As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Ilha de Santana (Parte 5 - Retornando à Escola N.Srª de Nazaré)

11/10/2012. Dia cheio de novidades para jovens pesquisadores!  Meus amigos Gregor Samsa e Dimas novamente estiveram na Comunidade de Cachoeirinha (na Ilha/Distrito de Santana), perambulando e xeretando junto àquele simpático povo em busca de histórias, vendo os contrastes e com a satisfação de ir conhecendo um pouco mais deste nosso Amapá.  Pudessem as coisas por estes lados ser mais divulgadas e conhecidas, começando com a produção científica em nossas instituições acadêmicas... E vamos nós!!!!
Saindo de um dos pontos do Porto de Santana, lugar de tantas histórias e possibilidades de descobertas... Tu sabes quem foi Dona Sardinha? Quantos portos tem ali (da ICOMI, da AMCEL, do Peixe, do Açaí, do Grego, Docas,  etc e tal)? Como se deu a expansão?
Qualquer bom observador encontra um vasto campo para pesquisas... coisa que meu amigo Dimas está levantando e objetivando publicar em uma revista em breve. Sigamos para a Ilha!
Esse cenário já é conhecido... casas ribeirinhas, açaízais... Navegamos novamente rumo à Escola N. Srª de Nazaré, na Comunidade de Cachoeirinha. Quem pensa que a fonte de pesquisas se esgota facilmente, ou de uma feita, está enganado... Cada passagem é um aprendizado e, desta vez, tivemos a grata satisfação de poder contribuir com a doação de alguns livros e revistas para a escola.
Correm nestes cantos tantas histórias... Correr é um termo bem apropriado para tratar agora, é que - segundo moradores - o nome da Comunidade de Cachoeirinha vem de uma época que a correnteza do rio parecia mais forte (como uma corredeira, evidenciando-se em locais com pedras) parecendo que havia uma cachoeira nas proximidades. E aí? Deu para sacar? De concreto é que navios, em um passado e costume não vigente hoje, transitavam no canal com velocidades causadoras de banzeiros que faziam um estrago nas casas ribeirinhas... e ai de quem estivesse nesta hora no rio, especialmente em canoa (palavras de um ribeirinho). Hoje existem normas que regulam isso e o canal também está mais assoreado e menos profundo. Oras, o que se esperaria na foz do Rio Amazonas? Os bancos de areia, mesmo no meio do rio, são bem visíveis especialmente na maré vazante... um perigo constante a qualquer grande embarcação que queira dar uma de The Flash!
Existem mais coisas do que pensamos. Outra história - fato real que está se desenrolando - é sobre a situação de moradia dos ribeirinhos. Estão em uma área reclamada como propriedade privada e legalmente são declarados posseiros. Há uma situação de litígio judicial e encontramos uma equipe do IMAP (orgão estadual de regularização e ordenamento territorial) que está fazendo um importante levantamento na área, bem aprofundado, técnico e passando por lugares que a gente nem vai chegar, pois buscam caminhos entre as casas isoladas... algo que não é de uso comum, desconhecido e até inexistente.
Chegamos na escola em boa ocasião. Era véspera do Dia das Crianças, com a garotada envolvida em atividades recreativas e animadas, sob a coordenação dos professores (que são cerca de 18 na escola). Os turnos são assim dividos: pela manhã as turmas são da 1ª a 4ª série e à tarde as turmas são do 5º ao 8º ano. Vamos lá ver a turminha... Deve ter um monte de figuras e personagens  bem característicos da comunidade. Olha a festinha no rio aí geeeente!!!!!
A garotada veio em peso, ninguém quer perder. As catraias vão chegando com as turmas afoitas naquela expectativa de criança... ainda mais quando se trata de uma festinha... dia da criança, brincadeira, presente, bolo, eita nós!!!! 
As aulas e os eventos são reencontros. As crianças gostam  e se identificam tanto que, em uma rápida abordagem com alguns, ao serem questionadas sobre o que gostariam de "ser quando crescerem", a maioria das meninas responde sem titubear: PROFESSORA.
 Os meninos são mais comedidos e citam profissões como advogado, médico... algo que referenciam e conhecem por ali como "doutô". Um respeito e admiração explícitos entre as meninas e meninos. Ideais e sonhos que se formam.
O talento brota e é lapidado pelas oportunidades! Todos são de gerações de famílias espalhadas no rio. Os ribeirinhos são mestres em muitos ofícios - sem na verdade ter uma profissão bem definida - quando conversamos sobre profissões  falam algo como trabalho e faço isso e isso, coisas como: tirar açaí, pescar, ter cultura de subsistência (hortifrutigranjeiros, quando é possível), pegar camarão, trabalhar nas catraias, fazer bico na cidade, etc. A maioria das crianças (não é uma afirmação e sim mais umas das observações de um visitante) vai continuar nesta rotina e perpetuar uma cultura semelhante por gerações.
A festividade vai se desenrolando com o desfile das princesinhas e as apresentações de dança. Depois tem um bailão geral onde a criançada vai se soltando.
Tudo isso são importantes pontos no processo de aprendizagem. É nessa informalidade que crianças mais tímidas (por exemplo) vão ficando mais  à vontade e perdendo um pouco mais dos temores (digo pelo meu amigo Gregor Samsa, a pessoa mais acanhada que já conheci... suando às bicas para falar um pouquinho ali... Se tivesse se enturmado mais em momentos assim, estaria mais familiarizado). Voltando das divagações... vi o fortalecimento da inclusão, pois contou com a animada participação e boa receptividade em relação a alunos  do ensino especial. Parte das informações que apresentei foram baseados em conversa informal com a professora Célia.
Cada criança com suas cores próprias, como há de se esperar. Vemos os mais extrovertidos, os mais tímidos, os de pavio mais curto, os gaiatos, etc. São crianças agarradas às oportunidades que se lhes apresentam. Fiquei ali vendo e viajando... foi no pequeno pátio em frente à escola (um local que ficou um pouco apertado para um evento assim, onde os professores se desdobravam para manter a organização). Seria ideal, tão mais legal e com muito mais possibilidades se isso tudo fosse acontecendo em uma quadra (como as escolas todas fazem). Já disse que esta não tem e trata-se de algo perfeitamente viável com mais atenção governamental. Resolvi ver mais de perto a realidade de como se viram na questão de Educação Física. Vamos lá e vamos conhecer mais isso!!!!
O campinho, atrás da escola, tem a representação mais literal possível de um campo de várzea. Na Amazônia sabemos que temos duas temporadas distintas: chuvas e estiagem. No início do ano (temporada das chuvas) o campo é alagado e as aulas se concentram na parte teórica (um eventual uso do campo é mais difícil). Já na estiagem (fim de ano) as atividades físicas vão acontecendo, porém, dadas as condições, qualquer chuva deixa o local em situação inadequada para as atividades. O solo de várzea enxuga mais devagar e tem a tendência de se tornar lamacento com água e uso contínuo.
Opa, Opa!!! Eis que chegam mais visitantes! Mas que turma é esta e o que vieram fazer? U-hu!!! Vamos conhecer essa moçada... que já chegou chegando e deixando a garotada em um entusiasmo só!!!
São os ANJOS DA ENFERMAGEM, um grupo de acadêmicos e profissionais da saúde que, fazendo parte de uma ONG (hoje existente em 20 estados brasileiros), fazem um importante trabalho de Educação em Saúde por várias comunidades Brasil afora, promovendo a solidariedade e responsabilidade social dos estudantes e profissionais da Enfermagem. Veja mais em www.anjosdaenfermagem.org.br.
O grupo já era conhecido na escola, foi sua segunda passagem, e estes anjos são acadêmicos da Faculdade FAMA, em Macapá.
...Falaram sobre higiene bucal (reforçando o que foi apresentado na visita anterior) e o ponto alto foi a distribuição de brinquedos... trouxeram para todos (fruto de uma campanha de arrecadação em Macapá).
 Imagens diversas na escola...
"Habilidade é o que você é capaz de fazer. Motivação determina o que você faz. Atitude determina a qualidade do que você faz." (Lou Holtz)
"O que faz os anjos voar é o amor."
(Carla Taylor)
Foi um dia abençoado, conhecemos coisas e pessoas com muitas histórias, como a Srª Euci Ferreira (secretária da escola/blusa amarela) a quem também agradecemos a receptividade e informações sobre a rotina escolar.
Os minutos avançam acima das onze horas... agora a garotada está voltando às suas casas. Este é um momento singular, com as catraias se enfileirando e as crianças conhecedoras de quais adentrar. Os professores auxiliam na organização e são os últimos a partir . 
Quando em minha visita inicial me informei sobre o número de embarcações para a travessia (12) pensei, em minha ignorância, se não era muito. Mais um engano... percebemos que a escola recebe um número de crianças de várias comunidades (como do Matapi, do Vila-Nova, de outros pontos da ilha... perto ou distante) e as embarcações saem com um número variado (algumas vão repletas, outras com cinco e ainda mesmo com uma)
Lá se vão os alunos... Os barquinhos agora são pequenos pontos no rio em diferentes direções.
Esse efeito de vastidão ocorre devido a escola situar-se "na curva da ilha" em frente a uma baía em que vemos as entradas para os Rios Vila-Nova e Mazagão. O Rio Matapi é um pouco mais à frente.
 ...São alunos da Escola Levindo Alves, em passagem pelo nosso porto. Ainda vamos chegar nesta escola, resolvi adiantar um pouco em virtude de informação equivocada que havia postado. Dizem as notas na net que a escola funciona apenas com Ensino Médio, mas já encontrei alunos nas séries de 5ª à 8ª. Informações mais concretas só quando passar por lá mesmo.
Resolvemos permanecer na escola para registro dos alunos da tarde (adolescentes nas séries de 5ª à 8ª). Neste intervalo deu para passar por outros locais. O primeiro deles foi a Sala de Leituras da escola. Tivemos a grata satisfação de entregar algumas obras e registramos então um agradecimento à Biblioteca Ambiental da SEMA/Macapá (que cedeu algumas publicações ambientais e Revistas Sesinho), à Antonio Castelo (doador de alguns livros didáticos e de literatura) e à Rogério Castelo (que cedeu 15 títulos da Série Vaga-Lume, outros de cunho infanto-juvenil e alguns vídeos). Não é uma nota para ufanismo e sim de agradecimento a quem colaborou. Todo esse material foi recebido com apreço... apesar de não estar ainda realizado... gostaria mesmo de poder ter a oportunidade de disponibilizar obras da Literatura Amapaense.
Fomos também ver de perto o Estaleiro Milagre de São Benedito e sua oficina. Olha aí a maternidade de barcos! Esse é um ofício que é executado por famílias durante gerações. Os barcos estão aí sendo fabricados no talento, sabedoria e empreendimento de ribeirinhos. Quem sabe já não navegastes em um destes daqui...

Mais uma fase de acabamento. 
É o azincamento...
...se é que esta palavra existe...
Pensas que é fácil isso! 
A carpintaria naval requer muita habilidade e perspicácia dos artesãos.  
E não é?! 
Oras... Há quem não saiba fazer um simples barco de papel....



 ...E tã-rã-rã-rããããã!!!!!! Taí mais um casco sumano! Que tar?! Agora é só colocar aquele motor possante do pai-d'égua e deixar nos trink's cuma pintura porreta. Tá que tá!!! Agora vou dar uma de boto na Amazônia!!!!
Vamos aproveitar para conhecer também um outro estaleiro próximo.
Aí está o Dimas reunindo informações com Seu Raimundo Tenório, ribeirinho descendente de portugueses, desde 1963 instalado na Ilha, vindo de Breves, conhecedor do ofício naval através dos pais e mais um dos contadores e testemunha das histórias que se desenvolveram ou ocorrem neste rio.
Encontramos dois estaleiros (N. Srª de Nazaré e Santa Edviges). Existe também um quarto próximo dali, mas é de menor tamanho e produção. Não identificamos o nome e até agora já descobrimos quatro estaleiros na Ilha. As impressões e histórico serão repassados pelo Dimas, em uma revista. 
Fiquei muito atento aos relatos do Sr. Tenório, que também citou a lenda do barco fantasma. Segundo ele, certa vez viu um barco que vinha em sua direção e repentinamente sumiu. Disse que a embarcação era bonita, com bandeiras, luzes e belas cores. Outro ribeirinho interpelou e falou que, em seu encontro, a embarcação era como um reboque muito rápido navegando por estas águas... todas sem ninguém. São faces de histórias lendárias e encantadas neste rio. 
Ilha de Santana / face oposta ao Porto de Santana (Foto: Rogério Castelo/2012)
As histórias do Sr. Tenório sobre a natureza também foram muito interessantes. Periodicamente, isso é vigente, costumam aparecer jacarés-açús (geralmente na temporada de chuvas) e não vêm de poucos não. Muitos destes acabam mortos e, principalmente, causam medo e receio aos moradores (recentemente teve um caso terrível de um homem ser devorado por um destes jacarés em outro local do Amapá - veja AQUI e AQUI). São fatos como esse que semeiam o imaginário popular de superstições e estórias.
Navegando pelo Rio Amazonas antes do nascer do sol, avistando-se o Porto de Santana e parte da Ilha de Santana. Não é um cenário muito propício e fecundo para as lendas? (Foto: Rogério Castelo / 2012).
Vem barco fantasma! Vem bota loira! Vem ao meu encontro! 
Moça dos belos olhos e sorrisos... és também um encanto? 
(Rio Amazonas ao redor da Ilha de Santana / Foto: Rogério Castelo - 2012)


Açaízeiro na Ilha de Santana
Rogério Castelo / 2012
Ouvi também sobre os botos, os grandes peixes que eram encontrados com mais facilidade no rio (como a piraíba), sobre a Cobra Sofia (como disse, está presente apenas na mente dos mais antigos) e, enfim, sobre a natureza onde estes homens estão inseridos. Navegando mais pela Ilha vi o quanto de matas preservadas ainda existem. Locais ermos e sem acesso... tudo nas adjacências da comunidade. Não sem razão falam dos animais com familiaridade, conhecimento, superstição e  imaginário. 


A história fluiu, 
o tempo se esvaiu.
Não deu para mostrar, 
o que fomos fotografar.

A boa conversa culminou com uma tijela de açaí, peixe frito e camarão, oferecidos pelo Sr. Raimundo Tenório, a quem agradecemos a boa receptividade  e suas grandes histórias. 

Voltando à escola... Eita! Está mais tranquila sem aquela energia toda da garotada.  As turmas adolescentes já estão em sala de aula... O ambiente é climatizado (em decorrência de iniciativas da Profª Célia) e não percebi interferências de ruídos externos. Quem realmente pode julgar são os alunos. Deixemos nossos amigos... estavam em avaliação.
...Alguns dos professores da escola. Esta é uma homenagem a todos os educadores que, como estes, saem de suas residências todos os dias e viajam por estes rios oportunizando o acesso a educação. O Profº Orenildo é mais uma das figuras que devo citar, pois está desenvolvendo o trabalho Pesquisando e Escrevendo a História da Comunidade do Cachoeirinha na Ilha de Santana-AP. Vamos aguardar o resultado que será de grande contribuição histórica. Faço as descrições neste blog como mero observador, a pesquisa do professor terá o embasamento de um historiador e pessoa em convivência assídua com a comunidade. O início do projeto está disponível em orenildo.blogspot.com.br.

Fonte: arqueologiaeimagem.blogspot.com.br
...Outro dia citei um tal forte perdido nesta ilha. Pois é!!! Isto me foi confirmado pelo professor. 
A Ilha tem locais sem acesso e não duvido que por trás ou abaixo daquela mata densa existam as ruínas do que um dia foi um forte, pelo que me disseram, de origem inglesa e anterior à Fortaleza de São José de Macapá
Será que um dia toda essa história vai se confirmar e do passado venha esse achado arqueológico elucidar um pouco mais do que se passou e rolou na história amapaense? Diga-se aqui também: História do Brasil!!!

A adolescencia é a melhor fase onde descobrimos as coisas que existem de especiais 
nesse universo imenso e repleto de coisas interessantes e valorosas.
(Pasion)
A adolescência é uma passagem para a maturidade, 
não a maturidade para quem tem apenas idade.
(Antonio Francisco)
Há uma realidade presente nas comunidades ribeirinhas - e em nossa sociedade como um todo - sobre a gravidez na adolescência. Já vi meninas de 11 anos sendo mães e casamentos juvenis. Muitos adolescentes "se juntam" e tem filhos precocemente. Isso é comum, mas não entendo como o normal ou ideal. Não posso dizer que são casos isolados... Só mais uma comprovação de pontos a serem trabalhados em nossa sociedade... cada vez mais precoce e inalterada em valores que se perpetuam a gerações. O próprio estilo de vida os levam a isso, onde o casamento/amasiamento soa como uma perspectiva de segurança, realização e emancipação, frente às oportunidades apresentadas.  
Eu, um reles aprendiz, vejo as coisa se mostrando assim aos adolescente com aquelas oportunidades:
Busca de realização profissional? Planejamento familiar? Estabilidade financeira? Investimento em estudos? O que é isso e para quem serão?! Casa, esposa ou marido, ajuda diária na lida de cada dia? Isso eu conheço e disso preciso....

...E assim foi mais uma passagem pela Ilha de Santana...
Pôr-do-Sol na Ilha de Santana (Foto: Rogério Castelo / 2012)
Desenho de José Eduardo / Morador de Santana
(Outubro/2012)
 São observações sujeitas a equívocos.
Contribua você também com o conhecimento!
Divulgue seus trabalhos nas Bibliotecas de Macapá!

Veja também:

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Macapá das Ressacas (Vídeo de Flávia Barbosa/2008)

Em 12/12/2008, a estudante Flávia Barbosa conquistou o primeiro lugar na categoria câmera amadora de celular - 12 a 16 anos - no 1° VIDEO FEST "Macapá 250 anos, um novo olhar", promovido pela CONFRARIA TUCUJU / AP. Foi vencedora com a produção do vídeo "Macapá das Ressacas" uma reflexão sobre a atual situação da Ressaca Chico Dias em transformação pela ação humana.

No vídeo a autora quer expressar sua visão crítica sobre essas transformações e a preocupação é mostrar a imagem antes e após a degradação.
Este trabalho recebeu o apoio da pedagoga Maria do Socorro P. da Silva, professora orientadora de aprendizagem "TV Escola" na Escola Reinaldo Damasceno.


Macapá das Ressacas
(Flávia Barbosa)
Era assim a ressaca, um lugar bonito cheio de graça, cheio de verde, cheio de peixes.
Tinha muitas árvores, tucumanzeiro, buritizeiro.
Tinha o aningal, mururé e matagal, tinha jurubeba e até vitória-régia!
Tinha muitos animais, moréia, tamuatá e cará.
Tinha cobras e sapos, tinha até caracol!
Flores do lago que brilhavam ao sol!
Mas foram chegando e foram ficando, os moradores do lago, pessoas boas e más, construíram as casas verdes, azuis, e corais.
Fizeram a passarela prá toda a galera, crianças na ponte correndo e brincando, o lugar foi se transformando e a natureza foi mudando. 
Aquela bela ressaca de antigamente não existe mais!
Agora é diferente tem gente demais...
A ressaca está doente!
Na ponte tem ladrão de televisão, tem trombadinha que cobra pedágio, tem bebezinho que morre afogado!
No lago tem lixo e jogam até bicho!
Tem garrafa, sacola, tem latas, chinela, tem boneca, panela, tem sapato e bola.
Tem pneu, tem pau, lixo junto com animal.
Tem homem mau  que pega criança, tem bandido e policial.
É assim a ressaca, o lago do povo do trabalhador, da mãe de família
do menino e do moço.

Apesar da violência e poluição, tem diversão e união.
Tem muito lagos em Macapá, a cidade cercada de ressacas.
Tem gente que mora no seco. Tem gente que mora no lago
A cidade é muito bela.
Tenho orgulho de morar nela!
Veja algumas imagens da exposição "Demarcações", do Grupo Imazônia,  
muito pertinentes ao texto de Flávia Barbosa.
A exposição realizou-se na galeria de artes do SESC-Araxá - em agosto de 2011 - e teve caráter instalativo, com trabalhos feitos de reaproveitamento de lixo. Mostrou, através de miniaturas e desenhos, a problemática (social e ecológica) da ocupação desordenada nas ressacas e em áreas ribeirinhas.

Foto: Etiene Mazze
Foto: Etiene Mazze
Fotos de R. Castelo
Grupo Imazônia (Foto do SESC Amapá).
Parabéns aos idealizadores pela ótima proposta artística e educacional!
Mais informações sobre ressacas podem ser obtidas
Veja também:

domingo, 7 de outubro de 2012

O Barco da Bíblia em Macapá (Parte 1 - Outubro/2012)

Barco da Bíblia - Luz na Amazônia II, uma livraria e museu flutuante que se destina à difusão da Bíblia Sagrada, chegou em Macapá.
Está ancorado na rampa do Santa Inês e pode ser visitado até o dia 12 de outubro, partindo então para outros cantos da Amazônia.
A proposta é de  tornar a Palavra de Deus disponível às populações que vivem isoladas dos centros urbanos e com acessso apenas por via fluvial - realidade comum na Amazônia. O barco realiza esta atividade há 50 anos e faz parte de um projeto iniciado em 1962 pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), em uma história que se desenrolou, mais ou menos, nestes termos:
A Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) é uma entidade brasileira que traduz, produz e distribui Bíblias. Foi criada no Rio de Janeiro em 1948 (quando houve uma maior procura pela Bíblia em um mundo no pós-guerra) e faz parte das Sociedades Bíblicas Unidas (associação mundial que reúne sociedades bíblicas em mais de 200 países,  em cooperação mútua para facilitar o processo de tradução, produção e distribuição com preços mais acessíveis).
A viagem inaugural foi em 08/12/1962
A SBB realiza também programas de assistência social/médica/espiritual e assim, em 1962, adquiriu o primeiro Luz na Amazônia, tendo a ajuda da Sociedade Bíblica da Escócia. Foram 28 anos atuando em comunidades do baixo Amazonas.
Em 1990 foi construído o Luz na Amazônia II, concebido como um barco-ambulatório de ferro (desenhado especialmente para navegação na Amazônia) com recursos adquiridos da Sociedade Bíblica do Canadá.
Com a colaboração financeira das Sociedades Bíblicas da Holanda e do Canadá, em 1997 foi construído o barco Luz na Amazônia III, responsável até hoje por atendimento social, filanrópico, cultural e médico na região (que vinha sendo desempenhado pelo Luz da Amazônia II). A SBB atualmente está levantando recursos para a reforma e melhorias.
O Luz na Amazônia II foi reformado este ano e transformado no atual Barco da Bíblia, com a função específica de livraria e museu flutuante.
É este o barco (e um pouco de sua história) que aportou nas terras amapaenses trazendo a mais importante obra literária, a Bíblia Sagrada. 
O barco é bonito, com ambiente climatizado e aconchegante aos visitantes.  
A livraria oferece um número diversificado de bíblias, adaptações infanto-juvenis e obras para facilitar o estudo, como os dicionários bíblicos.
Sabias que:

- A distribuição organizada da Bíblia, no Brasil, começou a ser realizada pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira e pela Sociedade Bíblica Americana, no século XIX, no tempo do Brasil Império.
- As igrejas cristãs organizaram a Sociedade Bíblica do Brasil em 1948 (ah, isso já falei...).
- As traduções distribuídas pela SBB em português são de João Ferreira de Almeida (nas edições Revista e Atualizada).
- Das línguas faladas por indígenas no Brasil, apenas 03 têm no momento a Bíblia completa (Wai-Wai, Guajajara e Guarani-Mbyá).
- As línguas originais da Bíblia são hebraico, aramaico e grego.
- Um fato histórico que contribuiu também para a tradução e difusão da Bíblia foi a chamada Reforma Protestante (iniciada no séc. XVI).  Veja aí alguns tradutores e respectivos anos:

Língua
Tradutor
Ano
Alemão
Martinho Lutero
1534
Espanhol
Reina Valera
1602
Italiano
Giovanni Diodati
1607
Inglês
King James
1611
Português
João Ferreira de Almeida
1681 (Novo testamento)
1753 (Bíblia Completa)
Francês
Louis Segond
1871
Fonte: Barco da Bíblia - Luz da Amazônia II
Alguns valores são realmente bem acessíveis. Esta Bíblia de bolso, por exemplo, pode ser adquirida facilmente... mas tem que ter olhos de águia. Aproveitei para adquirir várias.
Você conhece esta edição bíblica? É a chamada Bíblia na Linguagem de Hoje. Tem crescido a procura por aproximar a tradução do linguajar popular. Por exemplo, vamos dar uma conferida no Evangelho de João 3:16, que é uma passagem muito conhecida, difundida e muitos acreditam que sintetiza toda a mensagem bíblica:
"Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (Edição João F. Almeida - Versão Atualizada)
Agora na versão da Bíblia na Linguagem de Hoje:
"Porque Deus amou o mundo tanto, que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna." (Nova Tradução na Linguagem de Hoje).
Desenho de Rogério Castelo (1996)
Há uma aproximação maior do que se fala popularmente, porém, a edição (que foi lançada no Brasil em 1988 e revisada no ano 2000) não é bem recebida por muitos teólogos que acreditam que pode desvirtuar ou perder o sentido de algumas passagens para a adequação na linguagem. Penso que esta edição, mesmo sujeita a erros, é de grande valor e auxílio também.  A primeira versão gostava de ver porque vinha acompanhada de umas ilustrações estilizadas que me identifiquei e influenciaram minha maneira de desenhar até hoje.
Esta outra edição que encontramos no barco é a Vulgata, que é uma Bíblia de uso comum na Igreja Católica Apostólica Romana e tem uma importância histórica também. A Bíblia é uma só, mas já ouvimos sobre Bíblia Evangélica e Bíblia Católica. Existe uma diferença sim e remete-se à fonte de tradução. Entre os últimos escritos do Velho Testamento e os primeiros do Novo Testamento houve um período de cerca de quatro séculos onde, evidentemente, muita coisa de cunho histórico se desenrolou. Uma delas foi a tradução de escritos da cultura hebraica para a linguagem grega (em evidencia na época). Diz a história da igreja que um grupo de cerca de 70 sábios foram incubidos desta tradução e assim os escritos que formam o que chamamos Velho Testamento foi traduzido para o grego, ficando esta versão conhecida como Versão dos Setenta ou ainda Septuaginta. Esta edição, além dos escritos que mencionei, anexou também outros livros da cultura hebraica que não constavam no Velho Testamento
Ilustração representando Jerônimo.
À ele é atribuída a frase:
"Ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo".
Pois bem, tempos depois com o advento e crescimento do Império Romano, popularização da língua latina, propagação do Cristianismo e da própria cristianização do império, começaram a circular muitas traduções extra-oficiais para o latim e (entre fins do século IV início do século V), coube a Jerônimo (hoje canonizado na Igreja Católica) a tradução de uma versão em latim a ser oficializada (a pedido do Papa Dâmaso I). Jerônimo traduziu os escritos do Novo testamento, já conhecidos em grego, para o latim e, em relação ao Velho Testamento usou a versão da Septuaginta que, como falei, estava acrescida de livros não participantes nos escritos sacros oficializados na cultura hebraica. Essa versão em latim de Jerônimo foi oficializada e denominada Vulgata. Esta é a diferença, a Igreja Evangélica adota como fonte e tradução a literatura em hebraico adotada pelos judeus, enquanto a Igreja Católica  tem como fontes a Vulgata e Septuaginta
Os livros que não têm na Bíblia usada pelos evangélicos são denominados Livros Apócrifos (não genuínos) e são: I e II Macabeus, Tobias, Judite, Baruc, Eclesiástico e Sabedoria. Existe também um acréscimo de capítulos nos livros de Ester (10 para 14) e Daniel (12 para 14) adotados pela Igreja Católica que, a exemplo das outras alterações, foram oficializados em concílios ao longo da história.
O Barco da Bíblia é assim, com as Bíblias a preços acessíveis (Bíblia da Criança, da Mulher, do Obreiro, pequena , média, grande, ilustrada, Hebraica, Vulgata, na Linguagem de Hoje, etc) e o que realmente importa é a leitura, aprendizagem e, principalmente, vivência da fraternidade cristã.
Sabias também que com a leitura de 04 capítulos diários ao final de um ano teremos lido toda a Bíblia?
A outra parte distinta do barco é uma sala que mostra algumas curiosidades...
... como as edições em vários idiomas...
Segundo a SBB, a Bíblia completa já foi traduzida para 475 línguas e, pelo menos um trecho, já foi traduzido para cerca de 2.500 línguas (das mais de 6 mil existentes no mundo).
... e encontramos também a Bíblia em braile.
 A edição em braile da SBB completou neste ano 10 anos de seu lançamento, é composta por 38 volumes e foi traduzida na versão da Linguagem de Hoje. A Bíblia completa em braile é hoje cara para a realidade da maioria dos brasileiros (entre R$ 1.260,00 a R$2.660,00 - dependendo do tipo de encadernação) por isso podem ser também as Escrituras encontrada em áudio a preços mais acessíveis.

Esta é uma representação das diferentes formas como a Bíblia foi sendo registrada em seu trajeto pela História.
Quando os livros foram escritos foram sendo registrados em:
- Tábuas (de madeira ou pedra),
Papiro (uma folha feita com o caule de uma planta),
- Pergaminho (couro de animais).
Hoje está on-line, em sites como www.bibliaonline.com.br
(Graças a Deus por tudo!!!) 

Para finalizar nossa passagem por este barco e seu singular museu, encontramos também uns recipientes com essências citadas na Bíblia, como o Nardo (que em Marcos 14:3 apresenta-se como o unguento usado por uma mulher para ungir os pés de Jesus). É bem interessante conhecer e sentir estes aromas... a mirra é tão odorífera!!!! Foi também um presente dos três reis magos a Jesus, na manjedoura.
Viajei neste barco... sem realmente ter navegado...
...É o Barco da Bíblia - Luz na Amazônia II mais uma vez em Macapá!!!
"E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará."
Todas as descrições desta postagem são impressões 
sujeitas a equívocos... Foram coisas que fui lendo e estudando.
Quem conhece o que seja verdadeiro que mostre,
como faço com as coisas em que acredito.

 Fontes de Consultas:
- www.sbb.org.br
- Sociedade Bíblica do Brasil (Wikipédia)
www.extremosulgospel.com.br 
- Revista A Bíblia no Brasil (Nº 236 - Julho a Setembro de 2012 - Ano 64)