Mazagão Velho situa-se a 36 km da sede do município (Mazagão Novo), às margens do Rio Mutuacá.
Igreja em Mazagão, construída em 1935. (Foto do livro Mazagão", do IEPA). Em frente a ela passa a rua Senador Flexa, onde são encenadas as batalhas. Da igreja da época dos portugueses só restaram ruínas. Veja outras fotos da cidade nestes links:
- josealbertostes.blogspot.com- Flickriver |
É nessa pequena vila histórica que desde 1777 tem sido realizada a Festa de São Tiago. (Foto do Jornal "Folha de Mazagão", de 28/02/2011). A via principal que entra e corta a cidade é a Travessa N. Sra. da Assunção.
Vista aérea sobre o rio Mutuacá em Mazagão Velho. Foto do daltomartins.blogspot.com
Em 2011 completaram 234 anos de festejos no município.
Na foto o pórtico inicial da cidade.
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Tradição trazida da África em que os moradores da região, através de teatro a céu aberto, recontam a luta travada entre mouros e cristãos na costa africana.
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Segundo a lenda, o guerreiro Tiago teria aparecido como soldado anônimo e lutado ao lado dos soldados cristãos (portugueses), ajudando na vitória final.
Eram cerca de 20 mil soldados portugueses (os cristãos) contra 150 mil soldados mouros (mulçumanos). Essa informação foi obtida na festa, durante as narrações. Pelo menos era o que os locutores enfatizavam na descrição dos fatos.
Cartaz de 2011
São Tiago (Mata-Mouros), o celebrado na festa.
Na guerra entre mouros e cristãos, dizer que a luta - por qualquer dos dois lados - era em nome de Deus, foi uma estratégia ideológica de incentivo às batalhas pelas lideranças de ambas as partes. O real significado era obter a posse da terra, com todas as vantagens e patrimônios que pudessem oferecer. Nossa nação é testemunha do saque efetuado pelos portugueses séculos seguidos e da própria incoerência do que chamavam de catequização: primeiro enviaram os jesuítas para a propagação da ideologia cativa da autoridade religiosa e coroa; posteriormente, quando o trabalho dos mesmos não correspondia mais a seus interesses, trataram de expulsá-los sumariamente. Essa ideologia de estimular uma guerra sangrenta em nome de Deus, foi algo evocado na época das cruzadas, onde figuras cristãs como Tiago (segundo o que pesquisei esse Tiago seria um dos 12 discípulos de Jesus, mas precisamente o irmão de João e assim um dos 3 mais próximos de Jesus, alguém que ouviu e viu o real significado do cristianismo ao lado de Jesus) foi transformado pela ideologia humana em um guerreiro mata-mouro e repassado a idéia pelos líderes a seus comandados (existem divergências católicas quanto a origem deste santo). Ele teria aparecido como soldado anônimo em um cavalo branco e lutado e matado muitos no campo de batalha. Um incentivo às tropas enfraquecidas para a furiosa batalha e massacre, entre homens que não se conheciam, mas o faziam em nome daqueles que se conheciam, mas não se massacravam (não lembro o nome do autor desta frase tão verdadeira e muito adequada aqui).
Os que professam o nome de Deus devem ter como expressão maior disso o amor ao próximo. Qualquer um que assim não o faça, não exprime o pensamento divino e sim uma ideologia de interesses a que está influenciado e cativo. Deus é amor! Deu exemplo na cruz disso e chama os povos para a comunhão. Infelizmente, assim como idos passados, a manipulação dos homens gera o que pode haver de pior na humanidade, o egoísmo, amor a seus interesses. Isso é o que gerou guerras como esta que estou mencionando e os mesmos motivos tem gerado as atuais. Observe que a religião muitas vezes é só um plano de fundo e máscara de interesses.
Tudo o que falei da guerra são conjecturas, o que há de real é que a batalha, como é representada na festa, nunca existiu e nem as personagens glorificadas conforme o relato. É só uma tradição.
Para refletir.
Os que professam o nome de Deus devem ter como expressão maior disso o amor ao próximo. Qualquer um que assim não o faça, não exprime o pensamento divino e sim uma ideologia de interesses a que está influenciado e cativo. Deus é amor! Deu exemplo na cruz disso e chama os povos para a comunhão. Infelizmente, assim como idos passados, a manipulação dos homens gera o que pode haver de pior na humanidade, o egoísmo, amor a seus interesses. Isso é o que gerou guerras como esta que estou mencionando e os mesmos motivos tem gerado as atuais. Observe que a religião muitas vezes é só um plano de fundo e máscara de interesses.
Tudo o que falei da guerra são conjecturas, o que há de real é que a batalha, como é representada na festa, nunca existiu e nem as personagens glorificadas conforme o relato. É só uma tradição.
Para refletir.
Este São Tiago guerreiro, muito diferente do Tiago amoroso e evangelista (discípulo de Jesus) é também chamado de Mata-Mouros. Frequentemente é mostrado em um cavalo branco, com a espada em punho e a espezinhar os mouros sob as patas de seu cavalo. Uma propaganda sub-liminar de incentivo à guerra e, ao mesmo tempo, ter uma idéia pré-formada sobre os mouros. Esse é o Tiago que interessava aos líderes e senhores da guerra. Esse tipo de propaganda é algo comum ainda hoje. Lembra, por exemplo, da época da ditadura militar... Quantas idéias eram fomentadas, cridas e disseminadas, sem que se tivessem um conhecimento mais apurado.
Esta é uma imagem de Tiago sendo mostrado em sua postura de herói e vencedor. Será que sob estes ornamentos estão também representados os mouros subjugados e sendo mortos sob as patas do cavalo? A representação mundial e secular do santo assim o faz, ou fazia, e, desta forma, se assim for, creio mostrar um quadro de glorificação de ideais humanos... entronizado dentro da igreja. De qualquer forma, se não está presente fisicamente na imagem, simbolicamente está, pois não é para abençoar que a espada originalmente está sendo empunhada. (A foto é do blogdodinizsena.blogspot.com). Essas são minhas opiniões. Apenas tento entender. VOCÊ COM SUAS CONCEPÇÕES, PROCURE ENTENDÊ-LAS COMO AQUI TAMBÉM TENTO FAZER COM AS MINHAS. POSSO ESTAR ERRADO, MAS TENTO ENTENDER.
Hoje (10/08) fui em algumas lojas de imagens em Macapá, queria ver como é disponibilizada a imagem, mas não as encontrei e segundo me falaram nunca receberam nesta forma de cavaleiro. Afinal não deixa de ser hoje algo politicamente incorreto. Na igreja, local onde se deve propagar o amor de Deus, não estaria sendo venerada a imagem de um assassin? Mata-mouros é o nome que tem a séculos, desde antes do descobrimento do Brasil. Há 3 formas como é representado em imagens: como apóstolo (com um livro aberto na mão e cajado), como peregrino (forma mais comum, também com um cajado, livro e chapéu) e o Mata-mouros (não encontrada pelo impacto da imagem e as cabeças decepadas e mouros mortos tem sido substituídos por flores). Em verdade, no que apurei, existe o misticismo popular e o oficial na igreja, que nem sempre andam juntos, no contexto de tradições populares. Veja aqui uma postagem muito interessante sobre esse assunto "Os nomes de São Tiago" de Clinete Lacativa.
Este é Alexandre o Grande, o mais célebre conquistador da história antiga. Sua figura representa um ideal de líder militar aclamado entre os exércitos de todo o mundo. Sua figura de guerreiro vencedor transmite um ideal a seus seguidores. Alguma semelhança?
Encontramos no livro de Apocalipse a referência a um cavaleiro montado em um cavalo branco como um vencedor:
Alguma semelhança? Você conhece uma história de um cavaleiro desconhecido, montado em um cavalo branco a guiar à batalha um exército e a devastar o inimigo numa empreitada acreditada como interesses divinos?
ESSAS SÃO MINHAS PERCEPÇÕES, TODOS TEM DIREITO DE ACREDITAR NO QUE QUIZER, NÃO SOU DONO DA VERDADE. MEU OBJETIVO É APENAS TENTAR ENTENDER E PARA ISSO BUSCO TUDO QUE, NO MEU ENTENDIMENTO, POSSA ME LEVAR A ISSO. O QUE VOCÊ ACREDITA É DE SUA ESCOLHA, ASSIM COMO TENHO TAMBÉM AS MINHAS. |
Material promocional coletado na festa (2011)
Este é um folder mais antigo (2004)
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Foto de Ronne Dias
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No dia 24 há a "Entrega dos Presentes" e o "Baile de Máscaras", relembrando a vitória dos cristãos sobre a cilada dos mouros. Estes haviam proposto uma trégua e oferecido presentes em forma de iguarias aos capitães cristãos. A comida estava envenenada e os cristãos confirmaram a suspeita ao jogar uma parte aos animais do inimigo. Outra parte guardaram para uma contra-ofensiva. Nesse baile somente os homens participam mascarados.
Foto do amapadigital.net
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Os mouros organizaram um baile e convidaram os soldados cristãos a participar e mudar de lado. Os que aceitassem deveriam ir de máscaras, para não serem reconhecidos por seus superiores. Os cristãos compareceram mascarados, levando o que havia sobrado da comida envenenada.
O filho do Rei Caldeira, denominado Caldeirinha, assumiu o trono como rei mouro. Esta é a razão de encontrar-mos a figura de um menino na procissão da manhã do dia 25.
O baile aconteceu por volta das 21:30h.
Veja aqui um trabalho acadêmico específico sobre o Baile de Máscaras:
O dia 25 e o ápice da festa, ocorrendo:
Este folder é da programação em 2011 (encontrei no blog de fabricioflexa.blogspot.com)
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Os cristãos (portugueses) estão de branco e os mouros (mulçumanos) de vermelho.
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No trajeto, muitos devotos dos santos e tradições.
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O "Bobo Velho" representa um espião mouro que entrou no acampamento dos cristãos ao meio-dia, quando imaginava estar os cristãos desatentos. Os cristãos perceberam que o Bobo Velho era mais uma trama dos mouros e deixaram-no se aproximar. Quando ele chegou perto, apedrejaram-no jogando qualquer objeto que encontravam a seu alcance, que desesperado corria assustado.
(Foto do Jornal "Folha de Mazagão", de 30/01/2011).
A tarde (a partir das 15h) começam as cavalhadas, a encenação das batalhas. As apresentações ocorreram em 06 atos e a população se concentra principalmente na frente da igreja. O cavaleiros (mouros e cristãos) se posicionam no extremo da rua Senador Flexa e partem a galope algumas vezes.As cenas (atos) são:
1- A descoberta do Atalaia
2- Morte do Atalaia
3- A armadilha (emboscada feita pelos cristãos)
4- A captura e vendas dos meninos cristãos e a partilha do dinheiro entre os mouros
5- Troca do corpo do Atalaia pela bandeira moura
6- Batalha entre Mouros e Cristãos, tomada do estandarte dos Mouros e batalha final
Na Cena 3 os cristãos decidem se vingar e armam uma emboscada que dizima uma patrulha moura. Isso enraqueceu muito estas tropas, obrigando-os a planejar alguma estratégia de reabilitação.
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Na Cena 4 ocorre o rapto das crianças cristãs e a distribuição do lucro entre os mouros.
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Referências Consultadas:
- santiagonobrasil.blogspot.com
- mazagaoemdestaque.blogspot.com
- www4.ap.gov.br
- Mazagão, realidades que devem ser conhecidas (Livro IEPA)
- helidapennafort.blogspot.com
- diocesedemacapa.com.br
- Marrocos no Brasil: Festa de São Tiago (Artigo)
- Registro Arqueológico, História Objetiva e Memória Coletiva (Milena Souza)
- Mazagão, cidade em dois continentes (Paulo de Assunção)
- Mazagão: De Marrocos para a Amazônia (José M. A. e Silva)
- Mazagão: Retrato de uma cidade luso-marroquina deportada para o Brasil (José M. A. e Silva)
- Vila Nova de Mazagão (Katy Motinha)
- Passado português, presente negro e indizibilidade ameríndia: o caso de Mazagão Velho (Veronique Boyer)
- http://www.brasilarqueologico.com.br/pesquisa.php
Sugestão de Leitura:
“Mazagão, a cidade que atravessou o Atlântico”
(Martins Fonte, São Paulo - 2008)
Livro de Laurent Vidal
Trata de questões históricas da formação de Mazagão Velho.
“Mazagão, realidades que devem ser conhecidas”
É um diagnóstico sócio-econômico-ambiental do município de Mazagão.
Pode ser também encontrado nas biblioteca de Macapá.
“Mazagão Velho - Diásporas Negras, Performance e Oralidade no Baixo Amazonas”
(Juruá editora - 2011)
Livro de Geraldo Peçanha de Almeida
Mais um ótimo livro histórico sobre Mazagão.
OBSERVAÇÃO: