As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

sexta-feira, 31 de maio de 2019

Ensaio sobre a cegueira (José Saramago)

Ensaio sobre a Cegueira é um romance do escritor português José Saramago, publicado em 1995 e traduzido para diversas línguas. A obra narra a história da epidemia de cegueira branca que se espalha por uma cidade, causando um grande colapso na vida das pessoas e abalando as estruturas sociais. O romance se tornou um dos mais famosos e renomados do autor e fora, sem dúvida, um dos principais motivos para a escolha dele ao Prêmio Nobel de Literatura em 1998.
Fonte: Wikipédia 


Título: Ensaio sobre a cegueira
Autor: José Saramago
Editora: Companhia da Letras
Páginas: 312
Ano 1995

Certo homem de ações impiedosas um dia encontrou luz que provocou-lhe cegueira, seguindo-se transformação radical quando percebeu que, mais que a debilidade nos olhos, sua maior cegueira era no coração, referente ao obscurantismo em que vivia. História do apóstolo Paulo em seu encontro com o Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Breve lembrança que misturou-se aos primeiros momentos da leitura e ajudou-me a ter direcionamento em algo aparentemente confuso e caótico. É um livro sobre o obscurantismo, em metáfora para o viver, a história que, em temos gerais, tem se construído na humanidade, onde as primeiras ações daquele homem citado se repetem na indiferença à percepção. 
A tal cegueira branca expressa no livro é como uma página nova diante de cada um dos afetados, onde a vida é redirecionada na percepção do oportunismo, injustiça, egoísmo, exploração, insensibilidade e barreiras criadas entre as pessoas. Esses e outros elementos determinam histórias de sofrimento, de decadência, de disposições horrendas, tudo em proceder insensível para quem pratica, como se fossem justificáveis. Os olhos então se abrem para essas coisas na experimentação, ficando cegos para ver.
O livro é um tanto pessimista, pois enfatiza esses aspectos intrínsecos à humanidade, o que somos, revelando-se indistintamente como prática entre todos. Os cegos padecem sob elas, mas também praticam. Uns tem noção, outros não. Será preciso ficar cego para vê-las? O livro é oportunidade para que não...
Com certeza é obra aberta a mais interpretações, mas essas me satisfazem.
Referências também para o texto, idealizado em estética alguma coisa está fora da ordem mundial. Um mar de vírgulas que, apesar de não parecer caracterização legal, entendo como mais uma das provocações do autor, na ruptura com o senso comum.
Não vou dizer que é história maravilhosa, coisa e tal, suspirando amores, mas é uma excelente reflexão sobre o obscurantismo e revelação - conclusão final. 
Encerro com o que iniciei: nesse mundo tenebroso, Jesus é a luz que liberta!
"Então Jesus tornou a falar-lhes, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue de modo algum andará em trevas, mas terá a luz da vida." João 8:12  

Em Macapá, 
é uma das valorosas obras disponibilizadas para leitura na
 Biblioteca Pública Elcy Lacerda.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Zoologia Fantástica do Brasil (Afonso de Taunay)

Tenho empolgação por estudos mitológicos, devido a influência a desdobramentos diversos na História, e também por revelarem conhecimentos surpreendentes e inusitados. Proposta desse livro. 

Título: Zoologia fantástica do Brasil  
Autor: Afonso d'Escragnolle Taunay
Editora: Melhoramentos  
Ano: 193?

Foi publicado na década de 1930, tendo como autor Afonso Taunay, um estudioso do tema e imortal na ABL. Está dividido em 8 partes. 

Destas, a primeira é das mais interessantes, onde o autor resgata estudos de Ferdinad Denis, francês naturalista que viajou pelo interior do Brasil no século 19, resultando em valorosas pesquisas (entre elas, a mitológica).
As impressões são multifacetadas e vários autores são citados, começando por Aristóteles e Plínio da antiguidade clássica. O que há de pioneiros neles, de acordo com os pareceres do livro, é a organização dos estudos biológicos, ainda que em conceitos hoje obsoletos, onde se privilegiava a observação para as conceituações, que eram mais intuitivas que racionais (como acontece com as lendas). Caso, por exemplo, da teoria da geração espontânea, ou abiogênese, defendida por Aristóteles. Perdurou por séculos e influenciou a história com conceitos que também impactaram as navegações e descobertas na Idade Moderna. Observemos que as lendas e mitos misturavam-se com o conhecimento científico na visão de mundo, determinando desdobramentos curiosos.
O autor relata a visão desafiadora para os exploradores diante do que era enunciado; fala de bestiários que se formaram nos idos medievais; da visão de cristianismo que era equivocadamente imposta pelos que se diziam representantes na igreja (criando barreiras desafiadoras para os exploradores); e do medo do desconhecido.
Enfim, a percepção e delineamento do capítulo é o entendimento dos mitos e lendas como fatores determinantes na história, devido o caráter científico a que se associavam.
 

Visão que é detalhada nos capítulos seguintes, onde o Novo Mundo é percebido com expectativas de descobertas zoológicas fantásticas (seres teratológicos), o que em termos se confirmou nas incompreensões no contexto.  

A terceira parte traz os primeiros relatos sobre a fauna americana; a quarta fala de mitos que se projetaram na nova terra (como o Eldorado); a quinta, sobre relatos pioneiros no Brasil; e as últimas partes detalham descobertas sobre a fauna que surpreenderam (como a boiúna, relatada em encontros pra lá de aventureiros, com dimensões titânicas, o que não duvido naquele ambiente, mas certamente também com exageros ante ao desconhecido),  além de mitos indígenas (como boitatá e curupira). 

Gostei, em especial, dos relatos sobre o Ipupiara (mito tupi), vendo-o na linha mitológica do boto, referente a seres dos rios. Explico, e isso não está no livro. Um devaneio...
O que há sobre o boto sedutor e encantador das caboclas é mito que se estabeleceu por influência da colonização e suas convenções sociais. É coisa nascida do colonizador. Na época pré-Cabral não são mencionadas lendas do boto como conhecemos. O que existia no imaginário indígena sobre seres aquáticos humanizados (categoria onde o boto se enquadra) era de monstros que aterrorizavam e afogavam as pessoas. Esses seres eram os Ipupiaras. Observe que a natureza, em suas incompreensões,  tinha interpretação em que os índios concebiam um monstro fluvial (diante do meio selvagem, desconhecido e temido) através da intuição, como faziam estudiosos do passado.
O ser dos rios depois foi configurado em encantador caboclo pelos colonizadores, em contexto para justificar gravidez fora das convenções sociais. Assim, o sedutor boto tornou-se mais conhecido que o monstro Ipupiara (como ainda é hoje). Esse seria um segundo momento na mitologia sobre seres dos rios.
Na atualidade, o mito do boto tem se associado cada vez mais a protetor da natureza, com potencialidade de educador ambiental. A lenda encaixando-se na atual visão de valorização da natureza, segundo o pensamento que se estimula. Um terceiro momento da lenda do boto ou homens aquáticos...
E no futuro, dentro de quadro pessimista (tomara que assim não ocorra) a lenda poderá se condensar apenas no simples avistamento dele, em cenário que tem se levantado de extinção.
 

As lendas são uma viagem e hoje projetam-se de maneiras e interesses diferenciados...   

Vale a conferida para quem tem interesse em estudos mitológicos.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

História de Oiapoque (Sonia Zaghetto, 2019)

Obra valorosa para as pesquisas sobre Oiapoque, trazendo aspectos históricos e pitorescos enriquecedores à limitada produção literária. Volumosa, com mais de 400 páginas, apresenta leitura envolvente, dando a sensação de vários livros em um só.
 
A autora é a jornalista Sonia Zaghetto, neta de Rocque Pennafort, um protagonista na história amapaense, testemunha de transformações na trajetória oiapoquense no século passado, onde foi prefeito e também memorialista, assentando-se o livro no resgate de seus registros. 


Título: 'História de Oiapoque: com o arquivo e as memórias de Rocque Pennafort'
Autora: Sonia Zaghetto
Páginas: 456 
Ano: 2019
Editora: Senado Federal

São cinco as partes: 

A primeira é um passeio pela história, onde destacam-se eventos direta ou indiretamente relacionados à região em cada século. É uma das mais interessantes, proporcionando descobertas curiosas e importantes.
Das histórias quinhentistas registro navegações pioneiras como de Vicente Pinzón, descobridor da foz do Amazonas e o primeiro europeu a navegar o rio Oiapoque (que por anos recebeu seu nome). O seiscentismo traz histórias da França Equinocial; no setecentismo, destaque para a pitoresca história da introdução do café no Brasil; no oitocentismo desponta a disputa pelo Contestado entre Brasil e França (com detalhamentos do famigerado embate no atual município de Amapá); e no novecentismo, a consolidação da região para o Brasil.  
Parte I - Histórias

Rocque Pennafort em sua mesa de trabalho na Prefeitura. 
Arquivo Rocque Pennafort. Foto extraída do livro.
 
A segunda e terceira trazem as memórias de Rocque Pennafort em textos diversos que contam de maneira romanceada a história de Oiapoque no século XX, passando por Clevelândia, instalação da colônia militar, desenvolvimento da cidade e outras narrativas, como a visita de um pesquisador da revista National Geographic. Encontramos biografia de Pennafort, que também foi prefeito em Mazagão.
Parte II - O livro de Memórias de Rocque Penafort - 1976 
Parto na Amazônia - Um navio passa ao longe - O menino, a onça e o fim do medo - A viagem para o Oiapoque - A inauguração - Primeiro registro de nascimento do Oiapoque - Primeiro casamento na fronteira - O navio - Demonti e Martinica - Clevelândia, campo de concentração - "Comecemos a morrê" - Colonos e deportados dividem espaço - Inferno verde - O pega-pega de 1932 - O ouro e o fim - A presença militar no Oiapoque - A revolução do Formiga - A estrada Oiapoque-Clevelândia
Parte III - Outras histórias do século XX
Ramón Renau Ferrer - Jornada ao País dos Índios - Professora - Pilotos, árvores e rios - Anjo viúvo - A ninfa das águas e o Cientista da Nacional Geographic - De Beit Mery ao Oiapoque

Vista parcial da Praça Epitácio Pessoa em Clevelândia. 
Arquivo Público Mineiro. Acervo Artur Bernardes. Foto Extraída do livro.

Na quarta parte, destaque para a história da construção do monumento à pátria (cartão postal da cidade), e para a história dos primeiros vereadores indígenas no Brasil, eleitos em Oiapoque em 1969 (episódio pouco conhecido e ignorado no país). 
Parte IV - O arquivo de Rocque Pennafort: informações para a História de Oiapoque
O Monumento à Pátria - A Avenida FAB - O CAN na Amazônia - O primeiro vereador indígena do Brasil - Os primeiros prefeitos do Oiapoque

 O Monumento à Pátria na década de 80. Arquivo IBGE. Foto extraída do livro.

A última parte traz crônicas regionais de Rocque Pennafort e de seu filho Hélio Pennafort. Textos que apresentam aspectos históricos, com drama e humor, sobretudo curiosos. 
Parte V - Artigos e Crônicas
E agora, Dumont? - Pelos ermos tristonhos dos manguezais - Pelas lonjuras do Curipi - O peixe do Oiapoque - Cassiporé - A festa dos Caripunas no Uaçá - Histórias do cacique Coco - Campesinato escanifrado e forticulídeo - Curiosas e eengraçadíssimas histórias de campanha políticas

O livro tem também posfácio que aborda assuntos da atualidade (como a ponte binacional), cronologia da história de Oiapoque e valoroso anexo com mais de 100 imagens (entre registros históricos raros, mapas e ilustrações). 
PRINCIPAIS DATAS DA HISTÓRIA DE OIAPOQUE (lista parcial, em ilustração)
1493 - O Tratado de Tordesilhas mantém o Amapá entre as terras pertencentes à Coroa espanhola.
1500 - Vicente Pinzon é o primeiro europeu a navegar no rio Oiapoque.
1637 - 14 de julho. Filipe IV da Espanha cria a Capitania do Cabo Norte.
1713 - Tratado de Utrech.
1886 - Em 23 de outubro é proclamada a independ~encia da república do Cunani.
1900 - 1 de dezembro. O Laudo Suíço dá ao Brasil a posse do antigo território contestado, que inclui a região do atual Oiapoque.
1922 - Em 5 de maio é inaugurado o Centro Agrícola Cleveland.
2017 - 18 de março. Inaugurada a ponte binacional que liga o Brasil à Guiana Francesa;

 Antiga Avenida FAB (Oiapoque). Foto extraída do livro.


Gostei bastante do livro! Recomendável para estudiosos e interessados no tema, sendo extremamente valoroso para todas as bibliotecas e escolas amapaenses.

DISPONÍVEL PARA CONSULTAS NA
 BIBLIOTECA AMBIENTAL DA SEMA-AP