Gente boa, olha aí mais uma obra da Literatura Amapaense para apreciação e descobertas! Um livro de memórias, de Raimundo Donato dos Santos, destacando acontecimentos marcantes de sua existência, em um cenário em que vemos
fatos da história e da cultura amapaense.
Título: Raízes Submersas - Fatos e Relatos
Autor: Raimundo Donato dos Santos
Editora: W. Books Comunicações
Ano: 2009Autor: Raimundo Donato dos Santos
Editora: W. Books Comunicações
Páginas: 252
Tema: Biografia/História/Amapá
Descrição do autor:
"Através deste livro tenho exposto convincentes e comoventes fatos da minha atribulada história como indivíduo; ignorante a respeito de toda complexidade e funcionamento do meu ser, porém, liberto e salvo por nosso Senhor Jesus Cristo.
Raízes Submersas, portanto, tem a ver com a evocação de uma herança autobiográfica, entrelaçada com acontecimentos que permaneceram por muitos anos na obscuridade do meu subconsciente, e que tão somente agora me propus a trazer a superfície."
(RAIMUNDO DONATO DOS SANTOS)
Registro no SKOOB:
Afinal, o que me trouxe a esse livro? Até o momento, em minhas percepções, a autobiografia de um ilustre desconhecido.
Questionamento válido ao leitor e, na minha experimentação, respondido no contato inicial. A obra tem características que valorizam a leitura, tornando-a instigante e prazerosa. Obviamente, dependendo da empatia e identificação do leitor.
Raimundo Donato dos Santos tem um texto objetivo, de fácil assimilação, minucioso em suas descrições, e com uma beleza singela em que se observa entusiasmo, apego à terra e um desejo de contribuição. Pontos que despertaram minha leitura.
O autor é amapaense, nascido no vilarejo de Tucumã, município de Amapá, em 1933, e foi professor no Território Federal do Amapá.
A descrição do cotidiano nas impressões de um menino, passando pelo folclore, observação do homem no interior, com situações peculiares e histórias inusitadas, foram elementos que me despertaram. Gosto dessas visualizações, que me fazem pensar também em minhas origens. A identificação é válida para a maioria das famílias amapaenses.
Donato é didático no jeito de escrever e as fases de sua vida são relacionadas com o ano. Podemos encarar a obra como o relato de um pioneiro e vislumbrar nisso páginas antigas do Amapá.
Não sem razão a questão cultural de lendas e mitos era tão forte naquele meio - rústico e com ares misteriosos. Imagino isso ao me deparar com histórias de jacaré atacando na canoa, de gente desaparecendo no mato, sucuri gigante, o menino testemunhando a chegada de um Zepelim e outras coisas que soam familiares nas narrações de nossos avós. Esse cotidiano me fascina e foi legal saciar algo disso na leitura.
Outro aspecto interessante é a testemunho do crescimento de Macapá. Donato se estabeleceu na jovem capital na década de 1940. O autor traz relatos curiosos da cidade, falando da formação e características iniciais de ruas, escolas e outros aspectos.
Pode-se observar a história em seus fatos mais marcantes, mas aprecio o cotidiano que invariavelmente se perde nas lembranças, seja no trapiche Eliezer Levy, na Escola Industrial, na Exposição de Animais na Fazendinha e por aí. Melhor dizendo, na Macapá da memória de um cidadão que se tornou também professor pioneiro no Território Federal do Amapá. Elas me revelaram, por exemplo, que a antiga Escola Industrial foi inaugurada em 1949 e seu primeiro nome foi Escola Profissional Getúlio Vargas.
Algo dessa fase que projetou muito minha imaginação foi a história de uma onça, sussuarana, surgida dos matagais circundantes da cidade, sendo abatida a tiro da Fortaleza. Dá para imaginar a cena? Ou de uma tal Maria Viralata que saiu do caixão? O da confusão no Cine Territorial no dia em que pareceu querer desabar na cabeça do povo? O menino selvagem descoberto na Ilha de Santana... Eita! Esse inusitado diverte-me bastante. Descrições talvez exageradas, mas em conformidade com o que circulou.
Um terceiro aspecto na obra refere-se a fé do autor, evangélica. Ao longo da leitura há referências a ela, com citações bíblicas em determinadas situações e o testemunho da conversão a Cristo - que o livro valoriza e se detém nos capítulos finais. Donato foi membro da Igreja dos Irmãos, Batista e Assembleia de Deus, relatando um pouco de sua vida na igreja.
Boa surpresa foi descobrir a referência, mesmo mínima, de um parente meu da Igreja dos Irmãos. Tio Nelson congregou aí e é citado entusiasticamente na construção do templo no Pacoval, como bom pedreiro que era. A Igreja dos Irmãos tem uma certa importância em minha vida, pois Tio Nelson Castelo levava minha mãe, menina, para a Escola Bíblica Dominical e isso foi importante nos valores que ela transmitiu aos filhos. Fomos católicos romanos assíduos, porém, minha mãe discordava de algumas práticas tradicionais e nos ensinava. Hoje sei onde aprendeu e somos evangélicos. Outra pessoa que o autor cita é o pastor Eulálio, também da Igreja dos Irmãos. Tive oportunidade de conhece-lo há dois anos, quando gentilmente me recebeu em sua residência. Ele semeou também o evangelho em visitas a minha família, na casa de meus avós. Aspectos que só interessam a mim, mas que valorizaram ainda mais minha leitura e apego a obra.
Por essas e outras, "Raízes Submersas" revelou-se instigante, prazeroso e revelador do que aprecio. É uma autobiografia em que Donato mergulha em suas raízes, sua história, e traz um pouco de suas experimentações, descobertas e testemunho enquanto cidadão amapaense e cristão.
Sugestão para consultas:
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Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia
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