"É surpreendente a influência que o velho trapiche, da frente de Macapá,
tem na alma das pessoas. Gente que cresceu com ele, gente que o conhece
a pouco tempo, gente que passa por lá de vez em quando. De alguma
forma, o aspecto do velho estirão de madeira se funde com os anseios de
liberdade, com as lembranças que vêm e vão ao sabor da maré, com o
imaginário barquinho de papel que leva os sonhos para onde eles quiserem
ir. Sempre há algo a deixar ou buscar no velho trapiche.
Em nove crônicas, lindamente ilustradas, esse livro exibe um envolvente perfil do trapiche e dos sonhos ali ancorados. Algumas crônicas são pura e deliciosa ficção. Outras, são relatos poéticos da cidade que aprendeu a crescer, sem abandonar sua história. Um trabalho que marca o resgate de um dos principais ícones da cultura e da história da cidade de Macapá, o Trapiche Eliezer Levy." MÁRCIA CORRÊA (Organizadora do livro)
Em nove crônicas, lindamente ilustradas, esse livro exibe um envolvente perfil do trapiche e dos sonhos ali ancorados. Algumas crônicas são pura e deliciosa ficção. Outras, são relatos poéticos da cidade que aprendeu a crescer, sem abandonar sua história. Um trabalho que marca o resgate de um dos principais ícones da cultura e da história da cidade de Macapá, o Trapiche Eliezer Levy." MÁRCIA CORRÊA (Organizadora do livro)
Informações do livro:
Título: Trapiche - Ancoradouro de Sonhos
Autores: Vários
Organização: Márcia Corrêa
Título: Trapiche - Ancoradouro de Sonhos
Autores: Vários
Organização: Márcia Corrêa
Ilustrações: Luis Porto, Manoel Bispo, Da Gama, Ernandes Melo e Karla Gomes
Editora: GEA
Ano: 1998
Páginas: 66
Tema: Crônicas / AmapáEditora: GEA
Ano: 1998
Páginas: 66
Sumário:
- Sob o céu, no trapiche (Luli Rojanski)
- Memórias do trapiche (Elson Martins)
- Grilhões Imaginários (Márcia Corrêa)
- O velho e o trapiche (Carlos Bezerra)
- Gostosas trapichadas (Hélio Pennafort)
- O homem curvo (Fernando Canto)
- Um corpo no ar (Corrêa Neto)
- Clarões da alma (Capiberibe)
- Meninas das ilhas (Vássia Vanessa da Silveira)
O Trapiche Eliezer Levy está entre os principais pontos turísticos na
orla de Macapá. Essa obra o homenageia com crônicas escritas por ocasião
de uma de suas mais importantes reformas, nos anos noventa, que o
modernizou e trouxe nova perspectiva para o turismo.
A publicação teve tiragem modesta e simples em seu layout, contando com nove textos de escritores locais, também ilustrados por artistas da terra, organizados por Márcia Corrêa. Alguns são nostálgicos, com um saudosismo de outros tempos, quando o trapiche tinha uma conotação de ponto de entrada da cidade e maior movimentação (nesse aspecto podemos citar os textos de Hélio Pennafort e Capiberibe). Outros são introspectivos, com uma reflexão sobre as efemeridades da vida, claro, tendo como testemunha o velho trapiche (Luli Rojanski, Corrêa Neto, Carlos Bezerra e Fernando Canto tem esse ponto em comum em suas crônicas). Vemos também o velho estirão de madeira ou centopeia do rio (gostei desses termos!) associado a boemia da juventude de outra geração (texto de Elson Martins), com um romantismo poético sobre a emancipação de uma ribeirinha (crônica de Vássia Silveira) e em um devaneio com conotação religiosa evocada pela pedra e imagem de São José (no texto de Márcia Corrêa).
Pena que esse trapiche não tem recebido a atenção e cuidados que merece e a poesia muitas vezes acaba ficando só na literatura.
A publicação teve tiragem modesta e simples em seu layout, contando com nove textos de escritores locais, também ilustrados por artistas da terra, organizados por Márcia Corrêa. Alguns são nostálgicos, com um saudosismo de outros tempos, quando o trapiche tinha uma conotação de ponto de entrada da cidade e maior movimentação (nesse aspecto podemos citar os textos de Hélio Pennafort e Capiberibe). Outros são introspectivos, com uma reflexão sobre as efemeridades da vida, claro, tendo como testemunha o velho trapiche (Luli Rojanski, Corrêa Neto, Carlos Bezerra e Fernando Canto tem esse ponto em comum em suas crônicas). Vemos também o velho estirão de madeira ou centopeia do rio (gostei desses termos!) associado a boemia da juventude de outra geração (texto de Elson Martins), com um romantismo poético sobre a emancipação de uma ribeirinha (crônica de Vássia Silveira) e em um devaneio com conotação religiosa evocada pela pedra e imagem de São José (no texto de Márcia Corrêa).
Pena que esse trapiche não tem recebido a atenção e cuidados que merece e a poesia muitas vezes acaba ficando só na literatura.
MENINA DAS ILHAS
Ilustração de DA GAMA, para a crônica de Vássia Silveira |
Vazante
Uma dor aguda apertava-lhe o peito, mas remava. O balanço e a escuridão das águas faziam-na revolver lembranças da infância na roça, os banhos de rio, o peixe que levava para garantir a comida do dia.
Pensava o quanto tinha sido feliz no pedaço de chão da família. Nele, tinha aprendido a apanhar açaí, nadar, andar pelos matos sem sentir medo ou se perder.
Viu os meninos puxando-lhe a barra do vestido de xita, a mãe gritando para ir logo apanhar a farinha da comadre, o pai jogando na cesta os tamuatás fresquinhos.
Pareceu-lhe, de repente, que a fuga tinha sido obra de encantamento de boto. Sentiu um gosto salgado molhando-lhe a face.
Cheia
Naquela noite, Ciã apertou-se num abraço longo à mãe. Beijou os irmãos mais novos. Pediu a benção ao pai.
A velha, cansada dos anos que pesavam-lhe as costas, estranhou a afetividade da menina.
A desconfiança, no entanto, não lhe fez imaginar que, dali em diante, não teria mais a filha consigo.
Movida pela vontade de conhecer o outro lado, deixou a casa dos pais antes do dia amanhecer.
Pororoca
Sentiu a força da criança que trazia no ventre e lembrou a emoção de menina ao ver, estendido sobre as águas, o madeiral do trapiche. Lágrimas pesadas molharam novamente o rosto enegrecido pelo sol.
Na época, Ciã não sabia nada da cidade. Tinha chegado às proximidades do Eliezer Levy, que lhe parecia uma cobra grande boiando nas águas do Amazonas, sem imaginar a vida dura que levaria nos próximos anos.
(Início da crônica Menina das ilhas, de VÁSSIA VANESSA DA SILVEIRA)
O trapiche foi construído em
1938, em Macapá, pelo então prefeito Moisés Eliezer Levy, com verbas oriundas
do Governo do Estado do Pará e por ordem do
interventor do Pará, Magalhães Barata.
A obra, antes de ser construída foi
submetida à Marinha Brasileira, que a inviabilizou em razão da frente de Macapá
ser bastante rasa para atracadouro de embarcações que, no período da maré
baixa, tinham que ficar a mais de mil metros de distância da orla de Macapá.
Desrespeitando a orientação da
Marinha Brasileira, o interventor resolveu autorizar a construção do trapiche,
que ficou construído em madeira até 1998, quando sua estrutura foi substituída
por concreto, com a disposição de um bondinho para transportar turistas
do inicio até o fim, onde tem uma estrutura de restaurante.
Com a transformação de porto para um
complexo turístico, as embarcações que antes paravam no trapiche passaram a
desembarcar em rampas situadas na orla do Santa Inês.
Situa-se em Macapá, na Avenida
Beira-Rio, em frente ao Macapá Hotel.
(Texto de EDGAR RODRIGUES - Historiador)
(Texto de EDGAR RODRIGUES - Historiador)
A obra está disponível para consultas na
Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia
Macapá - Bairro Central
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia
Macapá - Bairro Central
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