As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

sábado, 18 de abril de 2020

Dancing in the street (The Mamas & The Papas, 1966)


Uma doce música, com graciosidade, felicidade, entusiasmo e sonhos, para animar no momento tenso e difícil em que estamos. 
Olha o swing da garota!

sábado, 29 de fevereiro de 2020

Histórias do meu povo (Esmeraldina dos Santos)


Trata-se de um trabalho pequeno, feito com naturalidade e talento, que instiga pela dolência e pelo profundo amor da autora pelas pessoas e lugares que descreve, como o Curiaú e o Laguinho. É um livro escrito com o coração, diria, e com a humildade de quem sabe dar valor às suas recordações pessoais. É, ainda, uma contribuição poética à nossa memória coletiva.
FERNANDO CANTO
(Texto de apresentação do livro)

Título: Histórias do meu povo
Autora: Esmeraldina dos Santos
Ano: 2002
Páginas: 40
Editora: Confraria Tucuju/PMM

O livro é essencialmente um relato nostálgico, carregado de emoção, orgulho e riqueza de detalhes sobre o cotidiano, seja de outros tempos ou do presente, com curiosidades ligadas à natureza, aos antepassados, às festividades, às lutas e conquistas, em leitura fluida, de veracidade singela e tocante, no resgate da história, valores e identidade do Curiaú. Narrativa sobretudo encantadora na percepção da terra.

EM MACAPÁ,
A OBRA ESTÁ DISPONÍVEL PARA LEITURAS NA
BIBLIOTECA PÚBLICA ELCY LACERDA

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Aventuras na Guiana (Raymond Maufrais)


Diário da derradeira expedição de Raymond Maufrais, jovem explorador francês desaparecido na Guiana Francesa em 1950.

Sobre o autor, Maufrais acumulara experiências em expedição no Mato Grosso, em 1946, quando juntou-se a equipe brasileira na meta de contato com os Xavantes, redundando na publicação Aventuras em Mato Grosso.

Fato interessante é que fez parte também da resistência francesa na Segunda Guerra, enquanto jovem aspirante ao jornalismo, sendo condecorado com medalha pelas lutas de libertação de Toulon (sua cidade natal).

Após retornar do Brasil, recebeu patrocínio de revista francesa para expedição pioneira na Guiana Francesa, onde atravessaria a colônia no sentido norte-sul, adentrando a selva rumo ao Tumucumaque no Brasil (trajeto desconhecido) de onde pretendia chegar a Belém e ao Maranhão.

O diário tem poucas páginas, sendo encontrado em região erma. Segundo o autor, para que fosse recuperado, quando estava em situação precária e duvidando da sobrevivência.

Os relatos iniciam em Paris, em 17/06/1949, nos preparativos para a expedição, e finda em 13/01/1950, com os últimos registros de Maufrais na fronteira da Guiana Francesa com o Brasil.

Está dividido em quatro partes, que são determinadas por  certas etapas da expedição.

Em termos gerais, a primeira parte é curta, destacando o embarque em Paris e o início da expedição no norte guianense, a partir da cidade de Saint Laurent. Destaca-se o entusiasmo do autor, que tinha 24 anos e via nessa jornada reconhecimentos por protagonismo e ineditismo expedicionário no trecho do Tumucumaque. Vemos também visão pessimista de moradores locais, com palavras de desencorajamento e certo vaticínio nas últimas linhas.

A segunda parte corresponde ao trecho até Maripasoula, percorrido através de rios com ajuda de pirogueiros. Os registros mostram dificuldades que pareceram minimizadas durante os preparativos, como as chuvas intensas, trechos com corredeiras em que a embarcação virou, febres que acometeram Maufrais e seus ajudantes, ataques de morcegos vampiros durante a noite, dificuldades no transporte (por conta de equipamentos inadequados, como mochilas frágeis) e escassez de mantimentos.
A parte tem também curiosidades locais, como referências ao samaracás, além de descrições sobre a região (teriam avistado sucuri que calcularam em 12 metros... será?). 

A terceira parte corresponde ao direcionamento à região do Tumucumaque, no Amapá, feito inicialmente através de rios e depois em trecho desconhecido, em que o explorador adentrou a selva amazônica apenas em companhia de seu cão Boby, buscando determinado rio.
O texto até então objetivo passa a ter muitas divagações, com Maufrais combalido por fraqueza, fome, reconhecendo descuidos e com certo desespero. Notamos estar perdido e abalado mentalmente. Os relatos finais dessa parte são bastante melancólicos, diante de constatação de erro de avaliação.

A última parte é chocante, como no abate do cão para usar como alimento diante da fome, com exaustão dominante. Maufrais conseguiu chegar ao rio Tamouri, em região pouco explorada, onde mudou a meta para alcançar acampamento de garimpeiros, de relatos não precisos. Fez uma jangada, mas padeceu com a fraqueza, perdendo assim o meio de transporte e equipamentos. Nítido o desconhecimento preponderante da região, além do abalo psicológico.
Um povoado foi alcançado, mas estava abandonado...
Os relatos tem tom de despedida, há reconhecimento de despreparo em muitas medidas adotadas, a fome é intensa, as forças esvaem, o desespero se faz presente, o autor se despede, deixa o diário para que possivelmente seja recuperado e some na selva, para nunca mais ser encontrado.

A notificação do desaparecimento trouxe seu pai para a Guiana Francesa, onde realizou mais de 20 melancólicas expedições em busca do filho, com mergulhos no último rio dos relatos, mensagens e sinais deixados pelo caminho. Tudo sem sucesso, o que levou também a mãe a depressão e internação.

O texto não é rico em detalhamentos da selva e o que essencialmente instiga é a percepção da necessidade de equilíbrio nos projetos, entre disposição e preparativos adequados. Não se sabe a causa exata da morte do explorador, mas esses fatores foram influenciadores.

Muito nativos temiam a selva devido a desinformação e o despreparo para lidar com as situações, fortalecendo crendices e medo em resposta. Algo que Maufrais não conseguiu superar, pois diante de seu desafio, respondeu com desinformações e despreparo para situações que deveriam ter sido previstas. O registro traz essa percepção, como na falta de mapas (quando alegou que os que teria acesso foram roubados de livros da biblioteca em que buscava informações). Há lamentos também pelas mochilas inadequadas, falta de alimento, falta de cobertores ideais para proteger do frio, a questão de não ter previsto e se preparado para ataque dos morcegos vampiros, as doenças tornaram-se mais suscetíveis, ocorreu perda de equipamentos, dificuldade com armas, dinheiro insuficiente, desconhecimento brutal da região... Enfim, gigantesca falha no planejamento.

Não é obra empolgante por relatos extraordinários sobre a natureza, mas como reflexão sobre a vida e seus desafios.

Tenho crítica ao tradutor, Carlos Chaves, que vale também para os editores. O texto preserva muita coisa da linguagem francesa, no que se refere a designações à natureza e até mesmo a objetos. Se escolheram não "abrasileirar" a informação, que tivesse então notas referenciais. O livro é pobre delas, podendo-se conta-las nos dedos de uma mão.
Cito exemplos da falha na edição: o autor fala dos gimnotos (não poderiam escrever poraquês?) e conta do temor de nativos pelos aimarás (que descobri serem os trairões). Esses são os que descobri o significado, mas fiquei sem saber o que seriam os paranas (que tipo de macaco é esse?), os masailles com porte de pavão, os iaiás (peixinhos de sei lá que espécie), os pecaris (peca o que?), além de apetrechos como anorak de caça...

Vou deixar em registro frase nos escritos finais de Raymond Maufrais:

"Oh! Guiana! terra desconhecida. Não és tu, nem o esforço que matam o europeu; é ele que se suicida e, como lhe é preciso um pretexto, escolheu-te como bode expiatório."
Registro de 12/01/1950, um dia antes do último.

OBRA ENCONTRADA NO ACERVO DA 
BIBLIOTECA PÚBLICA ELCY LACERDA, 
EM MACAPÁ.

domingo, 15 de dezembro de 2019

"Viva a Vida - você não está sozinho" (Campanha de Enfrentamento ao Suicídio)


"Viva a Vida - você não está sozinho" 

Quando tudo parece difícil
E a vida parece não ter sentido
Abra seu coração
Um abraço, um amigo, um irmão
É só um momento e tudo tem solução
Essa dor vai passar com o vento


A vida é bonita, pode acreditar
Que a felicidade em tudo está
Num canto de amor
Que vai ecoar em toda cidade!

Viva a vida! Viva você!
Vale a pena viver
Tenha fé, que a esperança é quem diz
Você nasceu pra ser feliz!

Videoclipe lançado em 10/12/2019 em Campanha de Enfrentamento ao Suicídio, com a participação de 16 artistas amapaenses e apoio da Assembleia Legislativa do Amapá/Rede Amazônica.
Fonte: g1.globo.com

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Além dos Marimbus (Herberto Sales)

Em "Além dos Marimbus", o cenário é a região já exaurida pelas bateias dos faiscadores. A causa da miséria não é mais o diamante. É a madeira que, nos anos 20 e 30, já atraía a cobiça que devastava florestas e matas. 
Inovando o gênero com a técnica e a linguagem de seu primeiro livro, Herberto surpreende o leitor de hoje com a visão pioneira da ecologia que, naquele tempo, não entrara ainda no vocabulário e na preocupação do homem contemporâneo. Até então, a abordagem crítica via nele mais um regionalista, do porte dos grandes nomes da safra nordestina que emergira na década de 30.
CARLOS HEITOR CONY


Título: Além dos Marimbus
Autor: Herberto Sales
Editora: Civilização Brasileira
Páginas: 250 
Ano de Publicação: 1961

Romance ambientado em Andaraí, Bahia, na década de 1940, publicado em 1961. A sensação é de retrato da terra, de forma objetiva e informativa, com bastante veracidade ao contexto especialmente por ser a terra natal do autor.

Não são as personagens que se destacam, mas a relação homem-natureza, em dois momentos distintos.

Inicialmente temos uma visão telúrica, destacando-se Manuel João entre as personagens. Canoeiro e mateiro, além de outras ocupações do homem simples integrado à terra, sua companhia proporciona olhar revelador da natureza e região em seu primitivismo, dominada por marimbus (uma região de área pantanosa), matas, pessoas simples e misticismo. Há diálogos sobre lendas, dificuldades enfrentadas e histórias de exploração ao homem (como a de Maria, que fora seduzida e relegada à prostituição). O ponto alto foi o relato do encontro com um 'sucuiuiu' (forma como a temida cobra era conhecida naquelas paragens) na dramaticidade do saber regional.

O outro momento de destaque, e mais significativo do livro, é a percepção do empreendedorismo de sucesso, onde histórias de interesses escusos e até mesmo desleais se projetam na visão do progresso. O contexto revela recursos naturais decaindo em certas atividades, como o garimpo, e as matas passam a despertar interesse madeireiro (deparamos com frases como 'comprar a mata'...). O momento dá destaque ao personagem Jenner e sua visão de sucesso através da instalação de uma serraria. Registre-se que a percepção é de negociatas associadas à exploração devastadora, em conflito de interesses com facetas ordinárias encabeçadas pelo Dr Barreto. Dá sensação de um mundo em transformação onde todos os elementos vistos no primeiro momento parecem insignificantes em prol dos objetivos. Essas coisas não são explícitas em palavras, mas são percebidas no desenrolar.

Não é uma obra de exaltação específica à personagens, prevalecendo a percepção do contexto que se desenvolvia e impactava a região e o homem. O que a obra sugestiona...

A leitura é curiosa em seu contexto na década de 1940, com reflexões válidas ainda para a atualidade. Se teve ou não intenção, existe um pioneirismo ecológico relevante.

Em Macapá, está disponível para leituras na
BIBLIOTECA PÚBLICA ELCY LACERDA

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Árvores em Macapá

Fotos antigas de Macapá mostram sempre uma cidade bastante arborizada.
   Fórum de Macapá na Av. FAB, década de 1990 (Acervo Museu Joaquim Caetano da Silva) Caixa d'água no Buritizal, década de 1990 (Acervo Museu Joaquim Caetano da Silva)

A realidade hoje é diferenciada com o corte crescente, 
mas ainda vemos a presença marcante das árvores. 

Rua Tiradentes, 2014 (Foto de Rogério Castelo)
Ainda bem! 
Bom sempre lembrar!

Esse é um registro de algumas árvores que se destacam na cidade, 
seja pela imponência, seja pela história de muitas décadas.

O trecho final da Av. Antônio Coelho de Carvalho tem grupo com porte e beleza diferenciada. Não soube identificar a espécie e os moradores das proximidades sabem apenas que foram plantadas pela prefeitura na década de 1970. Outras  existiram no local, mas foram derrubadas em razão das proporções e raízes invasivas, existindo também o desejo de corte das remanescentes. Veja aí se são mesmo diferenciadas...

Vamos conferir outras!
Faveira no Centro.
Foto extraída do blog de Alcilene Cavalcante, creditada a Adson Lins
A Faveira na Av. Iracema Carvão Nunes (Centro) é uma das árvores mais conhecidas da cidade. Considerada centenária, tem sido envolta em processo judicial para a derrubada, com manifestações contra e a favor de bastante repercussão na mídia. 
 No momento, limitaram-se a cortar boa parte da frondosa copa.
Samaúma no Araxá (Foto de Chico Terra)
Outra famosona é a Samaumeira em frente ao Ministério Público, no Araxá, onde eventualmente realizam saraus.
Eucalipto no Trem.
Eucalipto na Escola Santina Rioli, no Bairro do Trem. Árvore que também tem seu destaque, última remanescente de arvoredo similar na escola. Muita gente até hoje vai em busca de suas folhas para remédios caseiros.
Tamboril na Zona Norte de Macapá.
Na Zona Norte de Macapá (Rod. Tancredo Neves, trecho de frente ao Residencial Vitória-régia), encontramos também árvore de bastante destaque (registrei em momento de muda da folhagem).  
O povo que transita por lá, e também moradores, tem vontade de saber o nome, ignorado por quase todos. Informalmente fiz algumas pesquisas (mas quem pode confirmar são os estudiosos da área) e concluí como Tamboril (nome que mais aparece nas descrições literárias, chamada também de Timbaúba, Orelha-de-macacoFaveira-Tamboril, entre outras denominações).
Registro em 15/11/2019. O exemplar tem cerca de 30 metros de altura.
Eis o tronco e o fruto que coletei, razão da denominação como Orelha-de-macaco. Existem pesquisas em andamento com essa árvore sobre medicação contra o câncer.
Samaúma, Mungubeira e Paricá no Museu Sacaca.
A visitação no Museu Sacaca é sempre um interessante passeio, onde se destacam árvores como a Samaúma, Mungubeira e Paricá.
Em 1989 fiz singelo desenho de uma das árvores da Praça Zagury, clicada agora, depois de 30 anos...

"Árvores são poemas que a terra escreve para o céu."
( Khalil Gibran )

Ipês, mangueiras, jambeiros, oitis... Centenas de árvores podem ser encontradas em Macapá, todas com sua representatividade.

Falta um projeto que valorize o plantio de um Amapazeiro em local de visitação pública, preferencialmente praça, afinal, é a árvore que dá nome a nosso Estado e não a encontramos em canto nenhum dessa cidade. Muitos amapaenses nem conhecem, principalmente a garotada... Taí uma sugestão para os gestores do município.

Finalizando, o texto mais interessante em analogia sobre as árvores. 
Vale a reflexão!


Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, 
nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.

Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite.

Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, 

a qual dá o seu fruto no seu tempo; 
as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará.

Não são assim os ímpios; mas são como a moinha que o vento espalha.

Por isso os ímpios não subsistirão no juízo, 

nem os pecadores na congregação dos justos.

Porque o Senhor conhece o caminho dos justos; 

porém o caminho dos ímpios perecerá.
SALMO 1