As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Os Igaraúnas (Raimundo de Morais)

A obra surpreendeu pelo conteúdo cativante em impressões da cultura paraense, arraigados também em boa parte da Amazônia. O romance foi publicado em 1938 e tem um texto refinado, onde Raimundo de Morais mistura realidade e ficção para contar a história de uma tradicional família, chefiada pelo Coronel Igaraúna, às margens do rio Tocantins no início do século XX. Uma preciosa descoberta em minhas leituras.

 Capa e Raimundo de Morais

Descrição na "orelha" do livro
 
"Raimundo Morais é o grande narrador de histórias plenas de sabor exótico e popular no meio que descreve. Soube analisar o ambiente e o pensamento do povo paraense, relatando sua fé e suas crenças.
Ilustra neste livro a vida num barração à margem do Tocantins, rio que nasce entre diamantes, rubis e esmeraldas e corre num leito de pérolas

Presenciamos o choco do uirapuru, a luta entre a sucuriju e a anta, a farta pescaria nos rios ainda límpidos.
A política da época (parece que os tempos não mudaram) levando o Coronel Igaraúna a Belém e a enfrentar um naufrágio, enfaixa um ciclo de destruição no qual sua família desaparece.
O escritor ressalta a dedicação da Dra. Emília Snethlage, naturalista alemã famosa e diretora do Museu Goeldi de 1914 a 1921. Até sua morte aos 61 anos de idade, adentrava-se pela selva, unicamente acompanhada por alguns selvícolas. Devemos a ela a classificação das aves da Amazônia. Ao longo de suas conversas com a família Igaraúna, ministra verdadeiras lições de biologia, zoologia e antropologia.
É sempre com carinho que Raimundo de Morais trata dos pequenos deslizes, das fraquezas humanas e, talvez tenha sido um dos primeiros brasileiros a ver com olhos abertos e lúcidos esta terra, tão famosa alhures por sua beleza, pela bondade de seu povo, e pela amplidão aterradora de sua natureza e sempre vencedora."

(Autor não identificado)

 
Imagem do livro

Registro no SKOOB

A obra tem um olhar interessante, refletindo a erudição do autor e um retrato de época com seus saberes. O livro foi publicado em 1938 e é protagonizado pelo Coronel Anastácio, conhecido na região como Igaraúna.
O cenário é a vida interiorana às margens do rio Tocantins e, voltando ao que havia citado, o contexto é descrito com riqueza de detalhes, em abordagens que tratam de aspectos sociológicos, culturais, ambientais, históricos, científicos, políticos e geográficos. Essa característica mostra a valorização do autor pelas pesquisas. O texto, às vezes, transcende a descrição usual e corriqueira para dissertar de maneira instigante e reveladora sobre a região em suas peculiaridades.  

Raimundo de Morais é refinado e o livro tem o paralelo curioso entre os saberes, "culto" e tradicional.
Entre as coisas que me chamaram mais atenção cito a viagem que o coronel fez a Belém. A narrativa descreve um naufrágio e, de seus desdobramentos, o coronel é procurado pela imprensa por estar entre os sobreviventes. Ocorre um pequeno embate entre ele e uns jornalistas, metidos a "sabichões", e percebemos a valorização também do saber no traquejo e experiência de vida.


Imagem do livro

 As situações vivenciadas pelo coronel são elementos no retrato de época e instigantes a uma abordagem de pesquisas do autor. Assim acontece no regresso a sua fazenda, no Redentor, onde encontra a pesquisadora alemã Emília Snethlage, que lhe dá admiráveis aulas. Explicações sobre a região, curiosas ao coronel e ao leitor. Ressalte-se que a pesquisadora é uma figura real e representativa na História do Pará, com importância no estudo e catalogação de várias espécies e como diretora do Museu Emílio Goeldi em Belém.
A vida na fazenda tem situações exploradas também. Por exemplo, nos festejos do São João e outras manifestações populares, o autor surpreende com suas considerações. O mastro é referenciado como um símbolo fálico, remontando à percepções pagãs absorvidas e suplantadas pela Cristandade. Mas que interessante isso...
O capítulo sobre "O Boto" é outra passagem muito bacana, com um estudo do caso

A parte sobre o embate canoro na floresta , "Uirapuru e Carachué", é uma descrição em forma de conto de leitura muito prazerosa.
Politicamente falando, há também o retrato das "maracutaias" comuns, já naquela época, no início do século XX, onde muitos candidatos tinham garantidos até o eleitorado do cemitério. E não é que muitos finados votavam... A obra cita esses episódios.

O homem, a terra, seus costumes. Pontos relevantes no livro. Emília Snethlage tem uma segunda e terceira passagens, dessa vez na fazenda, um aspecto que sempre valoriza a leitura.
O conhecimento popular é valorizado e tem nas descrições sobre o igapó um belo exemplo, onde temos um encontro com o poraquê e a luta extraordinária entre uma anta e uma sucuri. João Cabeludo, mestiço personagem representativo desse saber, é quem nos conduz nessa ciência amazônica, tão arraigada e vista hoje ainda. Vai dizer que nunca ouviu aquela do poraquê que dá choque no pé de algumas árvores (taperebá, na descrição do livro) para apanhar frutos? Ou que sucuri come até anta....

A obra tem também seus tons de mistério e ação, com um desfecho dramático ao coronel e sua família, em uma época descrita com romantismo e com curiosas particularidades para se conhecer. 


Informações do livro:
Título: Os Igaraúnas
Autor: Raimundo de Morais
Editora: RK (Roswitha Kempf)
Ano: 1938
Páginas: 207
Tema: Amazônia/Romance/Literatura Paraense/Costumes


Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia 

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Mariola (Laíses do Amparo Braga)

Uh, sumano! Vamos dar uma espiada na Literatura Paraense. Esse livro foi publicado em Belém, 1987, por Laíses do Amparo Braga. Parece paidégua! 
Vigie só...


Informações do livro:
Título: Mariola
Autora: Laíses do Amparo Braga
Editora: Falangola
Ano: 1987
Páginas: 163
Tema: Amazônia/Romance/Questões Sociais 
  

Quem é safo, descreveu assim:
"O romance de Laíses mantém a linha do memoralismo documental. São as experiências testemunhadas que detonam o imaginário, criando uma obra que, ilusoriamente, desperta a impressão de acompanhar histórias verídicas. É que Laíses mantém um estilo direto e de grande simplicidade, sem preocupar-se com outros aspectos que não sejam os relativos à fabulação. Também, não há preocupação com os efeitos poéticos ou reflexivos. Nem com a psicologia das personagens.
A narrativa se desdobra mais ao sabor da crônica romanceada, em que os incidentes do cotidiano, os fatos corriqueiros, as impressões imediatas é que são realçados. Diríamos que os personagens caminham à superfície plana das situações. Mesmo os dados sociais e da história regional não marcam caracteres, como seria de se esperar, em romance dessa linha.
O romance de Laíses é romance de escritura feminina. Guarda referência por uma tênue sentimentalidade e empresta sincera e afetuosa emoção aos personagens e acontecimentos. Prefere a presentificação direta dos fatos via linguagem, não raro documentando situações e vocábulos regionais. isto realça o caráter cronístico do romance e mantém interesse na leitura, recompensando o natural desejo de Laíses: repassar ao leitor a sua vivência, por via da criação literária." 
(Trecho da APRESENTAÇÃO, por João de Jesus Paes Loureiro)

Minha visão foi essa: É uma obra regional, amazônida, publicada nos anos oitenta, que se inicia de forma idílica e familiar à cultura nortista, mostrando um fim de tarde com um encontro entre amigos, curtindo um tacacá, em uma cidade pequena qualquer. Os elementos da natureza se fazem muito presentes e o contexto descreve uma época sem as vicissitudes ou conquistas da modernidade. Instiga a imagem de uma praça ou uma orla em encontros casuais...
O cenário é realmente mais antigo, descrito com um certo romantismo (nem tinha televisão ainda na região), porém, com um olhar reflexivo em sua abordagem. Talvez por isso o nome da cidade onde se inicia a história não seja citada, supondo-se o interior marajoara. Seja no Norte ou outro canto qualquer, a obra tem um tema de amplitude geral e cotidiana, principalmente naqueles tempos: as questões sociais atreladas ao machismo.
A autora provoca essa discussão e o romance tem uma essência feminina de olhar questionador, protagonizado por Mariola. Acredito que a inspiração veio de lembranças de Laíses (não necessariamente suas experiências), inconformismo e desejo de mudanças.
Em linhas gerais, a protagonista é uma jovem carismática, trabalhadora, de espírito independente e desejosa de realizações em seus sonhos de juventude. Muito disso se deve ao fato de ser de família muito carente, orfã de pai, vivendo em uma casa rústica junto com as irmãs Lili, Nita e Gegé, o irmão Biló e a mãe Luzia.
As quatro jovens são distintas em personalidades e tem o mesmo ideal de superação, buscando nos estudos o caminho. A mãe contrasta com um paralelo de mulher de visão tradicional, simplória e conformada, e o caçula Biló fica em um meio termo, influenciado pelo desejo de conquistas das irmãs e a visão da sociedade conservadora e apática.

Cada um tem seus desdobramentos, mas o foco é Mariola. A jovem tem seus sonhos interrompidos em um casamento que se revelou ilusório e infeliz, tendo na violência doméstica um basta para o retorno a seus ideais. Logicamente, os fatos vão se desenrolar com muita luta diante da mentalidade retrógrada e machista do marido. Mariola é obrigada a mudar de cidade com as filhas, diante da perseguição, numa fuga para São Paulo. Novamente encontra o machismo oportunista de quem cultiva a visão mulher objeto e enfrenta episódios árduos, de luta vitoriosa somente para os decididos. Mas o destino lhe sorri e sua vida encontra o sentido almejado ao trabalhar em uma escola como orientadora sexual, fruto de seu destaque como mulher batalhadora e questionadora. Essa é Mariola
A história não acaba aí e um terceiro homem surge em seu caminho, com um cruel destino em suas torpes motivações... Mas desse spoiler me preservo. O livro quer lhe revelar, procure-o. Posso dizer que gostei da leitura, tem uma simplicidade cativante (gosto muito da Literatura Nortista e é até redundante reafirmar), reconhecível em muito do que a gente vê hoje ainda, infelizmente, mesmo depois de trinta anos dessa publicação.

Para sua apreciação e conclusões, a obra está disponível na
Biblioteca Pública Elcy Lacerda 
(Sala da Literatura do Amapá e Amazônia).

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Chico Mendes - A luta de cada um (Márcio Souza)

Opa! Saudações aos amigos! Estou divulgando mais uma literatura de nosso acervo na Biblioteca Ambiental da SEMA em Macapá. Veja aí...

Afinal, o homem faz o meio ou o meio faz o homem? A questão está implícita na obra, com personagens delimitados nesses aspectos, em uma biografia de apelo infantojuvenil que instiga a educação, direitos e políticas ambientais.
Chico Mendes representa os povos da floresta, vivendo intimamente ligado a ela em uma relação sustentável e traçando seu destino na preservação desse elemento - sua sobrevivência. Vemos ação e escolhas a favor da manutenção dessa interação ambiental, em um momento em que pouco se fazia em políticas direcionadas ao meio ambiente.
No outro extremo, o fazendeiro D.A. ilustra o desenvolvimento impulsionado pelo descaso e ignorância governamental às questão ambientais. A floresta é só um entrave, nessa visão, para valores ambiciosos que são considerados mais importantes, em prejuízo dela. Foi mais um entre os muitos formados e cauterizados nessa mentalidade ultrapassada, que se colocava até mesmo acima das leis (pela própria ausência ou fragilidade delas).
Entre eles uma história que se tornou transformadora e revolucionária nas questões ambientais, ainda que triste, mas fundamental para o estabelecimento e fortalecimento do meio ambiente. Com novos conceitos, associando os povos da floresta à preservação sustentável.
Por conta do direcionamento, a narrativa é enfatizada nos eventos mais marcantes e conhecidos sobre o Chico Mendes, como a mentalidade da organização pela preservação, a descrição dos conflitos crescentes com os fazendeiros, conquistas árduas e necessárias, as agressões e violência nessa luta, e o desfecho
com a morte do ambientalista em seu derradeiro conflito com os interesses dos fazendeiros. Fato ocorrido em 22/12/1988, ao sair de sua casa em Xapuri, com tiros de escopeta, deixando esposa e dois filhos pequenos. Isso não é um spoiler para o leitor conhecedor da História do Brasil.
Fim de uma vida, início de uma reorganização brasileira nas questões ambientais.
Voltando à dúvida do início, acredito que as escolhas sempre são possíveis. O homem é transformador de seu meio com sua mentalidade e disposições.

O livro resume-se nisso e as considerações são essencialmente a ele. Se há equívocos nessa biografia (o livro é também seriamente contestado por estudiosos do tema), isso é uma questão que não me meto. Sou apenas um aprendiz e, na essência, gostei da percepção na obra, que exemplifica uma das mais nobres e importantes lutas na preservação e interação ambiental.


Página 6
Informações do livro: 
Título: Chico Mendes

Coleção: A Luta de Cada Um   
Autor: Márcio Souza
Editora: Instituto Callis 
Ano: 2005 (1ª edição)
Páginas: 79
ISBN: 978-85-98750-48-4
Tema: Amazônia / Sindicalismo / Biografia / Ambientalismo


O Autor
Márcio Souza nasceu em Manaus (1946). É jornalista, roteirista de cinema, dramaturgo e diretor de teatro e ópera. Dedica-se também a projetos de comunicação e cultura, tendo exercido diversos cargos públicos nestas áreas. Seus romances, como "Mad Maria" e "Galvez Imperador do Acre", entre outros, tratam sobretudo da realidade histórica, política e cultural da região amazônica. (Informações descritas no livro)
 
Sugestão de consultas:
www.altinomachado.com.br  (Uma avaliação e crítica sobre o livro)

Lembro também que a obra está disponível, para a galera macapaense, 
na Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Lá na Sala que privilegia a Literatura do Amapá e da Amazônia.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Vidas Consagradas (Diocese de Macapá - 2015)

Publicação distribuída em 2015 pela Diocese de Macapá, em referência ao Ano da Vida Consagrada, movimento instituído pelo Papa Francisco que objetiva o fortalecimento religioso na Igreja Católica Apostólica Romana. Entre as metas destacadas está o "olhar com gratidão para o passado", que traduz-se na valorização e inspiração nas missões católicas que realizaram, e desempenham ainda, papel relevante na assistência social e ação da catequese. Esse é o tema da presente publicação, a apresentação sucinta de um histórico e ação de algumas dessas missões católicas no Amapá. A obra é enriquecida também por um pequeno acervo fotográfico. Material que considero interessante, embora não seja católico romano, por misturar-se à História do Amapá e ter sua representatividade e importância para a região. Veja aí!


As missões mostradas são: 

Irmãs Carmelitas de Santa Teresa de Florença - A obra cita a origem na cidade de Campi Bisenzio, na Itália em 1874, e a chegada no Amapá em 1979, a convite do industrial Marcello Candia. 

Associação Casa da Hospitalidade - Fundada em 1978 pelo Padre Luiz Brusadelli, em Santana, depois de reconhecer a necessidade de oferecer abrigo e assistência aos menos favorecidos, recebendo apoio do industrial Marcello Candia. 

Congregação das irmãs Discípulas de  Jesus Eucarístico - Fundada na Itália em 1922, pelo padre Rafaello Delle Nocche. A missão instalou-se no Amapá a partir de 2006 a convite do Bispo do Amapá, Dom Pedro Conti. Localiza-se na Vila Amazonas (Santana). 

Congregação Família de Nazaré-Piamartinos - No dia 15/05/1990 foi fundada oficialmente a Escola Agrícola, sendo seu fundador o padre Luiz Brusadelli, localizada na Rodovia Duca Serra, no Distrito do Coração em Macapá. Por muito tempo foi chamada Casa da Hospitalidade II. 

Irmãs da Purificação de Maria Santíssima - É uma missão italiana, de 1665, inspirada no trabalho de jovens que tinham o desejo de viver uma vida consagrada fora do convento. No ano de 2009, a convite de Padre Rui (Piamartino) e acolhidas pelo Bispo Dom Pedro Conti, foi realizada a abertura de uma casa no bairro Universidade (Macapá). 

Irmãs de Caridade das Santas Bartolomea Capitanio e Vincenza Gerosa - Em 1951, chegavam no Amapá, fundando a Escola Doméstica (antigo Ginásio Feminino, hoje Escola E. Irmã Santina Rioli), servindo no Hospital Geral de Macapá (1957), fundadoras do Colégio Santa Bartolomea Capitanio (1961), servindo no Hospital São Camilo e São Luis (1969), nas paróquias de Amapá (1972), Calçoene e Cuba de Asfalto (1991). 

Irmãs Servas da Caridade -  No dia 23/02/2006 chegam no Amapá. 

Congregação das Filhas do Coração Imaculado de Maria (Cordinarianas) - Fundada pelo padre Júlio, em 21/11/1916, em Macapá, com a missão de cuidar da educação, da saúde e da evangelização. Entre as 20 primeiras Cordinarianas estava a jovem macapaense Raimunda Siqueira Coutinho, que se tornou Irmã Celeste (a primeira freira do Amapá).

Todas as informações descritas foram retiradas da edição. 
Veja também algumas das ilustrações.
Imagens referentes às "Irmãs Carmelitas" 
e "Irmãs das Santas Bartolomea Capitanio e Vincenza Gerosa"
Raimunda Siqueira Coutinho, apresentada  como a primeira freira amapaense. Nasceu em Macapá, aos 15 adotou o nome de Irmã Celeste (como noviça), tinha saúde frágil e faleceu em 1922 aos 17 anos.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Macapacarana (Giselda Laporta Nicolelis)

Mais um da literatura infantojuvenil. Não duvide que esse meio tem muita coisa legal e instigante. Espia só! "Macapacarana", de Giselda Laporta Nicolelis, já foi tema de estudo acadêmico e traz um olhar sobre Macapá de trinta anos atrás.
Romário Duarte Sanches assim o descreveu em sua pesquisa para a UNIFAP:
"O livro paradidático Macapacarana da autora Giselda Laporta Nicolelis, é dividido em 24 capítulos e conta a história do menino Gerson Luiz de 16 anos, que nasce no Paraná, mora em Curitiba, Porto Alegre, São Paulo e Macapá. Nesse vai e vem de sua vida Gerson se depara com várias culturas em que algumas chegaram a lhe inferir o choque cultural.
Desta forma, Macapacarana torna-se uma proposta didática a difusão cultural, pois nele encontramos as culturas, que são mais do que simples relatos de um menino ou uma história fictícia, mas sim podendo retratar as identidades de um povo, provocando ao leitor olhares diferenciado a partir do seu lugar social, levando-o a várias formas de pensar e ver a realidade nos fazendo mudar nossa maneira de ver as outras culturas, e enfim chegar a um processo de relativização, compreendendo e respeitando as culturas que nos rodeiam." (Trecho do artigo acadêmico que pode ser conferido NESTE LINK)

Giselda Laporta Nicolelis nasceu em São Paulo (1938), teve sua primeira história publicada em 1972 e o primeiro livro em 1974, destacando-se na literatura infantil e infantojuvenil. Sua obra abrange mais de 100 publicações, com centenas de edições e exemplares vendidos. Entre suas premiações está o APCA/1981 (da Associação de Críticos de Arte, do Estado de São Paulo, de Literatura Juvenil) e o Prêmio Jabuti/1985 (da Câmara Brasileira do Livro). Muitas de suas obras abordam temas que ajudam a combater o preconceito. O que descobrimos nesse livro (Fonte: SKOOB)
Informações do livro:  
Título: Macapacarana 
Autor: Giselda Laporta Nicolelis
Editora: Atual 
Ano: 1982 (1ª Edição) / 1988 (25ª Edição) 
Páginas: 148 (25ª Edição) 
Tema: Literatura Infantojuvenil 
ISBN: 85-7056-030-3

Registro no SKOOB

A obra despertou minha atenção por ter sido publicada na década de oitenta por uma escritora paulista. Não se propõem a ser um livro histórico, é uma literatura infantojuvenil, mas em muitos aspectos retrata a Macapá dos tempos do Território Federal do Amapá.
Há alguns exageros, impressões de quem visita a terra pela primeira vez, e de certas particularidades não gostei (como o Curiaú sendo lugar de miséria e tristeza, e uma tal hora da sesta, em que todo mundo larga tudo para dormir e a cidade assim para). 

Faltou mesmo, indispensável, citar a linha do Equador e o nosso  açaí, tão presentes na identidade amapaense.
Na obra vemos o choque cultural de um garoto, migrante do sul, com seu processo de descobertas e familiarização, acostumado com outra rotina e com uma visão estereotipada do Norte. A mudança para Macapá ocorreu para acompanhar os pais, que eram donos de um garimpo, e a história, narrada em primeira pessoa, é recheada de observações e contrastes, fazendo com que o garoto descubra e valorize coisas que até então sequer imaginava. 

A realidade do garimpo, a busca por riqueza a todo custo, a devastação do ambiente e a desvalorização do indígena enquanto cidadão e dono da terra são pontos apresentados, em descrições e em conversas com personagens que encontra.
Referindo-se ao título, "Macapacarana" é uma mistura de Macapá com Pacarana (roedor parecido com a paca, porém, mais robusto e com cauda). Uma alusão a uma localidade fortemente marcada pela presença da natureza em suas impressões.
Um bom livro, que proporciona uma interessante e agradável leitura. Assim foi a minha.


E é mais um do acervo da Biblioteca Pública Elcy Lacerda
que a galera de Macapá encontra na  
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

O Chapéu do Boto e o Bicho Folharal (Antonio Juraci Siqueira)

Cordel, lendas e Amazônia. Três temas que aprecio muito e estão reunidas nessa obra em uma abordagem divertida e facilitadora de leitura rápida. O autor, Antonio Juraci Siqueira, é paraense, marajoara de Cajary (Afuá), Licenciado em Filosofia pela UFPA e tem mais de 80 publicações (entre cordel, contos, poesia, crônicas e literatura infantil). Muitas de suas obras são premiadas em âmbito local e nacional, citando-se: o Concurso de Poesia Popular da UBT-Maranguape/CE (2009) e o  Mais Cultura em Literatura de Cordel (2010) - Edição “Patativa do Assaré” (premiações relacionadas ao texto "O chapéu do boto").
Essa edição foi publicada pela Paka-Tatu (2012), com ilustrações em  xilogravura de Ararê Marrocos e apresentação de  Roberto de Carvalho. Vamos encontrar duas  histórias nos característicos tons jocosos e melodramáticos da Literatura de Cordel.  

"O chapeu do boto" já diz a que veio no título, brincando com a sedução dos contos do Uiara. Essas narrativas costumam destacar a boêmia, encanto e artimanhas, Amazônia adentro, evidenciando um certo humor. Vemos isso, mas a história é conduzida em forma de drama, onde o boto tem que lidar com uma revolta por suas peripécias. Algo novo nesse misticismo é a introdução de elementos relacionados a indumentária do famigerado, que remete-se a outros seres dos rios. Isso nunca tinha visto. Esse é o contexto geral e a obra é uma valorização desses causos aos apreciadores. 

"O Bicho Folharal" é mais divertido e mostra uma história na floresta com um embate entre o macaco e a onça. Um paralelo entre esperteza e brabeza afoita.

 
 Xilogravuras de Ararê Marrocos
Informações do livro: 
Título: O Chapéu do Boto e o Bicho Folharal
Autor: Antonio Juraci Siqueira
Ilustrador: Ararê Marrocos
Editora:Paka-Tatu
ISBN: 978-85-7803-104-6
Ano: 2012
Páginas: 40
Tema: Cordel / Folclore / Amazônia
Composição em setilhas no esquema em rimas xaxabba

Juraci Siqueira incluiu também informes interessantes sobre a história do cordel no Norte e, para buscas futuras, transcrevo algumas das obras relevantes desse contexto:
"História completa de Severa Romana" (anônimo): um dos cordéis pioneiros em Belém, em 1946;
"Os cabras de Quintino", "As proezas do fantástico Pé-de-pano" e "A história do gato Mocotó" (de Adalto Alcântara Monteiro): cordelista citado pelo autor como o mais destacado no Pará;
"Oxente Bichinho, mercúrio não!" e "Belo Monte, o Belo de Destruir" (de João de Castro):  caracterizados pelas causas sociais;
"Um amor de São João" e "Grávida" (de Heliana Barriga):  referenciada por Juraci Siqueira como a maior cordelista paraense.
Aproveito o embalo nortista e cito um cordel histórico no Amapá: "Incoerência Humana - Naufrágio do Novo Amapá", de Francisco Hermes Colares (2002). A abordagem é impactante e emotiva sobre o naufrágio no rio Cajari em 1981 (considerado o maior da Amazônia). É um livro raro e talvez disponibilize no blog.

Eita, suprimo! Para os amantes de cordel, em Macapá, taí uma obra paidégua da literatura nortista. E está disponível para leituras na Biblioteca Pública Elcy Lacerda (Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia).

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Rio Acima, Mar Abaixo (Rogério Andrade Barbosa)

Olha, mano! Mais uma obra sobre o Amapá! Um livrinho para a garotada, inspirado em uma viagem pelas bandas de cá. O escritor Rogério Andrade Barbosa entrou em contato com o folclore e lendas locais e, a partir dessas pesquisas e conversas informais, fez uma abordagem mítica sobre o Marabaixo e Pororoca, elementos representativos da cultura e do cenário amapaense. 
A obra é direcionada ao público infantojuvenil, foi ilustrada por Nelson Cruz e mostra o velho Julião contando histórias sobre o quilombo e sobre a Amazônia para uma garotada alvoroçada por descobertas e aventuras.


Informações do livro: 
Título: Rio acima, Mar abaixo
Autor: Rogério Andrade Barbosa
Ilustrador: Nelson Cruz
Editora: Melhoramentos
ISBN: 978-85-06-05994-4
Ano: 2005
Páginas: 24
Tema: Amapá / Literatura Infantojuvenil / Folclore


Registro no SKOOB

Interessante quando escritores de outros cantos tem um olhar voltado para o Amapá. Algumas vezes dão uma bola fora grande por acompanharem o estereótipo estabelecido na visão alienada, cotidiano na cultura geral, mas encontramos também obras bacanas.
"Rio acima, Mar abaixo" está legal. A abordagem é infantojuvenil e traz uma apresentação singela da cultura do Marabaixo em seu mais conhecido reduto no Amapá: a Comunidade Quilombola do Curiaú. Faço a ressalva de que a visão é romanceada, remetendo a outros tempos, superados hoje pela modernidade.
Gostei porque o autor teve uma percepção em elementos cotidianos e históricos dessa cultura, falando de coisas como a associação com a Páscoa e Divino Espírito Santo, a murta, os tambores característicos, os versos de improviso chamados de "ladrões", a gengibirra, uma lenda associada à pororoca e até no nome do contador de histórias - pois Julião (Ramos) foi uma das mais importantes personalidades na divulgação e organização do Marabaixo no início do século XX. A personagem do livro é uma homenagem ao verdadeiro Julião.
A narrativa é simples e mostra o velho Julião contand
o  histórias como a lenda da pororoca e, nesse andar, vemos também a cultura do Marabaixo.
Essa obra deveria ser mais conhecida pela garotada nas escolas de minha terra. Parabéns ao autor pela valorização e divulgação das coisas de cá!


Sugestão para consultas: 
O Pioneiro e Grande Líder: Julião Tomaz Ramos
 
A visão é idílica (Ilustração de Nelson Cruz)
Página sobre o autor
Em Macapá, está disponível para consultas 
na Biblioteca Pública Elcy Lacerda 
(Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia)