproximamente 20 Km/h
Freqüência: de 12 em 12 horas.
Mapa Localização do Rio Araguari (Google Mapas / 2011)
Acesso:
Rodoviário:
BR 156, com duração de 01h30 (Ferreira Gomes)
BR 156, com entrada no quilômetro 50
AP 070, através da Rodovia do Curiaú, com duração de 2 horas

Fluvial:
Voadeira, duração 6 a 8 horas, duração de 3 horas (Ferreira Gomes)
Embarcação de médio porte via Foz do Rio Amazonas até a Foz do rio Araguari, com duração de 15 a 18 horas.

Aéreo:
Saindo de Macapá com duração e vôo 50 minutos, (pista de pouso localizada na Fazenda Santa Isabel)

Fonte: GEA

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Sabor Açaí (Nilson Chaves)


 Nilson ChavesNilson Chaves é um artista paraense, conhecido por toda a Amazônia, dono de uma voz suave e que mostra de forma poética, em suas composições, a vida amazônida. Suas canções são conhecidas  no Estado do Amapá.


Sabor Açaí
(Nilson Chaves)

E prá que tu foi plantado
E prá que tu foi plantada
Prá invadir a nossa mesa
E abastar a nossa casa...

Teu destino foi traçado
Pelas mãos da mãe do mato
Mãos prendadas de uma deusa
Mãos de toque abençoado...

És a planta que alimenta
A paixão do nosso povo
Macho fêmea das touceiras
Onde Oxossi faz seu posto...

A mais magra das palmeiras
Mas mulher do sangue grosso
E homem do sangue vasto
Tu te entrega até o caroço...

E tua fruta vai rolando
Para os nossos alguidares
Tu te entregas ao sacrifício
Fruta santa, fruta mártir
Tens o dom de seres muito
Onde muitos não têm nada
Uns te chamam açaizeiro
Outros te chamam juçara...

Põe tapioca
Põe farinha d'água
Põe açúcar
Não põe nada
Ou me bebe como um suco
Que eu sou muito mais que um fruto
Sou sabor marajoara
Sou sabor marajoara

Veja também:

O AÇAÍ - Fonte de muitas pesquisas

esteO açaí está intimamente ligado a cultura e história do povo nortista. Tal é a importância, que muitas pesquisas foram e são realizadas todos os anos em busca de conhecimento detalhado de suas propriedades e , principalmente, manejo em áreas nativas.
  Sugestões como fonte de pesquisas:

No Amapá, o açaí é amplamente comercializado, por isso, a melhoria na qualidade do produto oferecido à população torna-se necessária e deve ser um objetivo comum de todas as pessoas que o fabricam. A cartilha BOAS PRÁTICAS PARA PRODUÇÃO DO VINHO DE AÇAÍ NAS AMASSADEIRAS, apresenta os princípios e regras que devem ser seguidos para o correto manuseio e fabricação deste alimento. Publicada em 2003 pelo GEA/SETEC/IEPA, tem 19 páginas e foi organizada por Ediluci do Socorro Tostes Malcher. Integra o conhecimento técnico ao popular, com orientações sobre a melhor qualidade do açaí. No Sumário encontramos:
1) Importância econômica e social do vinho do açaí
2) Micróbios: inimigos invisíveis do alimento saudável
3) Responsabilidades do batedor de açaí
4) Regras para produção de qualidade: Potabilidade da água / Qualidade da matéria-prima / Higiene pessoal / O prédio e instalações da amassadeira / Limpeza e sanitização do ambiente e equipamentos  / Controle de pragas
5) Aspectos positivos das boas práticas para a produção do açaí

Está disponível para consultas 
na Biblioteca Ambiental da SEMA, em Macapá. 

O GUIA PRÁTICO DE MANEJO DE AÇAIZAIS PARA PRODUÇÃO DE FRUTOS é uma publicação da EMBRAPA Amapá, do ano de 2001. Apresenta, de forma bem ilustrada, a importância dos açaizais, manejo adequado, materiais necessários, técnicas de cultivo, demarcação da área produtiva e cuidados indispensáveis para uma boa produção.
No Sumário encontramos:
- O açaizal e sua importância
- Aprendendo o manejo do açaizal em etapas: Limpeza / Demarcação / Classificação das árvores / Selecionando as árvores / Selecionando os açaizeiros / Plantio
- Manutenção do açaizal
Está disponibilizado, pela Embrapa, neste link.

O Instituto Estadual de Florestas do Amapá (IEF) publicou em 2009 o folheto MANEJO DE AÇAIZAIS NATIVOS. Aborda o manejo adequado, técnicas recomendadas, equipamentos, roçagem, desbaste das touceiras e obtenção de mudas. No Sumário encontramos:  
I) Manejo de Açaizais nativos
II) Recomendações prévias: Licenciamento Ambiental / Equipamento de Proteção Individual / Materiais para prática de manejo / Demarcação da área / Roçagem / Inventário / Raleamento da vegetação / Anelamento / Desbaste das touceiras / Enriquecimento / Obtenção de mudas / Manutenção 

Está disponível para consultas 
na Biblioteca Ambiental da SEMA, em Macapá.

O livro AÇAÍ faz parte da Coleção Sistemas de Produção da EMBRAPA/Pará (Vol. 4). A edição é de 2005 e reúne os trabalhos de vários autores, abordando diferentes pontos importantes. Um documento para o estudo dessa cultura vastamente explorada na Amazônia. 
O Sumário mostra:
- Introdução e importância econômica
- Composição química
- Clima
- Solos
- Sistema de produção
- Cultivo
- Controle de pragas
- manejo de açaizais nativos
- Colheita e pós-colheita
- Processamento, embalagem e conservação
- Mercado e comercialização

Está disponibilizado, pela Embrapa, neste link.

Esta publicação mostra parte da Dissertação de Mestrado em Economia intitulada MERCADO E DISTRIBUIÇÃO DOS RETORNOS SOCIAIS DO MANEJO DO AÇAÍ PARA PRODUÇÃO DE FRUTO, defendida na Universidade da Amazônia (UNAMA), Belém/Pará, em outubro de 2001, por Maria Lúcia Bahia Lopes, sob orientação do Prof°. Dr. Antônio Cordeiro de Santana. O objetivo deste trabalho é analisar a distribuição dos retornos sociais do manejo do açaí para produção de fruto entre consumidores e produtores.

Está disponibilizado, pela autora, neste link.

AGUARDO COM A  TIGELA O BOM FRUTO
DO DESENVOLVIMENTO DAS  PESQUISAS.

sábado, 21 de maio de 2011

NOTAS DO AMAPÁ - AÇAÍ, o doce vinho da Amazônia

Açaí ou Juçara é o fruto bacáceo de cor roxa, que dá em cacho na palmeira conhecida como açaizeiro, cujo nome científico é Euterpe oleracea.

Pergunte ao caboclo amazônida se conhece este nome Euterpe, certamente não, mas considera-se agraciado se todos os dias não faltar uns bons litros em sua casa, desse alimento tão apreciado e desejado.

As propriedades nutritivas do açaí já foram comprovadas em vários estudos e tem sido utilizado de várias maneiras na culinária nortista (biscoitos, bolos, tortas, sorvete, etc.... além do tradicional jeito... uma boa porção na tigela ou cuia, com uma farinha "pai-d'égua" ou tapioca. Hummmm!!!

O açaizeiro desenvolve-se em solos úmidos, sendo muito comum em áreas de várzea, como nesta comunidade na APA da Fazendinha. Foto: Rogério Castelo / 2009

...que caviar que nada, eu quero é açaí todo dia!!
Nas cidades do norte, tão comuns quanto um posto de gasolina, ou padaria, etc e tal, são as amassadeiras ou batedeiras de açaí...para bons conhecedores as "vitaminosas". Sempre indicadas pelas plaquinhas vermelhas. Verdadeiro "Pare, experimente e vicie!!!" .

Ultimamente este alimento, tem se tornado artigo de luxo para muitas famílias, frente à descoberta do Brasil e mundo desta iguaria. O preço médio do litro  está em torno de 5 a 7 reais aqui em Macapá. Há preços inferiores, mas proporcionais a qualidade.....Ah! Chula não é a mesma coisa né!!!!



Hoje, mais uma dessas vitaminosas abriu suas portas lá no Bairro do Trem. "Açaí no Ponto" do Rosivaldo.

Houve degustação do produto para apreciação da qualidade e, para isso, foi convidada a fina flor da Família Castelo residente no Trem.

Prestigiaram a inauguração, entre outros,  a matriarca Ana (Nikita), Maria José (Dedeca), José Maria (Zabu), Alzira (minha mãe), o "paranaense" Augusto (Teco), Val (Onça-malhada), Bené (Sepitilha), César (Catiçara), Douglas (O Petrônio), Preta, Analice, a família do Marcelo (Periquito loiro), Socorro, Yasmin e Gustavo. Pretigiaram também o  bombeiro Josiran, Inara (sua esposa), a acadêmica Isis e a bailarina Isabelly. Além do especialista, catedrático e doutor em degustação e apreciação de açaí, o Doutor Rogério Castelo. 

Depois de 5 rodadas de tigelas de açaí, os especialistas da Família Castelo deram o parecer: "Pai-d'égua"...tá aprovado e recomendado. Mais uma opção do bom vinho para a cidade, no Bairro do Trem (Rua Hamilton Silva, bem em frente a garagem da Prefeitura).


 Inauguração da "Açaí no Ponto", no Bairo do Trem, em frente a Garagem da Prefeitura.

Ótimas instalações, com ambiente climatizado e higienizado.

 Valdiney, Ana Castelo (Nikita) e Maria José

....Só especialistas em açaí (Yasmin, Socorro, Gustavo e Nikita)

Esse é o genuíno açaí da Amazônia, a colher fica em pé na tigela!! Agora é só "remar" pro bucho!!
Arrepia sumano!!!!!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

HISTÓRIAS DA VÓ NIKITA - O Encantado

Se você vivesse ao “Deus dará”, numa região desconhecida, cercando-se de muita coisa estranha e sem que soubesse as causas, em que acreditaria para agir sempre com o mínimo de bom senso? Às experiências vividas e dividas por outros? .... O caminho natural e fácil.
Nos tempos de menina, minha avó Ana presenciou  e viveu algumas dessas. Uma criança tentando entender o mundo em que vivia e, em posse disso, como muitos outros, propagadora de um saber local e único.
Histórias e crendices presentes e marcantes na cultura ribeirinha... Fundamentos a reger a vida de comunidades inteiras, durante gerações seguidas.  
Histórias do interior.... Histórias da Amazônia.
Na grande baía do Jacaré Grande, subindo um pouco um pequeno igarapé, ficava o barracão dos Nunes. Era uma família numerosa, algo comum nesses interiores, onde as caboclas tinham de dez filhos para cima.
Minha avó Ana, matriarca de dez filhos, foi testemunha desta história, na adolescência de seus catorze anos. Hoje, com seus oitenta e três, ainda têm em suas lembranças esses fatos muito nítidos, conforme passo a vos narrar a seguir.
Naquele tempo as famílias viviam da caça e, principalmente, da pesca. Havia uma fartura dessas coisas. Os ribeirinhos distribuíam-se por ali, ocultos nessa exuberância natural, todo dia lutando e buscando novas coisas por sua sobrevivência. Verdadeiros desbravadores, ocupando lugares tão longínquos e desfavorecidos de nossos confortos atuais, que o contentamento geral era ter com que prover sempre suas famílias no dia-a-dia e - abençoe Deus para isso - gozar sempre de boa saúde. Assim era na Amazônia, assim era naquelas matas... Selvagens, virgens e misteriosas.
Outras culturas que ajudavam na obtenção de um pouco de renda eram: a coleta das castanhas da andiroba e muru-muru, para o azeite a ser vendido na cidade, e a borracha extraída das seringueiras. Cedo o caboclo ia para a mata riscar as árvores marcadas para isso.
Uma novidade naquelas bandas era a extração de madeira para fazer dormente. Dava algum lucro, mas sempre era muito trabalhoso. Tinham que arrastar a madeira para a beira do rio e, desprovidos de embarcações, faziam uma jangada e nelas se arriscavam pelas águas sempre perigosas do Jacarezinho. Levando o “progresso” para a cidade... Levando os dormentes para as linhas ferroviárias da época.
O Alípio acordou bem cedo para tirar madeira naquele dia, era um dos varões da família Nunes. Rapaz impetuoso, menos de vinte anos, embrenhava-se sempre nas trilhas da mata sem conhecer o que era perigo.
Pegou o seu machado, facão, lanterna e tomou um rumo tantas vezes percorrido. Primeiro tinha que encontrar bons troncos, talhar o dormente e depois avaliar a situação para melhor transportá-los dali. Isso consumia sempre umas boas horas do dia.
Os Nunes reuniram-se para a caldeirada de peixe no jantar e constataram então a demora do rapaz, imaginavam sempre que estava com um ou outro. Mas, todos ali, nada do Alípio. Já era fim de tarde e o sujeito não retornara desde cedo. Numa mata fechada, com onças, cobras, escorpiões e “visagens”, perder-se é sempre algo perigoso e preocupante. Os caboclos deram uma batida nas proximidades e nada encontraram, para tristeza e desespero de Dona Cordeira, que imaginava seu filho envolto em muitos perigos.
Anoiteceu e deixaram as buscas para o dia seguinte. O Alípio devia ter se metido em mata muito distante. Era um rapaz destemido, mas também convicto até demais disso!
Procuraram no dia seguinte, avançaram na mata, gritavam até se esgoelar, batiam nas sumaúmas com os facões (se você não sabe, esse é um “telefone” da selva), entraram por todas as trilhas conhecidas e nada. A essa altura Dona Cordeira era só prantos. 
Alguns rapazes, avançando um pouco mais na mata, relataram aos outros que acharam o machado e facão do Alípio por cima de uma tora, mas ele não estava ali. Só o que viram foram umas pegadas que seguiram e estranhamente viram terminar às margens de um igarapé distante. Deixaram lá os pertences do mesmo, pois se aparecesse podia precisar. 
Mais uma noite e o Alípio sumido.... Onde estaria e o que teria lhe acontecido? Era o que todos se indagavam.
Três noites e a mesma aflição. Numa ânsia danada, já tinha até quem o dava por morto naquelas paragens. Na casa de minha avó ajudaram também nas buscas.
No quarto dia, quando se encontrava apenas uma de suas irmãs no barracão, preparando o almoço no jirau, qual não foi sua surpresa quando deparou com um assustado e desfigurado Alípio espiando e dizendo:
- Não fala nada prá ninguém que tô aqui! Onde tô é muito bonito! É uma cidade muito bonita onde eles me levaram no fundo do rio! Não queriam me deixar vir, mas eu pedi muito, só prá buscar minhas roupas e voltar. Lá é muito bonito, muito bonito! Não fala nada prá ninguém...
E foi com esse louco palavreado que o Alípio apareceu a sua irmã. Referia-se sempre a “eles” sem citar nomes e a falar de uma cidade nunca vista. Quando viu em sua irmã a intenção de chamar alguém correu e desapareceu na mata.
Os Nunes quando se reuniram e souberam da história, ficaram com uma mistura de alívio e preocupação, o que se passava com seu irmão? Chegaram até a brigar com a moça acreditando que a mesma não tinha nada feito para que ele ficasse.
Continuaram as buscas nos dias seguintes e o rapaz desaparecido naquela mata fechada, onde a noite não se enxergava nem a própria mão.
Acreditando se tratar de algo sobrenatural, chamaram o Manoel Dias, um curandeiro e benzedor muito conhecido naquela localidade. Mistura de médico, psicólogo, padre e "espantador de visagem". Com suas mandingas ele disse que o Alípio estava encantado por Uiara e que deveriam abandonar as buscas que não encontrariam o rapaz. Estava encantado, escondido e possesso do espírito do rio. O que deveriam fazer era aguardá-lo escondidos na casa. Ele ia aparecer. Também deveriam deixar atada a rede mais forte que tivessem e uma cordas bem resistentes.
Dona Cordeira fez segundo as recomendações e, no dia seguinte, deixaram suas ocupações e ficaram no barracão escondidos, à espera do Alípio.
No fim da tarde, finalmente apareceu “o encantado”. Estava desconfiado, com um agir diferente. Pelas frestas das casas viram o estranho Alípio ficar à espreita para ver se tinha alguém. Constatando que não, sorrateiramente saiu da mata e entrou no barracão. Seus irmãos então, assim que o rapaz entrou, fecharam as portas e janelas impedindo a fuga.
O encantado tentou de todas as formas se desvencilhar do braço de seus irmãos. Eram caboclos criados no açaí de maior sustância, mas fizeram muita força para conter o encantado, principalmente porque diziam que ele estava com a pele muito lisa, escapando várias vezes e quase fugindo. Se fossem só três ou quatro, ele teria conseguido.
Todos seguraram o Alípio e o colocaram na rede atada, amarrando-a com muitas voltas da corda. Seguraram também os punhos, pois balançava tanto a ponto de quase rasgar a rede. Falava sempre para deixar-lhe voltar para a cidade.
O Manoel Dias foi chamado às pressas e começou a fazer suas benzeduras até o Alípio se acalmar. Seja de que loucura o rapaz estivesse, foi se acalmando até não manifestar mais o desejo de correr para a mata. Os Nunes mantiveram a guarda nos dias seguintes e o Manoel Dias continuou com suas benzeduras.
Após uma semana foi declarado a quebra do encanto, o Alípio estava livre do espírito do Uiara.

Ana Castelo
Bem, amigos...

Inúmeros casos como esse ocorreram na Amazônia e, por acreditarem em benzedores como o Manoel Dias, outros muitos jovens foram libertos de ter uma vida, sabe-se lá como, de perambular como loucos pela floresta, transformados em almas errantes num breu mortal. Tal Victor (de Aveyron), mas na floresta amazônica, homens perdidos vivendo um encantamento em suas cabeças.  

Morte certa e em poucos dias.


quarta-feira, 18 de maio de 2011

Quero ver Macapá (Banda Placa)

Música composta por Álvaro Gomes para o primeiro CD da Banda Placa, "Placlarear", em 1994.
 
 Quero ver Macapá!  
Domingo, praia, verde mar, 
Um jogo lá no Zerão 
A noite a brisa ao quebrar mar, 
Momento de paixão 
Vivendo sob o sol, Macapá! 
Ali no Goiabal, vou te levar! 
E lá vou eu, sentindo essa emoção, 
E lá vou eu, cantando essa canção!  
Quero ver Macapá! 
Quero ver Macapá! 
O Marabaixo, a Fortaleza, 
A nossa tradição... 
O padroeiro São José, 
A nossa proteção 
Vivendo sob o sol, Macapá! 
Na Serra do Navio, vou te buscar! 
Em fazendinha, eu quero....te beijar!  
Quero ver Macapá! 
Quero ver Macapá!

terça-feira, 17 de maio de 2011

Imagens do Sítio Arqueológico em Calçoene

Imagens do local da descoberta de monumentos monolíticos dispostos em círculo, supostamente com finalidade astronômica e/ou religiosa, do período pré-Colombiano. Considerado uma espécie de "Stonehenge" amazônico, embora de dimensões bem menores.

 
Sítio arqueológico situado no município de Calçoene (Vídeo de Daniel Nec).
Site do autor do vídeo: www.flavors.me/danielnec
 
Cromlech di Calcoene, Stato di Amapà, Brasile (Vídeo de Yuri Leveratto)

MUNICÍPIOS - Calçoene (Parte 2 - O lugar mais chuvoso do Brasil)

Enchentes em Calçoene  (2011)
O Município de Calçoene, no Amapá, com uma precipitação média anual de 4.165 mm, foi identificado, por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), como o local mais chuvoso do Brasil.Anteriormente, a literatura citava a região da Serra do Mar, entre Paranapiacaba e Itapanhaú, em São Paulo, com uma precipitação média anual de 3.600 mm, como o local mais chuvoso do país. 


A precipitação em Calçoene é cerca de três vezes maior 
que a registrada na cidade de São Paulo.

A partir da criação da ANA (Agência Nacional das Águas), foram organizados bancos de dados contendo milhares de séries históricas em todos os estados da federação. Era natural de se supor que, na Amazônia, estariam os locais de maior pluviosidade.
No Brasil, as áreas de maiores precipitações ocorrem no litoral do Amapá e na região do estado do Amazonas conhecida como “Cabeça de Cachorro”. Em ambas, existem zonas onde as precipitações médias superam os 4.000 milímetros mensais.
No mundo, os registros de maior pluviosidade são em Lloró, cidade do estado de Chocó, na Colômbia. Ela detém o recorde mundial de maior precipitação média anual registrada em 13.300 mm.  Chove tanto que inundações e enchentes são tão comuns que os habitantes locais ensinam suas crianças técnicas para lidarem com essa situação, além de preparar suas residências para esses eventos quase certos. A população até brinca com o fato, relatando que o número de barcos é maior que o de carros. 

Enchentes em Calçoene (2009)
Este ano as chuvas foram intensas em Calçoene, provocando enchentes na zona urbana devido a elevação do nível do rio Calçoene. Não há dados atuais sobre o número de desabrigados, desalojados e nem de afetados. A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros estiveram no município e prestaram ajuda na distribuição de 75 cestas básicas às famílias desalojadas e apoio logístico.


 
Nenhuma novidade para os moradores daquela região, acostumados a chuva, mas as desse ano, certamente superaram as temporadas chuvosas dos últimos 20 anos.

O Sítio Arqueológico de Calçoene (O Stonehenge Brasileiro)

O sítio arqueológico de Calçoene é conhecido como o Stonehenge Brasileiro, pois possui um círculo de pedras similar ao famoso existente na Inglaterra, permitia a uma antiga civilização conhecer com precisão a chegada do equinócio. 

Stonehenge na planície de Salisbury na Inglaterra
O círculo de Calçoene foi apelidado de "Stonehenge do Amapá"
                                        
O equinócio era uma data importante para os povos antigos, pois eles podiam com base nisso programar o plantio e a colheita e até períodos de chuva e seca. 

 Pouco se sabe sobre a população que ali viveu, 
mas um monumento deste porte  não pode ter sido feito em pouco tempo.
O local, que data de aproximadamente 2000 anos, pertencia a uma civilização desconhecida e já foi declarado Patrimônio Megalítico do Brasil, foi descoberto em 1905 pelo pesquisador Emilio Goeldi.
 

A relação entre o equinócio e a distribuição dos monumentos megalíticos de Calçoene no estado do Amapá, foi descoberta por Marcomede Rangel do Observatório Nacional,  com a ajuda de GPS, bússolas de precisão e cálculos de correção da declinação magnética.
Mapa de Localização (Fonte: Nimuendajú Revisitado)

Fonte: wikimapia.org 
O conjunto de rochas disposto de forma circular permitia estabelecer tanto a chegada do solstício de inverno no hemisfério norte como o equinócio. O sítio arqueológico brasileiro está localizado a 384 km ao norte de Macapá, a capital do estado do Amapá, em latitudes do hemisfério norte e a uns 14 km da cidade de Calçoene.
Vista Panorâmica do Sítio (Fonte: Nimuendajú Revisitado)

Assim como em Stonehenge, o sítio arqueológico brasileiro conta com várias pedras de tamanho grande, algumas com até 4 metros de altura enterrados no solo formando um círculo com 30 metros de diâmetro. O local está em cima de uma colina e as pedras, segundo Rangel, possuem uma pequena inclinação relacionada com o movimento do Sol no céu.