As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Macapá das Ressacas (Vídeo de Flávia Barbosa/2008)

Em 12/12/2008, a estudante Flávia Barbosa conquistou o primeiro lugar na categoria câmera amadora de celular - 12 a 16 anos - no 1° VIDEO FEST "Macapá 250 anos, um novo olhar", promovido pela CONFRARIA TUCUJU / AP. Foi vencedora com a produção do vídeo "Macapá das Ressacas" uma reflexão sobre a atual situação da Ressaca Chico Dias em transformação pela ação humana.

No vídeo a autora quer expressar sua visão crítica sobre essas transformações e a preocupação é mostrar a imagem antes e após a degradação.
Este trabalho recebeu o apoio da pedagoga Maria do Socorro P. da Silva, professora orientadora de aprendizagem "TV Escola" na Escola Reinaldo Damasceno.


Macapá das Ressacas
(Flávia Barbosa)
Era assim a ressaca, um lugar bonito cheio de graça, cheio de verde, cheio de peixes.
Tinha muitas árvores, tucumanzeiro, buritizeiro.
Tinha o aningal, mururé e matagal, tinha jurubeba e até vitória-régia!
Tinha muitos animais, moréia, tamuatá e cará.
Tinha cobras e sapos, tinha até caracol!
Flores do lago que brilhavam ao sol!
Mas foram chegando e foram ficando, os moradores do lago, pessoas boas e más, construíram as casas verdes, azuis, e corais.
Fizeram a passarela prá toda a galera, crianças na ponte correndo e brincando, o lugar foi se transformando e a natureza foi mudando. 
Aquela bela ressaca de antigamente não existe mais!
Agora é diferente tem gente demais...
A ressaca está doente!
Na ponte tem ladrão de televisão, tem trombadinha que cobra pedágio, tem bebezinho que morre afogado!
No lago tem lixo e jogam até bicho!
Tem garrafa, sacola, tem latas, chinela, tem boneca, panela, tem sapato e bola.
Tem pneu, tem pau, lixo junto com animal.
Tem homem mau  que pega criança, tem bandido e policial.
É assim a ressaca, o lago do povo do trabalhador, da mãe de família
do menino e do moço.

Apesar da violência e poluição, tem diversão e união.
Tem muito lagos em Macapá, a cidade cercada de ressacas.
Tem gente que mora no seco. Tem gente que mora no lago
A cidade é muito bela.
Tenho orgulho de morar nela!
Veja algumas imagens da exposição "Demarcações", do Grupo Imazônia,  
muito pertinentes ao texto de Flávia Barbosa.
A exposição realizou-se na galeria de artes do SESC-Araxá - em agosto de 2011 - e teve caráter instalativo, com trabalhos feitos de reaproveitamento de lixo. Mostrou, através de miniaturas e desenhos, a problemática (social e ecológica) da ocupação desordenada nas ressacas e em áreas ribeirinhas.

Foto: Etiene Mazze
Foto: Etiene Mazze
Fotos de R. Castelo
Grupo Imazônia (Foto do SESC Amapá).
Parabéns aos idealizadores pela ótima proposta artística e educacional!
Mais informações sobre ressacas podem ser obtidas
Veja também:

domingo, 7 de outubro de 2012

O Barco da Bíblia em Macapá (Parte 1 - Outubro/2012)

Barco da Bíblia - Luz na Amazônia II, uma livraria e museu flutuante que se destina à difusão da Bíblia Sagrada, chegou em Macapá.
Está ancorado na rampa do Santa Inês e pode ser visitado até o dia 12 de outubro, partindo então para outros cantos da Amazônia.
A proposta é de  tornar a Palavra de Deus disponível às populações que vivem isoladas dos centros urbanos e com acessso apenas por via fluvial - realidade comum na Amazônia. O barco realiza esta atividade há 50 anos e faz parte de um projeto iniciado em 1962 pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), em uma história que se desenrolou, mais ou menos, nestes termos:
A Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) é uma entidade brasileira que traduz, produz e distribui Bíblias. Foi criada no Rio de Janeiro em 1948 (quando houve uma maior procura pela Bíblia em um mundo no pós-guerra) e faz parte das Sociedades Bíblicas Unidas (associação mundial que reúne sociedades bíblicas em mais de 200 países,  em cooperação mútua para facilitar o processo de tradução, produção e distribuição com preços mais acessíveis).
A viagem inaugural foi em 08/12/1962
A SBB realiza também programas de assistência social/médica/espiritual e assim, em 1962, adquiriu o primeiro Luz na Amazônia, tendo a ajuda da Sociedade Bíblica da Escócia. Foram 28 anos atuando em comunidades do baixo Amazonas.
Em 1990 foi construído o Luz na Amazônia II, concebido como um barco-ambulatório de ferro (desenhado especialmente para navegação na Amazônia) com recursos adquiridos da Sociedade Bíblica do Canadá.
Com a colaboração financeira das Sociedades Bíblicas da Holanda e do Canadá, em 1997 foi construído o barco Luz na Amazônia III, responsável até hoje por atendimento social, filanrópico, cultural e médico na região (que vinha sendo desempenhado pelo Luz da Amazônia II). A SBB atualmente está levantando recursos para a reforma e melhorias.
O Luz na Amazônia II foi reformado este ano e transformado no atual Barco da Bíblia, com a função específica de livraria e museu flutuante.
É este o barco (e um pouco de sua história) que aportou nas terras amapaenses trazendo a mais importante obra literária, a Bíblia Sagrada. 
O barco é bonito, com ambiente climatizado e aconchegante aos visitantes.  
A livraria oferece um número diversificado de bíblias, adaptações infanto-juvenis e obras para facilitar o estudo, como os dicionários bíblicos.
Sabias que:

- A distribuição organizada da Bíblia, no Brasil, começou a ser realizada pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira e pela Sociedade Bíblica Americana, no século XIX, no tempo do Brasil Império.
- As igrejas cristãs organizaram a Sociedade Bíblica do Brasil em 1948 (ah, isso já falei...).
- As traduções distribuídas pela SBB em português são de João Ferreira de Almeida (nas edições Revista e Atualizada).
- Das línguas faladas por indígenas no Brasil, apenas 03 têm no momento a Bíblia completa (Wai-Wai, Guajajara e Guarani-Mbyá).
- As línguas originais da Bíblia são hebraico, aramaico e grego.
- Um fato histórico que contribuiu também para a tradução e difusão da Bíblia foi a chamada Reforma Protestante (iniciada no séc. XVI).  Veja aí alguns tradutores e respectivos anos:

Língua
Tradutor
Ano
Alemão
Martinho Lutero
1534
Espanhol
Reina Valera
1602
Italiano
Giovanni Diodati
1607
Inglês
King James
1611
Português
João Ferreira de Almeida
1681 (Novo testamento)
1753 (Bíblia Completa)
Francês
Louis Segond
1871
Fonte: Barco da Bíblia - Luz da Amazônia II
Alguns valores são realmente bem acessíveis. Esta Bíblia de bolso, por exemplo, pode ser adquirida facilmente... mas tem que ter olhos de águia. Aproveitei para adquirir várias.
Você conhece esta edição bíblica? É a chamada Bíblia na Linguagem de Hoje. Tem crescido a procura por aproximar a tradução do linguajar popular. Por exemplo, vamos dar uma conferida no Evangelho de João 3:16, que é uma passagem muito conhecida, difundida e muitos acreditam que sintetiza toda a mensagem bíblica:
"Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (Edição João F. Almeida - Versão Atualizada)
Agora na versão da Bíblia na Linguagem de Hoje:
"Porque Deus amou o mundo tanto, que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna." (Nova Tradução na Linguagem de Hoje).
Desenho de Rogério Castelo (1996)
Há uma aproximação maior do que se fala popularmente, porém, a edição (que foi lançada no Brasil em 1988 e revisada no ano 2000) não é bem recebida por muitos teólogos que acreditam que pode desvirtuar ou perder o sentido de algumas passagens para a adequação na linguagem. Penso que esta edição, mesmo sujeita a erros, é de grande valor e auxílio também.  A primeira versão gostava de ver porque vinha acompanhada de umas ilustrações estilizadas que me identifiquei e influenciaram minha maneira de desenhar até hoje.
Esta outra edição que encontramos no barco é a Vulgata, que é uma Bíblia de uso comum na Igreja Católica Apostólica Romana e tem uma importância histórica também. A Bíblia é uma só, mas já ouvimos sobre Bíblia Evangélica e Bíblia Católica. Existe uma diferença sim e remete-se à fonte de tradução. Entre os últimos escritos do Velho Testamento e os primeiros do Novo Testamento houve um período de cerca de quatro séculos onde, evidentemente, muita coisa de cunho histórico se desenrolou. Uma delas foi a tradução de escritos da cultura hebraica para a linguagem grega (em evidencia na época). Diz a história da igreja que um grupo de cerca de 70 sábios foram incubidos desta tradução e assim os escritos que formam o que chamamos Velho Testamento foi traduzido para o grego, ficando esta versão conhecida como Versão dos Setenta ou ainda Septuaginta. Esta edição, além dos escritos que mencionei, anexou também outros livros da cultura hebraica que não constavam no Velho Testamento
Ilustração representando Jerônimo.
À ele é atribuída a frase:
"Ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo".
Pois bem, tempos depois com o advento e crescimento do Império Romano, popularização da língua latina, propagação do Cristianismo e da própria cristianização do império, começaram a circular muitas traduções extra-oficiais para o latim e (entre fins do século IV início do século V), coube a Jerônimo (hoje canonizado na Igreja Católica) a tradução de uma versão em latim a ser oficializada (a pedido do Papa Dâmaso I). Jerônimo traduziu os escritos do Novo testamento, já conhecidos em grego, para o latim e, em relação ao Velho Testamento usou a versão da Septuaginta que, como falei, estava acrescida de livros não participantes nos escritos sacros oficializados na cultura hebraica. Essa versão em latim de Jerônimo foi oficializada e denominada Vulgata. Esta é a diferença, a Igreja Evangélica adota como fonte e tradução a literatura em hebraico adotada pelos judeus, enquanto a Igreja Católica  tem como fontes a Vulgata e Septuaginta
Os livros que não têm na Bíblia usada pelos evangélicos são denominados Livros Apócrifos (não genuínos) e são: I e II Macabeus, Tobias, Judite, Baruc, Eclesiástico e Sabedoria. Existe também um acréscimo de capítulos nos livros de Ester (10 para 14) e Daniel (12 para 14) adotados pela Igreja Católica que, a exemplo das outras alterações, foram oficializados em concílios ao longo da história.
O Barco da Bíblia é assim, com as Bíblias a preços acessíveis (Bíblia da Criança, da Mulher, do Obreiro, pequena , média, grande, ilustrada, Hebraica, Vulgata, na Linguagem de Hoje, etc) e o que realmente importa é a leitura, aprendizagem e, principalmente, vivência da fraternidade cristã.
Sabias também que com a leitura de 04 capítulos diários ao final de um ano teremos lido toda a Bíblia?
A outra parte distinta do barco é uma sala que mostra algumas curiosidades...
... como as edições em vários idiomas...
Segundo a SBB, a Bíblia completa já foi traduzida para 475 línguas e, pelo menos um trecho, já foi traduzido para cerca de 2.500 línguas (das mais de 6 mil existentes no mundo).
... e encontramos também a Bíblia em braile.
 A edição em braile da SBB completou neste ano 10 anos de seu lançamento, é composta por 38 volumes e foi traduzida na versão da Linguagem de Hoje. A Bíblia completa em braile é hoje cara para a realidade da maioria dos brasileiros (entre R$ 1.260,00 a R$2.660,00 - dependendo do tipo de encadernação) por isso podem ser também as Escrituras encontrada em áudio a preços mais acessíveis.

Esta é uma representação das diferentes formas como a Bíblia foi sendo registrada em seu trajeto pela História.
Quando os livros foram escritos foram sendo registrados em:
- Tábuas (de madeira ou pedra),
Papiro (uma folha feita com o caule de uma planta),
- Pergaminho (couro de animais).
Hoje está on-line, em sites como www.bibliaonline.com.br
(Graças a Deus por tudo!!!) 

Para finalizar nossa passagem por este barco e seu singular museu, encontramos também uns recipientes com essências citadas na Bíblia, como o Nardo (que em Marcos 14:3 apresenta-se como o unguento usado por uma mulher para ungir os pés de Jesus). É bem interessante conhecer e sentir estes aromas... a mirra é tão odorífera!!!! Foi também um presente dos três reis magos a Jesus, na manjedoura.
Viajei neste barco... sem realmente ter navegado...
...É o Barco da Bíblia - Luz na Amazônia II mais uma vez em Macapá!!!
"E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará."
Todas as descrições desta postagem são impressões 
sujeitas a equívocos... Foram coisas que fui lendo e estudando.
Quem conhece o que seja verdadeiro que mostre,
como faço com as coisas em que acredito.

 Fontes de Consultas:
- www.sbb.org.br
- Sociedade Bíblica do Brasil (Wikipédia)
www.extremosulgospel.com.br 
- Revista A Bíblia no Brasil (Nº 236 - Julho a Setembro de 2012 - Ano 64)

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Ilha de Santana (Parte 4 - Comunidade Cachoeirinha)

Retornando à Ilha de Santana em 29/09/2012. Quanto mais vou, mais me entusiasmo pela possibilidade de descobertas e aprendizagem, principalmente sobre os ribeirinhos. Suas histórias e cotidiano me atraem e inspiram em entender as minhas origens. Venho também de uma família que um dia viveu essa vida ribeirinha às margens do Rio Jacarezinho (Pará) mais de meio século atrás.  
Imagem do Porto de Santana, sempre movimentado com o vai e vem dos passageiros. É gente saindo, gente chegando, citando interiores do Amapá e Pará que nunca tinha ouvido falar, o ribeirinho trazendo suas produções (camarão, açaí, banana, peixe e muito mais), gente assando peixe, catraieiros disputando passageiros, vendedores ambulantes, movimento no rio... ladrão de olho na bolsa, necessidades clamando por intervenções, saneamento precário, deposição de lixo (epa!!! melhor parar com as descrições)... Em um destes dias meus amigos Gregor Samsa e Dimas mais uma vez se arrancaram para a Ilha de Santana.
 Olha o Porto do Açaí (nosso ponto de saída) mostrando o resultado da ampliação da rampa, realizado na semana passada. Os barcos chegam se batendo, numa desordem organizada, e - opinião de um cidadão - acredito que a construção de mais uma rampa é perfeitamente viável e  necessária.
Esse é o Lucas, jovem morador da Ilha que, como muitos outros, é piloto de catraias usadas na travessia. Foi o guia do "Comandante Araújo" em nossa 3ª excursão, desta vez margenando pela Comunidade de Cachoeirinha. Percorremos uma parte, parando em dois pontos conhecidos.
Todas as impressões aqui descritas resultam de informações obtidas na oralidade e de observações, sem formalidades, com simples objetivo de mostrar o lugar. Vou sempre com este propósito e meu amigo Dimas levantando informações mais precisas pra publicar em uma revista.
A Comunidade de Cachoeirinha, segundo informações locais, se inicia no Igarapé Paula e se estende até o Recanto da Aldeia. O Igarapé Paula refere-se ao trecho do rio entre a Ilha de Santana e a Ilha Mucuim. Tem pouco mais de 700 m de comprimento (informação do Google Earth) e profundidades médias de 3 a 10 m (informação retirada de uma carta náutica pesquisada na Biblioteca SEMA-AP, em Macapá).
O Rio Amazonas é de muita sedimentação, percebendo-se a formação de bancos de areia no igarapé, principalmente na maré vazante, podendo até encalhar pequenos barcos (como nos mostra a imagem, em que o jovem está com água pelo joelho bem no meio do canal). Lembrei das estórias sobre submarinos por aqui... algo, falo como leigo extremo, de grande impossibilidade frente o que vemos.

E vamos nós!! Passando pelo Igarapé Paula... Lá está a Ilha Mucuim!! É um nome que não é conhecido no lugar (como já informei, fiz o levantamento e confirmação em dois mapas pesquisados na Biblioteca SEMA-AP). O povo costuma chamá-la de ilhazinha mesmo. Ainda vou descer lá... O local é de várzea e inundado periodicamente. Imagino que aquela grande lançante que teve no início do ano (que muitos acreditam que foi a maior que já teve na história de Macapá) por aqui deve ter deixado tudo no fundo (veja como foi esta lançante AQUI).  
Nota de 06/10/2012 - Encontrei (em Macapá) alguns ribeirinhos que chamam a ilhazinha de Maruim e os mapas referenciam Mucuim. Fico com o registro dos mapas.
...Encontramos nela algumas casas isoladas e um pequeno núcleo na parte voltada para o Igarapé Paula, todas com essa característica de palafita. Um cenário típico que vamos encontrar também em toda a Comunidade de Cachoeirinha.
...Mais umas imagens da passagem pelo Igarapé Paula.
Sou um pirata singrando o Amazonas! Vou me apoderar de toda cultura que puder...
Finalmente, para sair do Igarapé Paula, o registro de um pescador... Deve ter muito peixe, pois esse canal é passagem rotineira de botos...
... Eu não duvido não, infelizmente não vi nada e quem me contou foi Seu Wilson, que lá dá frente da casa dele fica só de butuca espiando as paragens por aqui. Olha lá ele!
Sigamos nossa viagem pela Comunidade de Cachoeirinha...
Parte do mapa  Canal de Santana (Mapa da Marinha do Brasil - 1982). 
Mapa Google Earth (2012)
Havia citado que paramos em dois pontos. O primeiro foi onde se localizou um orfanato (apesar de já não existir há muito tempo, essa área ainda é assim denominada). O lugar tem sua importância na história do Município de Santana. 
Está localizado em área de terreno mais elevado e, como ouvi muita história, fui na expectativa de encontrar alguma edificação antiga (ou ruínas).
...Encontramos uma bem modesta e o calçamento do que foi uma edificação maior. É hoje uma área particular e resumo as imagens a isso.
Sou apenas um observador, sobre a história do orfanato consulte o Memorial Santanense, de Emanoel Jordanio, AQUI e AQUI.
Ei turma, subam logo e vamos adiante!!
Daí para frente, navegamos encontrando um cenário que vai permanecendo o mesmo. Casas isoladas intercaladas por mata nativa e açaízais.
São abastecidas com energia elétrica e, ao contrário do que pensei, a interligação entre os moradores é por via fluvial mesmo. Nenhum dos que foram entrevistados citou caminhos de uso eventual entre as moradias que não fosse por embarcações.
O terreno é muito úmido, bem característico de várzea.
Por isso o movimento no rio, seja nas catraias ou em canoas com rabetas.
É uma rotina que vão se acostumando desde cedo. Não é nada comum para mim atravessar o rio em canoa tão pequena que parece que vai afundar, como vi algumas vezes. O ribeirinho é habituado e acidentes não são frequentes.
...Só não se descuidar com os bancos de areia, principalmente na maré vazante!
Toda casa tem sua embarcação (catraia, casco, barquinho, puc-puc) que o ribeirinho cuida com zelo e vaidade, mostrando um amplo conhecimento pelas peculiaridades e navegação (também desde cedo). Lá eu sei o que é um motor dois tempos daquilo, quatro entradas daquilo outro, partida fulano de tal, etc.
Supõe-se que em uma área menos antropizada a presença de animais silvestres seja maior. Destes, avistamos apenas algumas aves (por falta de oportunidade). Moradores informaram que a presença de animais (caça) têm diminuído.
...Passando por um pequeno núcleo de casas onde avistamos uma capela (N. Srª de Nazaré). Não identificamos se este local tem algum nome conhecido, mas está dentro da Comunidade de Cachoeirinha.
... Avistamos o Estaleiro Santa Edviges.
Em 2010 houve uma ação do Ministério Público do Amapá para que os estaleiros de Santana oferecessem melhores condições de regularização empregatícia (Veja aqui). Segundo noticiado, nestes empreendimentos a informalidade é algo frequente, seja por opção ou por desconhecimento.
... Apontando para nosso destino final em nossa terceira excursão pela Ilha de Santana, também a primeira fluvial (pela Comunidade de Cachoeirinha). Não representa o ponto de limite final desta comunidade.
Chegamos na Escola Estadual Nossa Senhora de Nazaré. Foram aproximadamente 25 minutos de barco, partindo do Porto de Santana, pelo Rio Amazonas.
A escola originou-se de uma ONG (há 13 anos), formada por uma comunidade familiar, e há dois anos passou a ter caráter estadual.
Atende mais de 200 alunos, distribuídos nos turnos da manhã e tarde, sendo transportados pelo revezamento de 12 catraias. Sente só  a criatividade no nome de algumas delas: Milagre de Jesus, Vitória-Régia, Jardim do Édem, Milagre de Nossa Senhora, Ruanny e Raylanne, O Bem Amado, Capitão Lucas, Comandante Queiróz, A Paz do Senhor, Seis Irmãos, Cinco Netinhas, etc.
Encontramos duas edificações na área escolar, esta é a mais antiga, que representou durante muito tempo a única escola de ensino fundamental na Comunidade de Cachoeirinha.
A edificação já não comporta mais as salas de aula. O espaço é usado para eventos, como nos ilustra a imagem, onde se festejou o aniversário de uma aluna. Os objetivos e desejo dos responsáveis pela escola é que aqui se construa uma quadra, que representará um ganho extremo aos educandos daquela comunidade. Escola precisa de espaço de lazer e para atividades esportivas, principalmente as de ensino primário. A quadra teria essa dimensão e, para se concretizar, requer bastante investimentos. Algo que certamente será de caráter histórico e de desenvolvimento no lugar.
...Imagens das proximidades, vendo-se o terreno típico de várzea amazônida... destacando-se entre os açaizais um singular e rudimentar campinho.
São histórias na Amazônia, em lugares distantes, alojados nas curvas do rio... tão possíveis de melhorias e do alcance da ação governamental... quando se tem visão e compromissos... com a educação, com o ribeirinho... com o cidadão. 
 Vamos agora conhecer a nova edificação da escola.
Aqui está! Bem ao lado da antiga! É maior e com melhores acomodações para os alunos.
Existe uma outra escola nas proximidades (ainda vou chegar lá) e, em virtude disso, a Secretaria de Educação (SEED) orientou que a Escola N. Srª de Nazaré atenda os alunos do 1º ano à 8ª série (podendo atender também o EJA/Fundamental, se tiver demanda) e a Escola  Levindo Alves atenderá somente o Ensino Médio regular (isso passou a vigorar desde 2011). Fonte da informação: santanadoamapa.zip.net
Esta é a parte detrás, apresentando bebedouro, forro de PVC, iluminação florescente e ornamentação ao estilo de escola primária.
Vamos gente! vamos entrando! São as salas de aula...
São oito recintos (05 Salas de Aula, Sala de Leitura, Direção e Secretaria). Infelizmente chegamos em um dia em que os alunos não estavam em sala de aula 
...Estas não são grandes e mostraram-se conservadas e organizadas. Não vi indícios de depredação, como encontramos frequentemente em escolas públicas... uma suposta valorização frente aos desdobramentos que têm que viver para estudar, são exemplos:
- Locomoção de barco (ida e vinda);
- Menos oportunidades de acesso à internet;
- Sala de leitura com pouquíssimos livros;
- Recursos pedagógicos limitados;
- Eventuais atraso em pagamentos aos profissionais;
- Ausência de quadra para esportes;
- Isolamento entre as casas
- Carência de material didático
- Proximidade da escola com um estaleiro. Em um primeiro momento, as salas me pareceram bem isoladas.

A merenda escolar, segundo a Srª Célia, não faltou até o momento (um direito que deve obrigatoriamente se cumprir sempre).
Como a escola não estava em dia letivo, organizamos esta turma para ilustrar: Lucas, Gregor Samsa e a Professora Célia, a quem agradecemos a boa receptividade.
"Se não sabes, aprende; se já sabes, ensina."
(Confúcio)
 Opa, opa!!! Gostei do primor que dedicaram às portas!!!
...mas esta minha montagem não faz justiça ao belo trabalho e acabou  meio esdrúxula... não parece?... é...
O banheiro da escola é uma construção em alvenaria (azulejado por dentro e por fora), com água corrente de caixa d'água, fossa séptica e passarela em alvenaria bem próxima à escola. 
Em 01/03/2012 a TV-AP exibiu uma matéria (no Amazônia TV) mostrando o atraso no início das aulas. O vídeo é interessante por mostrar imagens do local e algumas peculiariedades desta escola na Comunidade de Cachoeirinha, além de algumas de suas dificuldades (Reportagem: Gilberto Pimentel - Imagens: Inival Silva). Esse vídeo pode ser visto também no acervo da Biblioteca SEMA-AP.

Agora vamos conhecer a Sala de Leituras.
A exemplo das outras salas, é um espaço pequeno e também bem organizado e cuidado. Apresenta um tapete central. É uma proposta interessante para leituras com crianças, mas como sala de consultas ou pesquisas (sei que estamos em uma realidade com outras oportunidades) seria ideal e legal mesmo umas mesas para a turma.
A maior parte são livros didáticos.
As obras de leituras diversas (infantis, infanto-juvenis, dicionários, revistas, coleções...) são pouquíssimas. As que meu amigo mostra são da Série Vagalume (uma coleção que tem mais de 30 títulos com temas diversos - aventura, mistério, ecologia, sociologia, história, etc - que podem ser importantes ferramentas para exercício da leitura). Quando era estudante me afeiçoava tanto a ela, lendo sempre nas oportunidades que encontrava na sala de leitura da minha escola. Na nossa realidade ribeirinha aqui, é uma pena não encontrarmos nem 10 títulos.
Alguns dos livros disponíveis. As obras circulam entre os estudantes em uma oferta muito limitada...
Uma parte é resultado de doações, daí ter encontrado obras de edições bem antigas. Além de necessitar de maior atenção governamental, penso que deveriam fortalecer nas escolas o investimento em obras da Literatura Amapaense, algo que já vi tratarem em encontros literários e assumirem compromissos... desde tempos atrás.
Para terminar nossa visita na escola... bem nas proximidades encontramos também mais um estaleiro. É o Milagre de São Benedito.  Se você foi na Expofeira 2012 (na Fazendinha) e viu a exposição de uns barcos no início da rua paralela aos currais, saiba que eram criações deste empreendimento aqui. O dono, Sr Messias, reside há 47 anos na Ilha e foi um dos fundadores da escola. 
...É hora de voltar. Sinto-me mais uma vez gratificado pelas coisas que vou vendo e descobrindo neste grandioso rio que é o Amazonas. O povo, seu cotidiano, seus mistérios e características. Esse porto aí que nos parece tão alto, é o porto da escola... em determinadas épocas do ano as águas se elevam até a altura do assoalho, podendo até ultrapassá-lo.
Correm por estes cantos algumas histórias, ouvi sobre umas lendas que até então não conhecia. Barcos fantasmas existem em vários cantos do mundo, como lenda e descrições em convictas afirmações. Aqui neste canto do Rio Amazonas não sabia que existia também destas narrativas... Ribeirinhos me contaram, não como lenda, mas como um suposto encontro. Uns se referiram como um destes barcos de motor comuns na comunidade e outros citaram uma embarcação à vela... mas enfim, uma nau navegando sem ninguém.
Na tênue manhã ou cair na noite, quando solitários navegam por este rio-mar...cuidado! muito cuidado! Espia se não te segues uma singular e desconhecida embarcação... não é de teus amigos, não é de ninguém que conheças, como ninguém também é o que se avista a bordo... Cuidaaaado! Segue adiante ou desvias. É o barco fantasma, a procura de tripulantes... bem podendo ser... a tua aaaaaaallllllma! (pensa agora naquela gargalhada do Vincent Price no final do clip Thriller de Michael Jackson). 
A lenda mais conhecida da Amazônia, a do boto, por ali não tem força na crendice não. Muito pelo contrário, o povo (refiro-me a uns pescadores com quem conversei) tem uma relação de raiva com o dito. Pois, se no passado era o alvo da culpa das safadezas alheias que resultavam em gravidez, por ali tem fama de matreiro e ladrão. Isso porque rouba os peixes nas redes que os pescadores estendem e acabam rasgando também, coisa que muitos acreditam ser proposital. Ouvi até coisas do tipo (casos isolados que vou registrando): o governo tem que diminuir e acabar com parte deles. Pois bem, assim é a relação e cotidiano de muitos ali.
Tem maior força lendária uma que nunca tinha ouvido falar, a de um fogo ou raio que de repente sai da água ou terra e se projeta para o céu. Essa é nova para mim e mais de um ribeirinho me contou. Mas que coisa! De onde será que surgiu esta!? Quando algo ganha força, é facilmente crível entre o povo e, com a soma das histórias e mentes predispostas a acreditar, vão as lendas se manifestando e perdurando. Égua, tu é doido!!! Fogo para o céu? Mas como será que surgiu isso? O que os camaradas que testemunharam podem realmente ter visto? Me contaram na convicção de que é tudo verdade. Tem também um outro relato de como esta lenda se manifesta, que é comum em diferentes localidades (eu mesmo ouvi quando criança e ribeirinhos a descrevem de maneira parecida), mostra uma bola de fogo correndo sobre a água.  Imagine o cenário... já viu como é escuro o rio a noite? Nem vemos as ilhas e a noite se apresenta com toda sua beleza estrelar. No rio, onde um vento frio sopra com força, de repente o caboclo vê aquela bola de fogo, com velocidades acima da de qualquer embarcação, se apresentar no rio, percorrendo grandes distancias, em um resplendor ao longe... também causador de uma estranha sensação de medo do desconhecido. Isso é algo que está no relato de muitos... mais ou menos como descorre este texto. Tu duvidas?
Uma outra lenda que teve força popular no passado por aquelas bandas, foi a da Cobra Sofia. É que qualquer sucuri maior que viam logo a associavam a esta lenda... quando não, a chamavam de cobra grande. Por isso os mais antigos dizem às gerações novas e céticas de hoje... um dia eu vi a Cobra Grande... um dia vi a Cobra Sofia... e, diante da incredulidade, às vezes dizem coisas assim: vocês são novos e têm que viver muito ainda para aprender. Pensamos logo nas lendas criadas como algo ultrapassado, mas os antigos associavam a um misticismo não vigente hoje... na verdade são coisas do plano ambiental.  Nos tempos áugeos da lenda, diziam que na escuridão tinha olhos gigantescos como faróis na escuridão, que cresceu tanto que foi se enterrar  e por isso ninguém mais a viu... diziam também que está adormecida e que se mexer, de tão grande o tamanho, vai toda a cidade para o fundo. Já ouvi relato de que uma vez se mexeu e de repente abriu-se um buraco que levou toda a água... em seguida brotou a água com uma força e ímpeto para alagar tudo.
A Cobra Sofia é descrita em muitos textos, como o de Joseli Dias no livro Mitos e Lendas do Amapá. Veja AQUI. Aproveito para divulgar também a lenda da Cobra Norato. Veja AQUI e AQUI.
... o povo ribeinho e suas histórias, que eu tanto aprecio conhecer...
E assim chegamos ao fim da nossa terceira passagem pela Ilha de Santana (minha e de meu amigo Dimas). Lembrando que, muitas outras informações foram colhidas para serem publicadas em uma revista, assim que possível.

Até uma próxima e me perdoem os moradores
se me distanciei muito da verdade em qualquer ponto.
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