Em 1985 tivemos o marco de 150 anos do início da Cabanagem (movimento revolucionário de ideais libertários, ocorrido no Pará).
A data foi marcada por lembranças sobre o movimento em dois aspectos. Houve celebrações (como a publicação da obra "Cabanagem, a revolução popular da Amazônia", de Pasquale Di Paolo, 1985); e resgate de histórias de rejeição aos cabanos (como a resistência da cidade de Cametá, que atribuiu ao movimento uma conotação subversiva e violenta, tendo embates em luta armada). Esse segundo aspecto foi tema de um discurso de Victor Tamer naquele ano, no Instituto Histórico e Geográfico do Pará, ressaltando a história de Cametá e seu nacionalismo anticabano, exaltado até hoje em episódios que ideologicamente dão uma conotação de bravura e união do povo.
O discurso de Victor Tamer, realizado no contexto da semana de celebração dos 150 anos da Cabanagem, é o tema dessa publicação de 1987, que o conserva (creio eu) em sua totalidade (ou quase isso) e pode ser analisado em três partes, como está destacado no livro. Ressalte-se que o orador é cidadão ilustre de Cametá e fez parte da Academia Paraense de letras.
A data foi marcada por lembranças sobre o movimento em dois aspectos. Houve celebrações (como a publicação da obra "Cabanagem, a revolução popular da Amazônia", de Pasquale Di Paolo, 1985); e resgate de histórias de rejeição aos cabanos (como a resistência da cidade de Cametá, que atribuiu ao movimento uma conotação subversiva e violenta, tendo embates em luta armada). Esse segundo aspecto foi tema de um discurso de Victor Tamer naquele ano, no Instituto Histórico e Geográfico do Pará, ressaltando a história de Cametá e seu nacionalismo anticabano, exaltado até hoje em episódios que ideologicamente dão uma conotação de bravura e união do povo.
O discurso de Victor Tamer, realizado no contexto da semana de celebração dos 150 anos da Cabanagem, é o tema dessa publicação de 1987, que o conserva (creio eu) em sua totalidade (ou quase isso) e pode ser analisado em três partes, como está destacado no livro. Ressalte-se que o orador é cidadão ilustre de Cametá e fez parte da Academia Paraense de letras.
O texto tem visão conservadora, é pejorativo em alguns momentos e
ideologicamente efusivo na referência à Cametá, por suas origens e
lutas.
A primeira parte mostra a história da localidade, referenciando vários pontos, como:
- A existência da nação indígena dos Camutás na região do rio Tocantins do século XVII (inspiração ao nome da cidade);
- A existência da nação indígena dos Camutás na região do rio Tocantins do século XVII (inspiração ao nome da cidade);
- O primeiro contato de um
europeu com essa nação indígena (através do conquistador e governador
francês no Maranhão, em 1613, Daniel de La Touche);
- O estabelecimento de
missões de catequese na região (que na exposição do orador deram origem
a ocupação estrangeira em 1617, com destaque nessa fase a ação do frei
Cristóvão de São José);
- A fundação oficial da Vila Viçosa de Santa
Cruz de Cametá (em 1635, através do governador Francisco Coelho de
Carvalho, capitão general do Maranhão e Grão-Pará).
Alguns episódios de conotação ufanista foram também relatados:
- A passagem do Padre Antonio Vieira (que é enaltecido como santo);
- A organização de uma expedição por Pedro Teixeira em 1637 (que
arregimentou, entre outras coisas, vários indígenas e conquistou -
'tomou' - e expandiu os limites da região e do Brasil);
- A mudança da localização da vila por questões de segurança relacionadas ao tipo de solo e erosão passível, em 1702 (a nova sede foi oficializada pela Câmara Municipal em 1713);
- A citação de dois momentos de epidemias na história da região, sugestionando a força e resiliência do povo (varíola em1662 e cólera em 1855);
- A mudança da localização da vila por questões de segurança relacionadas ao tipo de solo e erosão passível, em 1702 (a nova sede foi oficializada pela Câmara Municipal em 1713);
- A citação de dois momentos de epidemias na história da região, sugestionando a força e resiliência do povo (varíola em1662 e cólera em 1855);
- A elevação da vila à categoria cidade em 1848
(enfatizando-se a sociedade desenvolvida e culta nas palavras do
orador);
- E o que é mais celebrado, referente a resistência
anti-Cabanagem em 1835. Esse aspecto é valorizado em histórias que
reforçam feitos legendários (como o florescimento de uma sumaumeira na
estaca que foi usada na cerca de defesa da cidade, que brotou e existiu
por 126 anos - o fato é verdadeiro, mas é evidente que foi aproveitado
como propaganda ideológica).
Essa é a primeira parte, que achei mais
interessante.
Estou supondo que as outras partes são continuações, pois a obra, com
todo respeito a sua representatividade, está muito mal editada.
A segunda parte fala da Cabanagem em si e tem tem conotação pejorativa.
- O
autor ressalta uma concepção de apego à justiça e harmonia pacata
existente na cidade;
- Resgata um ponto histórico e importante na
inspiração dos cabanos, que ficou conhecido como "Massacre do Palhaço". A história de cidadãos descontentes e revoltosos do Pará, cruelmente
assassinados nos porões de um navio em 1832, por ordem do mercenário
inglês Greenfeel - aliado dos governo do Brasil (responsável também
por ações violentas em Cametá);
- E que esses episódios provocaram
descontentamento e mobilização entre os cametaenses (citados por Victor
Tamer como as raízes da Cabanagem);
- O movimento explodiu em 1835 e o
orador finaliza essa parte com episódios de violência em Belém.
A terceira parte (se de fato é...) valoriza a história de Cametá
anti-Cabanagem, onde a principal figura é o padre Prudêncio das Mercês
Tavares, que atuou como líder espiritual, civil e militar na
região. Não se mostram muitos detalhes além da construção da cerca na
luta de resistência, e o lado sanguinários está apenas com a
"desvairada rebelião", que terminou na heroica ação do general
pró-império Francisco José de Souza Soares Andréa.
Olha! Essas são observações que retirei do que o livro concebe.
A história é muitas vezes como um vaso de barro que se molda a seu gosto
e as concepções restringem-se comumente a uma ideologia
estrategicamente construída. A Cabanagem teve episódios sangrentos,
frutos de uma desarmonia por falta de liderança melhor preparada (como o
clero negou com sua não adesão, disfarçada em muitos falsos conceitos,
como um nacionalismo hipócrita), o general Andréa teve ação genocida na
Amazônia em histórias terríveis; o padre Prudêncio comandou eventos de
vingança e foi mentor de mortes violentas; o governo da Regência de
Feijó fez planos de unir forças com franceses e ingleses para extermínio
maior na região amazônica; o Padre Antônio Vieira manobrou muita coisa
na Europa e Brasil para favorecer seu zelo e regalias nas missões (como a
libertação dos indígenas do jugo da escravidão a custo da sugestão da
escravatura dos africanos); entre outras coisas que a História permite
discutir, aceitar ou discordar.
Informações do livro:
Título: Chão Cametaense
Autor: Victor Tamer
Editora: Edição do Autor
Ano: 1987
Páginas: 30
Tema: Discurso / Cabanagem / História / Pará / Amazônia
Informações do livro:
Título: Chão Cametaense
Autor: Victor Tamer
Editora: Edição do Autor
Ano: 1987
Páginas: 30
Tema: Discurso / Cabanagem / História / Pará / Amazônia
Foram as coisas que me instigaram na leitura. Não concordas? É positivo. Quero aprender também. Pegue o
livro, faça sua leitura e tenha suas conclusões. Posicione-se. Leia,
busque, estude.
A obra está no acervo da
Biblioteca Pública Elcy Lacerda.
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia
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Macapá - Bairro Central