As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Coleção Sítio do Picapau Amarelo - Monteiro Lobato 5

Opa! Não é hoje o Dia Nacional do Livro Infantil? Sim, sim, em homenagem ao nascimento de Monteiro Lobato, quem começou a dar atenção especial a este segmento no nosso país. Vou deixar em registro algumas resenhas sobre a fabulosa coleção do Sítio do Picapau Amarelo. É uma lembrança, e apenas isso, sobre obras que precisam ser redescobertas pelas turminhas, seja no meu Amapá ou outro canto qualquer do Brasil.

O Picapau Amarelo (1939)
Sabe aquele filme do Shrek, em que seu pântano é invadido por personagens fabulosos a convite do Burro? É o que acontece neste livro, quando o Pequeno Polegar leva a mesma turma para morar no Sítio. Ah, pelo menos pediu autorização para Dona Benta, né! 
Aleatoriamente acabei acertando algo. O livro se passa depois do Poço do Visconde, minha última leitura da série, quando ficaram ricos com o petróleo e aproveitaram a bufunfa para comprar terras nas cercanias. E esse é o primeiro destaque, por conta da engenhosidade da Emília para comprar a terra dos vizinhos. Sagaz, a maluquinha! Só lendo para entender...
Daí em diante temos uma série de pequenas aventuras na interação da galerinha com personagens das Fábulas. Histórias curiosas, inusitadas e divertidas, abrangendo também famosos da Mitologia Grega e Literatura Universal.
Vale os registros do Dom Quixote e suas alucinações com o mago Fresnom; a narrativa de Belerofonte sobre o embate com a Quimera; a turma do Sítio enfrentando terríveis piratas liderados pelo Capitão Gancho; e a gula do Sancho Pança (pau a pau com a do Rabicó). Opa! E tem mais coisas ainda para diversão na leitura.
Lobato novamente valorizou as fábulas e mitologia em apresentação do tema para tenros leitores, naquela dinâmica de conhecer e brincar com as descobertas. Para o autor, não basta expor, é interessante também uma intimidade interativa. 
Tem coisa que não curti e vou registrar. No início da obra há uma abordagem sobre mitos e ficção, onde o autor subtende seu ateísmo. É só uma observação de minha parte, que ajuda a pontuar o que conheço sobre o Lobato. E vamos em frente que acabou não, moçada! Tem mais aventura ainda...
As histórias continuam em plano curioso de liberdades surreais. Entre elas:
- Capitão Gancho perde o Hiena do Mares para a turminha, que o reforma como o Beija-Flor das Ondas. Eita! O pirata tenta revidar com a ajuda de valentões que conhecera na venda do turco Elias, e vão por aí as maluquices...
- Tia Nastácia apaixonada! Ah, só não se explica pelo que, evidenciando-se a paixão como um sentimento de êxtase. O fato resultou de artimanha da Emília com flechas do Cupido.
- O casamento de Branca de Neve com o Príncipe Codadade, e nova visita de crianças, ávidas por conhecer a turminha.
Termina com um mistério, o desaparecimento de Tia Nastácia, mas isso é assunto para o próximo livro: O Minotauro.
É a essência da obra, passando a percepção de descobertas e interação curiosa com o mundo da leitura.

O Minotauro (1939) 
Conheci essa obra através da antológica série do Sítio do Picapau Amarelo versão anos 70. A percepção era de uma história de terror, assustadora para a garotada em cada aparição do monstro que, mesmo com uma figura super tosca, dava um medão por conta do suspense potencializado em perseguições no famoso labirinto, imagens obscuras e trilha sonora cabulosa, genial neste quesito. Curioso que na versão do segundo milênio, que também acompanhei, a história não teve o mesmo impacto.
Comparativamente ao livro há algumas diferenças e a principal é o foco. No seriado o Minotauro era o principal personagem no desenrolar da história, e no livro o destaque maior é a Grécia, em uma viagem de descobertas e curiosidades.
Os Picapaus (designação que Lobato dava para a turma do Sítio) embarcam no Beija-Flor das Ondas (o navio confiscado e reformado do Capitão Gancho) para resgatar Tia Nastácia, que fora raptada na festa de casamento do Príncipe Codadade com Branca de Neve, quando houve a invasão de monstros das fábulas em episódio descrito no livro anterior (O Picapau Amarelo).
Quem gosta dessa obra certamente manifesta algum interesse na visão da Grécia antiga, porque a maior parte (cerca de 90%) trata disso, em aspectos históricos e mitológicos.
A parte específica sobre o Minotauro, para quem tem a imagem construída pelo seriado, desaponta um pouco. Além de rápida, não enfatiza a questão do terror. É bem assim... Será que conto? Nããããão! Leia o livro. 
Particularmente, gostei mais da parte histórica, expressa no encontro da turma com personagens famosos, como Péricles, Fídias, Sócrates e Sófocles (respectivamente, destacados como estadista, escultor, filósofo e dramaturgo). Esse desenrolar tem o protagonismo de Dona Benta, que dá show em curiosidades para o leitor.
Há questões interessantes, tipo, a cultura grega ter influenciado o desenvolvimento da modernidade. Essa importância Lobato destacou para os tenros leitores.
Olha que sensacional! Em certo momento de diálogo com Péricles (famoso pela liderança e oratória), o estadista fala de liberdade como uma das coisas de maior valorização entre os gregos. O povo é livre para suas escolhas. A sagaz Dona Benta observou então que muito do conceito de liberdade expressa na vontade do povo resulta da capacidade de manipulação de seus líderes. O que seria a vontade do povo, muitas vezes é consequência daquilo a que está sugestionado, reproduzindo, no final das contas, o interesse dos líderes. Povo livre, manobrado para algo que subtende interesses escusos. Mas rapaz! É exatamente o que vemos hoje, onde está escancarada a tal democracia em nosso Congresso como um grupo fechado de corruptos manipulando as coisas a seu favor, fingindo que encarnam a vontade do povo. Não é o que esses mafiosos estão fazendo? E o que os interesses de certos líderes manobraram para que fosse deflagrado no mesmo ano de publicação desse livro?
A velhinha (falo com carinho) embala o conceito de liberdade, também, chamando a atenção para o sistema de escravidão que existia naquele povo, desmistificando o que eles atribuíam como sociedade perfeita.
E por aí vão os encontros, com direito a momentos um tanto hilários, na admiração dos gregos pelos milagres de nossa modernidade, como uma simples caixa de fósforos, quando existia uma lenda hiperdramática de como o fogo chegou aos homens.
Há reflexões sobre a profundidade do conhecimento, sobre a valorização das artes, sobre o progresso aflorar em aspectos miraculosos e em paralelo ocorrer a degeneração de certas coisas... No plano prático, se exemplifica numa conquista da Ciência e uso aterrador, para a maldade.
Enfim, gostei e me diverti bastante com essa parte. Ah, e tem certas curiosidades desconhecidas. Não sabia que Péricles tinha uma anomalia na cabeça, que fazia com que fosse alongada e por isso suas reproduções (pintura e escultura) o mostravam sempre com um elmo. Pesquisa aí no Google Imagens se duvidar.
A parte da mitologia é protagonizada pelo Pedrinho, em interação aventureira. O destaque desse momento vai para história de Hércules, mas Lobato dá só um gostinho no tema, pois isso será tratado em outra obra. Não gostei muito dessa parte e preferia que o protagonismo fosse encabeçado pela Emília em suas mirabolantes curiosidades e posicionamentos. Seria mais legal!
Estranhei o Lobato não ter dado destaque para Visconde, que quase não gastou seu conhecimento. Ficou na sombra de Dona Benta. Melhor assim, porque a velhinha é mais sagaz e o Visconde manobrável demais. Pergunta para a Emília se não... 
Essa é a obra. Olha o que Lobato contava para as crianças!
Devaneando um pouco, fugindo do contexto do livro, ainda fico imaginando como seria extraordinária uma viagem que o autor fizesse com os Picapaus pela Literatura Bíblica. Eita! Mas o homem tinha outra escolha de vida...
Gostei bastante da leitura e vou atrás da adaptação em quadrinhos.

Legal que podemos encontrar essas obras na maioria das bibliotecas públicas. Assim acontece em Macapá com a nossa Biblioteca Elcy Lacerda.  Visite e descubra as fabulosas criações de Monteiro Lobato.

terça-feira, 17 de abril de 2018

Revista ICOMI Notícias Nº 09 (1964)

A edição foi publicada em Setembro de 1964. Destaques para:
- Amapá - 21 anos: artigo de J. S. Marinho Nunes.
- Entusiasmo "Bandeirante": o ingresso da juventude.
- Clubes são ponto alto: Santana e Manganês são centros onde floresce vida social.
- Porto em destaque: operação inédita e recordes no TFA.
- Personalidade mundial em saúde pública propõe intercâmbio: Prof. Timothy D. Baker, da Escola de Higiene e Saúde Pública da Universidade de Johns Hopkins (Baltimore - EUA), universalmente reputada no campo de Medicina.
- Funcionários do mês: Benedito Arcângelo dos Santos - "Prezado" / Nadir Leite da Fonseca
- A craque do mês: Maria Galiléia da Silva Lino (jogadora de voleibol).

Imagens da revista

Bandeirantes de Serra do Navio visitando o Porto de Santana, em uma de suas excursões ao outro extremo de nossas instalações industriais. A confraternização entre as jovens é um dos aspectos mais salientes da benéfica prática do bandeirantismo, o que se verifica no Amapá com elogiável intensidade.
Numerosos clubes internos disputam campeonatos organizados pelo SEC e MEC, em campos como o que vemos na foto, dotados de todas as condições para a prática do futebol, incluindo iluminação para pelejas noturnas.
Chegada do Papai Noel em Serra do Navio.
Cartazes usados em campanha de promoção da saúde em Serra do Navio e Vila Amazonas. A campanha era coordenada pela Divisão da Saúde e usava a figura do Zé Latadelixo com slogans educativos, ilustrados pelo artista José Luiz da Silva Pereira.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Imagens de Serra do Navio nos tempos da ICOMI no TFA (Vídeo de Harife Viégas, 2018)




Olha que legal! Um vídeo com fotos antigas de Serra do Navio, elaborado por Harife Viégascom bela trilha sonora e as seguintes informações:

- A Vila de Serra do Navio foi construída como uma company town (cidade da empresa) pela ICOMI (Indústria e Comércio de Minérios) no antigo Território Federal do Amapá (T.F.A.) entre os anos de 1956 e 1961.
- Projetada por Oswaldo Arthur Bratke, o traçado das vias respeitou a topografia do terreno e as construções adaptaram a arquitetura moderna brasileira às condições climáticas da floresta amazônica.
- Em 1988 o Amapá foi elevado à categoria de Estado, Serra do Navio tornou-se município em 1992 e a ICOMI encerrou suas operações de mineração no Amapá em 1997.

Oche! Lembrar da querida Serra do Navio, em seus áureos tempos, embalando a nostalgia em cenas do cotidiano com essa música (Percy Faith - Theme from A Summer Place)... Não, me mata logo do coração!

domingo, 15 de abril de 2018

Revista ICOMI Notícias Nº 08 (1964)

Edição publicada em Agosto de 1964. Registrando alguns destaques:
- Canal Norte, benéfica realidade: história de um grande feito e realidade de benefícios à Amazônia.
- Na foz do Amazonas guiando navegantes: vivendo na Ponta do Céu para manter constante o radiofarol.
- Instala-se a COPRAM (Companhia Progresso do Amapá) visando o progresso.
- Funcionários do mês: Raimundo Gemaque de Jesus / Antenor Froes de Carvalho.
- Técnicos invadem floresta para defender a saúde: reportagem sobre o convênio da ICOMI com o Instituto Evandro Chagas.

Imagens da revista:

Pátio de estocagem no Porto de Santana.
Vista aérea do Canal Norte do Rio Amazonas nas proximidades de Santana.
Jardim da Infância na Escola de Serra do Navio. A professora IDA Rossi (Chefe do Departamento de Educação) havia solicitado a "ICOMI Notícias" que estas imagens fossem publicadas com o seguinte texto: "As mãos realizam atividades, mas também precisam de ajuda. Cuidado, atenção e carinho não devem faltar para auxiliá-las. Quando os trabalhos ficam prontos, sentimos que foi fácil. Durante todo o tempo, estão em nossas mentes ideias e pensamentos que nos podem ser úteis."
Baile no Manganês.

sábado, 14 de abril de 2018

Os Mineiros da Floresta (Adalberto Paz, 2014)

Em meados da década de 1940, no extremo norte do país, iniciavam-se os preparativos para a instalação do primeiro projeto de exploração mineral industrial na Amazônia. Este empreendimento relacionava-se com as diretrizes políticas, econômicas e estratégicas estabelecidas durante o Estado Novo para várias regiões do país tidas como periféricas e atrasadas em relação aos centros dinâmicos da economia nacional. Dessa forma, segundo o discurso oficial, a exploração das jazidas de manganês na região de Serra do Navio, situadas no interior do Território Federal do Amapá, criaria as condições necessárias para o desenvolvimento dessa importante área de fronteira, ao mesmo tempo em que contribuiria para a formação de uma verdadeira "civilização equatorial". Contudo, a implantação dessa nova sociedade exigiria a reestruturação dos padrões de sociabilidade vigentes entre uma população basicamente voltada para o extrativismo. Assim, os impactos sobre essa organização social e as diversas transformações ocorridas naquele território, entre as década de 1940 e 1960, são analisados tomando como referência a montagem daquele complexo mineral-exportador, que se destaca por ter projetado duas company towns no interior da floresta amazônica, com as quais a empresa Indústria e Comércio de Minérios S.A. pretendia obter um tipo específico de trabalhador e de família, formando comunidades orientadas por princípios de harmonia entre capital e trabalho.
(ADALBERTO PAZ)


Título: Os mineiros da floresta: modernização, sociabilidade e a formação do caboclo-operário no início da mineração industrial amazônica
Autor: Adalberto Paz
Editora: Paka-Tatu
Ano: 2014
Páginas: 244
Sumário:
Cap. 1 - De caboclo a operário: origem e constituição da mão de obra industrial amapaense (1943-1949)
Cap. 2 - Conflitos e sociabilidades em uma fronteira de mineração industrial (1950-1959)
Cap. 3 - Uma cidade operária no interior da floresta (1960-1964)

Um parecer simples

Estudos sobre a ICOMI são instigantes no Amapá, pela representatividade histórica. Em geral, o assunto desperta empatia em quem vivenciou o período de atividades da empresa. Como também estou nesse grupo entusiasta, o livro proporcionou leitura interessante e prazerosa, caracterizando-se pelo direcionamento sociológico numa visão ao homem em sua realidade e cotidiano antes e após a instalação da empresa. Esse olhar aponta impactos sociais, na economia regional, na urbanização, na modernização, no crescimento demográfico e na especialização do trabalhador.
A obra resultou de um trabalho acadêmico em História, de Adalberto Paz, e foi lançada oficialmente em 2014 em Macapá, abrangendo um recorte temporal entre as décadas de 1940 e 1960, período de instalação e construção da infraestrutura da empresa, assentando-se em documentos e entrevistas que proporcionaram a percepção em três momentos.

Na primeiro, o autor analisa o contexto regional pré ICOMI, onde vemos isolamento, cultura de subsistência e economia baseada no extrativismo. Nesse cenário destacavam-se o seringueiro, garimpeiro e castanheiro, enfatizando-se o modelo econômico exploratório a que estavam sujeitos e a realidade de época em alguns estudos de caso. A cidade de Macapá também é visitada, evidenciando-se nos estudos uma marginalização no cotidiano e desenvolvimento.
O autor resgata a história da ICOMI desde as primeiras descobertas de minério de ferro em Vila Nova, que recebeu prospecção de outra empresa no início da década de 1940, mas não foi levado adiante quando se colocou em paralelo o elevado custo para exploração com os lucros finais. O governador do TFA buscava no potencial natural um meio para desenvolvimento local (quando assumiu o recém-criado Território Federal em 1943) e, ciente da história secular de garimpagem e das potencialidades, abriu concurso para descobertas na área de mineração. É aí que se insere a história de Mário Cruz e o achado das pedras de manganês no rio Amapari. Daí para a frente a história vai se desenrolando com outros aspectos interessantes no estabelecimento da empresa.


Escola de Serra do Navio (ao centro), em 1951. À esquerda, na beira do rio, observa-se a movimentação de pessoas em torno do armazém da mina (Figura 5 - página 95 do livro).
O segundo momento mostra transformações provocadas na região, em relação aos trabalhadores e no processo de modernização de Macapá. Algo que se ressalta é a disciplina que era exigida e monitorada na realidade da companhia em Serra do Navio e Vila Amazonas. Segundo o texto, a modernização da capital foi subsequente às carências da mineradora (como hotel, vila operária e infraestrutura para atender os primeiros trabalhadores). O capítulo apresenta também estudo de caso, de situações diversas em Macapá e Santana, atrelados a um comportamento cultural em paralelo à realidade estimulada pela empresa. Curioso destaque para o caso envolvendo os marinheiros de um navio estrangeiro no Porto de Santana, que tinham costumes estranhos à terra, resultando numa tragédia. Coisas que ficam em paralelo para ressaltar a filosofia que a ICOMI implantou.

Na parte final, a vivência nas company towns. Interessante o processo de modernização dos trabalhadores, que tiveram oportunidades de fazer cursos ou aprender na prática o manuseio de máquinas de última geração na época. A disciplina e organização nas vilas era também um contraponto à realidade amazônica associada à mineração.

Enfim, um livro envolvente e muito legal para se conhecer e entender um pouco do entusiasmo de quem conheceu e vivenciou o que representou a ICOMI nos áureos tempos. Ressalte-se que o livro excede as informações aqui apresentadas e a ICOMI é um campo de estudos com pontos positivos e negativos em sua trajetória no Amapá.


Leia também o parecer de Jessica Marinho
Livro conta a história de operários que atuaram na exploração de Manganês em Serra do Navio NESTE LINK.


A obra está disponível para consultas em Macapá na
Biblioteca Pública Elcy Lacerda e
Biblioteca Ambiental da SEMA-AP. 

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Revista ICOMI Notícias Nº 07 (1964)

Edição de Julho de 1964. Destaques:
- Progresso para o Amapá: o que é a COPRAM, a nova entidade criada pela ICOMI?
- Bombeiros voluntários em alerta dia e noite.
- Funcionários do mês: Bicelli / Américo dos Reis Alves Filho ("Seu" Américo).
- Para suprir 4.000 pessoas: reportagem sobre a operação de abastecimento de alimento nas vilas.
- A craque do mês: Christine Mary Nicolai - "Christy" (jogadora de voleibol).

Imagens da revista:

Fortaleza de São José de Macapá, com vista parcial da antiga Doca da Fortaleza.
 Treinamento dos bombeiros voluntários.
Supermercado em Vila Amazonas.
Professora Elza Muller, da Escola de Vila Amazonas, supervisora do curso de supletivo do pessoal do 1º Distrito da EFA. Na foto, vemos reunião geral com objetivo de traçar plano para a valiosa iniciativa.
Festa da Páscoa no salão de Recreio da Mina.

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Extrativismo e Capitalismo na Amazônia (Antônio Filocreão, 2002)

Na proposta de divulgar obras do acervo da Biblioteca Ambiental da SEMA-AP, vamos conhecer mais um dos valorosos livros.

O exercício intelectual do autor e seu empenho em observar, coletar e organizar os dados da pesquisa de campo, tiveram como finalidade produzir um conhecimento aprofundado e sistemático da organização do extrativismo da região do Jari, resultando nesta obra “Extrativismo e Capitalismo na Amazônia: a manutenção, o funcionamento e a reprodução da economia extrativista do sul do Amapá”.
A dissertação, escrita em 1992, expõe os principais mecanismos que garantiram a manutenção da atividade extrativista, em face de um modelo de desenvolvimento capitalista que privilegiava outras atividades concorrentes, e, até certo ponto, destrutivas das suas condições de reprodução. A pesquisa também mantém sua importância por ser o primeiro estudo de caráter científico a retratar minuciosamente a economia extrativista do Amapá. (Descrição na contracapa)

Título: Extrativismo e Capitalismo na Amazônia: a manutenção, o funcionamento e a reprodução da economia extrativista do sul do Amapá
Autor: Antônio Sérgio Monteiro Filocreão
Editora: SEMA-AP
Ano: 2002
Páginas: 170

Sumário
Capítulo 1 - Contextualização histórico-geográfica
Capítulo 2 - Os produtores e a produção extrativista do sul do Amapá
Capítulo 3 - Aspectos conclusivos e considerações sobre as perspectivas da economia extrativista

O livro originou-se em dissertação de mestrado apresentada em 1992 na Universidade Federal da Paraíba, com os resultados da pesquisa de Antônio Filocreão sobre a produção extrativista na região sul do Amapá. 
No contexto, o Estado do Amapá tinha sido recém-criado, buscava delineamento de desenvolvimento e a região abordada é caracterizada pela potencialidade de recursos naturais, historicamente baseada na economia extrativista e em choque com os interesses capitalistas, que buscavam formas mais lucrativas e desapegadas da proteção aos recursos florestais e povos da floresta. O início dos anos 90 marca também a discussão das questões ambientais, buscando-se uma abordagem sustentável de valorização dos fatores humanos e naturais (pontos ressaltados na ECO-92). Com estas premissas a obra se insere nesse contexto, como estudo científico entre os pioneiros da economia extrativista no sul do Amapá.

Sobre a importância, o autor ressalta que a produção de castanha, principal produto na região em estudo, correspondia a 80% da extração amapaense e 15% da nacional.

O livro está dividido em 3 partes:

- A primeira faz a contextualização histórica e geográfica, resgatando a ocupação e economia regional, com ênfase na extração nos seringais e castanhais. O cenário era atrativo para a ocupação, tendo, porém, gerenciamento agressor ao extrativista, tornando-o refém e submisso de modelo econômico favorável apenas ao dono e empreendedor (latifundiário), que tinha o controle na região. Vemos também o desenrolar de abandono de priorização extrativista na fase Ludwig, com possibilidade de grande impacto pela supressão florestal por espécie exóticas (em um planejamento de maior lucro) e com a previsão da construção de uma hidrelétrica visando principalmente os interesses do empreendedor. A RESEX do Cajari foi criada em 1990 e entrava em choque também sobre a posse da terra.



Figura 3 - Trabalhador extrativista deslocando-se à floresta para coleta da castanha
(Foto do início dos anos 90)

- A segunda parte mostrou-se a mais interessante na obra, pela caracterização do produtor extrativista no sul do Amapá. No perfil apresentado, trabalha em áreas chamadas de UPAES (Unidades de Produção Agro extrativista), tendo que lidar com roças e pequenas criações de animais para subsistência (produção familiar). A parte final desse capítulo mostrou a forma como as cooperativas e associações foram criadas nos anos 80 (COMAJA e AMAJA) em perspectiva de organização aos interesses do produtores. Pela discordância entre eles com o capitalismo na região do Jari ocorreram conflitos pelo uso da terra. O livro resgata algumas dessas histórias.

Figura 5 - Residências típicas de extrativistas na Comunidade do Marinho - Cajari. 
(Foto do início dos anos 90)

- A parte final enfatiza dificuldades e anseios para melhor aproveitamento de modelos econômicos sustentáveis. Caminhavam para a industrialização, desenvolvimento da biotecnologia, crescimento populacional, necessidade de firmar mercados concorrentes com o capitalismo predatório e que buscasse a valorização humana e ambiental.
Nas análise finais, após a valorização do extrativismo racional, a região protegeu mais terras para modelos de manejo sustentável com a criação da RDS Iratapuru em 1997.

Pontos presentes na obra, entre outros aspectos para estudos.

Disponível para consultas na 
Biblioteca Ambiental da SEMA em Macapá.