As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

quarta-feira, 14 de março de 2018

Revista ICOMI Notícias Nº 02 (1964)

Histórica edição da ICOMI Notícias, publicada em Fevereiro de 1964. Entre as reportagens abordadas:

- Uma ferrovia vara a selva
- Em prol da saúde do povo do Amapá
- Êxito na "Operação Férias Coletivas" 
- Natal leva alegria ao hospital em Macapá
- O craque do mês: Teófilo Mira Soeiro Filho (Téo)
- Cientistas na Serra

Algumas imagens da edição:

Um trem carregado de minério atravessa um dos cortes
na região de savana que cerca Macapá.
A construção da ponte sobre o Rio Amapari, com 219 metros de extensão,
no km 178.888 da ferrovia, e a ponte tal qual se via em 1964.
Esperando o trem... Nem só de minério vive a EFA.
Registro do Baile das Debutantes em 1963. realizado no Aero Clube de Macapá.
Em breve, mais edições!

Agradecimento ao Sr. Cosme Juca de Lima, colecionador que, em parceria com a Biblioteca Ambiental da SEMA em Macapá, disponibilizou a digitalização do seu valoroso acervo de Revistas ICOMI Notícias.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Nossa Água, Nossa Vida (Vídeo Educativo, 2002)

Apesar da água ser fundamental na nossa vida, não estamos dando o valor merecido. É um recurso natural limitado e escasso e, se hoje for desperdiçada, amanhã não teremos mais.


Neste vídeo educativo da SEMA-AP são tratados pontos importantes sobre os recursos hídricos no Estado do Amapá, enfatizando também medidas básicas de saneamento. Uma preciosa ferramenta para a Educação Ambiental, buscando a consciência coletiva para a conservação e boa utilização desse tesouro natural. Tem duração de 10 minutos e é ideal para divulgação entre estudantes e educadores.
A produção é do ano de 2002, com apresentação de Ana Daniela Pinto e reportagem de Soraia Carvalho

Gentilmente cedido pela Videoteca da 
Biblioteca Ambiental da SEMA em Macapá.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Memórias de um Boto (Alcyr Meira)

MEMÓRIAS DE UM BOTO recorre às peripécias - especialmente amorosas - do mítico sedutor dos rios da região para traçar um painel criticamente bem-humorado da sociedade de Belém e do interior paraense nos anos 1950-1960.
Ilustrado pelo próprio autor, o texto passeia pelo Marajó e revive um Mosqueiro que não existe mais, lembrando de lugares como o Praia Bar e de personagens da ilha como a tacacazeira Raimunda, Zacarias Mártires e Manoel Tavares, o Russo, proprietários dos hotéis do Farol e do Chapéu Virado.
Castigado com a condição humana, José Marajó ou Zé da Ilha (os nomes adotados pelo boto) também conduz o leitor para marcos de Belém, como o Palácios dos Bares, ou Bar da Condor, onde João de Barros recebe a fina flor da boêmia da cidade. Quem conheceu a Belém daqueles tempos identificará muitos personagens, deste e de outros cenários. A um deles, o colunista Edwaldo Martins, grande amigo do autor, cabe noticiar o miraculoso desfecho do anti-herói Zé da Ilha. Um anti-herói que, agora finalmente editado, parte para novas travessias literárias. CARLOS MANESCHY (Magnífico Reitor da UFPA)

Título: Memórias de um Boto: um romance amazônico
Autor: Alcyr Meira
Editora: Cultural Brasil
Ano: 2013
Páginas: 512

O imaginário amazônico é rico em histórias fantásticas, muito presentes onde a floresta, o rio, a fauna e o isolamento de comunidades colocam o homem diariamente em um contexto de encontros, descobertas, mistérios e interpretações.
As narrativas sobre o boto estão entre as de maior identidade regional, principalmente entre ribeirinhos, aparecendo em transmissões orais ou, quando em registros literários, geralmente em contos e poesias. Me divirto com tudo isso e aí que entra o entusiasmo inicial com essa obra, pois em prosa romântica ainda não tinha lido nada sobre o boto.
As histórias que conhecia são curtas e parecidas, sem grandes aprofundamentos na trama, e agora me deparo com este romance com mais de 500 páginas, onde o tema em questão é abordado com riqueza de detalhes, passeando por percepções diversas entre o imaginário pueril, humor e dramas em lutas de realização e sobrevivência.
Contextualizando, foi escrito por Alcyr Meira (membro da Academia Paraense de Letras), a descrição é linear (desde o nascimento do boto) com ambientação em Belém e arquipélago do Marajó, entre as décadas de 1950 e 1960. Uma particularidade em especial é que o autor enriqueceu a obra com fatos e personagens reais desse fragmento temporário, seja em referências a pessoas ou locais reconhecíveis na cultura popular. Destaque também para as belas ilustrações idealizadas por Alcyr.
Em linhas gerais, acompanhamos a vida de José Marajó, também conhecido como Zé da Ilha, que é o boto, nascido para os lados de Soure. A primeira parte mostra sua infância e adolescência como tucuxi e a descrição é um tanto pueril. Lembra aqueles romances de aventuras protagonizados por animais, com coisas surrealmente atrativas e curiosas. Destaque para a lenda da origem do boto, na percepção do autor.
A partir da metamorfose humana, que o autor abordou em uma mitologia relacionada a Iara, o boto tem as primeiras aventuras em um povoado fictício no Marajó, chamado de Curuparu. Vemos as primeiras conquistas, paixonites, boemia e confusões. Gostei do cenário, de uma Amazônia folclórica como o romantismo a idealiza.
Soure dá continuidade como cenário e o desenrolar é em um drama familiar que envolve ambição e hipocrisia. O boto entra em cena como um malandro conquistador e registre-se que a obra desse ponto em diante procura enfatizar mais essa característica que a mitologia inicial.
Chegada de Zé da Ilha em Curuparu 
(Ilustração de Alcyr Meira - a obra tem cerca de 50 delas)
Nova confusão e vem a passagem por Mosqueiro, em envolvimentos com descrições centradas na sexualidade. O boto tem digressões em aprendizagens de suas experiências.
A narrativa em Icoaraci é a mais tensa, centrada em uma dupla vingança com desdobramentos futuros, pela morte dos pais do boto e pelo abalo em uma família devido a traições.
Finalmente chegamos a Belém e o desenrolar tem surpresas surreais, como a "humanização definitiva", relacionada ao maior símbolo folclórico da fé paraense. As surpresas tem um lado dramático, que misturam a história de Zé da Ilha com os eventos desencadeados pelo militarismo em 1964. Somam-se a esses dramas também, reencontros com personagens do passado.
Enfim, uma obra ideal para quem curte folclore da Amazônia, explorando o mito do boto de maneira curiosa, deixando também em paralelo um pouco da identidade paraense e amazônica. 

Em Macapá, pode ser lida na Biblioteca Ambiental da SEMA.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Os Cabras de Lampião (Manoel D’Almeida Filho)

Os Cabras de Lampião é o clássico cordel de Manoel D’Almeida Filho. Foi um trabalho preparado pelo mestre poeta (nascido em Alagoa Grande-PB, em 1914) com muita pesquisa, muita delicadeza poética, muita lucidez. 

Título: Os cabras de Lampião
Autor: Manoel D’Almeida Filho
Editora: Prelúdio / Luzeiro
Ano: 1966
Páginas: 48

Fui surpreendido pelo cordel. Não o conhecia e, em primeiro momento de buscas referenciais, encontrei informações que o classificavam como a epopeia dos sertões. Mais que isso, como uma obra-prima de reconhecimento internacional. Para alguns literatos, entre as principais narrativas do século XX. 
Conhecia o Pavão Misterioso como o mais famoso cordel do país, mas este aqui, embora não seja tão conhecido quanto o outro, em representatividade supera além da conta. O diferencial é que narra a história de Lampião com riqueza de detalhes. A descrição, no geral, é histórica, com versos elegantes e simples, de leitura muito instigante. Há também a parte mítica, expressa principalmente na morte de Lampião. A descrição parece ter sido a inspiração para uma famosa minissérie na TV na década de 1980.
Outro diferencial é que os cordéis não costumam ser longos e este tem mais de 500 estrofes, organizadas na edição que li em 48 páginas divididas em duas colunas. Em todas, um passeio sensacional pela realidade do cangaço, vendo-se a violência e rusticidade do cenário cotidiano, a motivação ao banditismo, o espírito aguerrido dos homens e descrição de fatos históricos (como o encontro com a Coluna Prestes e a derrocada em Mossoró), além de particularidades de alguns cangaceiros do bando (Zé Baiano, Corisco, Jararaca e Zabelê) e outras curiosidades que de fato dão uma conotação muito preciosa à obra.
Foi publicado na década de 1960, com o vigor dos relatos ainda vivos em muitas testemunhas dos fatos contados.
Só não gostei do título, que não passa a ideia imediata de ser uma biografia diferenciada de Lampião. 
Obra para ser redescoberta no meio literário. Sem dúvidas, o melhor cordel que já li.


Disponível para leituras em