Este livro é um trabalho feito com a determinação de quem pretende
socializar o conhecimento do que ocorreu e ocorre na região de Marabá,
desde os primórdios de sua ocupação até os dias atuais. E começa bem:
pela história dos remanescentes indígenas que ainda resistem neste mesmo
espaço. Depois vem o 'branco', e a mistura de povos e atividades como a
extração do látex do caucho e da castanha-do-brasil, o garimpo de
diamantes, de cristal de rocha, de ouro, de ferro, de cobre. Interesses e
fatos vários se dilaceram na Guerrilha do Araguaia, na abertura de
estradas, no fortalecimento da pecuária e extração de madeira. Grandes e
pequenos disputam e se digladiam por terra e lugar ao sol.
(Gutemberg Guerra)
Literatura Paraense
Título: História de Marabá
Autora: Maria Virgínia Bastos de Mattos
Editora: Fundação Casa da Cultura de Marabá - FCCM
Páginas: 190
Ano: 2013 (2ª edição, revisada e aumentada)
Sumário
01) Primeiros habitantes
02) A ocupação pelo homem 'civilizado'
03) O Burgo do Itacaúnas e a descoberta do caucho
04) Marabá, primeiros tempos: da origem a 1920
05) Marabá, de 1923 a 1940
06) O ciclo da castanha-do-pará
07) Garimpos de diamantes e de cristal
08) Os anos de 1940 e 1950, os 'Soldados da Borracha': nova fase de exploração do caucho
09) A posse da terra e o incremento da pecuária
10) Chegam as estradas... e tudo começa a mudar
11) A Guerrilha do Araguaia
12) Serras dos Carajás
13) Conflitos fundiários: posseiros, grileiros e fazendeiros
14) Crescimento urbano de Marabá até 1960
15) As enchentes
16) Serra Pelada: muito ouro, poucos ricos
17) A década de 1980
18) Conflitos e organização no campo
19) Alguns acontecimentos da década de 1990
20) A indústria siderúrgica
21) Outras indústrias metalúrgicas
22) Os anos 220 a 2013
23) Violência e impunidade, os desafios do século XXI
24) Riquezas naturais
25) Datas importantes da História de Marabá
26) Marabá: o hino, a bandeira e o escudo
Não conheço Marabá, município paraense, mas me interesso pela leitura
sobre as cidades na Amazônia, em suas histórias e peculiaridades. Dá
para estabelecer contrastes e paralelos, que apontam aspectos comuns na
ocupação da região em políticas no trato com o ambiente,
população e exploração dos recursos naturais.
Encontrei esse livro por acaso em uma sala de leitura e logo me entusiasmei pelo passeio em suas páginas.
A impressão que tinha se confirmou em relação à obra, que mostra em
primeiro momento os povos indígenas, descrevendo
em seguida a chegada dos colonizadores, conflitos, estabelecimento de
cultura extrativista, exploração em larga escala de recursos naturais e
impacto ambiental.
A questão indígena é bastante conflituosa e a autora traz
relatos de embates que praticamente dizimaram algumas populações. Alguns
desses relatos são apresentados como barbárie e tornaram-se mais
evidentes a partir da década de 1920, quando iniciou a construção da
Estrada de Ferro Tocantins.
No extrativismo, o destaque foi para a extração do látex do caucho e
exploração da castanha-do-brasil (prefiro esse nome). Os grandes
empreendimentos se estabeleceram na exploração mineradora de diamante e
ferro, destacando-se o empreendimento em Carajás. Repete-se o cenário
comum na Amazônia de empreendimentos em grandes latifúndios, conflitos
no campo, exploração da mão de obra com salários mal remunerados, pressão
sobre o meio ambiental e reversão de poucas benfeitorias locais em
relação à riqueza explorada.
Nas peculiaridades da região, a fundação de Marabá foi em 1898, quando
houve o estabelecimento de um barracão comercial no ponto de encontro
entre os rios Itacaiúnas e Tocantins. O barracão tinha por nome Marabá,
como uma homenagem ao poema de Gonçalves Dias. Esse aspecto geográfico é
representado na bandeira municipal. Em 1913 o município foi
oficializado.
A história mostra conflitos que tiveram repercussão mundial, como o
massacre de trabalhadores sem terra em Eldorado em 1996. A autora
ressaltou que os dados mais recentes do IBGE, na época de lançamento do
livro (2013 - 2ª edição), apontam o município como um dos mais violentos do país
(4º), principalmente em relação ao campo e à delinquência juvenil. A origem
estaria nas impunidades na esfera da justiça, fiscalizações precárias e
policiamento deficiente.
Segundo a abordagem, é uma região com muito potencial de riquezas naturais, mas também com
muitos conflitos, exploração pouco sustentável e desenvolvimento
desigual para a região em relação à riqueza explorada.
Aspectos que a leitura faz perceber, evidenciados pela autora (também estudiosa de História e bibliotecária).
Penso que faltou referências para a parte cultural da região.
Certamente tem coisas sensacionais para descoberta e leitura.
Um registro final, o livro é uma segunda edição, atualizada pela
autora em celebração ao centenário do município em 2013.
Valeu a leitura! Gostaria de descobrir mais coisas e quem sabe um dia visitar a região.
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Marabá (Pará). Vista
frontal da cidade e sua orla no encontro dos rios Itacaiúnas e
Tocantis. (Foto: Ricardo Teles, estraída de portalcanaa.com) |
Em Macapá, a obra pode ser consultada
na Biblioteca Ambiental da SEMA
e na sala de pesquisas
do Museu de Arqueologia e Etnologia do IEPA.