As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

quinta-feira, 10 de março de 2016

A Revolução (Banda Catedral)



A Revolução
(Banda Catedral)

Vamos acabar com a hipocrisia
E aprender a dividir o pão
Viver com a verdade sem mentiras
Se resolver e esquecer a solidão
Varrer as ruas de toda maldade
Sonhar a cada instante
Esquecer a realidade
Construiremos uma nova realidade
Com igualdade e liberdade
Não vamos construir mais templos ricos
Deixar as crianças morrerem de fome
Se preocupar com o ouro e granito
Enquanto o mais próximo não come
O maior pecado cometemos todo o dia
O da inconveniência e da indecência
De fazer nada vezes nada...

Vamos decretar a revolução

E vamos dar terra a quem precisa
Sem se enganar com quem explora
A ideia da terra pela ideia do poder
A ideia da terra para alguém se eleger
Nos aposentaremos aos sessenta
Pois com cinquenta seremos vagabundos
Vagabundos no batente desde os quinze
Num país que é nossa pátria mãe gentil
Viva os deputados do congresso
E a exploração católica da pobreza
Viva a utopia mãe gentil
Viva o Brasil

A revolução da palavra
Pela palavra de Deus
A revolução do amor ao próximo
E do amor a Deus acima de todas as coisas.

Essa música faz parte do álbum A Revolução, lançado pela banda Catedral em 1998 no meio gospel. É o nono em sua trajetória, marcada pela abordagem a temas sociais,  e o que teve maior sucesso. Destaque para o virtuosismo do guitarrista Cézar, falecido em 2003. A letra faz uma crítica com ironia e ressalta a mensagem do evangelho no final. Legal!

quarta-feira, 9 de março de 2016

Cabanagem - A Revolução Popular da Amazônia (Pasquale Di Paolo)

Salve, galera esperta! Poxa, dei uma conferida em mais uma publicação da nossa biblioteca em Macapá e curti demais. Invariavelmente, viajei muito e gostaria de compartilhar. Claro, lembrando que são simples observações de um leitor, para teres uma visão da obra e, quem sabe, embarcar nessa viagem também. Saca só qual é a desse livro...

Essa obra foi premiada em 1985 com o primeiro lugar em um concurso nacional de monografias, promovido pelo Conselho Estadual de Cultura do Pará, por ocasião dos 150 anos da Cabanagem. Pasquale Di Paolo, o autor, é sociólogo e professor da UFPA (na ocasião). A abordagem traz um olhar sobre a Cabanagem (em suas origens, ideais e consequências) valorizando-a como revolução. Esse é o pensamento chave e a inspiração. Assunto de divergências históricas e, principalmente, até a publicação desse livro, sem ainda um registro valoroso e detalhado nessa concepção. Para melhor compreensão das pretensões, basta fazer um paralelo entre a principal obra historiográfica do tema e a proposta do livro.

Domingos Raiol tem a visão de motins ou rebeliões (como se registra no título de sua obra, "Motins Políticos") enquanto Pasquale Di Paolo propõem a revolução nortista (enunciado no subtítulo do livro, "A Revolução Popular da Amazônia"). O que influencia as diferentes percepções é a estruturação política e cultural.
Raiol enfatiza que isso foi determinante na derrota dos cabanos (o que está correto), porém, pela falta do suporte cultural, político e governamental, limita a percepção da Cabanagem essencialmente a revoltas armadas, de insatisfação, que não chegou a se torna revolução (algo que tivesse um projeto político unificado).
Pasquale traz a proposição revolucionária que unificou a Amazônia em um ideal libertário e, mesmo que tenha sido derrotada, se projetou e deixou raízes que viriam a influenciar a ideologia no império e História do Brasil.

Para chegar a essa valorização o autor considerou alguns aspectos. O primeiro é a inserção da revolução no cenário internacional, nacional e regional. A Cabanagem respondia a uma ideologia que acompanhava todos esses contextos. 

Em linhas gerais, no aspecto internacional, podemos citar a Revolução Francesa (1789), a independência dos EUA (1776) e os movimentos libertários nas Américas e Europa (como na Argentina em 1776 e na Grécia em 1822). No aspecto nacional, ocorreram muitas lutas que fervilharam no país (como a Revolução Pernambucana em 1824). Regionalmente, tem destaque a adesão do Pará ao separatismo (que havia gerado episódios que ficaram incutidos na determinação e inspiração cabana, como o massacre do brigue Palhaço em 1823), a questão indígena agravada com a expulsão dos jesuítas, e a cultura favorável à república e abolição da escravatura. Todos movimentos de lutas revolucionárias contra um conservadorismo e absolutismo resistentes. A Cabanagem tinha essa conotação, entre outras coisas.

Em seu desenvolvimento vemos: luta política, luta social e luta de resistência. Ressaltando-se o separatismo na questão política, a cidadania na questão social e a luta de resistência contra as forças legalistas. Pela soma disso tudo, e outras coisas que o autor aborda, está caracterizada uma revolução.

O autor disserta também sobre a visão elitista sobre o movimento, que contribuiu para esvazia-la de suas características e fragmentá-la a um ponto de rebeliões (ou motins, segundo Raiol), com uma ideologia de desvalorização. A concepção de Pasquale é popular, valorizando a consciência e disposição do povo para mudanças.

O livro é rico em histórias e orquestrações políticas que, para um leigo como eu, trouxeram curiosidades e descobertas. As mais relevantes falam das causas da derrota dos cabanos que, na minha ignorância histórica (mas de grande vontade de descobertas) ficou marcada por personagens que associei a derrocada, como o padre Prudêncio Tavares e o general legalista Francisco Soares Andréa

Dois personagens representativos de ideologias que influenciaram na derrota dos cabanos.

O primeiro, para mim, simboliza a resistência anti-cabana que o clero teve. Ele atuava em Cametá e exerceu forte influência a não adesão da população ao movimento (até com combates que derrotaram e mataram mais de cem cabanos). Transfigura-se nisso a oposição do clero à Cabanagem, que foi decisivo pela ausência do suporte intelectual ao novo governo. Outros sacerdotes tinham essa mesma visão, como em Abaeté e Vigia.
O segundo, o general, mostrou a postura legalista para derrota dos cabanos. O caminho foi terrível e genocida, vendo-se a formação de tropas com o livre-arbítrio para execuções, contando com mercenários contratados, com julgamento marcial severo imposto para todos de 15 anos para cima, estabelecendo isolamento de Belém, tendo a associação com o clero interesseiro contra os revolucionários e a ideologia elitista disseminada sobre o movimento. Segundo o autor, houve até estímulos de visão racista.
 

Entre os episódios descritos, foi interessante ler sobre os massacres em Vigia e do brigue Palhaço, além do plano de vingança do padre Prudêncio por conta da morte de alguns padres em retirada da região.  
São impressões sobre a obra, que tem muitos outros aspectos para se descobrir. No final o autor realça os ideais libertários dos cabanos que, embora derrotados, influenciaram a história subsequente. O último navio-negreiro a aportar em Belém, por exemplo, foi um ano antes da Cabanagem. Essa não foi uma luta de selvagens vindos das cabanas (olhar elitista), mas de valorosos brasileiros em busca de seus direitos (revolucionários enquanto povo marginalizado).

Título: Cabanagem: A Revolução Popular da Amazônia
Autor: Pasquale Di Paolo
Editora: Conselho Estadual de Cultura do Pará

Ano: 1985
Páginas: 416
Tema: Pará / História / Cabanagem

 


Algo que foge do contexto do livro é que gostaria de encontrar uma obra que fosse mas atenta e detalhada na descrição do povo (similar ao que Euclides da Cunha fez em "Os Sertões" sobre os sertanejos). Será que tem alguma desse jeito? Será que as centenárias obras de Raiol trazem isso? Não sei, mas quero conhecer muito mais dessa valorosa história. 
 
Gostei e viajei muito, equivocado ou não, mas tentando entender. E te convido para essa aventura no saber também. Já sabe sumano, a obra está disponível na
Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia 

Macapá - Bairro Central

sexta-feira, 4 de março de 2016

Curiaú, a marca de uma geração (Sebastião Menezes da Silva)

O Curiaú é uma região de relevância histórica, cultural e ambiental em Macapá, sendo tema recorrente de pesquisas. Sebastião Menezes é um dos maiores estudiosos do tema, principalmente por ter origens no lugar, com uma importante contribuição no resgate do cotidiano e tradições. Valores que se repetem em seu mais recente livro, o terceiro, publicado em 2015 e direcionado ao público infantojuvenil. Conheça um pouco nos seguintes relatos...

Esta obra foi escrita por Sebastião Menezes e retrata a história das crianças e adolescentes do Quilombo do Curiaú, perpassando por suas brincadeiras, os tempos escolares e os fatos curiosos que aconteceram naquele lugarejo antes de todo o progresso dos dias atuais.
O objetivo principal deste trabalho, no entendimento do autor, é registrar de forma simples e original, fatos ou acontecimentos que marcaram a trajetória de vida do povo negro que habitou a nossa comunidade, para que no presente, assim como no futuro, possamos ter conhecimento e revivê-los.
 
(Rosa Ramos - Apresentação)

Ilustração do texto A semana da Pátria, 
sobre os desfiles cívicos (Desenho de M. Silva)
Estas histórias foram baseadas em fatos reais de nossa comunidade (Curiaú), fatos que foram presenciados, vividos e ouvidos de crianças e pré-adolescente.
As histórias, cada uma delas, possuem personagens, hoje adultos, que talvez nem lembrem do acontecido, mas vieram do Curiaú e a maioria ainda está viva.
Entre o Curiaú do passado e o Curiaú do presente existe uma grande mudança em relação a tudo. As crianças possuem um jeito, maneiras, hábitos, estilos e atitudes diferentes. Isto acontece de acordo com as mudanças dos tempos.
Os personagens que deram origem para estes textos não tiveram seus nomes expostos, mas com certeza alguém deduzirá de de quem se trata e eles deverão ser respeitados e homenageados, pois também fazem parte da história viva da Comunidade do Quilombo do Curiaú.
(Sebastião Menezes - Dedicatória)
Ilustração de "A História na vida infantil no Curiaú", 
 texto nostálgico (Desenho de M. Silva)

Relatos do cotidiano infantil na comunidade quilombola do Curiaú, resgatados por Sebastião Menezes de suas pesquisas e observações.
As histórias são pitorescas e trazem a percepção da identidade local, caracterizada pela forte interação com a natureza e tradições. Elementos como o rio, os animais, a agricultura, a pesca, o folclore e a vida estudantil na Escola José Bonifácio são recorrentes. Os relatos são sucintos, não passam de uma página, trazem ilustrações de M. Silva (artista plástico da localidade) e em geral tem um direcionamento educativo.
Os textos são descritivos e a abordagem não é específica a alguma personagem. As crianças no geral tem esse foco, em histórias reais e típicas.
Admiro o autor na valorização de sua comunidade e fiquei com a impressão de que a maioria dos relatos remetem-se à sua infância, pois elementos da modernidade (sucesso entre a criançada) não se fazem presentes, destacando-se as tradições. Isso é explícito no texto O que existia no Curiaú, que tem a exposição de saberes ultrapassados ou talvez em desuso (como o costume do almoço servido aos cachorros na festa de São Lázaro) e a mentalidade recorrente sobre a necessidade das crianças "pegarem" algumas doenças para crescerem mais fortes (esquisito isso, mas presente em outros tempos).
A leitura foi interessante e, se é pra opinar,  senti falta de elementos como o Marabaixo (algo tão característico quando pensamos no local) e daquelas histórias folclóricas contadas pelos veteranos (como os avós, tios, pais, etc e tal). Isso vem em minhas lembranças sobre a infância e, em uma obra de resgate cultural, bem que poderia ser algo valorizado também. Acredito que o Sabá deva ter ótimas e saborosas histórias assim, que enriqueceriam mais o livro (Ah, fica a ressalva de que o aspecto mitológico foi explorado pelo autor em outras obras e essa busca o resgate do cotidiano).
Para as crianças, para tenros leitores, para as escolas, para o Amapá!
(Registro no SKOOB)

Título: Curiaú, a marca de uma geração
Autor: Sebastião Menezes da Silva
Editora: Edição do Autor

Ano: 2015
Páginas: 83
Tema: Literatura Infantojuvenil / Curiaú


Como falei, os textos são curtos, educativos, ilustrados e a obra tem cerca de 60. Separei um deles: A natureza na vida das crianças.

 A obra está disponível na
Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia 

Macapá - Bairro Central

terça-feira, 1 de março de 2016

Brilho de Fogo e outros Poemas de Amor (Augusto Oliveira)

Falar de poesia é complicado para mim, em geral, por conta do subjetivismo que vemos nas obras, algumas vezes parecendo indecifrável. O que não se observa nesse livro.
A inspiração é muito clara, com uma exaltação à paixão. Sem rodeios, sem contenção aos ardores ou pudores, com uma carnalidade gritante e de coerência à uma realidade experimentada pelos amantes. Vemos uma urgência de satisfação, de entrega total aos jogos do amor, confidenciada em tons de súplica ou como o maior de todos os desejos, personificando uma razão existencial. Os versos são sensuais, com percepções erotizadas, provocativas e intensas nas emoções. Algo disso se deve, talvez, ao momento de inspiração, por ser uma coletânea reunida a partir das percepções de um jovem desde os dezessete anos. Está implícito um viço de descobertas, de fascínio e entusiasmo na experimentação, crescente para a sujeição cativa dos amantes. Divagando um pouco, bem poderiam ser versos de Barbosa à Lenita em A carne, clássico de Júlio Ribeiro, de 1888 (conheces esse romance?).
O título fala "amor", mas prefiro relacionar com a "paixão". No final das contas é disso mesmo que trata. Na percepção que o leitor tem liberdade, foi assim que senti.
 
Ressalte-se que o título faz referência também ao lendário beija-flor brilho de fogo, em um paralelo sugestivo ao belo e precioso na descoberta.
Não sou um entusiasta, mas a leitura tem seus pontos valorosos e interessantes, afinal, um pouco de paixão é sempre instigante. Diz aí se não... 


Título: Brilho de Fogo e outros Poemas de Amor
Autor: Augusto Oliveira
Editora: Scortecci

Ano: 2006
Páginas: 101
Tema: Literatura Amapaense / Poesia

Temas assim despertam tanto entusiasmo (e fazendo por merecer)... Assim, entre as várias apresentações no Prefácio, deixo em registro a de  Antonia Andrade (ah, porque foi minha professora também na UNIFAP).
"O olhar de um poeta revela e desvela nos mínimos aspectos a beleza, a magia e a essência dos sentimentos vividos a cada momento pelos amantes... A divindade da poesia de Augusto Oliveira nos convida a viver esses momentos como se fôssemos os personagens principais. E nos envolve em um mundo de encantos, onde o fascínio dessa viagem confirma, que amar é a gente viver no sentido pleno do seu significado; onde existe um querer que faz sorrir, que faz chorar, que domina, que encanta da forma mais profunda e sensual... Essa é a capacidade do Augusto na sua poesia, e é por isso que a minha admiração por ele é muito grande. Afinal, ele é meu amigo, meu confidente, meu poeta."
A obra reúne mais de 80 poesias. Eis algumas:

querendo dar uma sacada no livro? 
Então te convido para conhecer a 
Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia 

Macapá - Bairro Central