Emília no País da Gramática (1934) - Registro no Skoob em 11/07/2017
Entre a diversão do texto e meu entrave com a retórica gramatical,
acabou prevalecendo o segundo aspecto na minha leitura. Não curti. Por
mais que o autor tente transformar a Gramática numa brincadeira de
descobertas e entusiasmo didático, a obra deixa o carisma das
personagens do Sítio em segundo plano (até a Emília está muito passiva) e
o que prevalece é uma avalanche de considerações formais e chatas.
Não quero ser imprudente passando a imagem de um livro desinteressante. Nada disso, falo de meus gostos pessoais.
Inicia de maneira empolgante, com o Quindim parecendo que vai dar show em coisas bacanas, mas depois ele some na narrativa, passando despercebido em boa parte. E toma-te retórica!
Gosto da questão da etimologia, significado das palavras e neologismos, mas não me diverti com a forma apresentada. Cá com meus botões, tem parte da Gramática que, embora seja importante, remete a um formalismo maçante, expresso em estudos, por exemplo, da conjugação dos verbos. Uma tabuada retórica de indicativo, subjuntivo, próclise, ênclise e por aí, que nunca gostei.
Algo que desapontou também foi a questão da linguagem coloquial, chamada na obra de provincianismo. Essa temática é sedutora, mas foi pouco explorada e com muito formalismo.
Enfim, Lobato é um de meus autores prediletos por isso não quero me estender em uma resenha negativa. O livro tem sua beleza e é uma obra-prima para leitores muito especiais. Tentei ser feliz na leitura, mas não foi o caso dessa vez.
Uma observação final que talvez despertasse atenção do escritor... De maneira curiosa, ele apresentou a maior palavra da língua portuguesa na época: anticonstitucionalisticamente. Mas agora esta perdeu para pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico (cruz credo! boca suja!).
Não quero ser imprudente passando a imagem de um livro desinteressante. Nada disso, falo de meus gostos pessoais.
Inicia de maneira empolgante, com o Quindim parecendo que vai dar show em coisas bacanas, mas depois ele some na narrativa, passando despercebido em boa parte. E toma-te retórica!
Gosto da questão da etimologia, significado das palavras e neologismos, mas não me diverti com a forma apresentada. Cá com meus botões, tem parte da Gramática que, embora seja importante, remete a um formalismo maçante, expresso em estudos, por exemplo, da conjugação dos verbos. Uma tabuada retórica de indicativo, subjuntivo, próclise, ênclise e por aí, que nunca gostei.
Algo que desapontou também foi a questão da linguagem coloquial, chamada na obra de provincianismo. Essa temática é sedutora, mas foi pouco explorada e com muito formalismo.
Enfim, Lobato é um de meus autores prediletos por isso não quero me estender em uma resenha negativa. O livro tem sua beleza e é uma obra-prima para leitores muito especiais. Tentei ser feliz na leitura, mas não foi o caso dessa vez.
Uma observação final que talvez despertasse atenção do escritor... De maneira curiosa, ele apresentou a maior palavra da língua portuguesa na época: anticonstitucionalisticamente. Mas agora esta perdeu para pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico (cruz credo! boca suja!).
Histórias de Tia Nastácia (1937) - Registro no Skoob em 25/07/2017
Histórias
folclóricas em que Lobato procura mostrar, ou entender, as origens e
caracterizações comuns. A percepção se dá de maneira informal, como uma aula brincando.
Tia Nastácia é instigada pela curiosidade das crianças em relação ao folclore e desfila seu repertório de histórias, seguindo-se observações da turminha sobre pontos inusitados, fatores que teriam influenciado ou a simples referência se gostaram ou não. Tudo em um clima de descobertas e zoação. Destaques para Dona Benta, em uma participação tipo orientadora pedagógica, e para a Emília em sua habitual espontaneidade, ora inusitadamente coerente, ora maluca, mas sempre carismática. Senti falta do Visconde. Estranho que ele não apareça e justamente em momentos ideais para se destacar...
Sobre as histórias, há aquelas que são surreais, parecendo uma mistureba de informações malucas, oníricas e aparentemente sem lógica, encontradas entre as primeiras no livro. E outras que são curtas e mais atrativas, encerrando gracejos da sabedoria popular ou uma lição.
Nas observações da turminha vemos referências à ingenuidade interpretativa do saber popular, percepção de interferências na narrativa original através da transmissão oral ao longo do tempo, reprodução de um saber que se impõe em ciclo desencadeante de várias histórias para mesmo tema, observação de fator inconsciente inspirado na realidade, adaptação de saberes externos ou apenas brincadeira. Esse fatores se intercalam nas discussões em justificativa para as histórias. Destes, o que chamou mais minha atenção foi a reprodução do inconsciente. Lobato pegou histórias que parecem muito antigas (talvez desaparecidas da oralidade e conhecidas apenas em livros) e as apresenta causando percepção que descamba para a extravagância sem sentido na atualidade, mas que reproduziam algo importante em sua época. Aquilo do inconsciente se vê, por exemplo, na opressão representada por gigantes ou madrastas, e o desejo de libertação difícil muitas vezes toma a forma de algo mágico, como um sonho fácil de resolver...
Ainda sobre as histórias, tem algumas que remontam à minha infância, quando conheci O pulo do gato, O cágado na festa do céu e João e Maria (embora com alterações sutis ou drásticas). Curti estas e outras que para mim foram inéditas, como O macaco e o coelho, O macaco, a onça e o veado e A formiga e a neve. Esta última foi a que mais gostei, tendo desenrolar parecido àquela história cantada de A velha debaixo da cama (para finos conhecedores). Entre as surreais e escalafobéticas do início me chamou atenção O homem pequeno, por ter coisas metafóricas ao D. João, que dá também as caras como personagem.
Achei interessante a dinâmica do livro, mas por outro lado, em que espero ser preciso na colocação, são narrativas que não expressam a verdadeira identidade nacional enquanto histórias folclóricas. O que vem na mente quando falamos de cultura popular? Aí o Lobato me vem com histórias oriundas de livros estrangeiros ou no mínimo adaptadas. Não é a genuína mitologia do pais... Obviamente, tem um contexto aí, pois Lobato foi um dos pioneiros em valorizá-las e possivelmente pautou seu posicionamento no que havia de circulante em termos literários. Ele cita um pesquisador popular e seu livro, subtendendo que talvez tenha buscado inspirações nessa fonte. Em outras palavras, cadê o Boto, os mitos indígenas, cadê o Boitatá, a Cobra Grande (ei! me respeita o cabra que pensar bobagem), cadê a Matinta, o Curupira, o Negrinho do Pastoreio? Bem verdade que dão as caras em outro livro, mas é super estranho não se fazerem presentes nas narrativas da Tia Nastácia, representante maior da cultura popular no Sítio. Fiquei ainda mais convicto que buscava-se um entendimento no contexto de época sobre a caracterização de certas histórias.
Não curti algumas coisas. Na real, o livro aparentemente sugestiona, mas Lobato não deu o destaque merecido à Tia Nastácia. Vemos poucos diálogos em interação dela com a turminha e no final o protagonismo é repassado para Dona Benta, que conta histórias declaradamente estrangeiras, desaparecendo sumariamente a Tia Nastácia de qualquer referência. Ô Lobato! Pisou na bola e não gostei dessa valorização ou falta dela.
Outra coisa, tenho a coleção em edições antigas da Brasiliense e que raios de capa mais infeliz essa! Cadê a Tia Nastácia? Não acredito que preferiram a imagem de um dos contos de menos destaque (Manuel da Bengala). Na coleção antiga da Brasiliense que estou lendo, representada pelas ilustrações das capas, a Tia só aparece de relance na capa de um dos 24 títulos. Pisada na bola esse desprestígio onde ela deveria ser o centro das atenções. Tem uma ilustração muito bonita no meio do livro, deveria ser a capa.
O que não gostei mesmo, principalmente, foi a história do tal bom diabo. Aqui Lobato transparece seu ateísmo e as personagens do Sítio menosprezam, ainda que não seja a intenção, o conhecimento sobre Deus. Em meio a essa situação, achei tocante e singelo o capítulo encerrando com a solitária e desprezada fé em Tia Nastácia. Tem algo ali de sensível que se destaca.
E finalizando, tinha a impressão que era o livro que mais questionavam naquela questão em torno do racismo. Não é, ainda que exista uma ou outra colocação da Emília na conta de sua ignorância.
Ah, é o que vi. Certamente tem outras revelações, mas de minha parte, fui!
Serões de Dona Benta (1937) - Registro no Skoob em 17/08/2017
A obra foi moderna e inovadora no contexto de publicação, equiparando o saber científico a uma brincadeira de descobertas e admiração para as crianças na exposição informal de Dona Benta. A abordagem passa pelas áreas de física, química, astronomia e geologia. Lobato certamente estudou bastante para conceber.
Particularmente, gostei da parte de considerações sobre a água (onde a vozinha faz uma experiência de condensação, produzindo espanto e entusiasmo infantil de que a problemática da seca seria resolvida com esse processo) e sobre os planetas em um esquema ilustrativo, para ter ideia do Sistema Solar.
Por outro lado, somos da geração de imagens e interações na percepção do saber (trazendo a obra para um contexto atual). Convenhamos, uma aula de ciências naturais só na lábia é um bocado chata. Falo por mim, pois a leitura refletiu isso. Gostei de outras obras com a mesma caracterização, mas eram na área de história e mitologia. Essa não curti. Ademais, a turminha tem uma postura muito passiva. Vemos textos e mais textos de exposição científica e pouca interação da turminha. Visconde não dá as caras e Emília, no geral, tem uma mudez que não é legal, ainda que em bobagens. Em outros livros ocorriam discussões, interferências, opiniões, bobagens, impulsividade. Ah, qual é! Quase só a Dona Benta falando... Enfim, não foi uma aventura como imaginava.
Finalizando, observações banais. Mais uma vez Lobato dá pistas de que Emília tinha virado gente, pois é chamada de ex-boneca e há expressão como do tempo que era de pano. Só não sei onde e como aconteceu essa transformação. É um aspecto banal, mas que me interessa como ardoroso fã do Sítio.
Outra observação, conheci a coleção da Brasiliense na infância A capa dessa edição (na coletânea que tenho) é a única onde aparece a Tia Nastácia, que não foi mostrada nem no livro que leva seu nome, onde deveria haver uma ilustração parecida a esta. Não estou querendo dizer que há alguma mensagem, só uma observação, talvez do fato da maioria dos ilustradores não conhecerem intimamente o conteúdo dos livros, às vezes, nem de forma mínima (falo da capa do livro da Tia Nastácia). Desse jeito são como placas de ruas com erros (tem muito livro por aí nessa também). Af! Tô é escrevendo muita besteira. Fim.
Tia Nastácia é instigada pela curiosidade das crianças em relação ao folclore e desfila seu repertório de histórias, seguindo-se observações da turminha sobre pontos inusitados, fatores que teriam influenciado ou a simples referência se gostaram ou não. Tudo em um clima de descobertas e zoação. Destaques para Dona Benta, em uma participação tipo orientadora pedagógica, e para a Emília em sua habitual espontaneidade, ora inusitadamente coerente, ora maluca, mas sempre carismática. Senti falta do Visconde. Estranho que ele não apareça e justamente em momentos ideais para se destacar...
Sobre as histórias, há aquelas que são surreais, parecendo uma mistureba de informações malucas, oníricas e aparentemente sem lógica, encontradas entre as primeiras no livro. E outras que são curtas e mais atrativas, encerrando gracejos da sabedoria popular ou uma lição.
Nas observações da turminha vemos referências à ingenuidade interpretativa do saber popular, percepção de interferências na narrativa original através da transmissão oral ao longo do tempo, reprodução de um saber que se impõe em ciclo desencadeante de várias histórias para mesmo tema, observação de fator inconsciente inspirado na realidade, adaptação de saberes externos ou apenas brincadeira. Esse fatores se intercalam nas discussões em justificativa para as histórias. Destes, o que chamou mais minha atenção foi a reprodução do inconsciente. Lobato pegou histórias que parecem muito antigas (talvez desaparecidas da oralidade e conhecidas apenas em livros) e as apresenta causando percepção que descamba para a extravagância sem sentido na atualidade, mas que reproduziam algo importante em sua época. Aquilo do inconsciente se vê, por exemplo, na opressão representada por gigantes ou madrastas, e o desejo de libertação difícil muitas vezes toma a forma de algo mágico, como um sonho fácil de resolver...
Ainda sobre as histórias, tem algumas que remontam à minha infância, quando conheci O pulo do gato, O cágado na festa do céu e João e Maria (embora com alterações sutis ou drásticas). Curti estas e outras que para mim foram inéditas, como O macaco e o coelho, O macaco, a onça e o veado e A formiga e a neve. Esta última foi a que mais gostei, tendo desenrolar parecido àquela história cantada de A velha debaixo da cama (para finos conhecedores). Entre as surreais e escalafobéticas do início me chamou atenção O homem pequeno, por ter coisas metafóricas ao D. João, que dá também as caras como personagem.
Achei interessante a dinâmica do livro, mas por outro lado, em que espero ser preciso na colocação, são narrativas que não expressam a verdadeira identidade nacional enquanto histórias folclóricas. O que vem na mente quando falamos de cultura popular? Aí o Lobato me vem com histórias oriundas de livros estrangeiros ou no mínimo adaptadas. Não é a genuína mitologia do pais... Obviamente, tem um contexto aí, pois Lobato foi um dos pioneiros em valorizá-las e possivelmente pautou seu posicionamento no que havia de circulante em termos literários. Ele cita um pesquisador popular e seu livro, subtendendo que talvez tenha buscado inspirações nessa fonte. Em outras palavras, cadê o Boto, os mitos indígenas, cadê o Boitatá, a Cobra Grande (ei! me respeita o cabra que pensar bobagem), cadê a Matinta, o Curupira, o Negrinho do Pastoreio? Bem verdade que dão as caras em outro livro, mas é super estranho não se fazerem presentes nas narrativas da Tia Nastácia, representante maior da cultura popular no Sítio. Fiquei ainda mais convicto que buscava-se um entendimento no contexto de época sobre a caracterização de certas histórias.
Não curti algumas coisas. Na real, o livro aparentemente sugestiona, mas Lobato não deu o destaque merecido à Tia Nastácia. Vemos poucos diálogos em interação dela com a turminha e no final o protagonismo é repassado para Dona Benta, que conta histórias declaradamente estrangeiras, desaparecendo sumariamente a Tia Nastácia de qualquer referência. Ô Lobato! Pisou na bola e não gostei dessa valorização ou falta dela.
Outra coisa, tenho a coleção em edições antigas da Brasiliense e que raios de capa mais infeliz essa! Cadê a Tia Nastácia? Não acredito que preferiram a imagem de um dos contos de menos destaque (Manuel da Bengala). Na coleção antiga da Brasiliense que estou lendo, representada pelas ilustrações das capas, a Tia só aparece de relance na capa de um dos 24 títulos. Pisada na bola esse desprestígio onde ela deveria ser o centro das atenções. Tem uma ilustração muito bonita no meio do livro, deveria ser a capa.
O que não gostei mesmo, principalmente, foi a história do tal bom diabo. Aqui Lobato transparece seu ateísmo e as personagens do Sítio menosprezam, ainda que não seja a intenção, o conhecimento sobre Deus. Em meio a essa situação, achei tocante e singelo o capítulo encerrando com a solitária e desprezada fé em Tia Nastácia. Tem algo ali de sensível que se destaca.
E finalizando, tinha a impressão que era o livro que mais questionavam naquela questão em torno do racismo. Não é, ainda que exista uma ou outra colocação da Emília na conta de sua ignorância.
Ah, é o que vi. Certamente tem outras revelações, mas de minha parte, fui!
Serões de Dona Benta (1937) - Registro no Skoob em 17/08/2017
A obra foi moderna e inovadora no contexto de publicação, equiparando o saber científico a uma brincadeira de descobertas e admiração para as crianças na exposição informal de Dona Benta. A abordagem passa pelas áreas de física, química, astronomia e geologia. Lobato certamente estudou bastante para conceber.
Particularmente, gostei da parte de considerações sobre a água (onde a vozinha faz uma experiência de condensação, produzindo espanto e entusiasmo infantil de que a problemática da seca seria resolvida com esse processo) e sobre os planetas em um esquema ilustrativo, para ter ideia do Sistema Solar.
Por outro lado, somos da geração de imagens e interações na percepção do saber (trazendo a obra para um contexto atual). Convenhamos, uma aula de ciências naturais só na lábia é um bocado chata. Falo por mim, pois a leitura refletiu isso. Gostei de outras obras com a mesma caracterização, mas eram na área de história e mitologia. Essa não curti. Ademais, a turminha tem uma postura muito passiva. Vemos textos e mais textos de exposição científica e pouca interação da turminha. Visconde não dá as caras e Emília, no geral, tem uma mudez que não é legal, ainda que em bobagens. Em outros livros ocorriam discussões, interferências, opiniões, bobagens, impulsividade. Ah, qual é! Quase só a Dona Benta falando... Enfim, não foi uma aventura como imaginava.
Finalizando, observações banais. Mais uma vez Lobato dá pistas de que Emília tinha virado gente, pois é chamada de ex-boneca e há expressão como do tempo que era de pano. Só não sei onde e como aconteceu essa transformação. É um aspecto banal, mas que me interessa como ardoroso fã do Sítio.
Outra observação, conheci a coleção da Brasiliense na infância A capa dessa edição (na coletânea que tenho) é a única onde aparece a Tia Nastácia, que não foi mostrada nem no livro que leva seu nome, onde deveria haver uma ilustração parecida a esta. Não estou querendo dizer que há alguma mensagem, só uma observação, talvez do fato da maioria dos ilustradores não conhecerem intimamente o conteúdo dos livros, às vezes, nem de forma mínima (falo da capa do livro da Tia Nastácia). Desse jeito são como placas de ruas com erros (tem muito livro por aí nessa também). Af! Tô é escrevendo muita besteira. Fim.