"O título desse livro lembra-nos a sorte triste e cruel de milhões de
indígenas a partir do momento em que os espanhóis e portugueses
aportaram nestas plagas. 500 anos de sangue derramado, de culturas
agredidas, de povos crucificados: a brutal história de séculos de
genocídio e etnocídio. Havia, é verdade, também quem defendesse estes
povos dando prova de amor maior, mas nem por isso o curso da história
mudou. O holocausto prosseguiu através dos séculos."
ERWIN KRAUTLER
ERWIN KRAUTLER
(Trecho do texto de apresentação no livro)
Publicação de 1987, do Pe. José Oscar Beozzo, com abordagem sobre a
colonização do Brasil e implicações para povos indígenas e
afrodescendentes. Resulta de curso de história
ministrado pelo autor na cidade de Belém, em 1985, relacionado ao CIMI (Conselho Indigenista Missionário), dando ênfase à Região Norte.
INFORMAÇÕES DO LIVRO
Título: E o branco chegou com a cruz e a espada
Autor: Pe. José Oscar Beozzo
Editora: CIMI Norte II
Páginas: 199
Ano: 1987
A visão sobre o indígena é a que tem maior destaque no livro, e o aspecto que se apresenta de forma mais interessante é a divisão dessa história em determinadas fases.
- A primeira vai da 1500 à 1755. Período do descobrimento, quando o Frei Henrique de Coimbra celebrou a primeira missa, até a expulsão dos jesuítas e de outros missionários dos aldeamentos indígenas. Os textos ressaltam a ação de catequese e uso da mão de obra desses povos em um sistema de padroado da igreja pelo estado.
- De 1755 à 1910. Período marcado pela administração de leigos responsáveis pelas aldeias, havendo abandono e violência gradual com a ocupação das terras no Norte. A Cabanagem é citada nesse contexto com o indígena unindo forças às massas desprestigiadas pelo estado.
- 1910 à 1971. Fase em que os indígenas são objeto de atuação do estado, com políticas mais específicas, primeiro através do SPI (Serviço de Proteção ao Índio) e depois pela FUNAI (em substituição ao SPI). Vemos também a ação de missões ligadas à Igreja Católica e Evangélica. Nessa fase ocorreu a ditadura militar e reformulações no catolicismo através do Concílio do Vaticano II (ambos na década de 1960) com desdobramentos impactantes para os povos indígenas de forma positiva ou não.
- De 1972 à 1985. Essa fase iniciou com a criação do CIMI (Conselho Indigenista Missionário) em um contexto de autoritarismo e luta por direitos diante dos planos de desenvolvimento no Norte pelo governo militar. A ação é marcada por impactos aos povos indígenas, através de rodovias sem planejamento ambiental, criação de latifúndios, pecuária invasiva, incentivos fiscais para empreendimentos estrangeiros sem estudos específicos, desmatamento rotineiro, poluição, violência no campo, entre outros aspectos. O CIMI, reformulado pela modernização católica resultante do Concílio do Vaticano II, engajou-se em lutas sociais. O projeto Calha Norte foi citado como referencial dos planos do governo nos desdobramentos citados.
Na questão do negro os pontos que chamaram mais atenção foram:
- O posicionamento da igreja ante a escravidão: No sistema de padroado pelo estado, com os padres como funcionários públicos, havia conivência com absurdos, citando-se o Padre Antônio Vieira, que via a escravidão como algo bom para o negro em face das desgraças em seu continente, como se fossem os culpados e assim o trabalho forçado no nosso país era como um purgatório para eles.
- Outra coisa curiosa e desconhecida era o planejamento dos escravagistas em adquirir escravos de diferentes etnias, numa forma de impedir união e fortalecimento. Muitas vezes eram de povos inimigos que, segundo o texto, delatavam as partes contrárias que planejavam fugir.
Nas abordagens finais o autor cita o Concílio do Vaticano II e
disposições que aproximaram missionários com a Teologia da Libertação e
envolvimento com questões sociais, como o engajamento nas CEBs
(Comunidade Eclesiais de Base).
A obra preservar os textos conforme a exposição oral nos cursos, e essa informalidade, que visa a facilitação no entendimento, por outro lado é o aspecto que não curti no livro. Passa a percepção de uma série de discursos e reportagens como um amontoado de informações, faltando uma junção metodológica entre elas, um elo de continuidade, que certamente foram mencionados no curso, mas que não se fazem notar na publicação.
- A primeira vai da 1500 à 1755. Período do descobrimento, quando o Frei Henrique de Coimbra celebrou a primeira missa, até a expulsão dos jesuítas e de outros missionários dos aldeamentos indígenas. Os textos ressaltam a ação de catequese e uso da mão de obra desses povos em um sistema de padroado da igreja pelo estado.
- De 1755 à 1910. Período marcado pela administração de leigos responsáveis pelas aldeias, havendo abandono e violência gradual com a ocupação das terras no Norte. A Cabanagem é citada nesse contexto com o indígena unindo forças às massas desprestigiadas pelo estado.
- 1910 à 1971. Fase em que os indígenas são objeto de atuação do estado, com políticas mais específicas, primeiro através do SPI (Serviço de Proteção ao Índio) e depois pela FUNAI (em substituição ao SPI). Vemos também a ação de missões ligadas à Igreja Católica e Evangélica. Nessa fase ocorreu a ditadura militar e reformulações no catolicismo através do Concílio do Vaticano II (ambos na década de 1960) com desdobramentos impactantes para os povos indígenas de forma positiva ou não.
- De 1972 à 1985. Essa fase iniciou com a criação do CIMI (Conselho Indigenista Missionário) em um contexto de autoritarismo e luta por direitos diante dos planos de desenvolvimento no Norte pelo governo militar. A ação é marcada por impactos aos povos indígenas, através de rodovias sem planejamento ambiental, criação de latifúndios, pecuária invasiva, incentivos fiscais para empreendimentos estrangeiros sem estudos específicos, desmatamento rotineiro, poluição, violência no campo, entre outros aspectos. O CIMI, reformulado pela modernização católica resultante do Concílio do Vaticano II, engajou-se em lutas sociais. O projeto Calha Norte foi citado como referencial dos planos do governo nos desdobramentos citados.
Igreja e Estado operando em conjunto para cativar o índio (Ilustração do livro) |
- O posicionamento da igreja ante a escravidão: No sistema de padroado pelo estado, com os padres como funcionários públicos, havia conivência com absurdos, citando-se o Padre Antônio Vieira, que via a escravidão como algo bom para o negro em face das desgraças em seu continente, como se fossem os culpados e assim o trabalho forçado no nosso país era como um purgatório para eles.
- Outra coisa curiosa e desconhecida era o planejamento dos escravagistas em adquirir escravos de diferentes etnias, numa forma de impedir união e fortalecimento. Muitas vezes eram de povos inimigos que, segundo o texto, delatavam as partes contrárias que planejavam fugir.
A escravidão no Brasil (Ilustração do livro) |
Engajamento católico nas CEBs (Ilustração do livro) |
Disponibilizado para consultas
na Biblioteca Ambiental da SEMA em Macapá
ou nesse LINK.