As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.
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terça-feira, 14 de setembro de 2021

Entre matas, rios e igarapés (Bruno Nascimento)

"ENTRE MATAS, RIOS E IGARAPÉS é um livro que provoca um encantamento. Mas como assim? Em cada capítulo, a riqueza de detalhes permite-nos encantar e imaginar cada passo trilhado para a formação do nosso Amapá, 'este solo fértil de imensos tesouros' como menciona o próprio hino. A narrativa escolhida pelo autor Bruno Machado cumpre a missão de mostrar o protagonismo indígena; mostrar que os indígenas não foram passivos e apenas aceitaram a invasão e violação de seus direitos básicos, mas lutaram bravamente, usando de todas as suas forças e astúcia. Desistir nunca; resistir sempre."

(TAYANNE MACHADO)

“Esse livro é para todos os públicos. Ele é uma obra acadêmica, mas com uma leitura de fácil compreensão. Eu busquei trazer mais conhecimento da nossa história, através de documentos portugueses e ingleses será possível entender melhor sobre o Amapá.”

(BRUNO NASCIMENTO)

 


Título: Entre matas, rios e igarapés

Autor: Bruno Rafael, Machado Nascimento

Editora: Nepan

Ano: 2021

Páginas: 277

ISBN: 978-65-89135-31-9

O livro aborda o contexto histórico do Amapá no período colonial, aspecto em evidência na nova geração de pesquisadores e historiadores da atualidade, como o professor Bruno Nascimento, que contribui nesse seguimento com essa obra valorosa sobre os povos indígenas e a chegada dos europeus e africanos nas terras do "Cabo Norte" em desdobramentos diversos que caracterizaram a colonização.

A leitura deixa em evidência importante questão: a ressignificação de fatos históricos, como no protagonismo indígena na colonização, na interação entre estes e os religiosos e na história de povos de origem afro no contexto. Todas com peculiaridades até então pouco conhecidas.

São cinco os capítulos:

"Sem eles (indígenas) por muito grande presídio que haja é nada, e com eles o pequeno presídio é muito" - As participações indígenas nas guerras do Cabo Norte, primeira metade do século XVII
Abordagem sobre as interações entre diferentes colonizadores europeus e o protagonismo indígena que determinou os rumos históricos. É uma das partes mais interessantes do livro.

"Aquela inculta vinha do Senhor" - As interações entre padres jesuítas e indígenas no Cabo Norte na segunda metade do século XVII
As táticas para sobrevivência, proteção e estabelecimento entre a Companhia de Jesus e os indígenas, com ressignificações de condutas nos dois lados.

Sobre vivências negociadas - Indígenas e Jesuítas franceses no Oiapoque Setecentista
Traz relatos sobre as missões, onde ocorreram histórias viscerais.

A construção da povoação de São José de Macapá - Indígenas, açorianos e militares
Destaque também para o capítulo em abordagens sobre o estabelecimento de Macapá. Muito se fala popularmente sobre os Tucujus com imprecisões da representatividade. O autor desmistifica o fato numa abordagem reveladora, onde a ressignificação histórica é notória.

"Ouzarão vir furtar descaradamente, e buscar novos companheiros, quando ouzavão até por fogo às cazas" - As fugas de africanos e seus descendentes da Vila de São José de Macapá
Sobre povos africanos em suas interaçõe e ações no contexto colonial, como no estabelecimento de mocambos, especialmente na região do Contestado, em suas razões e impactos. 

Leitura fascinante!

sexta-feira, 21 de maio de 2021

O encanto do boto (Esmeraldina dos Santos)

As histórias de Esmeraldina dos Santos, ilustradas por M. Silva, talentoso artista do Curiaú, são relatos folclóricos inspirados na transmissão oral aprendida com os pais.  Mostram aventuras encantadoras para crianças, público a que a escritora se dedica, na preservação do Marabaixo e outras manifestações culturais no Amapá.  Esta é mais uma delas, de leitura rápida e divertida sobre o boto tentando seduzir no Curiaú. Será que o matreiro conseguiu? Vamos ver, vamos ver...


Título: O encanto do boto

Autora: Esmeraldina dos Santos

Ilustrações: M. Silva

Editora: Pringraf Editora

Ano: 2011

Páginas: 20

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Meu Olhar (Algimiro Firmino Torres)




Título: Meu Olhar - Poesias
Autor: Algimiro Firmino Torres
Ano: 2002
Páginas: 51

Poesia é um segmento de projeção na Literatura Amapaense, com muitos escritores entusiastas pela vida, onde a poesia é uma exaltação a beleza de coisas simples, de forma objetiva, terna e singela. É comum vermos o direcionamento na valorização da fé, família, vida amorosa e sonhos com utopia, na emotividade de carisma e singularidade popular. Exatamente o que encontramos nessa segunda obra de Algimiro Firmino Torres, publicada em 2002, disponível para consultas na Biblioteca Pública de Macapá.

Descubra essa e outras obras na
 Biblioteca Pública Elcy Lacerda!

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Existencial do pássaro migratório (Paulo Tarso Barros)


A poesia é como um confidente, a quem o poeta revela apreensões, angústia, certezas, dúvidas, expectativas, objetivos e esperança, diante dos desafios da realidade em novidade, que se impõem à juventude nos seus sonhos de realização e de busca existencial.
Bela obra!

Título: Existencial do pássaro migratório 
Autor: Paulo Tarso Barros
Editora: Tarso
Páginas: 57
Ano: 1997

FOTOGRAFIA SEMÂNTICA

Nesta folha limpa, 
que estou maculando,
outras palavras
(mais inusitadas)
poderiam ser escritas.

Com tão feios rabiscos,
sujo e violentado
vai ficando este papel.

A sua brancura e textura
vão sendo ocupadas
por letras disformes
(garranchos)
que a minha mão em pane
vai engendrando.

Diante dos olhos,
flagelados com tantos ciscos,
minhas palavras passam a ser
a fotografia semântica da vida.

Paulo Tarso Barros
(Poesia de abertura do livro)

Essa e outras obras, da literatura do Amapá e da Amazônia, em Macapá estão disponíveis para apreciação na
BIBLIOTECA PÚBLICA ELCY LACERDA

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Vida e morte de uma Baleia-Minke no interior do Pará e outras histórias da Amazônia (Fábio Zuker)


Título: Vida e morte de uma Baleia-Minke no interior do Pará e outras histórias da Amazônia 
Autor: Fábio Zuker
Editora: Publication Studio São Paulo
Ano: 2019
Páginas: 210

O livro reúne sete artigos publicados entre 2017 e 2019 em Amazônia Real, pelo pesquisador e jornalista Fábio Zuker, com aspectos antropológicos da realidade amazônica.

O texto é de leitura leve e fluida, estimulante à reflexões sobre o indígena, o ribeirinho, a imigração em massa dos venezuelanos, impactos por empreendimentos, politicagem pela posse e exploração da terra e, no que é especialmente atrativo, o estudo sobre o surgimento de uma baleia na região do Tapajós.

Brasileiros e venezuelanos: uma crônica de ódio e compaixão e Uma tarde junto aos venezuelanos no viaduto da rodoviária de Manaus tem abordagens sobre a crise humanitária, na percepção do contexto político, na maneira como a ajuda foi dada e também em conflitos secundários que se estabeleceram.

Vida e morte de uma Baleia-Minke no interior do Pará é um relato até hoje interessante e instigante às pesquisas, sobre o surpreendente aparecimento de uma baleia nos rios amazônidas em 2007. Acompanhei o caso com avidez na época, todo dia na expectativa de notícias positivas e, como muitos, extasiado com o ocorrido, especialmente sobre os relatos dos ribeirinhos. O artigo corrobora uma das rinformações que mais despertaram minha imaginação, o de que a baleia estava sendo acompanhada por vários botos (curiosidade que gostaria de saber mais). A abordagem analisa possíveis causas da jornada da baleia, relatos dos moradores locais, descrição de todo o ocorrido com o animal e também sobre outros casos de baleias que entraram em rios pelo mundo.
Interessante que nesse contexto também teve uma baleia da mesma espécie que encalhou na costa do Amapá, na REBIO Parazinho. Vi fotos do trabalho de resgate. Não sei se sobreviveu, impressiona a distância que ficou do rio no recuo da maré e o esforço empreendido na ajuda.
Voltando à baleia do Tapajós, o autor descreve condições e situações que dificultaram o salvamento. 
Os ossos estão hoje em exposição em museu de Santarém.

A autodemarcação da Terra Indígena Tupinambá no Baixo Tapajós e Os Kumuã do Alto Rio Negro e a descolonização dos corpos indígenas trazem abordagens sobre a questão indígena. O primeiro artigo com vários aspectos sobre a politicagem de cobiça às terras indígenas; o segundo sobre a perda da identidade, ilustrando com um caso em que houve imposição pragmática à perda de valores imateriais.

Anamã, metade do ano na água, outra metade na terra e O que eles querem mesmo é matar a gente: violência e destruição em um mega-açaizal no Pará, sobre realidade ribeirinha, como o impacto das cheias em determinada cidade (Anamã) e a exploração do homem e da natureza por empreendimento correlacionado a açaizais (onde existem danos aos moradores locais e ao meio ambiente com desfaçatez).

A leitura é prazerosa, rápida e enriquecedora sobre o contexto nortista. O único aspecto que não curti foi a ausência de fotos. Seria bastante interessante.

Baleia-Minke no Rio Tapajós 
(Foto: Elildo Carvalho Jr / Acervo ICMBio - CMA, 2007)
Baleia encalhada na costa do Amapá - REBIO Parazinho 
(Foto: Acervo SEMA-AP, 2009)

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Do rio Jacarezinho para as nações: a saga de um ribeirinho (Leonei Ciriaco)


Título: Do rio Jacarezinho para as nações: a saga de um ribeirinho 
Autor: Leonei Ciriaco
Editora: Edição do Autor
Páginas: 124
Ano: 2019

O que inicialmente atraiu minha atenção foi a curiosidade sobre a região onde se inicia a história, nas imediações do rio Jacarezinho, município de Breves (Pará). Minha família também tem raízes no local.
Os relatos são parecidos aos de outros migrantes, destacando a vida simples, desafios em contexto pouco conhecido, isolamento como fator impactante, a mitologia no cotidiano e a migração significativa para o antigo Território Federal do Amapá. Desdobramentos também citados no livro, em relatos a partir da década de 1980.

Outro aspecto motivador à leitura é que, no segmento evangélico, as biografias missionárias são valorosas como fonte de inspiração e aprendizagens. Já dizia o apóstolo Paulo, em 2 Coríntios 3:2, que o cristão é como carta escrita, a ser conhecida e lida por todos os homens. Baseando-se nisso, o autor compartilha um pouco de sua história, em aprendizagens, conquistas e propósitos traçados, como carta escrita que somos, no desejo de leitura que inspire e edifique pela graça de Deus.

Em linhas gerais o livro tem três momentos: 

- Biografia de Leonei Ciriaco em Uma infância na Amazônia e Treinamento e Chamado, com relatos diversos da infância no Jacarezinho, vinda para Macapá, novo nascimento no Senhor Jesus Cristo e a vocação missionária.
- A vida e o coração da missionária é outro momento, com o testemunho da esposa. O relato é sucinto e prático, interessante também por histórias que o autor havia contado, mas agora percebidas na ótica e experiência da esposa. 
Deus tem a forma de agir com cada pessoa e o testemunho de Cilane Ciriaco não tem relatos sobrenaturais como no do esposo (algo notório no paralelo), com a mensagem bíblica sempre em evidência na busca e reflexão. Aspecto fundamental diante de sonhos ou revelações proféticas, para entendimento do que Deus revela. As experiências entre as pessoas podem ser diferenciadas, mas são igualmente abençoadas, importantes e edificantes quando em conformidade com a mensagem bíblica. O livro despertou essas percepções... 
- Go to China destaca o projeto de Deus na vocação missionária do casal, correlacionado à missão evangelística transcontinental realizada através da JOCUM (Jovens Com Uma Missão).

Acredito que outros livros virão com testemunho nessa jornada e um terceiro aspecto motivacional que tive pela leitura é que a igreja em que congrego é uma das apoiadoras do missionário nesse projeto.

Graças a Deus por tudo! Graças pelo edificante testemunho! E graças por todo florescimento nessa obra!

"Embarque comigo nessa aventura verdadeira de um ribeirinho que nasceu na floresta amazônica e acabou por descobrir sua vocação de servir a Deus entre as nações."
LEONEI CIRIACO - Missionário da JOCUM / Jovens Com Uma Missão

"Nestes últimos dias Deus está mobilizando um exército para avançar o Reino de Deus. Eu espero que muitos possam se animar e se levantar do desânimo e da incredulidade para vencer, como Leonei e Cilane. Leia este livro e se fortaleça no Senhor."
JIM STIER - Fundador da JOCUM no Brasil

sábado, 15 de agosto de 2020

O Leopardo (Lampedusa)


Romance italiano, de grande prestígio naquela nação, como retrato pragmático da decadência aristocrata e ascensão burguesa em fins do século 19. Além do contexto social no recorte temporal, a obra tem inspirações na biografia e experiências de vida do autor, transmitindo bastante veracidade ao retrato histórico.

Dom Fabrizio, Príncipe da Sicília, da "Casa dos Leopardos", é cercado de caracterizações que o destacam no contexto. Na representatividade da nobreza, sua cultura diferenciada fica em paralelo ao meio sem essa caracterização, mesmo em ascensão, como a burguesia; a altura elevada é como se evocasse a elite dominante, que tem nele o último representante de classe opulenta de outros tempos; e a idade avançada, septuagenária, como se denotasse estilo ou classe antiga em contexto que revela-se rejuvenescido por novos modelos e percepções da sociedade.
O romance aborda esses aspectos, no retrato de fim de uma era, com desbotamento da nobreza e projeção da burguesia. 

A história tem como principal atração o texto de Lampedusa, diferenciado, com metáforas curiosas e bonitas. Veja, por exemplo, o primeiro parágrafo do Capítulo II, em idealização sobre esperança, e o Capítulo VII, como em  "átomos do tempo que evadiam do espírito e para sempre o deixavam", em devaneios e digressões poéticas interessantes ao longo do capítulo sobre o príncipe, onde "o fragor do mar aplacou-se de todo". 
Na minha opinião, que é nada de um nada, o texto de Lampedusa transmite a esse romance beleza que a história em si não tem. É o magnetismo da palavra e da história bem contada. Vale muito a apreciação.

Dom Fabrízio faz jus ao reconhecimento como príncipe não só por  título. É um nobre de fato e direito. Porém, mesmo em seu glamour carismático, o autor sutilmente atribui-lhe também aspectos e experiências que denotam um fim a isso, tipo uma desglamourização (se é que essa palavra existe). 
Além do nobre em extinção, destaque para Angélica que, tal qual o príncipe para a nobreza, é metáfora para a burguesia em ascensão, tendo poder, mas aquém da fidalguia de outros tempos do príncipe siciliano. Assim como Tancredi, sobrinho de Fabrizio, que ilustra adaptação e ajustamento entre entre esses dois mundos (nobreza e burguesia), necessária diante de tudo o que o livro retratou e expressa na frase mais conhecida do romance, logo no primeiro capítulo: "se queremos que tudo fique como está é preciso que tudo mude".

Vou encerrar mencionando também personagem pouco lembrado desse livro, mas com algo significativo: Bendicó (se vira aí se não conheces). Vou te contar, não é exagero dizer que o leopardo foi transmutado nele no final, numa metáfora ao envelhecido e empoeirado que é descartado diante dos novos tempos.

Título: O Leopardo
Autor: Lampedusa
Ano de publicação: 1958

Em Macapá a obra pode ser conferida no acervo da 
Biblioteca Pública Elcy Lacerda.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Comentário Exegético da I Carta aos Coríntios (Pastor Oton Alencar)


"Por meio desta obra, a esperança do escritor e pastor Oton Miranda de Alencar é conseguir dar ao estudante da Palavra de Deus - bem como a todos quantos amam a vinda de Jesus Cristo - uma ferramenta que lhes proporcione, ao mesmo tempo, enriquecimento a respeito da cultura bíblica e conhecimento da necessidade que temos de que o nosso homem interior alcance a estatura de varão perfeito."
(Pr José Orcélio de Almeida Amâncio)

Título: Comentário Exegético da I Carta aos Coríntios
Autor: Pastor Oton Miranda de Alencar
Páginas: 262
Editora: Inove
Ano: 2013

Sumário:
Capítulo 1
- Grupos na igreja
- Bênçãos por meio de Cristo
- Divisões na igreja de Corinto
- Cristo: o Poder e a Sabedoria de Deus

Capítulo 2
- A mensagem a respeito de Cristo crucificado
- Sabedoria de Deus

Capítulo 3
- Servidores de Deus
- Dois tipos de ministério e o seu resultado

Capítulo 4
- Apóstolo de Cristo

Capítulo 5
- Impureza na igreja de Corinto, repreensões e exortações

Capítulo 6
- Processos contra irmãos na fé
- Paulo condena a sensualidade

Capítulo 7
- Conselho sobre o casamento
- Uma vida de obediência a Deus
- Conselho para pessoas solteiras e viúvas

Capítulo 8
- Alimentos oferecidos aos ídolos

Capítulo 9
- Direitos e deveres de um apóstolo

Capítulo 10
- Conselhos contra adoração de ídolos
- Respeito pela opinião dos outros

Capítulo 11
- Dois problemas na igreja:
1- As mulheres na igreja
2 - A ceia do Senhor

Capítulo 12
- Diversidade dos dons espirituais

Capítulo 13
- A suprema excelência do amor
- O amor é um dom supremo

Capítulo 14
- O dom de profecias é superior ao dom de línguas
- A ordem na igreja

Capítulo 15
- Ressurreição de Cristo
- Cristo, as primícias dos que dormem

Capítulo 16
- A coleta, seus planos e saudações finais


A obra traz o texto integral da I Carta aos Coríntios seguido de abordagens minuciosas, que consideram o contexto histórico, etimologia, paralelo com outras passagens bíblicas e, sobretudo, reflexões em aprendizagens importantes para a cristandade.

No panorama histórico, entre outros aspectos:
- a carta foi escrita pelo apóstolo Paulo por volta da quinta década d.C; 
- Corinto projetava-se como entreposto comercial e centro religioso das divindades Afrodite e Baco, também chamado Dionísio (relacionadas ao hedonismo); 
- a igreja local apresentava divisões partidárias em quatro grupos distintos (simpatizantes de Paulo, de Apolo, de Pedro e de Jesus); 
- as disputas eram caracterizadas por orgulho, tradicionalismo, ignorância e ausência de amor; 
- haviam escândalos relacionados a brigas (com membros da igreja levando as questões para os tribunais) e relacionados a imoralidade (alguns viviam entre o paganismo cultural e a comunhão com a igreja);
- no hedonismo que imperava na cidade eram comuns orgias sexuais diversas e festas pagãs com banquetes nababescos oferecidos aos deuses, algo a que alguns cristãos se deixavam influenciar;
- a igreja em Corinto tinha também o escândalo de membro que vivia em incesto com a mãe. 

Todas essas informações, entre outras, chegaram a Paulo.

No aspecto teológico, do muito que a I Carta aos Coríntios ensina, registro a ênfase ao viver cristão com humildade, crescimento espiritual nos dons do Espírito Santo, santificação, rejeição à imoralidade, afastamento dos praticantes de escândalos, comunhão em amor nas celebrações da igreja, sensatez na conduta cristã e o viver em amor (expresso de maneira profunda no capítulo 13, onde vemos o verdadeiro amor em edificante mensagem).

A carta é valorosa em ensinamentos e outras coisas são reveladas na bênção do Senhor. 

Muito do contexto repete-se hoje, daí a necessidade da busca e aprendizagens,

O comentarista do livro foi o pastor Oton Alencar (Pastor-presidente da Assembleia de Deus A Pioneira no Amapá). 

Leitura edificante. 

Graças a Deus por tudo!

sábado, 25 de julho de 2020

Histórias Extraordinárias (Edgar Allan Poe)

A segunda vez que leio essa obra, mas agora focando alguns contos, também por estar num contexto de leitura das respectivas versões em quadrinhos. O entusiasmo despertou o interesse em rever no texto integral.

Ainda não lestes Poe? Mano, tem histórias sensacionais!

Caso de O poço e o pêndulo, sobre o sofrimento de um réu ante a Inquisição. A tensão é crescente em dois momentos, diante da morte iminente e diante da possibilidade de libertação. Meu preferido, de leitura empolgante.

Gostas de história de pescador? Uma descida no Maelstrom de certa maneira é, onde um sujeito foi apanhado em redemoinho gigante e aí.... Busque o conto se quiser saber. Surreal o final...

Ficção científica? Claro que o autor enveredou também nisso, mandando o homem para a Lua em um balão. Isso mesmo! Confira em  A aventura  sem paralelo de Hans Pfaall

A investigação policial fica por conta do detetive francês Auguste Dupin, com sua lógica intuitiva antes de Sherlock Holmes existir. 
Vamos ao que interessa. 
Os crimes da Rua Morgue é um dos mais famosos, onde o autor misturou mistério e natureza insólita. Surpreendeu e Dupin deu show! 
Vou registrar algo que não consigo tirar do pensamento... Para mim, o famigerado Estripador de Londres (misterioso até hoje) acirrou sua loucura na contemplação (também) desse conto. Os crimes tem pontos similares, como mulheres trucidadas, uso de arma branca de maneira diferenciada e situações que desafiam a lógica nos porquês. Só um devaneio infundado, viu! Leia-se teoria conspiratória, viajando no conto... Sem dúvidas, o melhor sobre Dupin..
A carta roubada é subsequente, com Dupin um tanto vaidoso pela perspicácia e paciente para dar o desfecho na hora certa em relação a investigação em andamento. Verdadeiro pulo do gato! Não, mais boçal! Gostei do conto.
O mistério de Marie Roget, sobre a morte de uma mulher encontrada boiando no rio. Dupin está na investigação, de um caso que dizem ser baseado em fatos reais...

No ramo investigativo, cabe também referências para O escaravelho de ouro, com uma busca ao tesouro onde o cabeça dessa empreitada desperta desconfiança sobre sua sanidade aos ajudadores, devido postura tão enigmática que assume. 

O sobrenatural permeia a obra de Poe... Metzengerstein ilustra isso (met o quê!?). Ah, é sobre duas famílias inimigas e uma profecia no caminho... O conto diz no que deu... 
Nunca aposte sua cabeça com o diabo é outro surreal. Eu hein! Ele cobra... 
Opa! Opa! Já ia esquecendo de Manuscrito encontrado numa garrafa e sua viagem além da imaginação. Alguém aí parece estar morto...

Dois clássicos de leitura empolgante também: O gato preto, Top 5 na obra de Poe (pelo menos para mim) e O barril de amontilado
Pensando em aspecto comum, tem em evidência a obsessão por sádica vingança, no limiar da loucura. 

A queda da Casa de Usher. Concluí que referencia a ruína psicossomática desencadeada pelas drogas... O pântano entorpecia tudo com seus gases sulfurosos e o narrador fala que o cheiro das flores lhe fazia mal... Cada um com sua subjetividade diante das possibilidades. Leia o conto, de crescente tensão, e tenha suas percepções...

Berenice ilustra a paranoia instigada pela escravidão à melancolia. Pobre Berenice... Uma doença crônica roubou-lhe a saúde, a beleza e a vida. De intacto restou... Opa, descubra no livro! Também revelador que a paixão é doentia quando o materialismo egoísta toma conta...

Willian Wilson e a dicotomia entre o bem e o mal...

A obra encerra com O jogador de xadrez de Maelzel, onde Poe, rei dos mistérios, parece obcecado na revelação dos segredos de famoso artefato, que apresentava-se espetaculoso e misterioso para as multidões... 

Oras! Em devaneios infundados ou não, eu é que não fico também sem alguma percepção desses misteriosos contos... E assim, está ai essa resenha após empolgante leitura, convidativa a descoberta de Poe por novos leitores.

Bela coletânea! Melhor ficaria se fossem incluídos O coração delator e A máscara da morte vermelha. Sensacionais!


Título: Histórias Extraordinárias
Autor: Edgar Allan Poe
Editora: Nova Cultural
Páginas: 414


OBRA ENCONTRADA NO ACERVO DA 
BIBLIOTECA PÚBLICA ELCY LACERDA, 
EM MACAPÁ.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Inventário das Buscas (Paulo Tarso Barros, 1997)

Poesias de Paulo Tarso, cinquenta e duas ao todo, vendo-se anseios, fé, sonhos, lutas, amores, satisfações e tristezas, numa percepção de lirismo sensível a preciosidade da vida. É uma bela visão, com humildade, receptividade a aprendizagens e esperança, em que situação for.
"INVENTÁRIO DAS BUSCAS", que inicia e da nome a obra, é a mais antiga poesia do livro (1984), também das mais bonitas, em belo devaneio instigado por anseios, revelando-se Macapá na caminhada e buscas do poeta como descoberta e destino aprazível.

Bela obra para ser redescoberta pelos amapaenses!

Título: Inventário das Buscas
Autor: Paulo Tarso Barrros
Editora: Tarso
Páginas: 46
Ano: 1997


INVENTÁRIO DAS BUSCAS

Nessa manhã deixo a vida cair como a chuva
nos poliedros dos olhos e nos invisíveis
espelhos cromáticos dos meus espíritos.
Em mim, que sinto e tento explicar,
digladiam-se os liquefeitos sonhos de anos e anos,
de esperas e esperas, com anjos e demônios
que despencam do horizonte como perfuratrizes
assassinas sobre a minha sorte.

Nas desfeitas ondas, irmanadas aos abismos
para onde fomos exilados (como se fossemos paranóicos),
a síndrome imensurável da Terra
é compactada na minha percepção de poeta.
E a minha visão, que decola de sua órbita natural,
busca os infinitos do Criador.
E deixo a vida viabilizar-se, amar seus amores,
escrever seus poemas e buscar-se, sempre.

Como um animal volto ao meu lar
e contemplo vossos telhados, Macapá.
Contemplo a absurda e fria calmaria das praças
moldadas na linear paisagem urbana.
Volto a casa como um poeta do século XX,
com meus livro de infinitas páginas em branco,
minha dor de cabeça proletária e civil.
Os bares já estão vazios e tudo é muito ambivalente,
e tudo vai explodir na madrugada setentrional.

Caminho por Macapá e tenho bilhões de irmãos
espalhados e confusos nesse planeta solitário.

(1984)

Conheça um pouco mais do autor e suas obras

sábado, 29 de fevereiro de 2020

Histórias do meu povo (Esmeraldina dos Santos)


Trata-se de um trabalho pequeno, feito com naturalidade e talento, que instiga pela dolência e pelo profundo amor da autora pelas pessoas e lugares que descreve, como o Curiaú e o Laguinho. É um livro escrito com o coração, diria, e com a humildade de quem sabe dar valor às suas recordações pessoais. É, ainda, uma contribuição poética à nossa memória coletiva.
FERNANDO CANTO
(Texto de apresentação do livro)

Título: Histórias do meu povo
Autora: Esmeraldina dos Santos
Ano: 2002
Páginas: 40
Editora: Confraria Tucuju/PMM

O livro é essencialmente um relato nostálgico, carregado de emoção, orgulho e riqueza de detalhes sobre o cotidiano, seja de outros tempos ou do presente, com curiosidades ligadas à natureza, aos antepassados, às festividades, às lutas e conquistas, em leitura fluida, de veracidade singela e tocante, no resgate da história, valores e identidade do Curiaú. Narrativa sobretudo encantadora na percepção da terra.

EM MACAPÁ,
A OBRA ESTÁ DISPONÍVEL PARA LEITURAS NA
BIBLIOTECA PÚBLICA ELCY LACERDA

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Aventuras na Guiana (Raymond Maufrais)


Diário da derradeira expedição de Raymond Maufrais, jovem explorador francês desaparecido na Guiana Francesa em 1950.

Sobre o autor, Maufrais acumulara experiências em expedição no Mato Grosso, em 1946, quando juntou-se a equipe brasileira na meta de contato com os Xavantes, redundando na publicação Aventuras em Mato Grosso.

Fato interessante é que fez parte também da resistência francesa na Segunda Guerra, enquanto jovem aspirante ao jornalismo, sendo condecorado com medalha pelas lutas de libertação de Toulon (sua cidade natal).

Após retornar do Brasil, recebeu patrocínio de revista francesa para expedição pioneira na Guiana Francesa, onde atravessaria a colônia no sentido norte-sul, adentrando a selva rumo ao Tumucumaque no Brasil (trajeto desconhecido) de onde pretendia chegar a Belém e ao Maranhão.

O diário tem poucas páginas, sendo encontrado em região erma. Segundo o autor, para que fosse recuperado, quando estava em situação precária e duvidando da sobrevivência.

Os relatos iniciam em Paris, em 17/06/1949, nos preparativos para a expedição, e finda em 13/01/1950, com os últimos registros de Maufrais na fronteira da Guiana Francesa com o Brasil.

Está dividido em quatro partes, que são determinadas por  certas etapas da expedição.

Em termos gerais, a primeira parte é curta, destacando o embarque em Paris e o início da expedição no norte guianense, a partir da cidade de Saint Laurent. Destaca-se o entusiasmo do autor, que tinha 24 anos e via nessa jornada reconhecimentos por protagonismo e ineditismo expedicionário no trecho do Tumucumaque. Vemos também visão pessimista de moradores locais, com palavras de desencorajamento e certo vaticínio nas últimas linhas.

A segunda parte corresponde ao trecho até Maripasoula, percorrido através de rios com ajuda de pirogueiros. Os registros mostram dificuldades que pareceram minimizadas durante os preparativos, como as chuvas intensas, trechos com corredeiras em que a embarcação virou, febres que acometeram Maufrais e seus ajudantes, ataques de morcegos vampiros durante a noite, dificuldades no transporte (por conta de equipamentos inadequados, como mochilas frágeis) e escassez de mantimentos.
A parte tem também curiosidades locais, como referências ao samaracás, além de descrições sobre a região (teriam avistado sucuri que calcularam em 12 metros... será?). 

A terceira parte corresponde ao direcionamento à região do Tumucumaque, no Amapá, feito inicialmente através de rios e depois em trecho desconhecido, em que o explorador adentrou a selva amazônica apenas em companhia de seu cão Boby, buscando determinado rio.
O texto até então objetivo passa a ter muitas divagações, com Maufrais combalido por fraqueza, fome, reconhecendo descuidos e com certo desespero. Notamos estar perdido e abalado mentalmente. Os relatos finais dessa parte são bastante melancólicos, diante de constatação de erro de avaliação.

A última parte é chocante, como no abate do cão para usar como alimento diante da fome, com exaustão dominante. Maufrais conseguiu chegar ao rio Tamouri, em região pouco explorada, onde mudou a meta para alcançar acampamento de garimpeiros, de relatos não precisos. Fez uma jangada, mas padeceu com a fraqueza, perdendo assim o meio de transporte e equipamentos. Nítido o desconhecimento preponderante da região, além do abalo psicológico.
Um povoado foi alcançado, mas estava abandonado...
Os relatos tem tom de despedida, há reconhecimento de despreparo em muitas medidas adotadas, a fome é intensa, as forças esvaem, o desespero se faz presente, o autor se despede, deixa o diário para que possivelmente seja recuperado e some na selva, para nunca mais ser encontrado.

A notificação do desaparecimento trouxe seu pai para a Guiana Francesa, onde realizou mais de 20 melancólicas expedições em busca do filho, com mergulhos no último rio dos relatos, mensagens e sinais deixados pelo caminho. Tudo sem sucesso, o que levou também a mãe a depressão e internação.

O texto não é rico em detalhamentos da selva e o que essencialmente instiga é a percepção da necessidade de equilíbrio nos projetos, entre disposição e preparativos adequados. Não se sabe a causa exata da morte do explorador, mas esses fatores foram influenciadores.

Muito nativos temiam a selva devido a desinformação e o despreparo para lidar com as situações, fortalecendo crendices e medo em resposta. Algo que Maufrais não conseguiu superar, pois diante de seu desafio, respondeu com desinformações e despreparo para situações que deveriam ter sido previstas. O registro traz essa percepção, como na falta de mapas (quando alegou que os que teria acesso foram roubados de livros da biblioteca em que buscava informações). Há lamentos também pelas mochilas inadequadas, falta de alimento, falta de cobertores ideais para proteger do frio, a questão de não ter previsto e se preparado para ataque dos morcegos vampiros, as doenças tornaram-se mais suscetíveis, ocorreu perda de equipamentos, dificuldade com armas, dinheiro insuficiente, desconhecimento brutal da região... Enfim, gigantesca falha no planejamento.

Não é obra empolgante por relatos extraordinários sobre a natureza, mas como reflexão sobre a vida e seus desafios.

Tenho crítica ao tradutor, Carlos Chaves, que vale também para os editores. O texto preserva muita coisa da linguagem francesa, no que se refere a designações à natureza e até mesmo a objetos. Se escolheram não "abrasileirar" a informação, que tivesse então notas referenciais. O livro é pobre delas, podendo-se conta-las nos dedos de uma mão.
Cito exemplos da falha na edição: o autor fala dos gimnotos (não poderiam escrever poraquês?) e conta do temor de nativos pelos aimarás (que descobri serem os trairões). Esses são os que descobri o significado, mas fiquei sem saber o que seriam os paranas (que tipo de macaco é esse?), os masailles com porte de pavão, os iaiás (peixinhos de sei lá que espécie), os pecaris (peca o que?), além de apetrechos como anorak de caça...

Vou deixar em registro frase nos escritos finais de Raymond Maufrais:

"Oh! Guiana! terra desconhecida. Não és tu, nem o esforço que matam o europeu; é ele que se suicida e, como lhe é preciso um pretexto, escolheu-te como bode expiatório."
Registro de 12/01/1950, um dia antes do último.

OBRA ENCONTRADA NO ACERVO DA 
BIBLIOTECA PÚBLICA ELCY LACERDA, 
EM MACAPÁ.