As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Por dentro das Amazônias (Nilson Moulin)

Uma viagem pela Amazônia! É o que propõem essa obra, que une um texto informal, ricamente ilustrado, com aspectos curiosos da história, geografia, sociologia e meio ambiente da região. Posso dizer que é daquelas que estimula leitura de única vez, pois assim foi a minha relação com a obra.
Nela, o leitor terá acesso a acontecimentos importantes, como: a invasão estrangeira no início do século XVI; os ciclos da borracha, gado, ouro em Serra Pelada, ferro, etc; as tentativas de levar o desenvolvimento através de projetos faraônicos (Ferrovia Mad Maria e Rodovia Transamazônica) e as lutas pela preservação da floresta, dando-se ênfase ao desenvolvimento sustentável. Além de curiosidades da floresta expressas em seus animais, frutos, tribos indígenas e outras peculiaridades mostradas em diferentes olhares. 
Nas últimas página, o leitor encontrará uma relação de notas sobre a Amazônia, onde poderá aprender de forma mais aprofundada sobre a história da região, sua biodiversidade, gestão ambiental, miscigenação e outros pontos.

O autor, Nilson Moulin, é um capixaba que tive oportunidade de conhecer em um evento em Macapá, Expofeira 2012, onde despertou uma curiosidade flamejante com a apresentação do livro.  

Informações do livro:
Título: Por dentro das Amazônias
Autor: Nilson Moulin
Editora: Studio Nobel
Ano: 2008
Páginas: 96
Tema: Amazônia / Geografia / História / Meio Ambiente
  
Entre as ilustrações tenho predileção por aquelas específicas de meu Amapá.  
Separei algumas:

Guarás (Eudocimus ruber), manguezal na costa do Amapá/AP
Foto: Haroldo Palo Jr (página 21)
Já vi isso de perto uma única vez, na Praia do Goiabal, uma das mais curiosas do Amapá, cuja maré vazante alcança quilômetros (algo que já seduziu mortalmente alguns que se aventuraram a explorá-la sem maiores cuidados); 

Sala de aula bilíngue na Aldeia do Manga (etnia Karipuna), no Oiapoque/AP. 
As crianças iniciam com a língua materna e mais tarde é introduzido o português.
Foto: Lux Vidal (página 13)
Passei por essa aldeia em 2009 e conheci uma escola indígena a três horas de voadeira dessa localidade, na Aldeia Kumarumã. Foi uma das viagens mais espetaculares que já fiz, tendo oportunidade de contemplar um dos maiores espetáculos naturais, a revoada de ciganas (Opisthocomus hoazin) nos aningais pela manhã. Lembro com encanto de centenas de aves douradas cercando-nos no estreito e conservadíssimo rio, no aningal. Uma imagem daquelas seria valorosa nessa obra. Minha tristeza é não ter registrado também, pois esperava fazer isso no retorno da aldeia e descobri que elas saem nos aningais apenas pela manhã. Fiquei curtindo a novidade do momento, esperando registrar no regresso (que lástima!). Eram tantas, que passavam voando a poucos palmos de nossa cabeça e, às vezes, faziam manobras bruscas para não se chocar com a embarcação. Aquelas aves pareciam encantadas e, numa comparação idiota de minha parte, mas para instigar a criançada, pareciam uns pokémons! Essas aves são míticas e raras, pois tem dedos na ponta das asas quando são filhotes, parecendo uma ave pré-histórica. Eita! E eu perdi a chance de fotografar...

Forte Príncipe da Beira, rio Guaporé, Rondônia/RO
Foto: Ricardo Cavalcanti (página 11)
Citando outras imagens, gostei do Forte em Rondônia pela similaridade incrível com a Fortaleza de São José de Macapá. Entretanto, o nosso é maior, mais bonito, mais imponente e mais conservado (ufanismo amapaense!);

Parque Nacional da Neblina, Serra do Padre no Estado do Amazonas, 
fronteira com a Venezuela. Foto: Ricardo Cavalcanti (página 8)
A que me pareceu mais impressionante foi essa, mostrando a Amazônia em seu esplendor florestal, como é mais conhecida e imaginada.
 

Entre as informações de cunho diverso, é bom ser esclarecido sobre a realidade amazônida. O livro aborda pontos como:
- A terra não é fértil e o que garante a exuberância florestal é sua cobertura vegetal em ciclos de reaproveitamento dos resíduos;
- Não é uma terra homogênea como se idealiza em uma infindável floresta. Existem diferentes ecossistemas (várzeas, igapós, cerrados, campos abertos, florestas densas e florestas montanhosas) com variação em clima, fauna e flora;
- A região é habitada por cerca de 25 milhões de pessoas tendo que desenvolver atividades de renda. O ideal é a aplicação da sustentabilidade na relação ambiental, mas os interesses, principalmente de fora da região, a tem destruído de maneira irracional e predatória. Exemplificando com duas culturas que podem se tornar altamente predatórias por aqui, sem o manejo adequado: o plantio de soja (que requer grandes extensões para cultivo a custo da derrubada florestal) e a bubalinocultura (que costuma trazer muitos prejuízos ao meio ambiente, como o impacto que vem ocorrendo na foz do Araguari, onde se vê a criação de novos canais, e o pisoteio e destruição da cobertura ciliar - fatores agravantes ao que o rio vem sofrendo pelo descaso ambiental).  Blasfêmia permitir a entrada e proliferação deles na região de lagos do Amapá, principalmente na REBIO Piratuba. Por conta disso, os novos canais tem levado água salobra da costa para os lagos, causando desequilíbrio ambiental. Esse bichos deveriam ser retirados dali urgentemente.

Pororoca no rio Araguari. Foto: J. R. Couto (página 57)
A pororoca como é enaltecida nem mais existe no rio Araguari, por conta de manejo inadequado das criações de búfalos e, principalmente, pela construção de três hidrelétricas

Finalizando as observações, é uma região onde há um paralelo de riqueza e pobreza. Cada pirata por aqui de olho e mão grande em nossas riquezas... As seringueiras foram levadas para a Malásia, que se tornou o líder da extração do látex, e a pouco tempo os japas tentaram patentear o cupuaçu. Exemplos assim existem muitos. Não duvido que o açaí e a castanha-do-brasil já estejam dissseminados por aí. Te cuida Pará! (atual líder desse extrativismo).
 

Nas informações de cunho histórico, gostei das citações à Mad Maria, a famigerada estrada de ferro que ceifou a vida de muitos pelo interesse de poucos. Teve trabalhadores de quase 40 países e foi desativada em 1972.

Eu não disse que tem muita coisa interessante! Algumas eu até contesto pelo desapego com a veracidade amazônida. Que negócio é esse de 'harpia' na página 24 e 'sapo-grande' na página 26? Oras! É 'gavião-real' e 'sapo-cururu'. Aprendeu aí? Então, tá!)


Por essas e outras é uma bela e curiosa obra. 
Só a polpa do açaí, sumano!

Já sabe, né! A obra está no acervo da
 Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia
Macapá - Bairro Central