As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

"O Peregrino" e "A Peregrina" (John Bunyan, século XVII)

Você já ouviu falar sobre esses dois livros? Te convido para conhecê-los!

O Peregrino
Li algumas vezes (a primeira em 1990, de uma vez só) e à cada leitura há incentivo e edificação na vida cristã. Foi publicado em 1678 e tem atravessado os séculos com mensagem atual e instigante, transformando-se em um dos mais conhecidos clássicos no meio cristão.
A caracterização é o anuncio do Evangelho através de uma parábola sobre o significado de ser cristão, tendo riqueza de detalhes em aspectos corriqueiros nessa jornada. Mostra ensinamentos bíblicos referentes à situações diversas (como a Porta e Caminho Estreitos, o Vale da sombra da morte e a Armadura de Deus) e personagens que se encontra nesse caminho ou que estamos sujeitos a nos tornar (o Cristão, o Vacilante, o Fiel, o Sábio-segundo-o-mundo, entre outros).
A história nasceu de um sonho quando o autor estava encarcerado por perseguição na Inglaterra, em razão da pregação do Evangelho.
Algumas considerações, para concordar ou não...
Na jornada do Cristão, entre os três peregrinos que chegaram à Cidade Celestial (Cristão, Fiel e Esperança) o que mostrou maior maturidade em sua vida, na minha visão, foi o Fiel. A receptividade ao Evangelho, zelo e postura parecem mais consistentes. É como uma pessoa que recebe o Senhor com muito ardor e segue nesse caminho com a chama do primeiro amor sempre acesa. Foi o único martirizado na história (talvez apenas ele suportasse essa tribulação com fé em Cristo naquele momento, o que se deseja evidenciar como exemplo de perseverança).
Cristão é um pouco débil e tem crescimento lento (mas contínuo), aprendendo com seus erros também. Passa a imagem de uma pessoa que quer seguir a Cristo, mas é cheia de fraquezas em pontos que vão aos poucos sendo fortalecidos e trabalhados por Deus. É decidido, o que é essencial para esse processo. Ao longo da jornada percebemos seu crescimento, que foi do Pântano da Dúvida (onde tinha só uma noção superficial do Evangelho) ao enfrentamento de feroz inimigo como o Apolião (tendo tomado posse das ferramentas que o Senhor ensinou em sua Palavra, antes desconhecidas, quando vivia algo superficial e de aparências na cristandade).
Já o Esperança é alguém que canaliza tudo para o Senhor, sendo bastante emotivo. Parece o mais sentimental e isso pode ser um perigo como guia, pois na vida cristã a determinação não pode se firmar apenas na emoção, precisando, às vezes, de uma decisão árdua e resoluta. Por isso ele e Cristão caminharam juntos para a cidade, fortalecendo-se mutuamente nas horas mais difíceis. Comunhão é importante e precisamos desenvolver com a igreja.
Muitos personagens são descritos e vou deixar em registro o Loquaz, a Sensualidade, o Interesse-próprio e o Sábio-segundo-o-mundo, que rotineiramente encontrarmos. Podemos ceder a seus conselhos e nos transformar neles facilmente quando não há vigilância. Representam a hipocrisia, a entrega ao prazer fora dos propósitos divinos, o egoísmo e a rejeição à Palavra de Deus.
Com certeza tem muito mais coisas para serem reveladas. Isso foi uma interpretação minha, como você vai ter as suas pós leitura.

A Peregrina
Novidade que descobri à pouco tempo e foi a segunda vez que li. Fala da esposa do Cristão, que tinha decidido não trilhar o caminho do Evangelho e permanecer na Cidade da Destruição. Não tem a diversidade de personagens ou situações do primeiro livro, mas apresenta peculiaridades que só agora comecei a notar.
Um diferencial legal é que a caminhada é ao lado dos parentes (os filhos), trazendo a percepção de vida familiar. O Peregrino concentra-se na individualidade, enquanto essa obra mostra um sentido de comunidade na vivência cristã. Além dos quatro filhos, o grupo vai crescendo com outros membros, que são diferenciados, mas todos peregrinos no mesmo propósito. São eles: Grande-Coração, Firmeza, Misericórdia, Valente-pela-Palavra, Integridade, Mente-Fraca, Quase-Desistindo, Desalento e Excessiva-Timidez. 
A questão de vida familiar e irmandade se fortalece no seguinte: Cristã estava viúva e a personagem Grande-Coração lembra e projeta a figura do pai (até então ausente). Tive essa sensação, pois assemelha-se ao que ensina as Sagradas Escrituras na abordagem da família. Ele ama a cada um indistintamente, cuida, protege, ajuda, aconselha, caminha dando exemplo e é uma referência.
A vida familiar se revela também nas dificuldades que Cristã passou com os filhos (como o jovem que ficou doente por não ter vigilância ou experiência em algo atrativo no caminho, sendo seduzido... e qual pai não está sujeito a sofrer pelos filhos em suas más escolhas), sendo amparado e fortalecido nesse momento de fraqueza. A história tem também casamento, peregrinando o caminho. Não lhe parece que valoriza e ensina sobre família?
A questão comunitária tem seus aspectos ressaltados, afinal, é um tipo de família também.  Quando li O Peregrino fiquei pensando se algumas daquelas personagens negativas, encontradas ao longo caminho, não poderiam ser transformadas, pois Cristão era um homem em suas características próprias, positivas ou não, sendo trabalhado por Deus para crescimento na fé. Outros não poderiam enveredar nisso com suas fraquezas? Sim e acompanharam Cristão por um tempo, mas desistiram e entregaram os pontos firmados em conceitos pessoais, de maneira que apenas Cristão, Fiel e Esperança (todos peregrinos no caminho em Cristo) atingiram o objetivo.
A Peregrina mostra o que desejei ver, pessoas que em suas debilidades permaneceram no caminho em busca do objetivo, mas para isso contando com a ajuda fundamental dos outros peregrinos. De início eram os últimos na marcha, mas Grande-Coração os trouxe para perto de si e auxiliava a cada um em suas debilidades. As lutas comuns na espiritualidade foram vencidas por todos. Qual a razão disso? Auxílio, ajuda, comunhão... com Cristo e com a igreja.
Peculiaridades do livro:
- Há uma personagem no caminho chamado Timorato (presente também no outro). Minha observação em relação a ela é a necessidade de atualização da linguagem. Nunca tinha topado com essa palavra e na busca do significado descobri que exprime receio ou medo, covardia. Então é um medroso em seu contexto, o que tem que ser traduzido para o leitor.
- Misericórdia foi uma jovem que iniciou a jornada junto com Cristã. Ela é muito sentimental e até receosa, mas deixou um exemplo de confiança no Senhor antes de se deixar dominar por seus medos. Clamemos a misericórdia de Deus e perseveremos. Foi o que fez. A vitória nos propósitos de Deus é certa! Ah, não poderia deixar de registrar que Misericórdia casou com um dos filhos de Cristã e essa amizade lembra Noemi e Rute.
- Que felicidade ver que Mente-Fraca e outros com nomes nada nobres alcançaram o objetivo! Pensei que tinham desistido, pois em vários momentos não são focados pelo narrador e depois surgem de novo, com suas debilidades mas contínuos. Ressalto que, apesar do nome, coisa que os estereotipou, foram transformados e persistiam. Assim, foram vitoriosos quando carregavam um fardo que os estimulava à desistência, designando-os derrotados. Era algo que os caracterizava e como ficaram conhecidos na vida pregressa, porém, com Cristo, isso não se tornou em âncora nas suas vidas. A comunhão e auxílio que receberam e viveram foram fundamentais. 
Novamente vale o registro, a obra vai além do que apresentei.

Livros edificantes ao coração.