As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

domingo, 15 de abril de 2018

Revista ICOMI Notícias Nº 08 (1964)

Edição publicada em Agosto de 1964. Registrando alguns destaques:
- Canal Norte, benéfica realidade: história de um grande feito e realidade de benefícios à Amazônia.
- Na foz do Amazonas guiando navegantes: vivendo na Ponta do Céu para manter constante o radiofarol.
- Instala-se a COPRAM (Companhia Progresso do Amapá) visando o progresso.
- Funcionários do mês: Raimundo Gemaque de Jesus / Antenor Froes de Carvalho.
- Técnicos invadem floresta para defender a saúde: reportagem sobre o convênio da ICOMI com o Instituto Evandro Chagas.

Imagens da revista:

Pátio de estocagem no Porto de Santana.
Vista aérea do Canal Norte do Rio Amazonas nas proximidades de Santana.
Jardim da Infância na Escola de Serra do Navio. A professora IDA Rossi (Chefe do Departamento de Educação) havia solicitado a "ICOMI Notícias" que estas imagens fossem publicadas com o seguinte texto: "As mãos realizam atividades, mas também precisam de ajuda. Cuidado, atenção e carinho não devem faltar para auxiliá-las. Quando os trabalhos ficam prontos, sentimos que foi fácil. Durante todo o tempo, estão em nossas mentes ideias e pensamentos que nos podem ser úteis."
Baile no Manganês.

sábado, 14 de abril de 2018

Os Mineiros da Floresta (Adalberto Paz, 2014)

Em meados da década de 1940, no extremo norte do país, iniciavam-se os preparativos para a instalação do primeiro projeto de exploração mineral industrial na Amazônia. Este empreendimento relacionava-se com as diretrizes políticas, econômicas e estratégicas estabelecidas durante o Estado Novo para várias regiões do país tidas como periféricas e atrasadas em relação aos centros dinâmicos da economia nacional. Dessa forma, segundo o discurso oficial, a exploração das jazidas de manganês na região de Serra do Navio, situadas no interior do Território Federal do Amapá, criaria as condições necessárias para o desenvolvimento dessa importante área de fronteira, ao mesmo tempo em que contribuiria para a formação de uma verdadeira "civilização equatorial". Contudo, a implantação dessa nova sociedade exigiria a reestruturação dos padrões de sociabilidade vigentes entre uma população basicamente voltada para o extrativismo. Assim, os impactos sobre essa organização social e as diversas transformações ocorridas naquele território, entre as década de 1940 e 1960, são analisados tomando como referência a montagem daquele complexo mineral-exportador, que se destaca por ter projetado duas company towns no interior da floresta amazônica, com as quais a empresa Indústria e Comércio de Minérios S.A. pretendia obter um tipo específico de trabalhador e de família, formando comunidades orientadas por princípios de harmonia entre capital e trabalho.
(ADALBERTO PAZ)


Título: Os mineiros da floresta: modernização, sociabilidade e a formação do caboclo-operário no início da mineração industrial amazônica
Autor: Adalberto Paz
Editora: Paka-Tatu
Ano: 2014
Páginas: 244
Sumário:
Cap. 1 - De caboclo a operário: origem e constituição da mão de obra industrial amapaense (1943-1949)
Cap. 2 - Conflitos e sociabilidades em uma fronteira de mineração industrial (1950-1959)
Cap. 3 - Uma cidade operária no interior da floresta (1960-1964)

Um parecer simples

Estudos sobre a ICOMI são instigantes no Amapá, pela representatividade histórica. Em geral, o assunto desperta empatia em quem vivenciou o período de atividades da empresa. Como também estou nesse grupo entusiasta, o livro proporcionou leitura interessante e prazerosa, caracterizando-se pelo direcionamento sociológico numa visão ao homem em sua realidade e cotidiano antes e após a instalação da empresa. Esse olhar aponta impactos sociais, na economia regional, na urbanização, na modernização, no crescimento demográfico e na especialização do trabalhador.
A obra resultou de um trabalho acadêmico em História, de Adalberto Paz, e foi lançada oficialmente em 2014 em Macapá, abrangendo um recorte temporal entre as décadas de 1940 e 1960, período de instalação e construção da infraestrutura da empresa, assentando-se em documentos e entrevistas que proporcionaram a percepção em três momentos.

Na primeiro, o autor analisa o contexto regional pré ICOMI, onde vemos isolamento, cultura de subsistência e economia baseada no extrativismo. Nesse cenário destacavam-se o seringueiro, garimpeiro e castanheiro, enfatizando-se o modelo econômico exploratório a que estavam sujeitos e a realidade de época em alguns estudos de caso. A cidade de Macapá também é visitada, evidenciando-se nos estudos uma marginalização no cotidiano e desenvolvimento.
O autor resgata a história da ICOMI desde as primeiras descobertas de minério de ferro em Vila Nova, que recebeu prospecção de outra empresa no início da década de 1940, mas não foi levado adiante quando se colocou em paralelo o elevado custo para exploração com os lucros finais. O governador do TFA buscava no potencial natural um meio para desenvolvimento local (quando assumiu o recém-criado Território Federal em 1943) e, ciente da história secular de garimpagem e das potencialidades, abriu concurso para descobertas na área de mineração. É aí que se insere a história de Mário Cruz e o achado das pedras de manganês no rio Amapari. Daí para a frente a história vai se desenrolando com outros aspectos interessantes no estabelecimento da empresa.


Escola de Serra do Navio (ao centro), em 1951. À esquerda, na beira do rio, observa-se a movimentação de pessoas em torno do armazém da mina (Figura 5 - página 95 do livro).
O segundo momento mostra transformações provocadas na região, em relação aos trabalhadores e no processo de modernização de Macapá. Algo que se ressalta é a disciplina que era exigida e monitorada na realidade da companhia em Serra do Navio e Vila Amazonas. Segundo o texto, a modernização da capital foi subsequente às carências da mineradora (como hotel, vila operária e infraestrutura para atender os primeiros trabalhadores). O capítulo apresenta também estudo de caso, de situações diversas em Macapá e Santana, atrelados a um comportamento cultural em paralelo à realidade estimulada pela empresa. Curioso destaque para o caso envolvendo os marinheiros de um navio estrangeiro no Porto de Santana, que tinham costumes estranhos à terra, resultando numa tragédia. Coisas que ficam em paralelo para ressaltar a filosofia que a ICOMI implantou.

Na parte final, a vivência nas company towns. Interessante o processo de modernização dos trabalhadores, que tiveram oportunidades de fazer cursos ou aprender na prática o manuseio de máquinas de última geração na época. A disciplina e organização nas vilas era também um contraponto à realidade amazônica associada à mineração.

Enfim, um livro envolvente e muito legal para se conhecer e entender um pouco do entusiasmo de quem conheceu e vivenciou o que representou a ICOMI nos áureos tempos. Ressalte-se que o livro excede as informações aqui apresentadas e a ICOMI é um campo de estudos com pontos positivos e negativos em sua trajetória no Amapá.


Leia também o parecer de Jessica Marinho
Livro conta a história de operários que atuaram na exploração de Manganês em Serra do Navio NESTE LINK.


A obra está disponível para consultas em Macapá na
Biblioteca Pública Elcy Lacerda e
Biblioteca Ambiental da SEMA-AP. 

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Revista ICOMI Notícias Nº 07 (1964)

Edição de Julho de 1964. Destaques:
- Progresso para o Amapá: o que é a COPRAM, a nova entidade criada pela ICOMI?
- Bombeiros voluntários em alerta dia e noite.
- Funcionários do mês: Bicelli / Américo dos Reis Alves Filho ("Seu" Américo).
- Para suprir 4.000 pessoas: reportagem sobre a operação de abastecimento de alimento nas vilas.
- A craque do mês: Christine Mary Nicolai - "Christy" (jogadora de voleibol).

Imagens da revista:

Fortaleza de São José de Macapá, com vista parcial da antiga Doca da Fortaleza.
 Treinamento dos bombeiros voluntários.
Supermercado em Vila Amazonas.
Professora Elza Muller, da Escola de Vila Amazonas, supervisora do curso de supletivo do pessoal do 1º Distrito da EFA. Na foto, vemos reunião geral com objetivo de traçar plano para a valiosa iniciativa.
Festa da Páscoa no salão de Recreio da Mina.

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Extrativismo e Capitalismo na Amazônia (Antônio Filocreão, 2002)

Na proposta de divulgar obras do acervo da Biblioteca Ambiental da SEMA-AP, vamos conhecer mais um dos valorosos livros.

O exercício intelectual do autor e seu empenho em observar, coletar e organizar os dados da pesquisa de campo, tiveram como finalidade produzir um conhecimento aprofundado e sistemático da organização do extrativismo da região do Jari, resultando nesta obra “Extrativismo e Capitalismo na Amazônia: a manutenção, o funcionamento e a reprodução da economia extrativista do sul do Amapá”.
A dissertação, escrita em 1992, expõe os principais mecanismos que garantiram a manutenção da atividade extrativista, em face de um modelo de desenvolvimento capitalista que privilegiava outras atividades concorrentes, e, até certo ponto, destrutivas das suas condições de reprodução. A pesquisa também mantém sua importância por ser o primeiro estudo de caráter científico a retratar minuciosamente a economia extrativista do Amapá. (Descrição na contracapa)

Título: Extrativismo e Capitalismo na Amazônia: a manutenção, o funcionamento e a reprodução da economia extrativista do sul do Amapá
Autor: Antônio Sérgio Monteiro Filocreão
Editora: SEMA-AP
Ano: 2002
Páginas: 170

Sumário
Capítulo 1 - Contextualização histórico-geográfica
Capítulo 2 - Os produtores e a produção extrativista do sul do Amapá
Capítulo 3 - Aspectos conclusivos e considerações sobre as perspectivas da economia extrativista

O livro originou-se em dissertação de mestrado apresentada em 1992 na Universidade Federal da Paraíba, com os resultados da pesquisa de Antônio Filocreão sobre a produção extrativista na região sul do Amapá. 
No contexto, o Estado do Amapá tinha sido recém-criado, buscava delineamento de desenvolvimento e a região abordada é caracterizada pela potencialidade de recursos naturais, historicamente baseada na economia extrativista e em choque com os interesses capitalistas, que buscavam formas mais lucrativas e desapegadas da proteção aos recursos florestais e povos da floresta. O início dos anos 90 marca também a discussão das questões ambientais, buscando-se uma abordagem sustentável de valorização dos fatores humanos e naturais (pontos ressaltados na ECO-92). Com estas premissas a obra se insere nesse contexto, como estudo científico entre os pioneiros da economia extrativista no sul do Amapá.

Sobre a importância, o autor ressalta que a produção de castanha, principal produto na região em estudo, correspondia a 80% da extração amapaense e 15% da nacional.

O livro está dividido em 3 partes:

- A primeira faz a contextualização histórica e geográfica, resgatando a ocupação e economia regional, com ênfase na extração nos seringais e castanhais. O cenário era atrativo para a ocupação, tendo, porém, gerenciamento agressor ao extrativista, tornando-o refém e submisso de modelo econômico favorável apenas ao dono e empreendedor (latifundiário), que tinha o controle na região. Vemos também o desenrolar de abandono de priorização extrativista na fase Ludwig, com possibilidade de grande impacto pela supressão florestal por espécie exóticas (em um planejamento de maior lucro) e com a previsão da construção de uma hidrelétrica visando principalmente os interesses do empreendedor. A RESEX do Cajari foi criada em 1990 e entrava em choque também sobre a posse da terra.



Figura 3 - Trabalhador extrativista deslocando-se à floresta para coleta da castanha
(Foto do início dos anos 90)

- A segunda parte mostrou-se a mais interessante na obra, pela caracterização do produtor extrativista no sul do Amapá. No perfil apresentado, trabalha em áreas chamadas de UPAES (Unidades de Produção Agro extrativista), tendo que lidar com roças e pequenas criações de animais para subsistência (produção familiar). A parte final desse capítulo mostrou a forma como as cooperativas e associações foram criadas nos anos 80 (COMAJA e AMAJA) em perspectiva de organização aos interesses do produtores. Pela discordância entre eles com o capitalismo na região do Jari ocorreram conflitos pelo uso da terra. O livro resgata algumas dessas histórias.

Figura 5 - Residências típicas de extrativistas na Comunidade do Marinho - Cajari. 
(Foto do início dos anos 90)

- A parte final enfatiza dificuldades e anseios para melhor aproveitamento de modelos econômicos sustentáveis. Caminhavam para a industrialização, desenvolvimento da biotecnologia, crescimento populacional, necessidade de firmar mercados concorrentes com o capitalismo predatório e que buscasse a valorização humana e ambiental.
Nas análise finais, após a valorização do extrativismo racional, a região protegeu mais terras para modelos de manejo sustentável com a criação da RDS Iratapuru em 1997.

Pontos presentes na obra, entre outros aspectos para estudos.

Disponível para consultas na 
Biblioteca Ambiental da SEMA em Macapá.