A obra surpreendeu pelo conteúdo cativante em impressões da cultura paraense, arraigados também em boa parte da Amazônia. O romance foi publicado em 1938 e tem um texto refinado, onde Raimundo de Morais mistura realidade e ficção para contar a história de uma tradicional família, chefiada pelo Coronel Igaraúna, às margens do rio Tocantins no início do século XX. Uma preciosa descoberta em minhas leituras.
Descrição na "orelha" do livro
"Raimundo Morais é o grande narrador de histórias plenas de sabor exótico e popular no meio que descreve. Soube analisar o ambiente e o pensamento do povo paraense, relatando sua fé e suas crenças.
Ilustra neste livro a vida num barração à margem do Tocantins, rio que nasce entre diamantes, rubis e esmeraldas e corre num leito de pérolas.
Presenciamos o choco do uirapuru, a luta entre a sucuriju e a anta, a farta pescaria nos rios ainda límpidos.
A política da época (parece que os tempos não mudaram) levando o Coronel Igaraúna a Belém e a enfrentar um naufrágio, enfaixa um ciclo de destruição no qual sua família desaparece.
O escritor ressalta a dedicação da Dra. Emília Snethlage, naturalista alemã famosa e diretora do Museu Goeldi de 1914 a 1921. Até sua morte aos 61 anos de idade, adentrava-se pela selva, unicamente acompanhada por alguns selvícolas. Devemos a ela a classificação das aves da Amazônia. Ao longo de suas conversas com a família Igaraúna, ministra verdadeiras lições de biologia, zoologia e antropologia.
É sempre com carinho que Raimundo de Morais trata dos pequenos deslizes, das fraquezas humanas e, talvez tenha sido um dos primeiros brasileiros a ver com olhos abertos e lúcidos esta terra, tão famosa alhures por sua beleza, pela bondade de seu povo, e pela amplidão aterradora de sua natureza e sempre vencedora."
(Autor não identificado)
Ilustra neste livro a vida num barração à margem do Tocantins, rio que nasce entre diamantes, rubis e esmeraldas e corre num leito de pérolas.
Presenciamos o choco do uirapuru, a luta entre a sucuriju e a anta, a farta pescaria nos rios ainda límpidos.
A política da época (parece que os tempos não mudaram) levando o Coronel Igaraúna a Belém e a enfrentar um naufrágio, enfaixa um ciclo de destruição no qual sua família desaparece.
O escritor ressalta a dedicação da Dra. Emília Snethlage, naturalista alemã famosa e diretora do Museu Goeldi de 1914 a 1921. Até sua morte aos 61 anos de idade, adentrava-se pela selva, unicamente acompanhada por alguns selvícolas. Devemos a ela a classificação das aves da Amazônia. Ao longo de suas conversas com a família Igaraúna, ministra verdadeiras lições de biologia, zoologia e antropologia.
É sempre com carinho que Raimundo de Morais trata dos pequenos deslizes, das fraquezas humanas e, talvez tenha sido um dos primeiros brasileiros a ver com olhos abertos e lúcidos esta terra, tão famosa alhures por sua beleza, pela bondade de seu povo, e pela amplidão aterradora de sua natureza e sempre vencedora."
(Autor não identificado)
Registro no SKOOB
A obra tem um olhar interessante, refletindo a erudição do autor e um retrato de época com seus saberes. O livro foi publicado em 1938 e é protagonizado pelo Coronel Anastácio, conhecido na região como Igaraúna.
O cenário é a vida interiorana às margens do rio Tocantins e, voltando ao que havia citado, o contexto é descrito com riqueza de detalhes, em abordagens que tratam de aspectos sociológicos, culturais, ambientais, históricos, científicos, políticos e geográficos. Essa característica mostra a valorização do autor pelas pesquisas. O texto, às vezes, transcende a descrição usual e corriqueira para dissertar de maneira instigante e reveladora sobre a região em suas peculiaridades.
Raimundo de Morais é refinado e o livro tem o paralelo curioso entre os saberes, "culto" e tradicional.
Entre as coisas que me chamaram mais atenção cito a viagem que o coronel fez a Belém. A narrativa descreve um naufrágio e, de seus desdobramentos, o coronel é procurado pela imprensa por estar entre os sobreviventes. Ocorre um pequeno embate entre ele e uns jornalistas, metidos a "sabichões", e percebemos a valorização também do saber no traquejo e experiência de vida.
As situações vivenciadas pelo coronel são elementos no retrato de época e instigantes a uma abordagem de pesquisas do autor. Assim acontece no regresso a sua fazenda, no Redentor, onde encontra a pesquisadora alemã Emília Snethlage, que lhe dá admiráveis aulas. Explicações sobre a região, curiosas ao coronel e ao leitor. Ressalte-se que a pesquisadora é uma figura real e representativa na História do Pará, com importância no estudo e catalogação de várias espécies e como diretora do Museu Emílio Goeldi em Belém.
A vida na fazenda tem situações exploradas também. Por exemplo, nos festejos do São João e outras manifestações populares, o autor surpreende com suas considerações. O mastro é referenciado como um símbolo fálico, remontando à percepções pagãs absorvidas e suplantadas pela Cristandade. Mas que interessante isso...
O capítulo sobre "O Boto" é outra passagem muito bacana, com um estudo do caso.
A parte sobre o embate canoro na floresta , "Uirapuru e Carachué", é uma descrição em forma de conto de leitura muito prazerosa.
Politicamente falando, há também o retrato das "maracutaias" comuns, já naquela época, no início do século XX, onde muitos candidatos tinham garantidos até o eleitorado do cemitério. E não é que muitos finados votavam... A obra cita esses episódios.
O homem, a terra, seus costumes. Pontos relevantes no livro. Emília Snethlage tem uma segunda e terceira passagens, dessa vez na fazenda, um aspecto que sempre valoriza a leitura.
O conhecimento popular é valorizado e tem nas descrições sobre o igapó um belo exemplo, onde temos um encontro com o poraquê e a luta extraordinária entre uma anta e uma sucuri. João Cabeludo, mestiço personagem representativo desse saber, é quem nos conduz nessa ciência amazônica, tão arraigada e vista hoje ainda. Vai dizer que nunca ouviu aquela do poraquê que dá choque no pé de algumas árvores (taperebá, na descrição do livro) para apanhar frutos? Ou que sucuri come até anta....
A obra tem também seus tons de mistério e ação, com um desfecho dramático ao coronel e sua família, em uma época descrita com romantismo e com curiosas particularidades para se conhecer.
Informações do livro:
Título: Os Igaraúnas
Autor: Raimundo de Morais
Editora: RK (Roswitha Kempf)
Ano: 1938
Páginas: 207
Tema: Amazônia/Romance/Literatura Paraense/Costumes
O cenário é a vida interiorana às margens do rio Tocantins e, voltando ao que havia citado, o contexto é descrito com riqueza de detalhes, em abordagens que tratam de aspectos sociológicos, culturais, ambientais, históricos, científicos, políticos e geográficos. Essa característica mostra a valorização do autor pelas pesquisas. O texto, às vezes, transcende a descrição usual e corriqueira para dissertar de maneira instigante e reveladora sobre a região em suas peculiaridades.
Raimundo de Morais é refinado e o livro tem o paralelo curioso entre os saberes, "culto" e tradicional.
Entre as coisas que me chamaram mais atenção cito a viagem que o coronel fez a Belém. A narrativa descreve um naufrágio e, de seus desdobramentos, o coronel é procurado pela imprensa por estar entre os sobreviventes. Ocorre um pequeno embate entre ele e uns jornalistas, metidos a "sabichões", e percebemos a valorização também do saber no traquejo e experiência de vida.
Imagem do livro
A vida na fazenda tem situações exploradas também. Por exemplo, nos festejos do São João e outras manifestações populares, o autor surpreende com suas considerações. O mastro é referenciado como um símbolo fálico, remontando à percepções pagãs absorvidas e suplantadas pela Cristandade. Mas que interessante isso...
O capítulo sobre "O Boto" é outra passagem muito bacana, com um estudo do caso.
A parte sobre o embate canoro na floresta , "Uirapuru e Carachué", é uma descrição em forma de conto de leitura muito prazerosa.
Politicamente falando, há também o retrato das "maracutaias" comuns, já naquela época, no início do século XX, onde muitos candidatos tinham garantidos até o eleitorado do cemitério. E não é que muitos finados votavam... A obra cita esses episódios.
O homem, a terra, seus costumes. Pontos relevantes no livro. Emília Snethlage tem uma segunda e terceira passagens, dessa vez na fazenda, um aspecto que sempre valoriza a leitura.
O conhecimento popular é valorizado e tem nas descrições sobre o igapó um belo exemplo, onde temos um encontro com o poraquê e a luta extraordinária entre uma anta e uma sucuri. João Cabeludo, mestiço personagem representativo desse saber, é quem nos conduz nessa ciência amazônica, tão arraigada e vista hoje ainda. Vai dizer que nunca ouviu aquela do poraquê que dá choque no pé de algumas árvores (taperebá, na descrição do livro) para apanhar frutos? Ou que sucuri come até anta....
A obra tem também seus tons de mistério e ação, com um desfecho dramático ao coronel e sua família, em uma época descrita com romantismo e com curiosas particularidades para se conhecer.
Informações do livro:
Título: Os Igaraúnas
Autor: Raimundo de Morais
Editora: RK (Roswitha Kempf)
Ano: 1938
Páginas: 207
Tema: Amazônia/Romance/Literatura Paraense/Costumes
Biblioteca
Pública Elcy Lacerda.
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia