As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

terça-feira, 23 de abril de 2019

Biblioteca Pública Estadual Elcy Lacerda completou 74 anos de fundação (Abril/2019)

A Biblioteca Pública Estadual Elcy Lacerda completou 74 anos de fundação no dia 20 de abril. A instituição possui um importante papel de informar e incentivar a leitura, além de preservar a história e cultura amapaense. Ao longo dos anos, a instituição educacional tornou-se também um ambiente onde se concentra toda a forma de manifestação cultural.
O prédio abre diariamente das 8h às 18h e possui 16 salas, onde são promovidas atividades relacionadas à cultura e a educação para pessoas de qualquer idade.

Sete décadas da “Biblioteca Viva”

Fundada em 20 de abril de 1945, atualmente conta com um acervo de aproximadamente 60 mil itens, entre livros, CDs, DVDs e periódicos (revistas, jornais e diários). Também guarda acervo de obras raras, como exemplares dos jornais Pisônia e Amapá - os primeiros a circularem no estado.
O espaço possui 16 salas temáticas para estudos e pesquisas: a Amapaense (livros e documentos com assuntos e temáticas do Amapá e da Amazônia); Sala Afro-indígena; Sala do Ensino Médio e Superior; Sala Circulante (com obras literárias nacionais e estrangeiras disponíveis para leitura e empréstimo domiciliar); Sala de Artes; Sala Infantojuvenil (que conta com o Grupo de Contadores de Histórias); duas Salas com Jornais e Periódicos (com destaque para a Sala de Obras Raras); uma Sala de Braille e a Reserva Técnica (onde os livros são recebidos e distribuídos às salas).

Mensalmente são realizados os eventos ‘encontro com o escritor’, ‘roda viva’ e contação de histórias, principalmente, em datas comemorativas e, durante a semana, acontecem os cursos de xadrez; teatro e curso preparatório para concursos públicos.

(TEXTO EXTRAÍDO DO JORNAL TRIBUNA AMAPAENSE - ABRIL/2019)

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Opúsculo Humanitário (Nísia Floresta, 1853)

Nísia Floresta, um dos vários pseudônimos adotados pela potiguara Dionísia Gonçalves Pinto, foi uma ilustre e notável brasileira, precursora do feminismo no Brasil, mais conhecida entre intelectuais estrangeiros do que em sua própria nação. Claro, excetuando-se seu estado natal (RN), onde nomeia um município, e meios fechados como os acadêmicos (tipo na Sociologia). Em termos gerais, principalmente na rede de ensino público, existem raríssimas referências (isso para não generalizar algo mais dramático).
Nossa nação homenageia tanta coisa tosca e esquece de figuras verdadeiramente relevantes. Não entendo como nunca encontrei qualquer citação a ela em minha vida estudantil. Nenhum professor expôs qualquer coisa...
Quer ver como não valorizamos muitas pessoas merecedoras? Pense na Malala, com justiça recebeu um Nobel pela luta a favor da educação das crianças paquistanesas, em idos que pensávamos que direitos como esse seriam já uma conquista em todo canto. O mundo a reverencia. Agora retroceda dois séculos em nossa sociedade brasileira, dominada por machismo e conservadorismo pra lá de tosco, e veja como eram as lutas, mobilizações e aspirações de uma jovem, nordestina, também chamada Nísia Floresta. Grandessíssimas descobertas se apresentarão. Podemos dizer que de certa maneira é reverenciada no mundo, mas em nossa nação...

Cheguei a seu nome através de uma revista de história (AH) e fiquei curioso, no que poderia ter satisfação de duas formas: em rolé pelas biografias ou, o que achei mais interessante no momento, conhecendo alguma de suas várias e revolucionárias obras.

Feita as devidas apresentações e contexto da leitura, não poderia deixar de registrar que essa foi uma descoberta que impactou. Nísia destacou-se como escritora, jornalista e educadora, entre outras coisas, de maneira extraordinária para seu tempo, onde escreveu sobre direitos inerentes não apenas às mulheres, mas também a favor da abolição da escravatura, direitos indígenas e pelas mazelas desfavorecidas e excluídas pelos ditames do dinheiro.

Essa obra é de 1853, do tempo do Brasil imperial, e foi concebida na forma de textos curtos publicados em jornal.
O texto instiga o público a pensamento transformador, assemelhando-se a um discurso, revolucionário em propostas e, o que é interessante, contextualizado com transformações em andamento na época. Apesar do português arcaico, a leitura foi empolgante.

Nos primeiros textos, Nísia faz um passeio pela história, destacando o papel destinado à mulher, onde prevalece a cultura do servilismo, com afastamento da oportunidade ao conhecimento científico, restando apenas a formação educativa para ser esposa e mãe. A autora discorre sobre várias culturas e faz essas observações. Na grega, por exemplo, prevalecia o pensamento da mulher ser incompleta para a compreensão do pensamento, segundo o texto, um conceito de origem aristotélica. Surpreende o tanto de citações a mulheres e culturas e o livro apresenta fartas notas de rodapés. Mas não apenas os aspectos retrógrados são mencionados, os positivos também, como citações de contexto bíblico à Débora (do Antigo Testamento) e Judite (dos livros apócrifos adotados no catolicismo).
Falando em fé, a autora não se opõem a ela, pois manifesta ter e destaca a importância, mas vai contra o conservadorismo educativo ditado por líderes da igreja na época.

No contexto da sociedade, Nísia apresenta a atual situação da educação, propondo reformas. Também critica o conservadorismo em costumes de época, como: o papel de servilismo e exclusão da mulher no protagonismo cultural; a supervalorização da futilidade em vaidades (como o uso do espartilho, onde a autora conta a história de uma menina de 6 anos morta em sala de aula, em decorrência da imposição da vaidade pelos pais); a exclusão dos indígenas negros e pobres da educação; a ausência dos pais nesse processo (transferindo para aias ou colégios internos); e costumes como o de deixar as crianças suscetíveis a ouvir conversações de adultos sem o menor pudor. É curioso, mas a autora elogia até mesmo o hábito frequente e exemplar de higienização indígena.

O texto propõe reformulação no ensino não apenas como direito às mulheres, mas também como necessidade requerida pelas transformações em ebulição no mundo. Isso é tão sério que, na visão do progresso, ela propõe que fosse criada uma classe operária feminina.
Se a Malala consagrou aquela frase de que uma caneta e caderno podem transformar o mundo (mais ou menos assim), Nísia encerra sua obra com citação não menos icônica: educai as mulheres! 


Nísia Floresta

O livro traz também breve biografia e o que destacou-se nesse meu primeiro contato foi o envolvimento com intelectuais na Europa que lhe influenciaram (elogiando as nações abertas a transformação no pensamento) e paralelos que percebi em sua cronologia. Veja só: sua primeira obra já tem essa pegada revolucionária e foi publicada em 1832, alguns anos antes da introdução do Romantismo no Brasil. Enquanto os intelectuais valorizados do contexto traçavam a idealização da mulher em devaneios, Nísia escrevia coisas mais coerentes e importantes; o mesmo se aplica antes de iniciarem a escola realista em nosso país, quando já dissertava pioneiramente sobre muita coisa de nossa sociedade.
E aí, por seus escritos, por seus posicionamentos, por suas inovações, ainda assim nada costumam incluir nos livros de história, literatura, ou outra ciência no meio estudantil...
Foi realmente boa descoberta e vou seguir nelas. A juventude de hoje poderia ser apresentada de alguma maneira a essa mulher na rede de ensino, e aí tenha suas conclusões...

Vou deixar em registro frase sua que gostei, sendo um incentivo e uma crítica, tudo de maneira poética:

"Deus depôs no coração da brasileira o germe de todas as virtudes. Vejamos o impulso que o governo e os homens da nossa nação têm dado a este germe precioso, como têm eles cultivado e feito desabrochar as flores, madurar os frutos que se deve esperar de uma planta de abundante seiva, sob os cuidados de um hábil e sábio horticultor."
(Nísia Floresta)

SUGESTÃO DE LEITURA DA
BIBLIOTECA AMBIENTAL DA SEMA EM MACAPÁ