As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Existencial do pássaro migratório (Paulo Tarso Barros)


A poesia é como um confidente, a quem o poeta revela apreensões, angústia, certezas, dúvidas, expectativas, objetivos e esperança, diante dos desafios da realidade em novidade, que se impõem à juventude nos seus sonhos de realização e de busca existencial.
Bela obra!

Título: Existencial do pássaro migratório 
Autor: Paulo Tarso Barros
Editora: Tarso
Páginas: 57
Ano: 1997

FOTOGRAFIA SEMÂNTICA

Nesta folha limpa, 
que estou maculando,
outras palavras
(mais inusitadas)
poderiam ser escritas.

Com tão feios rabiscos,
sujo e violentado
vai ficando este papel.

A sua brancura e textura
vão sendo ocupadas
por letras disformes
(garranchos)
que a minha mão em pane
vai engendrando.

Diante dos olhos,
flagelados com tantos ciscos,
minhas palavras passam a ser
a fotografia semântica da vida.

Paulo Tarso Barros
(Poesia de abertura do livro)

Essa e outras obras, da literatura do Amapá e da Amazônia, em Macapá estão disponíveis para apreciação na
BIBLIOTECA PÚBLICA ELCY LACERDA

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Fabiana Anastácio (Adorarei)

                                                             

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Vida e morte de uma Baleia-Minke no interior do Pará e outras histórias da Amazônia (Fábio Zuker)


Título: Vida e morte de uma Baleia-Minke no interior do Pará e outras histórias da Amazônia 
Autor: Fábio Zuker
Editora: Publication Studio São Paulo
Ano: 2019
Páginas: 210

O livro reúne sete artigos publicados entre 2017 e 2019 em Amazônia Real, pelo pesquisador e jornalista Fábio Zuker, com aspectos antropológicos da realidade amazônica.

O texto é de leitura leve e fluida, estimulante à reflexões sobre o indígena, o ribeirinho, a imigração em massa dos venezuelanos, impactos por empreendimentos, politicagem pela posse e exploração da terra e, no que é especialmente atrativo, o estudo sobre o surgimento de uma baleia na região do Tapajós.

Brasileiros e venezuelanos: uma crônica de ódio e compaixão e Uma tarde junto aos venezuelanos no viaduto da rodoviária de Manaus tem abordagens sobre a crise humanitária, na percepção do contexto político, na maneira como a ajuda foi dada e também em conflitos secundários que se estabeleceram.

Vida e morte de uma Baleia-Minke no interior do Pará é um relato até hoje interessante e instigante às pesquisas, sobre o surpreendente aparecimento de uma baleia nos rios amazônidas em 2007. Acompanhei o caso com avidez na época, todo dia na expectativa de notícias positivas e, como muitos, extasiado com o ocorrido, especialmente sobre os relatos dos ribeirinhos. O artigo corrobora uma das rinformações que mais despertaram minha imaginação, o de que a baleia estava sendo acompanhada por vários botos (curiosidade que gostaria de saber mais). A abordagem analisa possíveis causas da jornada da baleia, relatos dos moradores locais, descrição de todo o ocorrido com o animal e também sobre outros casos de baleias que entraram em rios pelo mundo.
Interessante que nesse contexto também teve uma baleia da mesma espécie que encalhou na costa do Amapá, na REBIO Parazinho. Vi fotos do trabalho de resgate. Não sei se sobreviveu, impressiona a distância que ficou do rio no recuo da maré e o esforço empreendido na ajuda.
Voltando à baleia do Tapajós, o autor descreve condições e situações que dificultaram o salvamento. 
Os ossos estão hoje em exposição em museu de Santarém.

A autodemarcação da Terra Indígena Tupinambá no Baixo Tapajós e Os Kumuã do Alto Rio Negro e a descolonização dos corpos indígenas trazem abordagens sobre a questão indígena. O primeiro artigo com vários aspectos sobre a politicagem de cobiça às terras indígenas; o segundo sobre a perda da identidade, ilustrando com um caso em que houve imposição pragmática à perda de valores imateriais.

Anamã, metade do ano na água, outra metade na terra e O que eles querem mesmo é matar a gente: violência e destruição em um mega-açaizal no Pará, sobre realidade ribeirinha, como o impacto das cheias em determinada cidade (Anamã) e a exploração do homem e da natureza por empreendimento correlacionado a açaizais (onde existem danos aos moradores locais e ao meio ambiente com desfaçatez).

A leitura é prazerosa, rápida e enriquecedora sobre o contexto nortista. O único aspecto que não curti foi a ausência de fotos. Seria bastante interessante.

Baleia-Minke no Rio Tapajós 
(Foto: Elildo Carvalho Jr / Acervo ICMBio - CMA, 2007)
Baleia encalhada na costa do Amapá - REBIO Parazinho 
(Foto: Acervo SEMA-AP, 2009)

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Do rio Jacarezinho para as nações: a saga de um ribeirinho (Leonei Ciriaco)


Título: Do rio Jacarezinho para as nações: a saga de um ribeirinho 
Autor: Leonei Ciriaco
Editora: Edição do Autor
Páginas: 124
Ano: 2019

O que inicialmente atraiu minha atenção foi a curiosidade sobre a região onde se inicia a história, nas imediações do rio Jacarezinho, município de Breves (Pará). Minha família também tem raízes no local.
Os relatos são parecidos aos de outros migrantes, destacando a vida simples, desafios em contexto pouco conhecido, isolamento como fator impactante, a mitologia no cotidiano e a migração significativa para o antigo Território Federal do Amapá. Desdobramentos também citados no livro, em relatos a partir da década de 1980.

Outro aspecto motivador à leitura é que, no segmento evangélico, as biografias missionárias são valorosas como fonte de inspiração e aprendizagens. Já dizia o apóstolo Paulo, em 2 Coríntios 3:2, que o cristão é como carta escrita, a ser conhecida e lida por todos os homens. Baseando-se nisso, o autor compartilha um pouco de sua história, em aprendizagens, conquistas e propósitos traçados, como carta escrita que somos, no desejo de leitura que inspire e edifique pela graça de Deus.

Em linhas gerais o livro tem três momentos: 

- Biografia de Leonei Ciriaco em Uma infância na Amazônia e Treinamento e Chamado, com relatos diversos da infância no Jacarezinho, vinda para Macapá, novo nascimento no Senhor Jesus Cristo e a vocação missionária.
- A vida e o coração da missionária é outro momento, com o testemunho da esposa. O relato é sucinto e prático, interessante também por histórias que o autor havia contado, mas agora percebidas na ótica e experiência da esposa. 
Deus tem a forma de agir com cada pessoa e o testemunho de Cilane Ciriaco não tem relatos sobrenaturais como no do esposo (algo notório no paralelo), com a mensagem bíblica sempre em evidência na busca e reflexão. Aspecto fundamental diante de sonhos ou revelações proféticas, para entendimento do que Deus revela. As experiências entre as pessoas podem ser diferenciadas, mas são igualmente abençoadas, importantes e edificantes quando em conformidade com a mensagem bíblica. O livro despertou essas percepções... 
- Go to China destaca o projeto de Deus na vocação missionária do casal, correlacionado à missão evangelística transcontinental realizada através da JOCUM (Jovens Com Uma Missão).

Acredito que outros livros virão com testemunho nessa jornada e um terceiro aspecto motivacional que tive pela leitura é que a igreja em que congrego é uma das apoiadoras do missionário nesse projeto.

Graças a Deus por tudo! Graças pelo edificante testemunho! E graças por todo florescimento nessa obra!

"Embarque comigo nessa aventura verdadeira de um ribeirinho que nasceu na floresta amazônica e acabou por descobrir sua vocação de servir a Deus entre as nações."
LEONEI CIRIACO - Missionário da JOCUM / Jovens Com Uma Missão

"Nestes últimos dias Deus está mobilizando um exército para avançar o Reino de Deus. Eu espero que muitos possam se animar e se levantar do desânimo e da incredulidade para vencer, como Leonei e Cilane. Leia este livro e se fortaleça no Senhor."
JIM STIER - Fundador da JOCUM no Brasil

sábado, 15 de agosto de 2020

O Leopardo (Lampedusa)


Romance italiano, de grande prestígio naquela nação, como retrato pragmático da decadência aristocrata e ascensão burguesa em fins do século 19. Além do contexto social no recorte temporal, a obra tem inspirações na biografia e experiências de vida do autor, transmitindo bastante veracidade ao retrato histórico.

Dom Fabrizio, Príncipe da Sicília, da "Casa dos Leopardos", é cercado de caracterizações que o destacam no contexto. Na representatividade da nobreza, sua cultura diferenciada fica em paralelo ao meio sem essa caracterização, mesmo em ascensão, como a burguesia; a altura elevada é como se evocasse a elite dominante, que tem nele o último representante de classe opulenta de outros tempos; e a idade avançada, septuagenária, como se denotasse estilo ou classe antiga em contexto que revela-se rejuvenescido por novos modelos e percepções da sociedade.
O romance aborda esses aspectos, no retrato de fim de uma era, com desbotamento da nobreza e projeção da burguesia. 

A história tem como principal atração o texto de Lampedusa, diferenciado, com metáforas curiosas e bonitas. Veja, por exemplo, o primeiro parágrafo do Capítulo II, em idealização sobre esperança, e o Capítulo VII, como em  "átomos do tempo que evadiam do espírito e para sempre o deixavam", em devaneios e digressões poéticas interessantes ao longo do capítulo sobre o príncipe, onde "o fragor do mar aplacou-se de todo". 
Na minha opinião, que é nada de um nada, o texto de Lampedusa transmite a esse romance beleza que a história em si não tem. É o magnetismo da palavra e da história bem contada. Vale muito a apreciação.

Dom Fabrízio faz jus ao reconhecimento como príncipe não só por  título. É um nobre de fato e direito. Porém, mesmo em seu glamour carismático, o autor sutilmente atribui-lhe também aspectos e experiências que denotam um fim a isso, tipo uma desglamourização (se é que essa palavra existe). 
Além do nobre em extinção, destaque para Angélica que, tal qual o príncipe para a nobreza, é metáfora para a burguesia em ascensão, tendo poder, mas aquém da fidalguia de outros tempos do príncipe siciliano. Assim como Tancredi, sobrinho de Fabrizio, que ilustra adaptação e ajustamento entre entre esses dois mundos (nobreza e burguesia), necessária diante de tudo o que o livro retratou e expressa na frase mais conhecida do romance, logo no primeiro capítulo: "se queremos que tudo fique como está é preciso que tudo mude".

Vou encerrar mencionando também personagem pouco lembrado desse livro, mas com algo significativo: Bendicó (se vira aí se não conheces). Vou te contar, não é exagero dizer que o leopardo foi transmutado nele no final, numa metáfora ao envelhecido e empoeirado que é descartado diante dos novos tempos.

Título: O Leopardo
Autor: Lampedusa
Ano de publicação: 1958

Em Macapá a obra pode ser conferida no acervo da 
Biblioteca Pública Elcy Lacerda.