As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

terça-feira, 5 de abril de 2016

História do Amapá: da Autonomia Territorial ao Fim do Janarismo - 1943 a 1970 (Fernando Rodrigues dos Santos)

Ei turma! Vamos conhecer mais um livro que encontramos na Biblioteca Pública em Macapá! Não é recente, mas tem uma representatividade grande para pesquisas na História Amapaense.

A obra apresenta a história política do Território do Amapá em seu início, que foi marcada pelo Janarismo. O estudo é interessante e desvinculado da ideologia de mitificação do principal representante desse período, o primeiro governador Janary Gentil Nunes, que popularmente é uma figura incontestável. A trajetória é apresentada destacando a importância de suas realizações pioneiras e, o que é desconhecido e polêmico para muitos, os mecanismos que garantiram a longevidade em sua carreira  política. Fatos apresentados cronologicamente, com ponderações, como um resgate da história política no Amapá. 
O livro tem informações curiosas. Aspectos que estou apenas descrevendo.  

- Não sabia, por exemplo, que antes da ICOMI se estabelecer no Amapá houve outro empreendimento de exploração mineral que tentou explorar as jazidas de ferro na região do rio Vila Nova. Não passou da fase de estudos e o empreendimento fechou em um ano, por considerar as reservas abaixo das expectativas e exigir grandioso investimento (leia-se a empresa norte-americana Hanna Exploration Company, em 1946-1947). 
- Politicamente ocorreram  movimentos que tentaram extinguir os Territórios Federais recém-criados (para que voltassem à antiga condição) e o Pará foi um desses fomentadores, principalmente depois da descoberta de riqueza mineral no Amapá. 
- Há abordagem sobre a criação dos Territórios, mostrando-se a proposta de garantia de soberania nacional e a meta de desenvolvimento da região. O autor ressalta que os territórios tiveram em seu desenvolvimento inicial a exploração dos recursos naturais, com retorno, em termos gerais, abaixo do que deveria se estabelecer (pela conivência com interesses políticos e capitalistas).
- Em segundo momento a obra mostra a movimentação política, focada, logicamente, na figura de Janary Nunes. Polêmica para muitos, vemos um jogo de interesses, conchavos políticos, nepotismo, arbitrariedades, autoritarismo, referencias de aquisições financeiras ilícitas e uso das instituições públicas para barganhar e favorecer a manutenção no poder. O Janarismo, segundo a abordagem, teve também isso e o período poderia ter sido mais produtivo na visão do autor. A ascensão e declínio estão relacionados a um  jogo de interesses. Como o apoio empresarial  que Janary recebeu no início de sua gestão e a oposição a ele, pelos mesmos grupos, quando não tinha mais os mecanismos de favorecimento governamental. O jogo político é também ilustrado na postura favorável de Janary a João Goulart, antes do golpe militar, e a adesão ao golpe posteriormente. 

O livro mostra que o político teve momentos de apoio irrestrito, oposição e também escapou de cassação. No fim do período janarista, foi sumariamente derrotado pelos mesmos princípios que o haviam garantido.
Esses são alguns pontos abordados.
 
O autor, Fernando Rodrigues dos Santos, graduado em História pela Universidade Federal do Pará, tem o seguinte texto de apresentação no livro:
"O livro contém informações do período que se estende da autonomia territorial ao fim do janarismo, isto é, de 1943 a 1970, dissertado através de três capítulos. São análises do desempenho administrativo e político dos governantes e principais assessores, parlamentares e líderes políticos, resultando o compêndio de pesquisa bibliográfica e de campo. É uma sistematização desse período da história amapaense contribuindo para o resgate, valorização e ampliação do conhecimento de parte de nosso passado histórico, nem por isso esgotando o tema. O debate está apenas começando..." 
Informações do livro:
Título: História do Amapá: da Autonomia Territorial ao Fim do Janarismo - 1943-1970
Autor: Fernando Rodrigues dos Santos
Editora: Gráfica O Dia S.A
Ano: 1998
Páginas: 205
Tema: Janarismo / História Política do Amapá (1943-1970)


Sumário:
I - A criação do Território do Amapá, instalação do governo e a dinamização econômica
01. Antecedentes e causas sa autonomia
02. A escolha do governador e da capital
03. O surgimento do Janarismo
04. Adequação do ensino regional ao janarismo
05. Organização do serviço público
06. O despontar político partidário
07. Extinção de Territórios Federais
08. Consolidação do governo janarista
09. A implantação do projeto ICOMI
10. Tentativa de ordenação dos Territórios
II - A OPOSIÇÃO PARTICIPANDO DO GOVERNO, CRISE POLÍTICA NACIONAL E A RESTAURAÇÃO DA SUPREMACIA JANARISTA
01. Novas adesões e dissensão no janarismo 
02. Compondo e rompendo com a oposição
03. Forçado a recompor com o PTB
04. Amplo apoio ao janarismo
05. Fim do governo de coalisão
06. A SPVEA discrimina o Amapá
07. Reorganização da oposição ao janarismo
08. Os Nunes afastados do governo
09. A supremacia janarista se restabelece
III - MUDANÇAS POLÍTICAS E ADMINISTRATIVAS, O JANARISMO SOB SUSPEIÇÃO, RECUPERAÇÃO EFÊMERA E O DECLÍNIO
01. Desmandos administrativos e oportunismo
02. Manifestações de apoio ao regime militar
03. Acusações ao janarismo e a reação
04.Erro de avaliação da imprensa oficial
05. Melhorias no ensino público
06. Situação partidária atípica 
07. Reglutinação das forças governamentais
08. Austeridade administrativa e financeira
09. Autoritarismo e a reação local
10. Eleições municipais de 1969
11. Declínio do janarismo
CONSIDERAÇÕES FINAIS

 Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia 
Macapá - Bairro Central

quarta-feira, 30 de março de 2016

As Proezas de Baduri (Geraldo Oliveira de Souza)

Cordel com o embate entre um caboclo e um valentão - enfrentamento comum a essa literatura - com o Baduri, o caboclo sabido, dando uma lição no Cascavel, o valentão metido a estraga festa. 

O autor é o mineiro Geraldo Oliveira de Souza (mais informações) e as ilustrações são de Jamesson Marcio.

A obra tem um apelo infantojuvenil, de humor ingênuo e ilustrações caricatas e engraçadas com ambientação em Macapá, onde foi lançada em 2003.
 
É para a garotada



Título: As proezas de Baduri
Autor: Geraldo Oliveira de Souza
Ilustrador: Jamesson Marcio
Editora: Gráfica Única
Ano: 2003
Páginas: 45
Tema: Cordel / Amapá / Infantojuvenil 

 Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia 

Macapá - Bairro Central

quarta-feira, 23 de março de 2016

Imagens antigas do Amapá

Planta da Vila de São José de Macapá (por Gaspar João de Gronfelde - 1761)
Carta da "Bahia" de Macapá (por ordem de D. Francisco de Souza Coutinho - Governador do Pará, 1800)
 Carta Hidrográfica e Descritiva da parte compreendida 
entre os rios Araguari e Calçoene (por Jozé da Costa Azevedo, 1860)
O mapa tem curiosas notas geográficas e históricas.
Litografia com vista da Fortaleza e da cidade de Macapá
 (Carvalho - Biblioteca Nacional, Data não identificada)
 Detalhe da Fortaleza
Imagem na região do Oiapoque (por Georges Brousseau, 1898)

segunda-feira, 21 de março de 2016

O lugar errado (Ray Cunha)

Froteur, frottage, palavras bonitas, mas que na prática revelam comportamento doentio. O livro aborda esse tema - sexo frottage
Cada um com suas preferências, é lícito ao livre arbítrio e satisfações, mas no plano de abuso do outro, como a obra mostrou, não é legal. Por isso não tive empatia com o livro. Qual é? O que posso dizer ou pensar de personagem que manifesta desejos e ações pedófilas, em atitude pérfida e devassa. O cara entra no ônibus e se põem a encochar crianças e adolescentes, com discurso doentio (refiro-me à mentalidade da personagem) das intenções e justificativas, em uma conversa fiada sobre Vladimir Nabokov.
Em linhas gerais, o livro mostra certo professor em Belém, Agostinho, que tem desestruturação psicológica, de origens na família, que vê nessa tara um escape a seus tormentos. Reconhece a prática errada e sente-se deprimido e atormentado com ela, mas permanecendo no vício.
O lugar errado mostra o protagonista nessa luta interior - entre razão, loucura e prazer - amando e odiando suas escolhas. Um drama sobre vícios, e loucura.



Título: O lugar errado 
Autor: Ray Cunha 
Editora: CEJUP 
Ano: 1996
Páginas: 221 
ISBN: 85-338-0339-7 
Tema: Pará / Romance / Drama

Descobri essa história em outro livro do autor, Na boca do jacaré-açú (publicado em 2013) que a resume sem evidenciar o drama específico da personagem, como ocorre nessa obra. Tem dois momentos. Em Belém vemos o desajuste para o tal froteur pedófilo, e, na Ilha de Marajó, percebemos o direcionamento dos anseios para a caça, romances e tentativa de ser justiceiro (contra um padre pedófilo e um traficante de crianças - não há uma ironia aí?).
A obra tem uma proposta de reflexão, de entrar em conflitos secretos, sobre devassidão da alma... Doentio.


Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia 

Macapá - Bairro Central

quinta-feira, 17 de março de 2016

Marajó (Dalcídio Jurandir)

Olha, meus amigos! Um romance renomado na Literatura do Norte! Alguns autores o tem na conta dos mais significativos e importantes. Acompanhe aí... 

"Considerado um dos maiores romances da Literatura Nortista, Marajó mostra o drama do caboclo marajoara explorado e marginalizado, envolto em superstições e crendices, em uma Amazônia grandiosa com sua violência telúrica." (Fausto Cunha)

"Marajó é um belo romance, pois ninguém melhor do que Dalcídio Jurandir nos comunica a sensação de deserto, do lobo, do calor deliqüescente daquela imensa solidão de nuvens baixas e verdes malhadas que é Marajó. O estilo empolga, com as suas asperezas, seus regionalismos, suas soluções poéticas de um primitivismo expressivo, sua ausência de malícia.” (Sérgio Milliet) 

"Marajó é um volume feito com a verdade cotidiana, com a paisagem exata, com as fisionomias possíveis da existência. E o seu melhor elogio para um etnógrafo.” (Luís da Câmara Cascudo)

Título: Marajó
Autor: Dalcídio Jurandir
Editora: Cátedra
Ano: 1978 (a primeira edição é de 1947)
Páginas: 360
Tema: Romance / Amazônia

Ah! Por essas e outras também quis conhecer 
e, em um parecer simplista, fiquei com as seguintes impressões:

"Marajó" mostra a grandiosidade do lugar em suas peculiaridades. A natureza tem uma beleza descrita de maneira poética, onde os dramas do homem são histórias comuns e reconhecíveis Amazônia adentro. Muito disso se deve à identidade do autor, marajoara, que tem visão jornalística associada a lembranças em suas inspirações.
A descrição é o ponto forte do livro em minha visão, destacando o cotidiano em suas características naturais e influenciáveis, seja de forma positiva ou dramática. A Amazônia marajoara é apresentada de maneira tão grandiosa que se constitui no principal elemento na obra, mais importante que qualquer personagem identificável. Diga-se de passagem que o romance é diferenciado no sentido de não ter protagonistas destacados ou focados o tempo todo pelo autor ao longo da narrativa. Tive uma certa dificuldade de identifica-los e notar suas inter-relações no início. Vou fazer uma comparação que pode soar como bobagem (meio ridícula, mas importante em minha percepção). Se você já navegou pelo Google Earth sobre uma região, em um plano geral aberto, não vai ver muito além da grandeza do lugar. Mas ao se aproximar estrategicamente, vão se revelar um mundão de comunidades, que tem suas histórias próprias. Assim foi o romance para mim, com o homem engolido por aquela região e com coisas importantes para revelar quando o autor o traz mais intimamente ao leitor. Histórias na grande Marajó, como ecos da floresta em realidades a se descobrir...
Ressalto que a obra foi publicada em 1947 e faz parte de um ciclo no Norte como uma das primeiras a expor o cenário amazônico fidedignamente, com a credibilidade e empatia de um genuíno filho dessa terra.
Encerrando essa parte de descrição, diz aí se não tenho razão ao encontrar textos como: 
"O rio, uma cobra de prata, se desenrolava na sombra e ia urrar na baía. A curicaca deslizava no vigor da cobra de prata, a maré enchendo trazia o bafo áspero de mato podre e de bichos. O estirão foi se distanciando, com ele o medo daquelas trovoadas que arremessavam árvores contra os homens..." (trecho dos primeiros parágrafos no capítulo 41)
Já no aspecto referente aos dramas humanos, as personagens são dispersas na narrativa, sendo apresentadas em um momento e deixadas de lado em outros. Mas todas representativas da realidade naquele contexto. Não há destaques comparativamente ao andamento comum dos romances, mas dá para notar singularidades e significância social em muitas, como: 
Coronel Coutinho (um típico fazendeiro mandachuva na região, que trata tudo, terra e povo, como sua possessão); 
Missunga (o filho do coronel, um jovem idealista em algumas concepções, porém, dominado pela indolência e desejos carnais); 
Alaíde, Orminda e Guíta (apaixonantes e sofridas caboclas cobiçadas e marcadas por dramas pessoais, pelo que despertam e pelas injustiças sofridas); 
Nhá Leonardina e Mestre Jesuíno (típicos representantes da cultura apegada a tradições da terra, sendo respeitados ou odiados pela pajelança);
Ramiro (vaqueiro e poeta que versa sobre as injustiças). 
Esses são alguns, engolidos por Marajó.
A história em si foi se revelando confusa na minha experimentação, sem aquele andar de empatia costumeiro dos romances. Fundamentalmente se vê um cotidiano sem devaneios, árduo em sua realidade. 
Em um primeiro momento não gostei da obra, que, por sua peculiaridade e veracidade, é celebrada por muitos como o mais importante romance do Norte (por todas as coisas somadas em seu contexto e pioneirismo). 
Muita coisa fica em evidência, como: a riqueza e poder diante da exploração; o apego a tradições, e a realidade nua e crua de uma terra desconhecida e, até então, vista de forma idílica. 
O autor não apenas traz a realidade cotidiana, como menciona fatos da história que valorizam isso, como a referência ao coronel José Julio. O mesmo foi contemporâneo da época do romance, com fama de maior latifundiário do mundo no norte do Pará (arquétipo de coronéis Coutinho).
No final da edição que li (Editora Cátedra, 1978) tem um texto em anexo intitulado "Chão de Dalcídio" (de Vicente Sales), que resenha sobre a obra e importância literária do autor. Recomendo, principalmente, a Parte 3 desse texto, que encerra tudo o que realmente gostaria de saber escrever na percepção do livro.
Li e entendi nesses termos. Quem quiser que conte outra...

 Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia 

Macapá - Bairro Central

terça-feira, 15 de março de 2016

Caminhos de Rios... (Luíz Fernando Liveira)

Um livro bonito, com mais de cem poesias expressando entusiasmo, descobertas e exaltação no cenário amazônico. Os textos tem uma simplicidade tocante, de identificação com a poesia popular, sendo realçados individualmente por ilustrações, que variam entre fotos à desenhos surreais. O paraense Luíz Fernando Liveira apresenta-se como um andarilho e observador minucioso, retratando cada um dos estados nortistas em percepções que mostram o ambiente urbano, natural e cultural. Um passeio poético, como se evoca no título, onde cada curva desse rio desdobra-se em peculiaridades atrativas ao leitor. Vemos a natureza, mitos, o homem, o entusiasmo ao amor e à fé em Deus. A obra tem um apelo didático, por isso o autor instiga o saber com palavras não tão usuais (organizadas em vocabulários), e notas diversas sobre os temas abordados.
Gostei da obra, lançada no Amapá em 2012. Destas que poderiam ser exploradas nas escolas amazônicas, principalmente entre jovens leitores.

Título: Caminhos de Rios...
Autor: Luiz Fernando Liveira
Editora: Gráfica Amapaense
Ano: 2011 
Páginas: 395 
Tema: Poesia / Amazônia
A obra é prefaciada por três pessoas. Eis algumas linhas:
"Com uma linguagem peculiar ao povo aqui nascido, muitas vezes figurada e reforçada com belas gravuras, o autor consegue enfocar o cotidiano único dessa gente, vivido nas mais diversas localidades banhadas por rios e igarapés da gigantesca Hiléia. O autor se sai muito bem ao abordar em seus textos nuances do sentimento, crendices e costumes do homem amazônico."
FERNANDO CEZAR (Oficial da Marinha, Pedagogo e Teólogo)

"Os poemas do marinheiro-poeta têm versos de um poeta-marinheiro experimentado que cumpre sua missão de educar pela poesia. Liveira dá aos seus leitores o bônus de se deleitarem com as viagens feitas por ele, nesse trabalho que considero pedagógico e eivado de amor pelo povo da Amazônia e seus encantos."
FERNANDO CANTO (Escritor, Músico e Sociólogo)

"O escritor e poeta Luíz Fernando Liveira nos dá, de forma real, contundente e mágica, o sentido definitivo de que nossas estórias caboclas se misturam, nos oferecendo o encanto de sermos parte da Mãe-Amazônia, orgulhosamente."
NILSON CHAVES (Músico)
 
 Menina do Matapi 
(Páginas: 164 e 165 / Ilustração: Jair Penafort)
Mas também não, quem não se apaixonaria...

Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia 

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segunda-feira, 14 de março de 2016

Na boca do jacaré-açu (Ray Cunha)

Catorze contos amazônicos ambientados no Pará, publicados em 2013 pelo amapaense Ray Cunha. Há lirismo em O desabrochar das rosas e um sarcasmo em Memorial dos gatos. No geral, as histórias mostram uma busca existencial canalizada ao imediatismo dos prazeres. 
O autor cita Ernest Hemingway em dois momentos, numa referência ao suicídio paralelo a intensidade de vida e melancolia. Pode ser que esses aspectos tenham dado alguma inspiração a essa obra, pois é o que vemos na maioria dos contos, principalmente no que deu nome ao livro.


Título: Na Boca do Jacaré-Açu – A Amazônia como ela é
Autor: Ray Cunha
Editora: Ler Editora 

Ano: 2013
Páginas: 154
ISBN: 978-85-64898-45-5
Tema: Pará / Contos 

Na boca do jacaré-açú, referência a desembocadura do Amazonas, tem como protagonista Agostinho, um arqueólogo paraense, bem estabelecido financeiramente, que aparenta ter frustração na vida. Começam aí os paralelos entre melancolia e ardor nos prazeres como via de escape. 
O conto se desenrola com passagens pela Ilha de Marajó, que tem a natureza apresentada de maneira selvagem, do tamanho da vanglória do caçador, expressa em sucuri de 12 metros, no melhor estilo Titanoboa, puxando búfalo para o rio, cheio jacarés tipo Sarcosuchus, em matas onde as onças não transmitem outra coisa que não seja a imagem de uma besta fera. Enfim, é um cenário onde o personagem torna-se caçador, justiceiro, e tem buscas românticas, deixando em paralelo sua vida melancólica ante a exuberância amazônica. Percebemos dramas pessoais e familiares, onde a figura do pai tem também uma história traumática e impactante em sua vida. O arqueólogo tem essa disposição de conflitos internos, potencializados pelo vazio de Deus em sua mentalidade. A história avança até o mais trágico desfecho aos corações melancólicos. É o que parece sugerir, com sua disposição fatalista, de se entregar e se deixar tragar.  
A leitura foi envolvente enquanto narrativa. Ressalte-se também que o conto faz parte de uma história abordada em outras obras como  O lugar errado (de 1996). 
Conheça, viaje, posicione-se, concorde, discorde, opine sobre as leituras...

Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia 

Macapá - Bairro Central