As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

terça-feira, 8 de maio de 2018

O Marabaixo através da História (Fernando Canto, 2017)

Divulgando mais obras do acervo de nossa Biblioteca SEMA-AP, em Macapá. Essa é do escritor Fernando Canto, com um breve estudo sobre o Marabaixo. No lançamento, em 2017, foi apresentada com o seguinte parecer:

Nos 259 anos de existência de Macapá, um dos mais conceituados escritores e sociólogos da Amazônia, Fernando Canto, presenteou a cidade e seus moradores com o lançamento de nova obra literária: O Marabaixo através da História. O livro, nascido de uma palestra feita no Marco Zero do Equador por ocasião de um evento turístico, propõe uma explanação didática sobre o Marabaixo no Amapá, seus rituais e sua importância enquanto elemento cultural característico do estado, mas, sobretudo, do município de Macapá. Trata-se também de uma colagem de textos escritos ao longo do tempo e publicados em jornais da capital e em livros de Fernando Canto. Vemos vários rituais que compõem essa manifestação e personagens que dão vida à tradição – tocadores de caixas (tambores), cantadores e dançadeiras – que, em sua maioria, são descendentes de negros que habitavam as localidades de Mazagão Velho, Maruanum, Curiaú e os bairros Laguinho e Santa Rita, antiga Favela.  
(RITA TORRINHA)

Título:  O Marabaixo através da História
Autor: Fernando Canto
Editora: PRINTGRAF
Ano: 2017
Páginas: 50

Sumário: 
- O Marabaixo no século XIX
- As perseguições
- A Festa do Divino Espírito Santo em Mazagão Velho / Conjecturas
- O Encontro dos Tambores
- Marabaixo em agonia: o surgimento da Marabaixeta
- Banzeiro do Brilho de Fogo / Origens
- As rupturas
- O "Ladrão de Marabaixo"
- A chegada do primeiro avião
- A caixa do Marabaixo
- Considerações finais 

Fragmento da tela "Marabaixo"
de Ivam Amanajás.
Fernando Canto é um dos principais pesquisadores e protagonistas na cultura amapaense, com várias obras nos segmentos da música, poesia, contos, crônicas e estudos de conotação histórica e sociológica. Essa obra enriquece a bibliografia sobre o Marabaixo, principal manifestação popular no Amapá, tema também de outras obras do autor. Foi lançada em 2017 e o que caracteriza sua identidade é a apresentação sucinta do tema, valorizando a origem, aspectos históricos, peculiaridades e perspectiva almejada pelo autor na preservação cultural. Certamente, ferramenta preciosa como fonte de pesquisas para a comunidade estudantil.  
Entre os destaques, o resgate de jornal amapaense do século XIX sobre o festejo (texto ácido e preconceituoso no olhar de outros tempos), breve relato dos conflitos entre a cultura popular e a religião instituída, e a investigação histórica da origem de algumas particularidades: o Ladrão de Marabaixo, a Festa do Divino Espírito Santo, o Encontro de Tambores na UNA e o uso das caixas de Marabaixo na percussão.  
De tudo, gostei principalmente do relato da chegada do primeiro avião no Amapá (em ilustração de fatos instigantes aos "ladrões de Marabaixo") e a investigação da origem do nome do festejo. É clássico, desde o livro de Nunes Pereira (O sahiré e o marabaixo, publicado na década de 1950) a associação com a vinda de povos afro, na travessia e andanças MAR ABAIXO, mas nunca tinha visto a associação do nome em outro sentido, relacionado à cultura malê, que Fernando Canto resgata do estudo do escritor Távora Buarque (leia o livro se quiser saber, pois esse spoiler não vou registrar).  
É uma obra dinâmica na apresentação dos fatos, de leitura fácil e rápida. 
O único aspecto que não curti foi a ausência de fotografias, algo que agregaria olhar mais detalhado na importante manifestação cultural.
(Registro no SKOOB, em 05/05/2018) 

Para a galera interessada, está disponível para consultas na 
Biblioteca Ambiental da SEMA, em Macapá.

domingo, 6 de maio de 2018

Revista ICOMI Notícias Nº 19 (1965)

Edição de Julho de 1965. Entre os destaques:
- A fábrica de gelo de Serra do Navio: produzia e distribuía gelo gratuitamente às comunidades nas adjacências da Vila de Serra do Navio e EFA. O texto a exalta pela importante e anônima contribuição para a economia regional. Ué? Nunca tinha ouvido falar dessa fábrica!
- Amapá, uma economia em mudança: sexta reportagem de uma série sobre o Território Federal do Amapá. Destaque para os planos, estudos e expectativas para a construção da Hidrelétrica do Paredão.

IMAGENS DA REVISTA:
 Orla de Macapá (1965)
 Alunos da Escola de Vila Amazonas em atividade relacionada ao Dia da Árvore.
Alunos da Escola de Vila Amazonas visitando a Fortaleza.
Cachoeira do Paredão com seus 9 metros de queda d'água, onde seria construída a barragem da Hidrelétrica.
Município de Mazagão, assunto para a próxima edição.

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Pedra Maldita (Anjo do Rap)

PEDRA MALDITA (ANJO DO RAP)

Substância maldita que mata, te deixa só o osso e a capa,
Maconha, Mela, Pó, Crack.
Feito zumbi você anda por várias bocadas,
Penhorando sapato, camisa, calça, isso depois que a grana acaba.
Tudo isso acontece na parte baixa da cidade,
Becos, passarelas mal-iluminadas.
As autoridades do AMAPÁ, na situação,
Mas fingem que não sabem de nada,
Tem agentes do Estado que recebem propina do dono da bocada,
Para o comércio ficar legalizado e os que não pagam quando o BOPE chega
Eles estouram a bocada, mais um traficante é morto
Ou mandado para o presídio do Estado.
Senhores vereadores, deputados, cadê os projetos criados
Para a construção de centros especializados
Na recuperação de dependentes de Crack?
Pedra maldita que vicia e mata, seja jovem, adulto ou grávida,
Ela não faz discriminação.
A curiosidade matou o gato, o gato perdeu a mão, não seja curioso, não seja vacilão,
Pra entrar é fácil, pra sair é complicado meu irmão!
Quando bate a fissura é difícil controlar,
Você virou escravo, agora faz tudo que o mestre mandar!
Pra sustentar o vício vende o corpo, rouba, muda e piora,
Chega até matar pra conseguir um baseado pra fumar!
Sua visão embaçada vai ficar,
"Enrola, acende, puxa, prende, passa",
Solta a fumaça até o dia clarear.
O diabo tá feliz, conseguiu te escravizar, ele veio pra destruir, roubar, matar, 
Mas nem tudo está perdido, basta acreditar
Jesus é a Luz e da escuridão vai te resgatar.
Não sou juiz, não tô aqui pra julgar,
Só tô dando um alerta, só depende de você querer ou não aceitar.
"O Senhor é meu Pastor, nada me faltará,
O espírito é forte, mas a carne é fraca".
Livra-me Senhor do caminho da pedra que vicia e mata,
Não quero ser encontrado jogado debaixo da ponte esfaqueado ou crivado de balas,
Só porque fiquei devendo em várias bocadas.
Ouçam meus irmãos, mostrei o problema e também a solução,
Arrependa-se, dê meia-volta e entregue-se a Jesus de pleno coração,
Pois, "conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará"
E um rio de bênçãos, sobre sua vida, nosso Criador Jeová vai derramar.

Conheço pouco do RAP no Amapá, mas tudo que já ouvi gostei bastante. Sei que tem uma galera com músicas sensacionais, quem nem essa, de um mano da região do Jari conhecido como Anjo do RAP. É impactante e visceral na realidade apresentada. Se você curtiu, descubra então muito mais do RAP amapaense NESTE LINK.

terça-feira, 1 de maio de 2018

Revista ICOMI Notícias Nº 18 (1965)

Edição de Junho de 1965.
- Surge IRDA para desenvolvimento: sobre o Instituto Regional de Desenvolvimento do Amapá, estabelecido em maio de 1965. Segundo o texto, se destinaria à pesquisas sobre problemas sociais e econômicos do Território Federal do Amapá, indicando soluções para o desenvolvimento.
- 23º aniversário da ICOMI no Amapá: festejos nas vilas.
- Município de Amapá, sua história e sua gente: quinta parte da série "Revelando o Amapá". É a principal reportagem dessa edição que, em seis páginas, recapitula a história regional e a realidade do contexto de época.
- Funcionários do mês: "Seu" Jonas / Claudethe Santana da Silva
- O craque do mês: Carlos Alberto Amaral da Silva (Carlitos).
Imagens da revista:
Na Escola Paroquial, mantida pela Associação das Senhoras de Vila Amazonas, apresentação de alunos nos festejos do Dia das Mães.
Edifico dos Correios e Telégrafos da cidade de Amapá, com sua arquitetura inusitada se destacando entre o casario modesto.
Nas celebrações do 23º aniversário da ICOMI no Amapá, o Manganês enfrentou o Clube do Remo em Serra do Navio.
Região do Araguari, onde seria construída a Hidrelétrica do Paredão.

segunda-feira, 30 de abril de 2018

Pretérito mais que perfeiro (HQ de Otoniel Oliveira e outros quadrinistas paraenses, 2015)

Encontrei essa HQ aleatoriamente em uma livraria, no que apresentou-se muito interessante e instigante, elaborada por uma talentosa turma do Pará.

O quadrinho Pretérito mais que perfeito, foi lançado em 2015 em comemoração aos 400 anos de Belém. A idealização é de Otoniel de Oliveira e conta com diversos artistas regionais convidados.
Apresenta 15 historietas interligadas (de duas páginas) que se passam em um banco da Praça da República, em Belém, entre os anos 1869 e 2032. Apesar de independentes, cada história termina com um questionamento que é respondido na história seguinte, formando uma trama maior.
O enredo, de Otoniel e Petrônio Medeiros, é constituído por episódios históricos (como escravidão, a era da borracha, tenentismo, ditadura, Collor e 'Jornadas de Junho', como ficaram conhecidos os protestos de 2013) e trata também de questões culturais (como o Círio de Nazaré e sobre a escassez de água em 2032).
Em cada capítulo ou episódio, uma composição gráfica distinta inspirada em um movimento artístico e quadrinista renomado. Entre as referências estão Impressionismo, Art Nouveau, Pop Art, Futurismo, Cyberpunk Distópico, Underground e outros. E entre os artistas referenciados estão Will Eisner, Angelo Agostini, Moebius, Pollock, Jack Kirby, citando apenas alguns.
No índice da obra é informado o ano em que se passa a história, o autor e as técnicas de elaboração como, por exemplo, retícula digital e aquarela.
(Texto de Beatriz Bento, publicado em jornalempoderado.com.br, onde encontramos mais informações)

Título: Pretérito mais que perfeito
Roteiro: Otoniel Oliveira e Petrônio Medeiros
Arte: Otoniel Oliveira, Andrei Miralha, Carlos Paul, Diogo Lima, Rafa Marc, Volney Nazareno, Emmanuel Thomaz, Adriana Abreu, Dorival Moraes e Rosiani Olívia
Editora: Independente (Edição do Autor)
Páginas: 72
Ano do lançamento: Fevereiro de 2015

Ilustração da terceira história (Que vem a ser a beleza?), que se passa em 1905, período que valoriza a Belle Epoque. O estilo é baseado na Art Nouveau e o artista inspirador é Winsor MacCayOuça a música para o contexto NESTE LINK
Ilustração da quinta história (O que falta?), ambientada em julho de 1924. O Movimento Tenentista é o pano de fundo, com estilo gráfico em Art Decó e referência no artista Hal Foster. Ouça a música para o contexto NESTE LINK.

A HQ tem uma proposta espetacular, com histórias distintas que se unem para um retrato histórico da sociedade em Belém. Isso pode ser contado de várias maneiras, mas o caminho escolhido na HQ é instigante e inovador na região. Os autores selecionaram um lugar, a Praça da República, e com essa centralização, fazem um passeio através dos tempos, mostrando coisas curiosas e históricas em 15 momentos, iniciando em 1869 e findando em 2032. Há uma pesquisa cuidadosa para cada período, no retrato de época e concepção artística em vigência. Além dos quadrinhos, tem o texto curioso da pesquisa no final. Obviamente, o momento futurista é um devaneio, mas baseado em projeções atuais.
Me veio a mente um momento que poderia ser aproveitado na HQ: a chegada dos missionários suecos Gunar Vingren e Daniel Berg em Belém, no ano de 1910. Após o desembarque, caminharam pela cidade, sem conhecer nada, apenas sentindo-se vocacionados a uma missão, chegando até essa praça, onde os caminhos começaram a se abrir para a obra que fundaram no ano seguinte - a Igreja Evangélica Assembleia de Deus - iniciando o movimento pentecostal no hemisfério sul. Tem até um banco na praça que os homenageia.
Pretérito Mais Que Perfeito é uma HQ legal, instigante, reveladora e das melhores que li na região. O passado revisto e recontado várias vezes.
Última observação, a HQ tem trilha sonora para embalar essa viagem, com 15 faixas concebidas com cuidado, inspiradas no contexto e estética de época, disponibilizadas pelos autores na net, para a galera curtir. OUÇA AQUI
Por essas e outras, uma obra-prima da Amazônia.
(Texto de Rogério Castelo no skoob.com.br)

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Revista ICOMI Notícias nº 17 (1965)

Edição de Maio de 1965. Entre as reportagens:
- Novos decenalistas premiados: a empresa dava um relógio para os funcionários que completavam 10 anos de serviço. A edição cita e mostra a foto de 58 decenalistas.
- Minerações na Libéria e Gabão: o professor Iphygenio Soares Coelho relata para a ICOMI Notícias observações colhidas em visita à Àfrica e Índia, por ocasião do XXII Congresso Internacional de Geologia, realizado em Nova Deli. O professor visitou minas de minério de ferro e manganês na Libéria, Gana e Gabão. É a principal reportagem da edição, tendo seis páginas com impressões e especificações técnicas sobre as visitas.
- Castanheira - uma fonte de riqueza: texto de parecer botânico e econômico.
- Rachel de Queiroz - Viagem à Amazônia: artigo publicado na revista O Cruzeiro, de 08/05/1965, sobre as impressões da escritora na visita a ICOMI no Amapá.
- Funcionários do mês: Natan Soares do Nascimento / Washington Alves Ferreira - "Pará".
- O craque do mês: Getúlio Barbosa dos Santos - "Bacuri".



Algumas imagens: 

Vicente de Souza Filho, iniciador da escola de futebol em Serra do Navio,
com grupo de jovens desportistas serranos.
Usina de Beneficiamento de Serra do Navio. 
 Curso de Solda em Serra do Navio.
 Crianças aprendendo a nadar, no Santana. 
Ilustração na capa e contracapa da edição, destacando o símbolo da empresa.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

"O Peregrino" e "A Peregrina" (John Bunyan, século XVII)

Você já ouviu falar sobre esses dois livros? Te convido para conhecê-los!

O Peregrino
Li algumas vezes (a primeira em 1990, de uma vez só) e à cada leitura há incentivo e edificação na vida cristã. Foi publicado em 1678 e tem atravessado os séculos com mensagem atual e instigante, transformando-se em um dos mais conhecidos clássicos no meio cristão.
A caracterização é o anuncio do Evangelho através de uma parábola sobre o significado de ser cristão, tendo riqueza de detalhes em aspectos corriqueiros nessa jornada. Mostra ensinamentos bíblicos referentes à situações diversas (como a Porta e Caminho Estreitos, o Vale da sombra da morte e a Armadura de Deus) e personagens que se encontra nesse caminho ou que estamos sujeitos a nos tornar (o Cristão, o Vacilante, o Fiel, o Sábio-segundo-o-mundo, entre outros).
A história nasceu de um sonho quando o autor estava encarcerado por perseguição na Inglaterra, em razão da pregação do Evangelho.
Algumas considerações, para concordar ou não...
Na jornada do Cristão, entre os três peregrinos que chegaram à Cidade Celestial (Cristão, Fiel e Esperança) o que mostrou maior maturidade em sua vida, na minha visão, foi o Fiel. A receptividade ao Evangelho, zelo e postura parecem mais consistentes. É como uma pessoa que recebe o Senhor com muito ardor e segue nesse caminho com a chama do primeiro amor sempre acesa. Foi o único martirizado na história (talvez apenas ele suportasse essa tribulação com fé em Cristo naquele momento, o que se deseja evidenciar como exemplo de perseverança).
Cristão é um pouco débil e tem crescimento lento (mas contínuo), aprendendo com seus erros também. Passa a imagem de uma pessoa que quer seguir a Cristo, mas é cheia de fraquezas em pontos que vão aos poucos sendo fortalecidos e trabalhados por Deus. É decidido, o que é essencial para esse processo. Ao longo da jornada percebemos seu crescimento, que foi do Pântano da Dúvida (onde tinha só uma noção superficial do Evangelho) ao enfrentamento de feroz inimigo como o Apolião (tendo tomado posse das ferramentas que o Senhor ensinou em sua Palavra, antes desconhecidas, quando vivia algo superficial e de aparências na cristandade).
Já o Esperança é alguém que canaliza tudo para o Senhor, sendo bastante emotivo. Parece o mais sentimental e isso pode ser um perigo como guia, pois na vida cristã a determinação não pode se firmar apenas na emoção, precisando, às vezes, de uma decisão árdua e resoluta. Por isso ele e Cristão caminharam juntos para a cidade, fortalecendo-se mutuamente nas horas mais difíceis. Comunhão é importante e precisamos desenvolver com a igreja.
Muitos personagens são descritos e vou deixar em registro o Loquaz, a Sensualidade, o Interesse-próprio e o Sábio-segundo-o-mundo, que rotineiramente encontrarmos. Podemos ceder a seus conselhos e nos transformar neles facilmente quando não há vigilância. Representam a hipocrisia, a entrega ao prazer fora dos propósitos divinos, o egoísmo e a rejeição à Palavra de Deus.
Com certeza tem muito mais coisas para serem reveladas. Isso foi uma interpretação minha, como você vai ter as suas pós leitura.

A Peregrina
Novidade que descobri à pouco tempo e foi a segunda vez que li. Fala da esposa do Cristão, que tinha decidido não trilhar o caminho do Evangelho e permanecer na Cidade da Destruição. Não tem a diversidade de personagens ou situações do primeiro livro, mas apresenta peculiaridades que só agora comecei a notar.
Um diferencial legal é que a caminhada é ao lado dos parentes (os filhos), trazendo a percepção de vida familiar. O Peregrino concentra-se na individualidade, enquanto essa obra mostra um sentido de comunidade na vivência cristã. Além dos quatro filhos, o grupo vai crescendo com outros membros, que são diferenciados, mas todos peregrinos no mesmo propósito. São eles: Grande-Coração, Firmeza, Misericórdia, Valente-pela-Palavra, Integridade, Mente-Fraca, Quase-Desistindo, Desalento e Excessiva-Timidez. 
A questão de vida familiar e irmandade se fortalece no seguinte: Cristã estava viúva e a personagem Grande-Coração lembra e projeta a figura do pai (até então ausente). Tive essa sensação, pois assemelha-se ao que ensina as Sagradas Escrituras na abordagem da família. Ele ama a cada um indistintamente, cuida, protege, ajuda, aconselha, caminha dando exemplo e é uma referência.
A vida familiar se revela também nas dificuldades que Cristã passou com os filhos (como o jovem que ficou doente por não ter vigilância ou experiência em algo atrativo no caminho, sendo seduzido... e qual pai não está sujeito a sofrer pelos filhos em suas más escolhas), sendo amparado e fortalecido nesse momento de fraqueza. A história tem também casamento, peregrinando o caminho. Não lhe parece que valoriza e ensina sobre família?
A questão comunitária tem seus aspectos ressaltados, afinal, é um tipo de família também.  Quando li O Peregrino fiquei pensando se algumas daquelas personagens negativas, encontradas ao longo caminho, não poderiam ser transformadas, pois Cristão era um homem em suas características próprias, positivas ou não, sendo trabalhado por Deus para crescimento na fé. Outros não poderiam enveredar nisso com suas fraquezas? Sim e acompanharam Cristão por um tempo, mas desistiram e entregaram os pontos firmados em conceitos pessoais, de maneira que apenas Cristão, Fiel e Esperança (todos peregrinos no caminho em Cristo) atingiram o objetivo.
A Peregrina mostra o que desejei ver, pessoas que em suas debilidades permaneceram no caminho em busca do objetivo, mas para isso contando com a ajuda fundamental dos outros peregrinos. De início eram os últimos na marcha, mas Grande-Coração os trouxe para perto de si e auxiliava a cada um em suas debilidades. As lutas comuns na espiritualidade foram vencidas por todos. Qual a razão disso? Auxílio, ajuda, comunhão... com Cristo e com a igreja.
Peculiaridades do livro:
- Há uma personagem no caminho chamado Timorato (presente também no outro). Minha observação em relação a ela é a necessidade de atualização da linguagem. Nunca tinha topado com essa palavra e na busca do significado descobri que exprime receio ou medo, covardia. Então é um medroso em seu contexto, o que tem que ser traduzido para o leitor.
- Misericórdia foi uma jovem que iniciou a jornada junto com Cristã. Ela é muito sentimental e até receosa, mas deixou um exemplo de confiança no Senhor antes de se deixar dominar por seus medos. Clamemos a misericórdia de Deus e perseveremos. Foi o que fez. A vitória nos propósitos de Deus é certa! Ah, não poderia deixar de registrar que Misericórdia casou com um dos filhos de Cristã e essa amizade lembra Noemi e Rute.
- Que felicidade ver que Mente-Fraca e outros com nomes nada nobres alcançaram o objetivo! Pensei que tinham desistido, pois em vários momentos não são focados pelo narrador e depois surgem de novo, com suas debilidades mas contínuos. Ressalto que, apesar do nome, coisa que os estereotipou, foram transformados e persistiam. Assim, foram vitoriosos quando carregavam um fardo que os estimulava à desistência, designando-os derrotados. Era algo que os caracterizava e como ficaram conhecidos na vida pregressa, porém, com Cristo, isso não se tornou em âncora nas suas vidas. A comunhão e auxílio que receberam e viveram foram fundamentais. 
Novamente vale o registro, a obra vai além do que apresentei.

Livros edificantes ao coração.

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Revista ICOMI Notícias Nº 16 (1965)

Publicada em Abril de 1965. Destaques para:
- Calçoene - Novo Eldorado: principal reportagem da revista, apresentando Calçoene em suas peculiaridades e potencialidades. Em paralelo a história de riquezas, a realidade do contexto de época era de uma localidade sem luz elétrica e sem distração de qualquer espécie. Segundo o texto, Calçoene só tinha vida diurna e o principal meio de transporte era o burro. 
- Ministro Thibau no TFA: primeiro Ministro da Pasta de Minas e Energia a visitar o Amapá. Na ocasião, encontrou-se com o Governador Luiz Mendes da Silva, em Macapá, onde foram discutidas considerações sobre a Usina Hidrelétrica Coaracy Nunes com aproveitamento da Cachoeira do Paredão.
- MPF - novas gerações fortes: o texto fala da Multi Purpose Food, organização filantrópica voltada ao combate da fome e desnutrição, a partir da distribuição de suplemento alimentar (uma farinha desengordurada feita de soja enriquecida com sais e vitaminas, conhecida como MPF).
- Funcionários do mês: Geremias Wiatt / José Antônio Alves da Silva.
- Carnaval em Macapá e nas vilas da ICOMI: registro dos festejos em um histórico álbum fotográfico.
- Rachel de Queiroz confiante no progresso do Amapá: nota sobre a passagem da escritora no Amapá a convite da ICOMI.
- O craque do mês: Raimundo Aragão Barbosa - "Aragãozinho".


Imagens da revista:

Cerimônia de hasteamento da bandeira, na Escola de Serra do Navio, durante a passagem do Ministro Mauro Thibau.
 Professora Walmira Maceira faz uma demonstração prática do uso de MPF.
 Nova frota de automóveis da ICOMI, no pátio da Companhia em Santana.
Garimpeiro em sua atividade de rotina em Calçoene. A água barrenta, acumulada em um igarapé artificial, é posteriormente bateada.
Bateria da Escola de Samba Piratas da Batucada se apresentando no salão do Santana Esporte Clube.