As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

quinta-feira, 17 de março de 2016

Marajó (Dalcídio Jurandir)

Olha, meus amigos! Um romance renomado na Literatura do Norte! Alguns autores o tem na conta dos mais significativos e importantes. Acompanhe aí... 

"Considerado um dos maiores romances da Literatura Nortista, Marajó mostra o drama do caboclo marajoara explorado e marginalizado, envolto em superstições e crendices, em uma Amazônia grandiosa com sua violência telúrica." (Fausto Cunha)

"Marajó é um belo romance, pois ninguém melhor do que Dalcídio Jurandir nos comunica a sensação de deserto, do lobo, do calor deliqüescente daquela imensa solidão de nuvens baixas e verdes malhadas que é Marajó. O estilo empolga, com as suas asperezas, seus regionalismos, suas soluções poéticas de um primitivismo expressivo, sua ausência de malícia.” (Sérgio Milliet) 

"Marajó é um volume feito com a verdade cotidiana, com a paisagem exata, com as fisionomias possíveis da existência. E o seu melhor elogio para um etnógrafo.” (Luís da Câmara Cascudo)

Título: Marajó
Autor: Dalcídio Jurandir
Editora: Cátedra
Ano: 1978 (a primeira edição é de 1947)
Páginas: 360
Tema: Romance / Amazônia

Ah! Por essas e outras também quis conhecer 
e, em um parecer simplista, fiquei com as seguintes impressões:

"Marajó" mostra a grandiosidade do lugar em suas peculiaridades. A natureza tem uma beleza descrita de maneira poética, onde os dramas do homem são histórias comuns e reconhecíveis Amazônia adentro. Muito disso se deve à identidade do autor, marajoara, que tem visão jornalística associada a lembranças em suas inspirações.
A descrição é o ponto forte do livro em minha visão, destacando o cotidiano em suas características naturais e influenciáveis, seja de forma positiva ou dramática. A Amazônia marajoara é apresentada de maneira tão grandiosa que se constitui no principal elemento na obra, mais importante que qualquer personagem identificável. Diga-se de passagem que o romance é diferenciado no sentido de não ter protagonistas destacados ou focados o tempo todo pelo autor ao longo da narrativa. Tive uma certa dificuldade de identifica-los e notar suas inter-relações no início. Vou fazer uma comparação que pode soar como bobagem (meio ridícula, mas importante em minha percepção). Se você já navegou pelo Google Earth sobre uma região, em um plano geral aberto, não vai ver muito além da grandeza do lugar. Mas ao se aproximar estrategicamente, vão se revelar um mundão de comunidades, que tem suas histórias próprias. Assim foi o romance para mim, com o homem engolido por aquela região e com coisas importantes para revelar quando o autor o traz mais intimamente ao leitor. Histórias na grande Marajó, como ecos da floresta em realidades a se descobrir...
Ressalto que a obra foi publicada em 1947 e faz parte de um ciclo no Norte como uma das primeiras a expor o cenário amazônico fidedignamente, com a credibilidade e empatia de um genuíno filho dessa terra.
Encerrando essa parte de descrição, diz aí se não tenho razão ao encontrar textos como: 
"O rio, uma cobra de prata, se desenrolava na sombra e ia urrar na baía. A curicaca deslizava no vigor da cobra de prata, a maré enchendo trazia o bafo áspero de mato podre e de bichos. O estirão foi se distanciando, com ele o medo daquelas trovoadas que arremessavam árvores contra os homens..." (trecho dos primeiros parágrafos no capítulo 41)
Já no aspecto referente aos dramas humanos, as personagens são dispersas na narrativa, sendo apresentadas em um momento e deixadas de lado em outros. Mas todas representativas da realidade naquele contexto. Não há destaques comparativamente ao andamento comum dos romances, mas dá para notar singularidades e significância social em muitas, como: 
Coronel Coutinho (um típico fazendeiro mandachuva na região, que trata tudo, terra e povo, como sua possessão); 
Missunga (o filho do coronel, um jovem idealista em algumas concepções, porém, dominado pela indolência e desejos carnais); 
Alaíde, Orminda e Guíta (apaixonantes e sofridas caboclas cobiçadas e marcadas por dramas pessoais, pelo que despertam e pelas injustiças sofridas); 
Nhá Leonardina e Mestre Jesuíno (típicos representantes da cultura apegada a tradições da terra, sendo respeitados ou odiados pela pajelança);
Ramiro (vaqueiro e poeta que versa sobre as injustiças). 
Esses são alguns, engolidos por Marajó.
A história em si foi se revelando confusa na minha experimentação, sem aquele andar de empatia costumeiro dos romances. Fundamentalmente se vê um cotidiano sem devaneios, árduo em sua realidade. 
Em um primeiro momento não gostei da obra, que, por sua peculiaridade e veracidade, é celebrada por muitos como o mais importante romance do Norte (por todas as coisas somadas em seu contexto e pioneirismo). 
Muita coisa fica em evidência, como: a riqueza e poder diante da exploração; o apego a tradições, e a realidade nua e crua de uma terra desconhecida e, até então, vista de forma idílica. 
O autor não apenas traz a realidade cotidiana, como menciona fatos da história que valorizam isso, como a referência ao coronel José Julio. O mesmo foi contemporâneo da época do romance, com fama de maior latifundiário do mundo no norte do Pará (arquétipo de coronéis Coutinho).
No final da edição que li (Editora Cátedra, 1978) tem um texto em anexo intitulado "Chão de Dalcídio" (de Vicente Sales), que resenha sobre a obra e importância literária do autor. Recomendo, principalmente, a Parte 3 desse texto, que encerra tudo o que realmente gostaria de saber escrever na percepção do livro.
Li e entendi nesses termos. Quem quiser que conte outra...

 Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia 

Macapá - Bairro Central