As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Região do Cachaço (Serra do Navio)

Retornando ao batente pós férias. Viagens!? Só nos livros e admirável mundo da literatura. Ah sim, sim!! Deu para retornar a uma região onde morei anos atrás... Serra do Navio
Cidade construída de forma planejada para abrigar os familiares e trabalhadores da ICOMI (mineradora que explorou manganês amapaense até 1997, embora a previsão seria de 50 anos, findando em 2003). 
Hoje encontramos uma cidade com suas dificuldades e problemas comuns,  muito desfigurada do que foi ou representou. 
Nos áureos tempos, era desejo de muitos ser morador e trabalhador no local. 

Serra do Navio foi construída para ser uma cidade completa e auto-suficiente, precursora na região amazônica na implantação de uma Cidade de Companhia de exploração mineral. Foram elaborados vários estudos para sua construção.
(Foto e Informação: navegandonavanguarda.blogspot.com)
Aproveitando para divulgar a Biblioteca Ambiental
 da SEMA em Macapá...
Se queres entender mais sobre o planejamento e arquitetura habitacional desta histórica cidade na Amazônia, a Biblioteca SEMA disponibiliza em seu acervo a consulta deste importante livro "Vila Serra do Navio: Comunidade Urbana na Selva Amazônica", de Benjamim Adiron Ribeiro (1992). 
São 112 páginas propondo a descrição, análise e crítica sobre o processo de criação, desenvolvimento e implantação do núcleo urbano da Vila Serra do Navio. 
Material valoroso a todos os estudiosos e curiosos por este rincão no Amapá.

Está localizada a cerca de 190 km de Macapá, tornou-se  município em 1992, inicialmente sendo chamado de Água Branca do Amaparí (pela Lei Estadual Nº 07 de 01/05/92) e, posteriormente, Município de Serra do Navio (pela lei Municipal 078/93). Sua população é estimada em 4.380 habitantes (IBGE - 2010).
Foi-se o tempo de cidade modelo... Encontramos edificações mal conservadas e problemas comuns. Sem a ICOMI tornou-se tarefa difícil  manter o padrão de qualidade que ela zelava. Fui morador lá, até 1982, e sei da qualidade que existia na saúde, educação, condições de moradia, transporte, cultura, etc. Um dos meios apontado para o desenvolvimento é o ecoturismo. A região é rica em florestas tropicais densas e de terra firme. Realmente, tem muito potencial ecoturístico.  O acesso ao município se dá por via rodoviária e ferroviária. No mês de julho ocorre um importante evento cultural: O Festival do Cupuaçu. Por essas e outras fui de novo na Serra depois de 8 anos.
Chegada na estação de Serra do Navio, localizada cerca de 3 km da vila. Eita, quanta lembrança... eu fui é de trem, junto com minha mãe! Mas já não é a mesma coisa... Ô demora! Às vezes leva de 7 a 8 h para chegar na Serra. Muitas paradas e eventuais aguardo em desvios para passagem de conduções com minério (de mais de 50 vagões). A saída se dá na cidade de Santana (na quarta, sexta e domingo).
Rapaz!! Falando de turismo, é obrigatório falar de infra-estrutura e é espantoso chegar lá (na estação) e constatar que fica tudo no escuro de noite, só com as luzes do trem... depois que ele parte (logo em seguida), vire-se, pois fica só o breu, debaixo daquele céu espetacular de estrelas explodindo com sua luminosidade. É angustiante chegar e se deparar com esta realidade... e ainda com poucos carros fazendo transporte (o povo fica aguardando a volta deles no escurão... no meio da mata, naquela estação afastada da vila). Na época da companhia lembro que tudo era muito iluminado. Será que por ali não passa onça? Como curioso que sou, me informaram que já encontraram rastro e a estação, para algumas pessoas, tem fama de mal assombrada pois um homem, em um passado não distante, se suicidou neste local. São histórias que vou coletando...
Pintadinha! Bonitinha... 
Viva Nelson Rodrigues! Viva Paris!
(Foto: Rainério Dias)
Destaca-se neste município o seu clima (a temperatura é sempre amena por localizar-se em região de serra). No período do inverno chegando aos 15º C, é quando também surgem neblinas que, às vezes, de tão densas, não permite a visualização a mais de 6 metros (Fonte: IBGE Cidades)
...O pequeno Samsa (1981). 
Poxa vida! 
Quantas vezes fui para a escola debaixo de neblina, vendo só as luzes ao longe...
Recentemente a vila foi tombada pelo IPHAN e dá para perceber em muitos moradores uma ansiedade quanto aos rumos a serem tomados, muitos temem por sua saída do local em razão de condições de moradia irregular ou fruto de alterações urbanísticas (...só tô dizendo o que ouvi e vi).
Devido circunstâncias imprevistas não deu para ficar na vila (esse meu hábito... agora é cidade né!), nem fotografar o local como pretendia, por isso findo aqui os assuntos e minhas bobagens em referência especificamente a Serra do Navio (ainda vou voltar lá só para isso...). Acabei redescobrindo uma comunidade nas adjacências de belos igarapés e cercada de uma floresta grandiosa, onde pouco tinha ido. A Região do Cachaço (não é cachaça não ô!!!!)

Visualize este mapa com mais definição e possibilidade de zoom AQUI
Mapa do josealbertostes.blogspot.com.br
A Vila (ou Colônia) do Cachaço surgiu no tempo em que predominava a atividade de garimpeiros desenvolvida pelos "crioulos" das Guianas. A aguardente de cana era a bebida mais consumida e que, pela dificuldade de pronúncia pelos estrangeiros, era chamada de cachaço, passando a ser chamado de Igarapé Cachaço o principal acesso ao garimpo. Consequentemente, o povoado existente em sua foz passou a ser chamado também de Vila do Cachaço.
Escola Municipal no Cachaço (Foto do cppta-tumucumaque.blogspot.com.br)
Escola Estadual Sete de Setembro  (no Cachaço)
(Foto do eesetedesetembro.blogspot.com.br, blog desta escola) 
O cachaço está localizado à margem direita do rio Amapari, distribuído ao longo do igarapé. Dista pouco menos de 10 km da Vila sede do Município e está servido por energia elétrica, escola estadual, templos religiosos, Delegacia de Polícia e Posto de Saúde. As atividades de subsistência estão intimamente ligadas à sede municipal.
Foto: Gregor Samsa
O que há de bonito no local é a natureza, com suas matas densas e seus igarapés de águas frias e de coloração ferruginosa...
Reino do mitológico brilho-de-fogo (Topaza pella) e onde voa o vigilante cancão (Cyanocorax cyanopogon).
Cachaço
Belos igarapés... (Foto: Chico Terra)
O acesso da Serra para a Vila do Cachaço se dá por uma ponte de concreto sobre o rio Amapari. Há  pessoas que ainda utilizam canoas para a travessia, como na parte do rio conhecida como Pedra Preta (onde também tem uma comunidade com o mesmo nome).
Aí estou com minha família, exceto o último da ponta esquerda, atravessando na Pedra Preta para o Cachaço. Meu pai remando (o Cara-de-macaco), minha mãe, eu, minha tia e minha irmã, em uma foto de 1974.
Encontramos no Cachaço pousadas e balneários.
 
 Balneário e Pousada Borboleta, no Cachaço (Foto: Antonio C. Santos)

... Divulgando novamente a Biblioteca Ambiental 
da SEMA em Macapá.
Informações adicionais sobre a Serra do Navio podem ser também encontradas nas seguintes publicações do acervo da Biblioteca SEMA-AP:

 

1) "O Poder Municipal do Amapá no Novo Milênio" - Editora Colibri (2002). Esta edição apresenta informações básicas sobre cada um dos 16 municípios amapaenses (história, hidrografia, aspectos ambientais, etc). É uma edição antiga e, obviamente, alguns dados estão defasados (podendo ser atualizados no site IBGE Cidades). Por ser uma edição histórica tem seu valor referencial como fonte de pesquisas.
2) "Perfil dos Poderes - Estado do Amapá" - Editora Colibri (2006). Publicação no mesmo segmento da descrita anteriormente.
3) "EIA/RIMA PCH Capivara 2008" - Mostra informações de cunho científico sobre a região serrana (Meio Físico, Biótico e Sócio-Ambiental). Tecnicamente é um estudo para um empreendimento, porém, como o município está na área de abrangência, as informações sobre a localidade são preciosas para estudo.

Reparastes no mapa? Na Vila do Cachaço vemos uma via principal (onde se distribuem os moradores com sua vida simples). Na época da ICOMI, já encontravamos pequenos agricultores na região, também muitos trabalhadores informais em buscas de oportunidades na Companhia. Alguns funcionários da ICOMI também residiam no local (principalmente, e não necessariamente, os que atuavam em serviços como da limpeza pública e como serventes).

Muitos locais são bem atrativos para visitação. 
 
 
É uma região bonita! Agradável aos amantes da natureza... Vendo as árvores e matas subindo as encostas!
"Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde
Pra plantar e pra colher..."
"...Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela
Para ver o sol nascer"

(Música de Gilson e Joran)
Com a liberdade, as flores, os livros e a lua, 
quem não é capaz de ser perfeitamente feliz?
Oscar Wilde
 
 Ir para o mato é ir para casa.
John Muir
 
 Nesses tempos de céus de cinzas e chumbos, 
nós precisamos de árvores desesperadamente verdes.
Mário Quintana

   
Biodiversidade é a biblioteca das vidas.
Thomas Lovejoy
 
"Não há grandeza quando não há simplicidade."
Leon Tolstói
"Reciclar lixo é muito bom, mas pensamentos é melhor ainda."
Evaldo Neto
 Esta arara vermelha atende pelo nome de Maia.
 Mutum, espécie comum nas matas daquela região. Este é o Neymar.
 Papagaio, também comum na região. Essa é a Putcha.
Jacu. Valeu a pena ter levado umas bicadas para tirar umas fotos bem de perto. O bicho é dócil, mas acabei irritando-o com minhas muitas fotografias. Animais como estes são severamente caçados em muitos locais pelo Brasil. Muitas pessoas tornam-se verdadeiros ogros, devorando tudo... Não por outra necessidade que não seja a de dar vazão a seus instintos mais primitivos... Pior ainda é a destruição das florestas.
Ah Cachaço! Quero te ver ainda por toda minha vida com tuas matas preservadas... ainda que homens, com suas mineradoras na região, sejam capazes de reduzir montanhas a um monte de destruição.
Para ilustrar o que falei, isso não é uma pirâmide... foi uma montanha. Foto publicada na Revista Veja (Edição 206 de 16/08/1972) com a seguinte legenda: "Na Serra do Navio, Amapá, uma montanha de manganês já foi quase toda consumida pelas máquinas que levam progresso em troca de divisas". Não é uma realidade que ficou no passado.

Cadê?

Cadê a árvore que estava aqui?
O homem cortou.
Cadê a água que estava aqui?
Ele desperdiçou.
Cadê o mato que estava aqui?
O homem queimou.
Cadê o bicho que estava aqui?
O homem assustou.
Cadê o rio que estava aqui?
O homem sujou.
Cadê o ar que estava aqui?
Poluído ficou.
Cadê o homem que estava aqui?
? ? ?

Poesia de Sueli Ferreira de Oliveira

 "A natureza deve ser considerada como um todo, 
mas deve ser estudada em detalhe."
 Mário Bunge
 Minha mãe e uma tia.
Meu amigo Gregor Samsa.

Vila do Cachaço e seus belos cenários. Matas densas, belos Igarapés... Mais um cantinho do Amapá que vou mostrando um pouquinho aqui. Melhor que minhas descrições são as palavras de um morador da região, que em poesia mostrou seu amor pelo lugar.

CACHAÇO

O meu riacho, Cachaço,
Tem águas escuras, tem cachoeiras.
Suas águas geladas
Agitam-se nas corredeiras.

Nasce nas serras de Tumucumaque
E desagua no rio Amapari.
Como o meu riacho, Cachaço,
Até hoje não conheci.

O meu riacho, Cachaço,
É o mais bonito dos igarapés,
Eu acho,
Nele as pessoas se banham,
Bebem de sua água,
Dela cozinham e
Seus utensílios lavam.

Nele navegam os ribeirinhos
E os que nele pescam e caçam.
De suas margens se colhem frutos
E muito ouro dele já tiraram.
Ele é o meu riacho,
O Cachaço.

 (Poesia de Geninelson Castelo)

"No caráter, na conduta, no estilo, em todas as coisas, 
a simplicidade é a suprema virtude." 
Henry Wadsworth Longfellow

quarta-feira, 27 de junho de 2012

"Poraquês e Piaçocas" - J. Jovino

"A literatura é um assunto sério para um país, 
pois é afinal de contas o seu rosto."
(Louis Aragon)

Beleza! Aproveitei mais um final de semana para conhecer algo mais da Literatura Amapaense. O que conheci divido aqui e deixo como sugestão de leitura.

Leitura sugerida.
"Poraquês e Piaçocas" - Obra de J. Jovino, publicada em 1998 sobre um migrante em Macapá. O autor, filho adotivo das terras amapaenses, misturando ficção com recordações pessoais, nos conta a história de José Amâncio. Trabalhador, mineiro, vindo a esta terra em busca de oportunidades e aperfeiçoamento profissional, por ocasião de curso no SENAI. A narrativa começa em 1989 e termina no final dos anos 90. Como é comum à grande população brasileira, não conhecia verdadeiramente a vida na Amazônia, seus costumes e convivência com esta natureza tão presente, principalmente no Amapá. O texto é expressivo e atento às coisas locais, tornando este seu ponto principal. Apesar de obra fictícia, no relato e impressões do autor, vemos uma Macapá se descortinando, mostrando algumas de suas particularidades, escritas com o entusiasmo da descoberta. O título já evidencia isso, remete-se a animais que o autor, notadamente um ecologista, descobriu aqui  na cidade em convivência com a população (poraquê deves conhecer, já a piaçoca refere-se a jaçanã). Ao mesmo tempo nos faz perceber as transformações sempre presentes e constantes na cidade, pois o autor, mesmo com pouco tempo na terra, vai relatando  o desaparecimento das primeiras impressões com saudosismo. O José Amâncio é este homem que descobre, relata e nos mostra, como morador, um pouco dos costumes desta terra. Há a descrição da viagem de barco no início da história, da vida mais pacata que vai mudando (Macapá do final dos anos 80 era diferente de hoje) e o saudosismo da terra quando passa um tempo em outro estado. Também compara costumes locais, fala do Bairro São Lázaro (quando morou em área alagada), cita transformações no Araxá, a destruição dos aturiás e a ocupação da região. Vemos ainda uma história envolvendo o garimpo do Lourenço relatando muita da realidade - prostituição e exploração. Por essas e outras é um livro principalmente de homenagens ao Amapá. Ao final de cada capítulo o autor apresenta sempre uma poesia, sobre a mulher, a mãe, a terra, o negro e  o povo.

O Livro é:
Título: Poraquês e Piaçocas
Autor: J. Jovino

Editora: Valcan
Ano: 1998
Páginas: 124 
Tema: Romance / Amapá
Veja aí algumas frases que separei do livro e tire suas conclusões: 

"Trata-se de um romance, nascido espontaneamente no coração, ou seja, um misto de amor, homem e natureza." (Alci de Jesus - Apresentação)

"O livro é uma narrativa, às vezes, feita de forma dissertativa. Fala, em sua quase totalidade, do modo de viver de um forasteiro e também de pessoas que conviveram com ele durante alguns anos." (J. Jovino - Introdução)

"Para José Amâncio tudo era novidade, inclusive o tipo de viagem, que pela primeira vez era de barco."

"A riqueza natural do Amapá é muito grande, mas o Amapá entre sua simplicidade, às vezes, não se dá conta disso."

"Depois de tempo no Amapá Amâncio podia dizer algumas coisas sobre o comportamento dos amapaenses."

"Conhecendo o Amapá é impossível deixar de se encantar com as riquezas encontradas na fauna e na flora, no povo e riquezas minerais."

"Além do marabaixo e do batuque, há outras manifestações preservadas pelos negros e seus descendentes que valem a pena conferir."

"Por outro lado, o estado é rico em lendas, como a cobra grande, do tajá, da mandioca, do açaí, entre outras. Isso tudo torna seu folclore rico e importante."

"O estado tem vocação garimpeira, embora hoje em processo de desativação por causa da exaustão de jazidas."

"Devido  o Bairro São Lázaro ser quase que totalmente alagado e, além disso, povoado de buritis, açaizeiros, tajás e outras plantas, torna-se um ambiente propício para, entre outros, ver-se camaleões, moreias, poraquês, tamuatá, etc."

"Ao observar piaçocas em seu habitat natural surge a preocupação em se conseguir um meio de tentar salvá-las da extinção."

"Deveria haver uma solução para que nos arredores de nossa capital piaçocas pudessem continuar vivendo e despertando as pessoas com seu canto. Deveria também haver uma maneira de permitir que o peixe elétrico continuasse vivo, com sua curiosa e misteriosa eletricidade."

"Animais como poraquês e moreia são mortos e abandonados no meio da rua."

"Alguns messes se passaram desde a morte da piaçoca e seu cantar não foi mais ouvido".

"Se no São Lázaro camaleão ainda contínua se misturando com as folhas, sucuris em plena atividade procuram alimento, piaçocas criam seus filhotes, isso significa que nem tudo está perdido. Ainda resta uma esperança."

"No garimpo vigoravam duas leis, a do mais forte e do silêncio".

"Às vezes, Amâncio se pergunta até quando os seres humanos irão viver sem prestar atenção ao que ocorre em sua volta. Tem que chegar um dia em que se dê importância ao equilíbrio natural."

"Passaram-se dois anos e já em 1996, voltaram ao araxazinho, agora um pouco diferente, pois onde antes era mato, troncos e areia, agora se viam barzinhos erguidos de maneira precária para comercializar bebidas e tira-gostos junto aos frequentadores."

"A Praia do Aturiá de hoje está muito diferente de alguns anos atrás, fora descoberta como balneário e, além disso, os sem teto estão tentando destruir os aturiás para fazerem suas casas na praia, em cima da areia."

Trecho final da obra

"Quem sabe um dia o ser humano aprenda a conviver com o meio sem agredi-lo, preservando-o para futuras gerações.
Ao relatar a pitoresca viagem de navio de Belém para Macapá, seus encantos e curiosidades, ou ao descrever lugares como a Serra, a Praia do Aturiá, ou ainda quando aconselha homens e mulheres sobre comportamento, ou mesmo quando critica de maneira construtiva o homem amapaense, e ao descrever poraquês e piaçocas, o autor deseja mostrar - principalmente para outros estados do Brasil - a riqueza cultural desse povo amigo e ordeiro, amazônicos, o povo amapaense.
Ao criticar, às vezes, em nenhum momento houve a intenção de menosprezo e sim de chamar a atenção para pontos positivos. Espera-se que este trabalho possa ser útil como incentivo ao turismo, principalmente o ecológico, nesse lindo pedaço e início do Brasil." (J. Jovino)

Esta é a obra de J. Jovino. Interessante e assumindo, até certo ponto, ares históricos pela descrição da cidade. Seria importante que fosse mais conhecida nas escolas, quem sabe uma nova edição... Tenho que falar também, apesar de não ser a pessoa ideal para isso, que esta obra, como uma pedra preciosa que precisa de lapidação, precisa também de uma boa revisão gramatical.
A obra apresenta também uma poesia na maioria dos capítulos. O literato amapaense Alci de Jesus refere-se a elas da seguinte forma: "Poraquês e piaçocas, fruto da intelectualidade amadurecida ao longo dos anos, mostra o lado bonito e romântico de nossa terra, e suas poesias, o lado carinhoso do homem com relação à vida." Uma delas está a seguir.

Canção do forasteiro

Não vai longe o dia
Que triste aqui chegava
Trazendo na alma dor
E no coração calor e sede
de afeto, carinho e amor.
Amor pelo verde das matas
Calor pela água do rio
Morena me enrolou em seus cachos
Curiaú, Fazendinha, Aturiá, Marabaixo.

Vi a Serra com seu verde frio
Mazagão, sua feita, seu rio
Zagury, quebra-mar, sua brisa, seu cio.

Fortaleza, imponência e beleza
Marco, início, história, força e heroísmo
Mas também dor e sofrimento
Luta, proteção e patriotismo.

Ricos, riqueza, ouro e terras
Muito verde, natureza, poucas guerras
Negras, morenas, louras e caboclas
De encher os olhos e sonhar por elas
Vi você Amapá
Rico, porém, sem assoberbar-se
Início de Brasil, pulmão do mundo
Simples, sem se humilhar.
(J. Jovino)
Marabaixo (Obra do artista amapaense Dekko, que o autor mostra no livro)
Foto: carlamarinhoartes.blogspot.com.br 
É meu mano!!! Tai mais uma obra desta nossa Literatura no Amapá. Este livro eu tomei emprestado da Biblioteca SESC-Centro e está a disposição lá para os que queiram ler. 
Valorize nossa cultura!!!
Conheça nossas bibliotecas em Macapá!!!

Mural de Afrane Távora na Biblioteca Pública Elcy Lacerda

"Não é possível estar dentro da civilização e fora da arte."
(Rui Barbosa)

Esse mural é na Biblioteca Pública Elcy Lacerda, na Sala de Cultura Afro-Indígena. Uma arte muralista apresentando-se com suas cores radiantes, formas estilizadas e de valorização da cultura popular... enchendo os olhos e tornando o lugar mais bonito. Dá para ver elementos do marabaixo, das lendas (Olha lá rapaz!!! Lá está Uiara, o famigerado boto da Amazônia!!! Vejo também jurupari... Não consegues identificar né!! Espia que tá aí!!!), indígenas Waiãpi (já ouviu falar destes índios? pois saiba que a cultura deles foi considerada patrimônio da humanidade pela UNESCO... é meu filho, veja AQUI), onça, pescado, cerâmica e, principalmente, o talento e impressões do artista
 
AFRANE TÁVORA

Ah!! Se os muros de Macapá tivessem mais desta arte... não apenas a nudez das paredes, sem a vida das cores e formas... sem graça. São devaneios e abestagens de Gregor Samsa. Melhor assim, afinal...

"Tudo vale a pena se a alma não é pequena." 
(Fernando Pessoa)