As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

BAIRROS DE MACAPÁ - O Muca

O Bairro do Muca foi tema do programa "Fala Comunidade" da TV-AP em 22/09/2011. O programa exibido tem duração de 5 minutos, com imagens de Rômulo Cantanhed e reportagem de Simone Guimarães. Com a proposta de disponibilização de material para pesquisas, descrevo aqui o conteúdo exibido. O vídeo pode ser visto no acervo da Biblioteca Ambiental da SEMA em Macapá.
Mapa: SEMA-AP 2004
Veja umas referências interessantes sobre a urbanização e áreas de ressaca, processo presente nas origens e crescimento do Bairro do Muca. 
Segundo Ivone Portilho (2010), no artigo "Áreas de Ressaca e Dinâmica Urbana em Macapá/AP", o Muca teve sua formação a partir de 1985 quando houve expansão do bairro Buritizal originando os bairros Congós e Muca, todo contornado pela ressaca do Beirol (é o que se vê no mapa acima, na área em coloração esverdeada). 
Josiane Aguiar e Lucila Silva (2003), no "Diagnóstico das Ressacas no Estado do Amapá", nos informam que a ressaca do Beirol está conectada a rede hidrográfica do Igarapé Fortaleza e localizada próximo à ressaca Chico Dias, entre os bairros do Congós, Marco Zero, Buritizal e Muca.  
Parte de um mapa sobre ressacas elaborados pelo geoprocessamento da SEMA-AP (2007)
Sara Neri (2004), em seu estudo sobre a Hepatite A nas áreas de ressaca de Macapá e Santana (disponível para consultas na Biblioteca SEMA-AP/Macapá), relata que a ressaca do Beirol passou a ser conhecida hoje como ressaca do Congós. Essa ressaca encontra-se muito antropizada e grande parte está atualmente aterrada. 
Rua do Copala (Foto de Uliclelson Luis)
Uliclelson Luis (2011) relata em faveladaamazonia.blogspot.com que a ressaca fazia parte da fazenda do Muca, havendo negociação com o governo da época para a liberação. Em menos de um mês houve toda a ocupação da área doada. A antiga Ponte do Copala foi um dos primeiros pontos a serem ocupados, em 1988, quando seu Olívio de Almeida Nunes e família migraram de um garimpo em Monte Dourado (PA), devido a um surto de malária, e aí se estabeleceram. É uma realidade frequente para muitos migrantes que, em busca de melhores oportunidades, acabam ocupando as ressacas, onde é comum a falta de infraestrutura. No decorrer do tempo o local, pelas próprias dificuldades de acesso da polícia, foi se caracterizando pelo alto nível de criminalidade e apenas no ano de 2005, depois de mobilizações dos moradores e associação de bairro, que o governo em meio de várias reuniões autorizou a abertura da atual rua do Copala. Foi mais um processo de urbanização de áreas de ressacas no Amapá.
Macapá se assentou em região de ressacas, como se vê neste mapa da SEMA (2007). Parte dos problemas urbanísticos do Muca reflete as consequências do processo de urbanização e destruição destas áreas.
Alberto Tostes (2012), no artigo "Cidade Alagada" mostra que o processo gradual de ocupação e aterramento das ressacas tem gerado anomalias graves na estrutura urbana da cidade. A cidade perdeu lagos, igarapés, corrégos e sofre hoje com alagamentos e consequências no entrave  do escoamento das águas das chuvas. Tostes ressalta que parte disso deve-se à omissão e irresponsabilidade do poder público por não cumprir com os mecanismos de controle do espaço urbano e contribuir para este cenário com a legitimação de irregularidades que incentivaram invasões puramente especulativas. Vemos hoje a ação governamental resumindo-se à limpeza dos canais esporadicamente, quando é necessário políticas públicas habitacionais, investimentos em sistema de drenagem e a reconstituição de bacias naturais que foram completamente aterradas. Situações para médio e longo prazo que, de certa forma, fazem um caminho inverso da ocupação das ressacas nos últimos 30 anos.
Pontos apresentados no vídeo:

Av. Timbiras, para muitos é a divisória entre os bairros Buritizal e Muca (os limites não estão bem definidos). Oficialmente são reconhecidos 28 bairros em Macapá (IBGE) mas na prática temos mais de 50. O Muca é um destes bairros extra-oficiais. Sobre essa questão veja uma reportagem interessante do  jornal "Tribuna Amapaense" de 18/02/2013, mostrando as consequências dessa situação para os bairros não reconhecidos.
- "O Bairro do Muca tem fama de violento por causa do tráfico de drogas nas áreas de pontes. Segundo a Associação de Moradores, mais de 50 pessoas já foram mortas nos últimos anos por causa da disputa pelos pontos de venda. O Muca, que é tema do Fala Comunidade desta semana, também tem outros problemas e um deles é um grande dilema ambiental e social: como fazer investimentos de infraestrutura se a maior parte da população vive na área de ressaca, que é protegida por lei." (Seles Nafes, jornalista, na abertura do programa)
- Como o IBGE só realiza a contagem populacional reconhecidos por lei municipal (a última de reconhecimento de bairro foi em 1994), o Muca não tem uma estatística oficial de habitantes, o certo é que muitas famílias vivem em áreas alagadas.
Imagens do vídeo
- São mais de 40 áreas de ponte e a mais famosa virou rua: a do Copala. Foi aterrada e asfaltada também com a intenção de melhorar o combate ao tráfico de entorpecentes pela polícia. O local é conhecido como o maior ponto do comércio de drogas da capital.
Imagens do vídeo
Imagem do vídeo / Posto PM
- Segundo a Associação de Moradores 54 pessoas já foram assassinadas por causa da disputa pelos pontos de drogas. A associação consideração a situação mais sobre controle, mas sobre esse assunto ninguém daqui quer falar, só tem coragem de reclamar quem mora distante da ponte. Há queixa que o posto policial que servia de base para o serviço de radiopatrulha foi desativado há mais de 2 anos. "...Gostaria que o Comandante Geral da PM reavesse isso aí para dar maior segurança para nós. Se até com posto policial a gente já não tem segurança, ainda mais sem posto policial." (Relato de E. Almeida - morador)
Unidade Básica de Saúde (USB) Raimundo Hozanan de Souza. Funciona cotidianamente e existem muitas reivindicações para a melhoria da qualidade do serviço de saúde.
- O bairro tem uma unidade de saúde, a população classifica o atendimento como insatisfatório e não faltam reclamações por causa da situação das ruas, muitas ainda não foram asfaltadas. 
- Outra queixa é a falta de acesso ao lazer, não há praça no muca. Nesta área já cercada deve ser construída uma área de esporte. Há 180 crianças e adolescentes  que participam de uma escolinha de futebol que treinam quase todos os dias, apesar do solo cheio de piçarra. Quem não tem tênis joga descalço (Informação de 2011).
Imagens do vídeo
- "A carência dessas crianças que não tem uma área de lazer é muito grande e com toda dificuldade a gente leva esse trabalho em frente efrentando as intempéries, a pedra, os garotos não têm calçados, não temos apoio dos governantes e precisamos com uma certa urgência que seja olhado aqui pra nós no Muca." (Orivaldo Sousa - Coordenador da escolhinha/2011)
- "Machuca os pés porque muitos garotos tem sapatos e a gente não tem... fica complicado, é bom o governo arranjar uma arena aí prá gente jogar." (Josias da Silva - 11 anos/2011)
As informações descritas anteriormente são de 2011. Sobre a carência de uma área de lazer, em 28/09/2012 foi inaugurada a praça no bairro do Muca, pelo Governo Estadual. Acompanhe mais sobre isso em eltonvaletavares.blogspot.com
Os investimentos foram acima de 3 milhões e o nome da praça é uma homenagem à Francisco Jorge Pantoja Cardoso (conhecido como Cururu), falecido em 2003 vítima de assassinato durante um assalto. O espaço foi inaugurado com:
Arena de futebol com campo em areia, cabine de locução e arquibancada em concreto...
Ih caramba! tem alguma coisa aí que não está nos conformes...
Duvido que não tenhas reparado...
Quadra poliesportiva...
Área para lazer infantil. Epa! Já se notam algumas alterações...
Espaço para atividade física com 12 equipamentos instalados...
Quiosques e espaço para caminhadas. 
A praça originalmente é bonita, mas nem tudo são flores... 
Sem um policiamento presente e com a ação de vândalos,
pouco tempo depois vemos uma triste situação de depredação.
É o que o link do Jornal do Dia de 21/10/2012 mostrou na praça recém-inaugurada 
(um mês depois)...
...e as imagens que fiz no dia 27/04/2013. Vemos muita sujeira e peças quebradas!
 
Ô meu povo! Temos muitas revindicações junto aos governantes sobre o bairro,
mas àquilo que foi conquistado não se pode atribuir tamanho descuido.
É um evitável reflexo da falta de policiamento e descaso público.
A inauguração da praça, em 28/09/2012, contou a presença de orgãos governamentais, como a SEMA. Técnicos do Núcleo de Educação Ambiental e Biblioteca SEMA fizeram um trabalho de sensibilização com a distribuição de material educativo. Na imagem vemos a Srª Nelziana (da Biblioteca SEMA) participando da ação.
Foto: Jornal do Dia/2011
- Os moradores elegeram a falta de manutenção das pontes como o principal problema do bairro. O assunto é polêmico, representantes do Poder Público dizem que não podem trazer melhorias para essas áreas alagadas por força da lei. A lei também proíbe que outros serviços públicos, como energia e água tratada, cheguem nas áreas de ponte, mas quem mora nestas áreas há tanto tempo não entende o rigor da legislação.
Não somente as passarelas nas baixadas, como também as principais vias do bairro precisam de reparos (ruas Professor Tostes, Hildemar Maia e Santos Dumont). Af! a buraqueira é algo que está se tornando paisagem perene na cidade.
OBSERVAÇÕES: 
As leis sobre a proteção das áreas de ressacas são:
- Lei Estadual Nº 455/1999 - Sobre a delimitação e tombamento das áreas de ressaca;
- Lei Estadual Nº 835/2004 - Sobre a ocupação urbana e periurbana, reordenamento territorial, uso econômico e gestão ambiental das áreas de ressaca.
- "Nem o gari passa mais, pegando o lixo, porque não tem condições, tá tudo quebrado e assim como vocês estão vendo. A gente precisa porque temos crianças que estudam e no inverno vão andar na lama." (Benedita Freitas - Moradora)
- "Como você pode ver a nossa ponte tá podre, nossa ponte não presta e muitas crianças são vítimas nessa ponte, como idoso também, e a gente está pedindo ao governador e prefeito que venham e vejam como é feia nossa situação." (Elizabete Balieiro - Moradora)
Imagens do vídeo
- "Tem aquela lei que diz que não pode construir nada numa área úmida ou área de ressaca, mas a construção começou desde 1985 com as passarelas, hoje queremos reformar, então a gente faz um apelo ao governador e secretário de infra-estrutura que o povo que mora nas áreas alagadas precisa que as passarelas sejam reformadas... não é construir mais, é reformar. Quem está sofrendo é o povo, crianças e idosos que moram na área de ressaca." (D. Kenedy - Assoc. de Moradores do Muca).
O relato do morador acima é de 2011. Há coisas que não tem se alterado e permanecem como realidade sofrida e cotidiana em Macapá, como esses exemplos no bairro do Muca. Acompanhe nos links citados mais relatos de moradores da mesma região nos anos seguintes (2012 e 2013) para a TV-AP.
Mais imagens do bairro:
Igreja Nossa Senhora das Dores (em frente à praça), apresenta uma edificação muito simples e está em ampliação, prevista para terminar em dezembro/2013.
 O Centro Pastoral, ao lado da igreja, também está em reforma. 
 
Encontrei várias denominações evangélicas no Muca.
Essa eu conheço, pois congreguei aqui (1990 à 1993) quando o Muca era um bairro muito recente e víamos poucas edicações no entorno da igreja. Que importam minhas lembranças... mas gosto de ir revivendo algumas coisas nas minhas postagens. Participei da construção deste templo desde a roçagem do terreno. Boas lembranças de meus amigos e irmãos daquele tempo...
Divagando... Olha! Esse não é um blog jornalístico... como disse, gosto de reviver lembranças, quando existem, dos locais que vou visitando. Esse velho desenho fiz em 1996, é a mesma igreja da foto anterior. Nessa época estava em uma congregação no Mucajá (hoje extinta). O desenho me fez lembrar um de meus sonhos na época, pois fui eu quem deu idéia de se colocar uns vitrais na parte anterior e superior da igreja, como se vê abaixo da luminária. A idéia não vingou e meus sonhados vitrais nunca foram colocados, mesmo com o lugar já preparado. Fechou-se tudo com o insosso concreto depois. 
Era muito jovem... e sempre sonhador. Moro distante desse bairro mas congreguei aí... lembro-me de uma irmã idosa que morava também distante (perto de minha casa) e ia sozinha, a pé, atravessando pela frente de várias igrejas próximas até chegar nesta. Ardia nela um amor por Cristo, pelos irmãos, por esta congregação, e assim foi até quando suas forças se esgotaram. Um dia a encontrarei de novo, saudosa irmã Maria do Carmo! Minha inspiração de amor cristão genuíno, que torna realidade cotidiana coisas vividas por outros há muito tempo... como um salmo de Davi, milenar e vivo em muitos corações: "Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor." (Salmo 122:1).   

O perímetro  da igreja (atrás da Escola Lauro Chaves) pode ser considerado uma verdadeira Torre de Babel. Além de duas igrejas evangélicas e a proximidade da igreja católica, encontramos também um terreiro de candomblé (ao lado da igreja) e este centro da Ordem RosaCruz. Cada um crê na sua verdade e segue seu livre-arbítrio, mas não se perca o respeito ao próximo. Aquilo que é verdadeiro um dia prevalecerá, haja o que houver. 

Registrando as escolas do Muca: 
Crianças estudantes no Muca
"O importante da educação não é o conhecimento dos fatos, 
mas dos valores."
(Dean William R. Inge)
Escola Estadual Profº. Lauro de Carvalho Chaves
Localizada em frente a praça do Muca, é a maior do bairro, atendendo alunos do ensino fundamental, médio e EJA.

Lauro Chaves, patrono da escola, nasceu em Belém (PA), em 21/11/1914, onde trabalhou como Oficial de Administração e como Escriturário. Em 1949 veio para o Amapá e ingressou no Serviço Público da União, como servidor do ex-Território Federal do Amapá, onde sua vida foi dedicada no magistério. Iniciou sua jornada no então Ginásio Amapaense como professor de francês, trabalhou no Colégio Amapaense, Escola Integrada de Macapá, Escola Técnica de Comércio do Amapá (antigo CCA), Ginásio Feminino (atual Escola Irmã Santina Rioli) e dirigiu também a Biblioteca Pública de Macapá. Conquistou a amizade de seus alunos, a admiração de seus colegas e o respeito pelos seus 23 anos devotados ao magistério no Amapá. Ao completar 37 anos de serviços foi-lhe concedida a aposentadoria e retornou à Belém, onde faleceu em 28/02/1990. Por seu modelo de vida, que tinha como base a formação dos jovens para o consciente exercício da cidadania, sua memória foi homenageada dando nome a "Escola Estadual Profº. Lauro de Carvalho Chaves". (Informação colhida na escola)

Escola Municipal de Ensino Fundamental Paraíso das Acácias
Localizada na Rua Santos Dumont, atrás da Igreja N. Srª das Dores.
Escola Estadual Cecília Pinto
Está localizada na Rua Profº Tostes e ilustra essa questão de indefinição dos limites do Muca por conta de não ter sido ainda oficializado como bairro. Há referências que a citam no Buritizal e a maioria do povo a reconhece na parte do Muca. Muitos moradores delimitam o Muca a partir da Av. Timbiras (duas quadras antes desta escola). Atende o ensino do 1º grau.

Professora Cecília Pinto, homenageada da escola.

"O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher."
(Cora Coralina)

Meus amigos! Esse é o Bairro do Muca e algumas de suas características. Muito tem ainda para se tratar e fazer no local, principalmente em relação aos moradores das áreas de ressaca (que convivem há muito tempo com a violência, tráfico de drogas, passarelas em péssimas condições e ausência das melhorias possíveis na ifraestrutura, devido o impasse com a legislação ambiental). 
Av. Timbiras, pós Rua Santos Dumont
Há cerca de 20 anos tudo isso era uma ressaca.
Travessa ao lado da Escola Paraíso das Acácias.
As informações descritas foram baseadas no Fala Comunidade da TV-AP apresentado sobre o Muca em 2011, nas impressões pessoais e relatos colhidos na net.