Monteiro Lobato tem livros conhecidos em todo o território nacional, especialmente sobre o Sítio do Picapau Amarelo, como literatura curiosa e informativa. Creio que os alunos do ensino fundamental em algum momento descobrem essa turma, extremamente instigante aos estudos e aventuras.
Em 2017 reli a série, registrei em um site sobre leituras e resolvi estender as conclusões a este cantinho também (equivocadas, bobas ou não). Afinal, seja no Amapá ou em outro canto qualquer de nosso país, é
uma leitura interessante e importante para ser conhecida, mesmo com
algumas polêmicas, que no final das contas são provocativas à discussões e aprendizagens.
Vamos aos livros...
Reinações de Narizinho (1931) - Registro no skoob em 13/02/2017
Esse
ano quero reler a coleção, preferencialmente em ordem cronológica.
Tenho todos os volumes e li há muito tempo. Exceto um, que guardei para
reencontro e deleite futuro. Na minha cabeça é como se fosse um doce
para mais tarde. Pois bem, desse ano não passa. Para quem tem o Sítio
marcado na infância, essa maratona é uma de minhas melhores metas em
2017.
Reinações de Narizinho reúne as primeiras histórias e mostra um caminho em construção. A obra tem momentos surreais que inicialmente eram tratados como um sonho (é o que acontece em relação à primeira viagem ao Reino das Águas Claras e ao das Abelhas, que me parecem os primeiros textos da série), mas o autor vai trazendo as histórias para o mundo real da menina a partir daí, não apenas seu sonho. Ainda bem que começou a ter outra percepção, pois isso engessava as possibilidades.
As histórias tem essa caracterização, de trazer a fantasia para o mundo da criança, buscando inspirações na literatura, cinema e contexto de época em uma cativante mistureba. Lobato construía um universo infantil genuinamente brasileiro quando percebeu a falta.
Vou registrar algumas coisas nesse processo, ainda que bobas:
- Narizinho era chamada por seu nome nos primeiros textos (Lúcia), tem 7 anos e o nome que a consagrou tem relação com a personalidade forte em não aturar desaforo, principalmente quando direcionados a quem gosta.
- Pedrinho tem 10 anos, é filho de Antonica e tem no Sítio a vivência de uma liberdade que não encontrava na cidade.
- Dona Benta é desde o início celebrada por sua sabedoria, principalmente como contadora de histórias, coisa que o Lobato procura incentivar para as crianças.
- Tia Nastácia tem referências que soam de maneira preconceituosa. A maior parte é chamada de a preta e com adjetivos pejorativos como beiçuda. Havia um contexto de época fortemente arraigado à velhas percepções e não necessariamente uma valorização racista, como muitos dizem hoje. Mas convenhamos que a postura, mesmo achando que não, naquela forma arcaica de ver as coisas, era.
Reinações de Narizinho reúne as primeiras histórias e mostra um caminho em construção. A obra tem momentos surreais que inicialmente eram tratados como um sonho (é o que acontece em relação à primeira viagem ao Reino das Águas Claras e ao das Abelhas, que me parecem os primeiros textos da série), mas o autor vai trazendo as histórias para o mundo real da menina a partir daí, não apenas seu sonho. Ainda bem que começou a ter outra percepção, pois isso engessava as possibilidades.
As histórias tem essa caracterização, de trazer a fantasia para o mundo da criança, buscando inspirações na literatura, cinema e contexto de época em uma cativante mistureba. Lobato construía um universo infantil genuinamente brasileiro quando percebeu a falta.
Vou registrar algumas coisas nesse processo, ainda que bobas:
- Narizinho era chamada por seu nome nos primeiros textos (Lúcia), tem 7 anos e o nome que a consagrou tem relação com a personalidade forte em não aturar desaforo, principalmente quando direcionados a quem gosta.
- Pedrinho tem 10 anos, é filho de Antonica e tem no Sítio a vivência de uma liberdade que não encontrava na cidade.
- Dona Benta é desde o início celebrada por sua sabedoria, principalmente como contadora de histórias, coisa que o Lobato procura incentivar para as crianças.
- Tia Nastácia tem referências que soam de maneira preconceituosa. A maior parte é chamada de a preta e com adjetivos pejorativos como beiçuda. Havia um contexto de época fortemente arraigado à velhas percepções e não necessariamente uma valorização racista, como muitos dizem hoje. Mas convenhamos que a postura, mesmo achando que não, naquela forma arcaica de ver as coisas, era.
- Visconde foi criado para ser o pai de Rabicó no casamento com a Emília.
- Lobato cita também personagens do cinema e literatura infantil nas aventuras da turma.
- O livro é datado de 1931 (posterior à outras publicações), mas é o precursor do Sítio por ter as primeiras aventuras, escritas a partir de 1920.
- Aí tem maroscas! Registrei a expressão apenas por não conhece-la e achar engraçada. Pedrinho a usava e tem sentido de que existe alguma maldade.
- O livro mostra o quanto Lobato tinha conhecimento vasto na literatura infantil. Eu, que achava que conhecia, não soube identificar as personagens Rosa Branca e Rosa Vermelha. Quem são, hein?
- Gostei especialmente do capítulo que fala da visita dessas personagens ao Sítio. Ah, algumas notas bestas... Chapeuzinho Vermelho parece que não era ainda o nome mais popular da personagem (falavam Capinha ou Capuzinho) e o visual da Branca de Neve era de uma loira (a imagem mudou, creio, a partir do filme da Disney). Quanta besteira... Só escrevo por gostar de registro, ainda que com mico.
- Chama a atenção o fato dos mitos do folclore nacional ainda não aparecerem. Acho que o autor buscava inspirações e colocava suas personagens de maneira dominante sobre as conhecidas na literatura e contexto. Por exemplo: as tiradas da Emília são irônicas e impagáveis no trato com algumas delas; o Pedrinho tem uma rusga com o Aladim (chamado de Aladino) sobre quem era mais audaz; aparece um Gato Félix falso (qual será o tamanho do personagem na época?) que é desmascarado pela esperteza da turma; e o Tom Mix (personagem do cinema) surge como um bandoleiro também engambelado.
- Olhos de retrós. Que característica mais inusitada da Emília citada nesse livro. Toda vez que ficava espantada, os olhos arregalavam e estouravam. Acho que o Lobato não levou isso adiante. Não lembro disso em outros livros. convenhamos que é no mínimo angustiante. Era o processo de construção...
- História, Geografia, Matemática, Mitologia Grega, Literatura Infantil, Cinema... Percebemos um universo vasto tratado na obra do Lobato, mas acho que ele deixou uma lacuna que poderia ser explorada e me leva a investigar a linha de pensamento que ele tinha nisso. Não seria legal brincar também com personagens bíblicos? Por que será que não fez, sendo o país de cultura tão arraigada na religiosidade? Algumas coisas isoladas são citadas, mas rapidamente (como o Pedrinho tentando dar vida a um boneco com o sopro de vida). Qual terá sido sua linha de pensamento? Vou investigar... Será que ele era ateu ou agnóstico como se diz hoje?
- Uma olhadela na internet confirmou o que imaginava do autor...
- Quando descobri, fiquei sugestionado a algumas coisas. Como ia começar a ler o capítulo Pena de papagaio tive a seguinte percepção (mas não estou dizendo que era a intenção do autor): a história parece uma sátira à fé, pois o Pedrinho encontra um personagem invisível que identifica como o Peter Pan (é o juízo de valor dele) e este lhe mostra um mundo de fábulas. Hum... Aí tem Maroscas! Principalmente quando vemos que o Visconde, símbolo da razão e saber, não participa dessa aventura por estar embolorado (esquecido em um canto... história sem razão...). É só uma observação sem fundamentação.
- Lobato cita também personagens do cinema e literatura infantil nas aventuras da turma.
- O livro é datado de 1931 (posterior à outras publicações), mas é o precursor do Sítio por ter as primeiras aventuras, escritas a partir de 1920.
- Aí tem maroscas! Registrei a expressão apenas por não conhece-la e achar engraçada. Pedrinho a usava e tem sentido de que existe alguma maldade.
- O livro mostra o quanto Lobato tinha conhecimento vasto na literatura infantil. Eu, que achava que conhecia, não soube identificar as personagens Rosa Branca e Rosa Vermelha. Quem são, hein?
- Gostei especialmente do capítulo que fala da visita dessas personagens ao Sítio. Ah, algumas notas bestas... Chapeuzinho Vermelho parece que não era ainda o nome mais popular da personagem (falavam Capinha ou Capuzinho) e o visual da Branca de Neve era de uma loira (a imagem mudou, creio, a partir do filme da Disney). Quanta besteira... Só escrevo por gostar de registro, ainda que com mico.
- Chama a atenção o fato dos mitos do folclore nacional ainda não aparecerem. Acho que o autor buscava inspirações e colocava suas personagens de maneira dominante sobre as conhecidas na literatura e contexto. Por exemplo: as tiradas da Emília são irônicas e impagáveis no trato com algumas delas; o Pedrinho tem uma rusga com o Aladim (chamado de Aladino) sobre quem era mais audaz; aparece um Gato Félix falso (qual será o tamanho do personagem na época?) que é desmascarado pela esperteza da turma; e o Tom Mix (personagem do cinema) surge como um bandoleiro também engambelado.
- Olhos de retrós. Que característica mais inusitada da Emília citada nesse livro. Toda vez que ficava espantada, os olhos arregalavam e estouravam. Acho que o Lobato não levou isso adiante. Não lembro disso em outros livros. convenhamos que é no mínimo angustiante. Era o processo de construção...
- História, Geografia, Matemática, Mitologia Grega, Literatura Infantil, Cinema... Percebemos um universo vasto tratado na obra do Lobato, mas acho que ele deixou uma lacuna que poderia ser explorada e me leva a investigar a linha de pensamento que ele tinha nisso. Não seria legal brincar também com personagens bíblicos? Por que será que não fez, sendo o país de cultura tão arraigada na religiosidade? Algumas coisas isoladas são citadas, mas rapidamente (como o Pedrinho tentando dar vida a um boneco com o sopro de vida). Qual terá sido sua linha de pensamento? Vou investigar... Será que ele era ateu ou agnóstico como se diz hoje?
- Uma olhadela na internet confirmou o que imaginava do autor...
- Quando descobri, fiquei sugestionado a algumas coisas. Como ia começar a ler o capítulo Pena de papagaio tive a seguinte percepção (mas não estou dizendo que era a intenção do autor): a história parece uma sátira à fé, pois o Pedrinho encontra um personagem invisível que identifica como o Peter Pan (é o juízo de valor dele) e este lhe mostra um mundo de fábulas. Hum... Aí tem Maroscas! Principalmente quando vemos que o Visconde, símbolo da razão e saber, não participa dessa aventura por estar embolorado (esquecido em um canto... história sem razão...). É só uma observação sem fundamentação.
Voluntário ou não, a boca fala do que
está cheio o coração.
- Ah, esse capítulo tem também o texto Os animais e a peste que para mim, agora, é o mais instigante do livro. É uma fábula curiosa e dela veio o Burro Falante para o Sítio (ai, ai... espero não estar sendo um burro falante também).
- Fiquei meio cabreiro na leitura final do livro. Mas também, olha só, fala do pó de pirlimpimpim, que era aspirado e transportava para o mundo da fantasia. Será que o Lobato? Acho que talvez nunca tenha essa resposta... Voltando ao que se quer expressar, é uma valorização da imaginação infantil. Ah, concluí depois que o tal pó de pirlimpim tem correlação com o costume de aspirar rapé.
- O livro termina com o Pedrinho voltando para a cidade.
Imaginação, fantasia, valorização da brincadeira infantil, despertar para a aprendizagem, são os aspectos que se notam no livro.
- Ah, esse capítulo tem também o texto Os animais e a peste que para mim, agora, é o mais instigante do livro. É uma fábula curiosa e dela veio o Burro Falante para o Sítio (ai, ai... espero não estar sendo um burro falante também).
- Fiquei meio cabreiro na leitura final do livro. Mas também, olha só, fala do pó de pirlimpimpim, que era aspirado e transportava para o mundo da fantasia. Será que o Lobato? Acho que talvez nunca tenha essa resposta... Voltando ao que se quer expressar, é uma valorização da imaginação infantil. Ah, concluí depois que o tal pó de pirlimpim tem correlação com o costume de aspirar rapé.
- O livro termina com o Pedrinho voltando para a cidade.
Imaginação, fantasia, valorização da brincadeira infantil, despertar para a aprendizagem, são os aspectos que se notam no livro.
Caçadas de Pedrinho (1933) - Registro no Skoob em 25/02/2017
Estou
aproveitando o feriadão de carnaval para reencontrar a turminha do
sítio. Caçadas de Pedrinho é de 1933, mas os primeiros textos foram
escritos cerca de dez anos antes. Acho interessante essa questão de
datas, pois acabamos percebendo um processo construtivo na obra de
Lobato.
O primeiro capítulo (escrito em 1924) conta uma história horrível e bizarramente violenta, que coloca em choque a turminha com uma onça. É um exemplo de que as percepções podem envelhecer, caducar e os autores tem que ter traquejo nisso. Lobato, nesse texto, é adepto da visão imperativa, arbitrária e destrutiva do homem sobre a natureza. Nesse momento não há noção alguma sobre educação ambiental, tratando-se tudo como um brinquedo. A turminha vai à mata e trucida o bicho, com requintes de crueldade exaltados como grande façanha, reproduzindo a mesma visão que movia muitos na interação com a natureza (e hoje?).
Para entender melhor, pensa em Narizinho esfaqueando como se quisesse tirar uma fatia de pão, Pedrinho esmagando o crânio da onça a peso de coronhadas, Emília atacando com um espeto de assar frango, Visconde enterrando a espada no peito e Rabicó dando um tiro de canhão à queima roupa... Quadro terrível? Era a diversão infantil naquela época no que o autor imaginava para as crianças... Felizmente, parece ter percebido e trouxe visão nova nos textos seguintes, escritos na década de 30 para o mesmo livro, na interação das crianças com a natureza. O Maurício de Sousa, por exemplo, teve e tem muito traquejo na construção de sua turminha.
Segue uma história em que os animais, especialmente as onças, tentam se vingar e atacam o sítio, mas são vencidas por esperteza. Nada de mortes dessa vez, apesar do Pedrinho ter fascínio por armas e querer ser um caçador infalível e implacável, desejando morar na África para seus intentos. Algo continua equivocado, né?
Na parte final, outra evolução no pensamento de Lobato, trazendo uma percepção mais acertada, ainda que no contexto de época houvesse outra visão de prioridades. Seu texto deixou a caduquice do primeiro e introduziu um rinoceronte, uma daquelas feras que o Pedrinho desejava caçar, como um animal de interação curiosa e afável para as crianças. Aqui há desapego à imagem vilanizada da natureza e as crianças aprendem a amar o bicho e lutar por sua permanência em seu convívio. Os personagens do folclore ainda não deram o ar da graça e acho que sobrou para alguns deles o papel de vilão nas aventuras. Melhor assim. Não lembram? Lá vem a Cuca, te pega daqui, te pega de lá...
E aí? Não houve uma progressão no pensamento do Lobato? Espero não encontrar as referidas caduquices nos livros seguintes... Mas também sei de algo que Lobato preferiu congelar e morrer na caduquice: a percepção e imagem construída sobre a Tia Nastácia. Guardo para outros livros da série esse parecer, mas digo que em uma obra que mostrou desenvolvimento, o final foi decepcionante: involução total na caduquice que não se quis largar. Olha lá a última frase...
Registrando amenidades da cronologia da série:
- O Quindim foi introduzido nesse livro como mais uma personagem do sítio;
- Surgem também os besouros espiões da Emília: o Numero 1 e Número 2;
- Os animais já aparecem falantes, sem explicação alguma, como ocorreu em relação ao Burro Falante no primeiro livro. Assim é com Rabicó, os besouros e Quindim (sem que se mencione as pílulas falantes da obra anterior). Acho que o Lobato esqueceu dessa pequena explicação como até então fazia em relação a tudo;
- Cléo foi outra menina introduzida, mas parece que não teve carisma. A justificativa para o surgimento foi mal elaborada e ficou marcada como uma namoradinha do Pedrinho. Na real, Lobato quis dar um jeito de colocar a novidade da rádio em seus livros, já que a menina era representante de uma emissora;
- Lobato era antenado e também deu um jeito de registrar e introduzir o telefone no sítio, na história do Quindim;
- KKKK! Gostei da passada de perna que a Emília deu nos advogados do circo de onde veio o Quindim. Ah, que legal seria se o Lobato tivesse tido o insight de torná-la defensora de certas coisas... Mas ele preferiu uma caduquice nelas.
- É um livro para ser lido, em relação às crianças, com orientações.
Contudo, contudo, gosto muito do Sítio do Picapau Amarelo e tive a grata satisfação de ser alfabetizado em livros com suas personagens, lá no meu Jardim da Infância e Pré-escolar em Serra do Navio...
O primeiro capítulo (escrito em 1924) conta uma história horrível e bizarramente violenta, que coloca em choque a turminha com uma onça. É um exemplo de que as percepções podem envelhecer, caducar e os autores tem que ter traquejo nisso. Lobato, nesse texto, é adepto da visão imperativa, arbitrária e destrutiva do homem sobre a natureza. Nesse momento não há noção alguma sobre educação ambiental, tratando-se tudo como um brinquedo. A turminha vai à mata e trucida o bicho, com requintes de crueldade exaltados como grande façanha, reproduzindo a mesma visão que movia muitos na interação com a natureza (e hoje?).
Para entender melhor, pensa em Narizinho esfaqueando como se quisesse tirar uma fatia de pão, Pedrinho esmagando o crânio da onça a peso de coronhadas, Emília atacando com um espeto de assar frango, Visconde enterrando a espada no peito e Rabicó dando um tiro de canhão à queima roupa... Quadro terrível? Era a diversão infantil naquela época no que o autor imaginava para as crianças... Felizmente, parece ter percebido e trouxe visão nova nos textos seguintes, escritos na década de 30 para o mesmo livro, na interação das crianças com a natureza. O Maurício de Sousa, por exemplo, teve e tem muito traquejo na construção de sua turminha.
Segue uma história em que os animais, especialmente as onças, tentam se vingar e atacam o sítio, mas são vencidas por esperteza. Nada de mortes dessa vez, apesar do Pedrinho ter fascínio por armas e querer ser um caçador infalível e implacável, desejando morar na África para seus intentos. Algo continua equivocado, né?
Na parte final, outra evolução no pensamento de Lobato, trazendo uma percepção mais acertada, ainda que no contexto de época houvesse outra visão de prioridades. Seu texto deixou a caduquice do primeiro e introduziu um rinoceronte, uma daquelas feras que o Pedrinho desejava caçar, como um animal de interação curiosa e afável para as crianças. Aqui há desapego à imagem vilanizada da natureza e as crianças aprendem a amar o bicho e lutar por sua permanência em seu convívio. Os personagens do folclore ainda não deram o ar da graça e acho que sobrou para alguns deles o papel de vilão nas aventuras. Melhor assim. Não lembram? Lá vem a Cuca, te pega daqui, te pega de lá...
E aí? Não houve uma progressão no pensamento do Lobato? Espero não encontrar as referidas caduquices nos livros seguintes... Mas também sei de algo que Lobato preferiu congelar e morrer na caduquice: a percepção e imagem construída sobre a Tia Nastácia. Guardo para outros livros da série esse parecer, mas digo que em uma obra que mostrou desenvolvimento, o final foi decepcionante: involução total na caduquice que não se quis largar. Olha lá a última frase...
Registrando amenidades da cronologia da série:
- O Quindim foi introduzido nesse livro como mais uma personagem do sítio;
- Surgem também os besouros espiões da Emília: o Numero 1 e Número 2;
- Os animais já aparecem falantes, sem explicação alguma, como ocorreu em relação ao Burro Falante no primeiro livro. Assim é com Rabicó, os besouros e Quindim (sem que se mencione as pílulas falantes da obra anterior). Acho que o Lobato esqueceu dessa pequena explicação como até então fazia em relação a tudo;
- Cléo foi outra menina introduzida, mas parece que não teve carisma. A justificativa para o surgimento foi mal elaborada e ficou marcada como uma namoradinha do Pedrinho. Na real, Lobato quis dar um jeito de colocar a novidade da rádio em seus livros, já que a menina era representante de uma emissora;
- Lobato era antenado e também deu um jeito de registrar e introduzir o telefone no sítio, na história do Quindim;
- KKKK! Gostei da passada de perna que a Emília deu nos advogados do circo de onde veio o Quindim. Ah, que legal seria se o Lobato tivesse tido o insight de torná-la defensora de certas coisas... Mas ele preferiu uma caduquice nelas.
- É um livro para ser lido, em relação às crianças, com orientações.
Contudo, contudo, gosto muito do Sítio do Picapau Amarelo e tive a grata satisfação de ser alfabetizado em livros com suas personagens, lá no meu Jardim da Infância e Pré-escolar em Serra do Navio...
O Saci (1927) - Registro no Skoob em 27/02/2017
Perdi o fio da meada na ordem cronológica dos livros, por isso vou
desapegar dessa questão. Sei que o Lobato escreveu algumas histórias na
década de 20, desenvolvendo-as na seguinte.
O Saci é um dos melhores livros da série, introduzindo personagens do folclore nacional e idealizando a imagem do sítio. Tem um clima bucólico que conquista o leitor, com informações em concepção didática.
Olha como as coisas estão bem arranjadas...
No início vemos Pedrinho saindo de férias na cidade, manifestando muita vontade de ir para o sítio. O que o seduz? Resposta no capítulo seguinte - extenso e bonito - onde Lobato faz um tour minucioso pelo sítio, descrevendo detalhes da casa, dos arredores, do pomar e da mata. Uma construção bucólica que instiga vontade, em face da natureza convidativa e poética, de aventuras e descobertas. Essa valorização ambiental fortalece a origem dos mitos, objetividade também do livro, por ressaltar a natureza de maneira muito presente e grandiosa na interação com o homem, crescendo assim a predisposição aos crédulos folclóricos (decorrentes de mistérios e segredos que se insinuam), principalmente quando ganham vitalidade em outro aspecto também valorizado por Lobato. Mas isso foi assunto para o capítulo seguinte.
O saber popular, desapegado de informações científicas e tendencioso à conclusões ingênuas e imediatistas, é representado em Tia Nastácia e em mais um personagem introduzido nessa obra: o Tio Barnabé. Vem deles as histórias do Saci e de um universo cultural desconhecido ainda pela turminha.
Caracterizando Tio Barnabé, mora nas proximidades do sítio, tem mais de oitenta anos e suas histórias são calejadas no saber popular. É ele quem ensina Pedrinho a capturar o Saci, ao estar completamente envolvido e instigado pelas narrativas orais.
Gosto de histórias folclóricas, mas entendendo as origens e razões, não simplesmente relegando-as à ignorância. Há uma razão existencial e Lobato nas entrelinhas revela as inspirações.
O que acho legal é que o Saci retratado não é apenas o mito pelo mito. Ele tem ares de educador ambiental e interage com o Pedrinho nessas descobertas, levando-o a ter uma percepção diferenciada da natureza em simples coisas (como o casulo das borboletas, o canto dos pássaros e outras similaridades a que, às vezes, não damos muita atenção - talvez fôssemos mais felizes ou menos estressados se déssemos). O diálogo passa por pontos interessantes, como a grandiosidade ao menino estar relacionada à grandes realizações humanas (descrições em livros), enquanto o Saci vê as melhores coisas na natureza. O menino é de certa forma impactado quando percebe que algumas das realizações humanas são motivadas por egoísmo ou se estabelecem através de guerras... Nesse momento ele deseja não se tornar um adulto... Não esqueçamos que estávamos em um recente pós primeira guerra mundial.
Ao falar de outros personagens folclóricos (lobisomem, Iara e etc), voltamos àquela questão de não se valorizar o mito pelo mito. A introdução à eles passa por mais um fator de justificação: o medo. Saci e Pedrinhos ressaltam essa questão e é assim que Cuca e companhia começam a ser conhecidos na obra, pelo menos nesse livro pioneiro.
O Saci é um dos melhores livros da série, introduzindo personagens do folclore nacional e idealizando a imagem do sítio. Tem um clima bucólico que conquista o leitor, com informações em concepção didática.
Olha como as coisas estão bem arranjadas...
No início vemos Pedrinho saindo de férias na cidade, manifestando muita vontade de ir para o sítio. O que o seduz? Resposta no capítulo seguinte - extenso e bonito - onde Lobato faz um tour minucioso pelo sítio, descrevendo detalhes da casa, dos arredores, do pomar e da mata. Uma construção bucólica que instiga vontade, em face da natureza convidativa e poética, de aventuras e descobertas. Essa valorização ambiental fortalece a origem dos mitos, objetividade também do livro, por ressaltar a natureza de maneira muito presente e grandiosa na interação com o homem, crescendo assim a predisposição aos crédulos folclóricos (decorrentes de mistérios e segredos que se insinuam), principalmente quando ganham vitalidade em outro aspecto também valorizado por Lobato. Mas isso foi assunto para o capítulo seguinte.
O saber popular, desapegado de informações científicas e tendencioso à conclusões ingênuas e imediatistas, é representado em Tia Nastácia e em mais um personagem introduzido nessa obra: o Tio Barnabé. Vem deles as histórias do Saci e de um universo cultural desconhecido ainda pela turminha.
Caracterizando Tio Barnabé, mora nas proximidades do sítio, tem mais de oitenta anos e suas histórias são calejadas no saber popular. É ele quem ensina Pedrinho a capturar o Saci, ao estar completamente envolvido e instigado pelas narrativas orais.
Gosto de histórias folclóricas, mas entendendo as origens e razões, não simplesmente relegando-as à ignorância. Há uma razão existencial e Lobato nas entrelinhas revela as inspirações.
O que acho legal é que o Saci retratado não é apenas o mito pelo mito. Ele tem ares de educador ambiental e interage com o Pedrinho nessas descobertas, levando-o a ter uma percepção diferenciada da natureza em simples coisas (como o casulo das borboletas, o canto dos pássaros e outras similaridades a que, às vezes, não damos muita atenção - talvez fôssemos mais felizes ou menos estressados se déssemos). O diálogo passa por pontos interessantes, como a grandiosidade ao menino estar relacionada à grandes realizações humanas (descrições em livros), enquanto o Saci vê as melhores coisas na natureza. O menino é de certa forma impactado quando percebe que algumas das realizações humanas são motivadas por egoísmo ou se estabelecem através de guerras... Nesse momento ele deseja não se tornar um adulto... Não esqueçamos que estávamos em um recente pós primeira guerra mundial.
Ao falar de outros personagens folclóricos (lobisomem, Iara e etc), voltamos àquela questão de não se valorizar o mito pelo mito. A introdução à eles passa por mais um fator de justificação: o medo. Saci e Pedrinhos ressaltam essa questão e é assim que Cuca e companhia começam a ser conhecidos na obra, pelo menos nesse livro pioneiro.
Algumas das
principais personagens tem descrição didática, onde e como se
originaram, mas agora valorizando apenas a crendice popular.
As coisas não foram bem arranjadas? Evidentemente.
Não há destaque para outros personagens do sítio, mas não esqueçamos que o Pedrinho aparentava ser o mais equivocado na interação com a natureza. Narizinho tinha história de casamento com um peixinho, Emília cuidava dos besouros, Visconde era a voz da sapiência (apesar de ter alguns equívocos em narrativas anteriores no trato ambiental) e o Pedrinho desejava ser um grande caçador (como talvez suspirasse a geração de meninos da época).
Mais alguns registros, ainda que bobos:
- Lobato estabeleceu as idades, mudando descrições do primeiro livro. Pedrinho tem 9 anos, Narizinho (8), Dona Benta (64), Tia Nastácia (66) e Rabicó, Emília e Visconde (1 ano cada). Não esqueçamos que Tio Barnabé era octogenário.
- Entre o Saci e Pedrinho se repete a primeira história do livro Caçadas de Pedrinho, mas com final diferente, pois naquele o relato é bizarramente violento. Só para dar uma dica, a Narizinho esfaqueava a onça como se quisesse tirar uma fatia de pão. Quando li lembrei de um filme de 1986 chamado A fortaleza, em que crianças trucidam um criminoso. Mas um detalhe importante: no filme era uma cena de suspense e terror impactante, enquanto que no livro a barbárie infantil era pura diversão e grande feito da garotada.
- Só não gostei de uma coisa. O fato de Lobato explicitamente mostrar sua percepção de ateu. Oras! Se foi cuidadoso em mostrar o porquê de mitos, relativizando a questão, por que foi tão incisivo e imperativo em dizer que a vida se resumia a esse mundo, e que um ser passa de um para outro (valorizando à percepção de Lavoisier em um plano materialista). Não gostei desse papo de Fada da Vida direcionado a quem é o Criador. Parece que era mais fácil a negação de Deus, que sustentar certas coisas.
As coisas não foram bem arranjadas? Evidentemente.
Não há destaque para outros personagens do sítio, mas não esqueçamos que o Pedrinho aparentava ser o mais equivocado na interação com a natureza. Narizinho tinha história de casamento com um peixinho, Emília cuidava dos besouros, Visconde era a voz da sapiência (apesar de ter alguns equívocos em narrativas anteriores no trato ambiental) e o Pedrinho desejava ser um grande caçador (como talvez suspirasse a geração de meninos da época).
Mais alguns registros, ainda que bobos:
- Lobato estabeleceu as idades, mudando descrições do primeiro livro. Pedrinho tem 9 anos, Narizinho (8), Dona Benta (64), Tia Nastácia (66) e Rabicó, Emília e Visconde (1 ano cada). Não esqueçamos que Tio Barnabé era octogenário.
- Entre o Saci e Pedrinho se repete a primeira história do livro Caçadas de Pedrinho, mas com final diferente, pois naquele o relato é bizarramente violento. Só para dar uma dica, a Narizinho esfaqueava a onça como se quisesse tirar uma fatia de pão. Quando li lembrei de um filme de 1986 chamado A fortaleza, em que crianças trucidam um criminoso. Mas um detalhe importante: no filme era uma cena de suspense e terror impactante, enquanto que no livro a barbárie infantil era pura diversão e grande feito da garotada.
- Só não gostei de uma coisa. O fato de Lobato explicitamente mostrar sua percepção de ateu. Oras! Se foi cuidadoso em mostrar o porquê de mitos, relativizando a questão, por que foi tão incisivo e imperativo em dizer que a vida se resumia a esse mundo, e que um ser passa de um para outro (valorizando à percepção de Lavoisier em um plano materialista). Não gostei desse papo de Fada da Vida direcionado a quem é o Criador. Parece que era mais fácil a negação de Deus, que sustentar certas coisas.
Foi o que senti e tive necessidade de deixar em registro.
Memórias da Emília (1936) - Registro no Skoob em (01/03/2017)
Parece um sonho maluco, onde realidade e ficção se misturam. Pudera, a
construção é onírica, enfatizando o imaginário infantil com aspectos do
contexto de época. Lobato era antenado nessas questões, por isso é um
livro moderno em sua proposta. Acredito que muita gente achava estranho,
por serem apegadas a uma estética tradicionalista, mas as crianças
deviam curtir, reconhecendo coisas que as instigavam.
A proposta tem suas virtudes, mas também teve pontos negativos, não por reproduzir o contexto de época (em coisas impactantes hoje), mas por Lobato posicionar-se de forma ultraconservadora em umas, enquanto que em outras era progressista e inovador. Se estritamente valorizasse um apelo educacional, como se propunha, o Sítio teria importância muito maior, com ares revolucionários na literatura nacional (se é que isso caiba aqui). Ele, porém, deixou certos aspectos sem um contraponto.
Falando no surreal, maluco mesmo é a voz de Reny de Oliveira soar na minha mente em cada fala da Emília. Sério! Se há uma Dona Benta eternizada no vídeo, a Emília da Reny é a que ficou gravada em minhas memórias como a mais representativa e preferida. Ah, deixa esse negócio de memórias para a Emília, que no livro fala mais ou menos assim...
Lobato valorizava os livros e isso é notório (tem até aquela famosa frase que os sabidos de plantão lembram, a do país e livros, coia e tal), então não é surpresa que isso se reproduzisse em suas personagens. Dona Benta, Visconde, Dona Carochinha... Agora é a vez desse apego se reproduzir na Emília, sua mais representativa personagem e ícone infantil. A pequena inventou de escrever suas memórias, instigando uma gostosa brincadeira, onde a invenção literalmente se faz presente. Com ajuda do Visconde, mãos à obra...
A história tem três momentos, que trazem a percepção de mundo da boneca. Evidentemente, com pontos legais na percepção infantil, mas também bizarros em outros, principalmente por Lobato calar sua objetividade educadora em alguns deles. Estou falando da caracterização relacionada à Tia Nastácia, que é o que mais pega na série. Qual é?! Ele deixou em suspenso o mesmo conceito do Negrinha. Mas ali a situação, embora impactante, é direcionada a uma reflexão, provocativa ao leitor. Aqui, porém, estava falando com crianças, que veem apenas o imediatismo e precisam de alguma forma de orientação. Oras! Se o Visconde e a Dona Benta contrapõem e influenciam no saber das crianças, dando pitacos em cada ocasião favorável, caberia também no trato com a personagem um contraponto, uma orientação. Lobato escreveu coisas que em certos momentos são muito agressivas e extremamente ofensivas, como neste livro, em que a Emília leva a Tia Nastácia às lágrimas e a gente nota que fica por aí, com os termos ofensivos presentes na fala de personagens e, o que é pior, no texto do narrador. Fala-se muito que ele reproduz apenas o contexto de época. Concordo, mas a minha questão é que ele não se interpôs a isso de nenhuma forma. Que se reproduzisse (apesar de que, em alguns momentos ele deu muita vitalidade nisso), mas se construisse também uma interposição, um processo educativo. Como seria fantástico e histórico a turminha nessa aprendizagem, mas ele preferiu nesse aspecto o tradicionalismo, procurando manter as coisas assim em toda a coleção.
Penso também que, se faltou ao autor essa sensatez, nas edições atuais não podem faltar, valorizando-se as obras com notas explicativas, o que até hoje não ocorreu, e se é para deixar sem elas, então sou favorável que se retire certas frases. Algumas até usam o nome de Deus para justificar a agressividade.
Sei que o povo daquele tempo ficaria escandalizado com algumas coisas dos dias atuais, mas uma não justifica outra. É o que penso.
Voltando à história, Emília começa registrando suas origens e não há nada diferente do que conhecemos. Então se inicia a história do anjinho Flor das Alturas. A narrativa vai ficando surreal e personagens da atualidade (fictícios ou não) chegam ao Sítio para conhecer o anjo. A notícia tornara-se midiática nos jornais, rádios, telégrafos e vários líderes mundiais desejam conhecer ou enviar suas crianças. Entre eles o Fuhrer da Alemanha, o Duce da Itália e o Imperador do Japão. Reconheceu essa turma? Formariam o Eixo na Segunda Guerra, que explodiria três anos depois dessa publicação. Lobato apenas registrou líderes que estavam em evidência naquele momento, naquilo que disse de estar antenado com o mundo. O Presidente Roosevelt também foi citado.
Os personagens da ficção citados foram Popeye, Alice, Peter Pan e Capitão Gancho. O arranjo entre eles é surreal, chegando ao sítio ao embarcarem em um navio na Inglaterra que trouxera crianças. Nessa história há um duelo entre Popeye e o Capitão Gancho, e entre Pedrinho e Peter Pan contra o famoso marinheiro Popeye. Há a clara valorização nacionalista, que vilaniza o marinheiro e faz com que leve uma homérica surra, ao ser engambelado pela Emília. Acho que esse lance tem correlação com o fascínio da luta livre no contexto de época (sedutor para muitos, como às crianças, que deviam ter ídolos e quem sabe eventuais brincadeiras). Achei certas partes bastante violentas, de ênfase dispensável, mas quem ditava as rédeas, nesse caso, era o oportunismo de Lobato.
No segundo momento a turminha vai para Hollywood onde encontra-se com a famosa menina prodígio Shirley Temple e juntos encenam uma peça do Dom Quixote, visando uma fita (filme) pela Paramount.
Aspectos, em uma e outra história, que fazem as crianças brincar com novidades ou projeções conhecidas no seu meio, em uma percepção inusitada e atrativa para elas.
O terceiro momento é a visão de mundo da Emília. Um texto ingênuo e bonito no início, mas também forte em certos detalhes por Lobato escolher a caduquice neles. A boneca derrama seu amor pelo Sítio e cada personagem é citada com um carinho em especial. A tia Nastácia está entre elas, mas continua também uma certa ignorância (e nenhuma interposição do autor).
Assim é o livro, o quarto que esse ano reli da coleção do Sítio. Destes, até agora foi o que teve o episódio mais agressivo, por isso citei com um pouco da opinião. Esse episódio se desenrola entre a história das crianças vindas da Inglaterra e a viagem para Hollywood.
Um parecer final. Acho também muito infeliz as considerações e percepções de Lobato direcionadas à Cristo. No início ele sugere que Cristo é mentiroso, com uma interpretação equivocada das Escrituras Sagradas, e no texto final da Emília ele também insinua que o sacrifício de Cristo é inútil e não salva ninguém. Tudo nas entrelinhas.
Cada um com a sua concepção e opinião. As minhas foram assim...
A proposta tem suas virtudes, mas também teve pontos negativos, não por reproduzir o contexto de época (em coisas impactantes hoje), mas por Lobato posicionar-se de forma ultraconservadora em umas, enquanto que em outras era progressista e inovador. Se estritamente valorizasse um apelo educacional, como se propunha, o Sítio teria importância muito maior, com ares revolucionários na literatura nacional (se é que isso caiba aqui). Ele, porém, deixou certos aspectos sem um contraponto.
Falando no surreal, maluco mesmo é a voz de Reny de Oliveira soar na minha mente em cada fala da Emília. Sério! Se há uma Dona Benta eternizada no vídeo, a Emília da Reny é a que ficou gravada em minhas memórias como a mais representativa e preferida. Ah, deixa esse negócio de memórias para a Emília, que no livro fala mais ou menos assim...
Lobato valorizava os livros e isso é notório (tem até aquela famosa frase que os sabidos de plantão lembram, a do país e livros, coia e tal), então não é surpresa que isso se reproduzisse em suas personagens. Dona Benta, Visconde, Dona Carochinha... Agora é a vez desse apego se reproduzir na Emília, sua mais representativa personagem e ícone infantil. A pequena inventou de escrever suas memórias, instigando uma gostosa brincadeira, onde a invenção literalmente se faz presente. Com ajuda do Visconde, mãos à obra...
A história tem três momentos, que trazem a percepção de mundo da boneca. Evidentemente, com pontos legais na percepção infantil, mas também bizarros em outros, principalmente por Lobato calar sua objetividade educadora em alguns deles. Estou falando da caracterização relacionada à Tia Nastácia, que é o que mais pega na série. Qual é?! Ele deixou em suspenso o mesmo conceito do Negrinha. Mas ali a situação, embora impactante, é direcionada a uma reflexão, provocativa ao leitor. Aqui, porém, estava falando com crianças, que veem apenas o imediatismo e precisam de alguma forma de orientação. Oras! Se o Visconde e a Dona Benta contrapõem e influenciam no saber das crianças, dando pitacos em cada ocasião favorável, caberia também no trato com a personagem um contraponto, uma orientação. Lobato escreveu coisas que em certos momentos são muito agressivas e extremamente ofensivas, como neste livro, em que a Emília leva a Tia Nastácia às lágrimas e a gente nota que fica por aí, com os termos ofensivos presentes na fala de personagens e, o que é pior, no texto do narrador. Fala-se muito que ele reproduz apenas o contexto de época. Concordo, mas a minha questão é que ele não se interpôs a isso de nenhuma forma. Que se reproduzisse (apesar de que, em alguns momentos ele deu muita vitalidade nisso), mas se construisse também uma interposição, um processo educativo. Como seria fantástico e histórico a turminha nessa aprendizagem, mas ele preferiu nesse aspecto o tradicionalismo, procurando manter as coisas assim em toda a coleção.
Penso também que, se faltou ao autor essa sensatez, nas edições atuais não podem faltar, valorizando-se as obras com notas explicativas, o que até hoje não ocorreu, e se é para deixar sem elas, então sou favorável que se retire certas frases. Algumas até usam o nome de Deus para justificar a agressividade.
Sei que o povo daquele tempo ficaria escandalizado com algumas coisas dos dias atuais, mas uma não justifica outra. É o que penso.
Voltando à história, Emília começa registrando suas origens e não há nada diferente do que conhecemos. Então se inicia a história do anjinho Flor das Alturas. A narrativa vai ficando surreal e personagens da atualidade (fictícios ou não) chegam ao Sítio para conhecer o anjo. A notícia tornara-se midiática nos jornais, rádios, telégrafos e vários líderes mundiais desejam conhecer ou enviar suas crianças. Entre eles o Fuhrer da Alemanha, o Duce da Itália e o Imperador do Japão. Reconheceu essa turma? Formariam o Eixo na Segunda Guerra, que explodiria três anos depois dessa publicação. Lobato apenas registrou líderes que estavam em evidência naquele momento, naquilo que disse de estar antenado com o mundo. O Presidente Roosevelt também foi citado.
Os personagens da ficção citados foram Popeye, Alice, Peter Pan e Capitão Gancho. O arranjo entre eles é surreal, chegando ao sítio ao embarcarem em um navio na Inglaterra que trouxera crianças. Nessa história há um duelo entre Popeye e o Capitão Gancho, e entre Pedrinho e Peter Pan contra o famoso marinheiro Popeye. Há a clara valorização nacionalista, que vilaniza o marinheiro e faz com que leve uma homérica surra, ao ser engambelado pela Emília. Acho que esse lance tem correlação com o fascínio da luta livre no contexto de época (sedutor para muitos, como às crianças, que deviam ter ídolos e quem sabe eventuais brincadeiras). Achei certas partes bastante violentas, de ênfase dispensável, mas quem ditava as rédeas, nesse caso, era o oportunismo de Lobato.
No segundo momento a turminha vai para Hollywood onde encontra-se com a famosa menina prodígio Shirley Temple e juntos encenam uma peça do Dom Quixote, visando uma fita (filme) pela Paramount.
Aspectos, em uma e outra história, que fazem as crianças brincar com novidades ou projeções conhecidas no seu meio, em uma percepção inusitada e atrativa para elas.
O terceiro momento é a visão de mundo da Emília. Um texto ingênuo e bonito no início, mas também forte em certos detalhes por Lobato escolher a caduquice neles. A boneca derrama seu amor pelo Sítio e cada personagem é citada com um carinho em especial. A tia Nastácia está entre elas, mas continua também uma certa ignorância (e nenhuma interposição do autor).
Assim é o livro, o quarto que esse ano reli da coleção do Sítio. Destes, até agora foi o que teve o episódio mais agressivo, por isso citei com um pouco da opinião. Esse episódio se desenrola entre a história das crianças vindas da Inglaterra e a viagem para Hollywood.
Um parecer final. Acho também muito infeliz as considerações e percepções de Lobato direcionadas à Cristo. No início ele sugere que Cristo é mentiroso, com uma interpretação equivocada das Escrituras Sagradas, e no texto final da Emília ele também insinua que o sacrifício de Cristo é inútil e não salva ninguém. Tudo nas entrelinhas.
Cada um com a sua concepção e opinião. As minhas foram assim...
Aventuras de Hans Staden (1927) - Registro no Skoob em 20/03/2017
Um livro espetacular na série do Sítio do Picapau Amarelo, em que Lobato
apresenta a História do Brasil de forma atrativa e instigante para
jovens leitores. O drama foi real e impactante, ocorrido na terra
recém-descoberta no século XVI, porém, o autor mostrou-se cuidadoso em
contextualizar os fatos, que vão se apresentando como uma grande
reportagem sobre Hans Staden e o país naqueles tempos.
A história é reveladora do contexto das navegações, das razões de buscas europeias pelo Brasil, da rivalidade entre portugueses e franceses, relação que tinham com os indígenas, cultura destes e significado de muitas palavras que usavam. Dona Benta é a narradora, sem haver qualquer manifestação de Emília, Visconde ou Tia Nastácia.
O texto se desenrola despertando interesse e aprendizagem. No final das contas, ressaltou o prazer pela descoberta e estudos, em valorização aos livros, à História do Brasil e à percepção de se compreender os fatos no contexto em que ocorreram.
Curiosidades à parte, Pedrinho é citado tendo vocação para Odontologia e Dona Benta reforça a imagem de uma educadora que se fez ausente em outros livros de Lobato em certos aspectos.
Fechando a história, em minha visão, faltou o relato do tempo de cativeiro do Hans Staden (9 meses) e também dar uma enfatizada que a experiência resultou em um dos primeiros livros sobre o Brasil.
A história é reveladora do contexto das navegações, das razões de buscas europeias pelo Brasil, da rivalidade entre portugueses e franceses, relação que tinham com os indígenas, cultura destes e significado de muitas palavras que usavam. Dona Benta é a narradora, sem haver qualquer manifestação de Emília, Visconde ou Tia Nastácia.
O texto se desenrola despertando interesse e aprendizagem. No final das contas, ressaltou o prazer pela descoberta e estudos, em valorização aos livros, à História do Brasil e à percepção de se compreender os fatos no contexto em que ocorreram.
Curiosidades à parte, Pedrinho é citado tendo vocação para Odontologia e Dona Benta reforça a imagem de uma educadora que se fez ausente em outros livros de Lobato em certos aspectos.
Fechando a história, em minha visão, faltou o relato do tempo de cativeiro do Hans Staden (9 meses) e também dar uma enfatizada que a experiência resultou em um dos primeiros livros sobre o Brasil.
Viagem ao Céu (1932) - Registro no Skoob em 30/03/2017
Ô, beleza! É uma leitura prazerosa, com gostinho de saudades da
infância, da escola, de aventuras imaginativas e ingênuas, de histórias
da vó, de vontade de experimentações e descobertas. O livro mescla tudo
isso, brincando e instigando aprendizagens. Uma edição de muito valor na
coleção do Sítio do Picapau Amarelo, onde as virtudes estão em maior
destaque do que pontos refutáveis (no trato caduco em relação à Tia
Nastácia que, especificamente nessa obra, enfatiza que tem uma
simbologia e contexto de época... bons observadores vão notar no diálogo
da turminha com o São Jorge).
Particularidades pontuais (coisas bobas que estabeleci para mim mesmo na construção de uma memória da obra):
- A história se passa no mês de Abril, que era considerado o de férias de lagarto, ideal para curtição despreocupada (vá entender... só lendo). O mês é também citado como o do aniversário de Pedrinho.
- Cronologicamente a história vem depois do Reinações de Narizinho, dando continuidade à narrativa em que o Visconde se afogara no Reino das Águas Claras (Lobato não teve rodeios em dizer que ele havia morrido, restando apenas o toco mofado da espiga de milho), e Tia Nastácia faz um novo, com outra espiga, que chamaram de Dr. Livingstone, em homenagem à um explorador inglês. Ele é apresentado como um avatar do Visconde e é protestante, com Bíblia e tudo.
- Uma observação absolutamente de cunho pessoal, pois imagino que nem passou pela cabeça de Lobato, mas ele de certa forma reproduziu um contexto de época na visão ao protestantismo. Tia Nastácia teve um asco e receio ao saber do protestante, até se benzendo e pedindo proteção divina, para depois gradualmente tomar simpatia. De onde teria vindo a repulsa inicial? É que o Brasil foi oficialmente católico romano entre a constituição imperial de 1824 e a republicana de 1891. Tudo que fosse contrário era associado à contravenção e essa cultura informalmente persistia no popular, alimentada pela oposição católica romana à chegada em maior escala de missionários estrangeiros protestantes, numa espécie de demonização. Não sem razão, houve muita perseguição e histórias violentamente esdrúxulas, com prisões e destruição de Bíblias. Tia Nastácia, na minha visão, expressou isso em primeiro momento, que foi realidade para muita gente. Nada a ver? Bom, registrei o que acredito.
- O livro poderia ter título de Viagem pelo Sistema Solar (ou Via Láctea), porque é a isso que se refere. Claro, brincando com o saber conhecido na época.
- Antes da viagem iniciar, primeiro há uma aula da Dona Benta em pontos referentes ao universo, no contexto de época. Conhecer, para depois brincar com esse conhecimento. Destaque para a orientação sobre o saber, que pode ser repudiado e cobrar um preço a quem o detém ou defende, citando exemplos como Galileu Galilei.
- A viagem mistura pontos da ciência com folclore e imaginação infantil.
- Entre os planetas, Plutão não foi citado. Fiquei curioso e descobri que isso se deu a partir da década de 1930, em paralelo à publicação dessa obra. A novidade talvez não tinha se consolidado para Lobato.
- Na Lua, a turminha encontra o São Jorge, que não é alardeado numa visão idólatra.
- No passeio pela Via Láctea encontram um anjinho com asa quebrada, que depois levam para o Sítio (cronologicamente, a história com esse personagem se desenrola no Memórias da Emília).
- O Burro Falante é batizado com o nome de Conselheiro. Advinha de quem foi a ideia... A Emília associou a sabedoria dele com os aconselhamentos sempre propícios. Ah, o dragão do São Jorge tentou devorar o pobre e por um momento ele se transformou em um satélite da Lua. Coisas do pó de Pirlimpimpim... KKKK! Quanta maluquice legal!
- Gosto de expressões populares e assim deixo em registro a ótima da Emília, exprimindo contundência (comigo é na batata!), e a do Conselheiro exprimindo surpresa ou entusiasmo (Bofé! que seria um boa fé!). A Tia Nastácia tem uma palavra que é sensacional e busquei significado na net (surpreendente, pois foi citada essa passagem até em tese). Alguém sabe me dizer, por favor, o que é fisolustria? KKKK! O termo foi referido na caracterização ao São Jorge. Sensacional! Gostei desse fisolustria (importância? destaque?). Sei lá, mas gostei.
- Várias aventuras inusitadas no espaço, destacando-se a que montaram em um cometa.
- No regresso, topam com uma equipe de sábios no Sítio, invocados porque estariam desequilibrando o universo com suas reinações (sugestão de questionamentos para as ações que se desempenham? Inconformismo? Quebra de tabus? Numa boa orientação, tudo aproveitável...).
- Legal! Divertido e curioso em suas inusitadas e fisolústricas reinações.
Bofé!
A reforma da natureza (1941) - Registro no Skoob em 13/04/2017
Particularidades pontuais (coisas bobas que estabeleci para mim mesmo na construção de uma memória da obra):
- A história se passa no mês de Abril, que era considerado o de férias de lagarto, ideal para curtição despreocupada (vá entender... só lendo). O mês é também citado como o do aniversário de Pedrinho.
- Cronologicamente a história vem depois do Reinações de Narizinho, dando continuidade à narrativa em que o Visconde se afogara no Reino das Águas Claras (Lobato não teve rodeios em dizer que ele havia morrido, restando apenas o toco mofado da espiga de milho), e Tia Nastácia faz um novo, com outra espiga, que chamaram de Dr. Livingstone, em homenagem à um explorador inglês. Ele é apresentado como um avatar do Visconde e é protestante, com Bíblia e tudo.
- Uma observação absolutamente de cunho pessoal, pois imagino que nem passou pela cabeça de Lobato, mas ele de certa forma reproduziu um contexto de época na visão ao protestantismo. Tia Nastácia teve um asco e receio ao saber do protestante, até se benzendo e pedindo proteção divina, para depois gradualmente tomar simpatia. De onde teria vindo a repulsa inicial? É que o Brasil foi oficialmente católico romano entre a constituição imperial de 1824 e a republicana de 1891. Tudo que fosse contrário era associado à contravenção e essa cultura informalmente persistia no popular, alimentada pela oposição católica romana à chegada em maior escala de missionários estrangeiros protestantes, numa espécie de demonização. Não sem razão, houve muita perseguição e histórias violentamente esdrúxulas, com prisões e destruição de Bíblias. Tia Nastácia, na minha visão, expressou isso em primeiro momento, que foi realidade para muita gente. Nada a ver? Bom, registrei o que acredito.
- O livro poderia ter título de Viagem pelo Sistema Solar (ou Via Láctea), porque é a isso que se refere. Claro, brincando com o saber conhecido na época.
- Antes da viagem iniciar, primeiro há uma aula da Dona Benta em pontos referentes ao universo, no contexto de época. Conhecer, para depois brincar com esse conhecimento. Destaque para a orientação sobre o saber, que pode ser repudiado e cobrar um preço a quem o detém ou defende, citando exemplos como Galileu Galilei.
- A viagem mistura pontos da ciência com folclore e imaginação infantil.
- Entre os planetas, Plutão não foi citado. Fiquei curioso e descobri que isso se deu a partir da década de 1930, em paralelo à publicação dessa obra. A novidade talvez não tinha se consolidado para Lobato.
- Na Lua, a turminha encontra o São Jorge, que não é alardeado numa visão idólatra.
- No passeio pela Via Láctea encontram um anjinho com asa quebrada, que depois levam para o Sítio (cronologicamente, a história com esse personagem se desenrola no Memórias da Emília).
- O Burro Falante é batizado com o nome de Conselheiro. Advinha de quem foi a ideia... A Emília associou a sabedoria dele com os aconselhamentos sempre propícios. Ah, o dragão do São Jorge tentou devorar o pobre e por um momento ele se transformou em um satélite da Lua. Coisas do pó de Pirlimpimpim... KKKK! Quanta maluquice legal!
- Gosto de expressões populares e assim deixo em registro a ótima da Emília, exprimindo contundência (comigo é na batata!), e a do Conselheiro exprimindo surpresa ou entusiasmo (Bofé! que seria um boa fé!). A Tia Nastácia tem uma palavra que é sensacional e busquei significado na net (surpreendente, pois foi citada essa passagem até em tese). Alguém sabe me dizer, por favor, o que é fisolustria? KKKK! O termo foi referido na caracterização ao São Jorge. Sensacional! Gostei desse fisolustria (importância? destaque?). Sei lá, mas gostei.
- Várias aventuras inusitadas no espaço, destacando-se a que montaram em um cometa.
- No regresso, topam com uma equipe de sábios no Sítio, invocados porque estariam desequilibrando o universo com suas reinações (sugestão de questionamentos para as ações que se desempenham? Inconformismo? Quebra de tabus? Numa boa orientação, tudo aproveitável...).
- Legal! Divertido e curioso em suas inusitadas e fisolústricas reinações.
Bofé!
A reforma da natureza (1941) - Registro no Skoob em 13/04/2017
Essencialmente, vemos uma brincadeira com a imaginação infantil ao
enquadrar o mundo na lógica inocente da criança. Nessa visão, o
inusitado e o surreal se realizam, pondo em prática tenros anseios, como
se determinadas coisas fossem possíveis, e o legal da questão é que a
percepção final se direciona para uma aprendizagem entre o real e o
imaginário. Não no estabelecimento de limites repressores, mas na
compreensão da vida, da natureza, da criação e do equilíbrio natural de
forma prática, através da observação e experimentação.
Me vi um pouco na infância, quando também acreditava em certas possibilidades na minha lógica em construção. Para mim, nas entrelinhas, a mensagem da obra é um inocente choque de realidade.
Caracterizando o livro, tem dois momentos em que a Emília resolve brincar com a natureza.
No primeiro, ela dá asas à imaginação através do faz de conta e vai construindo as coisas na sua visão de mundo. O fato ocorreu quando estava sozinha no Sítio, já que a turma havia ido para uma certa conferência de líderes para falar de harmonia e paz mundial (tenho algo para expressar sobre isso adiante). A boneca recusou o convite, fula com o andamento do mundo, e resolveu reformar a natureza, contando com a ajuda de uma menina carioca, a quem chamava de Rã, vinda especialmente em atendimento a uma carta por ser sua fã. Um detalhe em especial é que essa menina tem imaginação mais fértil e boba que a da boneca.
Na segunda parte, os outros membros do Sítio retornam, deparam-se com insólitas consequências das ações das reformadoras e colocam as coisas em seu estado normal. Mas quem disse que a boneca parou por aí? Em sua construção de pensamento ela se alia ao Visconde numa espécie de experimentações científicas, relacionadas à endocrinologia, e acabam criando verdadeiros Frankensteins através de insetos, centopéias e minhocas. Novamente uma aprendizagem, relacionada ao respeito à natureza e à vida, em suas razões e peculiaridades existenciais. Tudo tem um princípio.
O que me espantou é que pensei que o livro tinha sido escrito no pós Segunda Guerra, pois Lobato cita uma Conferência Mundial em 1945 para discutir a paz e entendimento, mas estranhei que fossem citados líderes como Mussolini e Hitler, que haviam morrido nesse contexto. Por que o autor teria explicitado esse notório equívoco? A resposta encontrei na data de publicação da obra, em 1941, quando a guerra desenrolava-se criticamente. Dessa forma, há um certo vaticínio (não intencional) para o ano de 1945, marcado pelo fim da guerra e realização de conferências em que se discutiu os rumos do mundo e paz mundial. Teve conferência para definir o fim da guerra (Yalta) e outra no pós guerra (Potsdam) que foram "conferências da paz".
Saber do contexto da guerra na publicação dessa obra me levou a pensar que o autor, ainda que sem ter a noção (ou não) do contexto terrível dos nazistas, falava sobre a questão de se interferir e forçar a vontade imperiosa, ainda que estapafúrdia, decidindo sobre a vida (como fizeram os nazista com sua visão de mundo e em suas práticas de eugenia).
Vamos fazer uma distinção entre a inocente brincadeira da Emília e a ação contundentemente perversa do nazismo. Estão em situações distintas, mas que o primeiro poderia ser usado (eu disse ser usado, não que foi criado para isso) como ilustração para falar disso poderia. Ou será que tô viajando demais? Nem sei se essas práticas do Hitler já haviam sido reveladas ao mundo em 1941. Seja como for, é mais um inusitado vaticínio no livro. Só reflexões despertadas... Ah, se não entendeu, estou falando que Hitler queria fazer uma reforma no mundo e achava que poderia fazer experiências e coisas terríveis.
Finalizando, algumas coisas que gosto de registrar sobre a cronologia do Sítio, sejam bobas ou surreais:
- O nome completo do Tio Barnabé é Barnabé Semicúpio da Silva, e sua casinha é perto da ponte.
- Os livros "A chave do tamanho" e "Dom Quixote das crianças" foram citados. Ah, mas tem histórias referenciadas também em outros livros da série, mas não vou citar.
- Lobato, à essa altura, sabia da representatividade de Pedrinho e Narizinho, por isso, de maneira surreal, foi citado pela Emília que pararam de crescer há anos (seriam eternas crianças). É tipo aquela: por que heróis da década de 40 até hoje existem nos mesmos moldes, do mesmo jeito, atravessando gerações? Oras, muito simples. Para mim é assim, representam ideais, anseios e motivações que perduram, seja em um Batman no combate ao crime ou na criança que nos encanta com suas descobertas e aventuras, reconhecidamente nostálgicas a cada um.
- Qualé, Lobato? Deixastes Narizinho de escanteio e ela praticamente não aparece no livro. Por isso, quatro estrelas na avaliação. KKKK!
- Espero não ter escrito muito bobagem, mas não quero esquecer de nenhuma dessas coisas na memória associada ao livro.
- Resgatando mais uma palavra (ou expressão) que aprendi dessa vez com a Emília, é "sossorossossó!".
Me vi um pouco na infância, quando também acreditava em certas possibilidades na minha lógica em construção. Para mim, nas entrelinhas, a mensagem da obra é um inocente choque de realidade.
Caracterizando o livro, tem dois momentos em que a Emília resolve brincar com a natureza.
No primeiro, ela dá asas à imaginação através do faz de conta e vai construindo as coisas na sua visão de mundo. O fato ocorreu quando estava sozinha no Sítio, já que a turma havia ido para uma certa conferência de líderes para falar de harmonia e paz mundial (tenho algo para expressar sobre isso adiante). A boneca recusou o convite, fula com o andamento do mundo, e resolveu reformar a natureza, contando com a ajuda de uma menina carioca, a quem chamava de Rã, vinda especialmente em atendimento a uma carta por ser sua fã. Um detalhe em especial é que essa menina tem imaginação mais fértil e boba que a da boneca.
Na segunda parte, os outros membros do Sítio retornam, deparam-se com insólitas consequências das ações das reformadoras e colocam as coisas em seu estado normal. Mas quem disse que a boneca parou por aí? Em sua construção de pensamento ela se alia ao Visconde numa espécie de experimentações científicas, relacionadas à endocrinologia, e acabam criando verdadeiros Frankensteins através de insetos, centopéias e minhocas. Novamente uma aprendizagem, relacionada ao respeito à natureza e à vida, em suas razões e peculiaridades existenciais. Tudo tem um princípio.
O que me espantou é que pensei que o livro tinha sido escrito no pós Segunda Guerra, pois Lobato cita uma Conferência Mundial em 1945 para discutir a paz e entendimento, mas estranhei que fossem citados líderes como Mussolini e Hitler, que haviam morrido nesse contexto. Por que o autor teria explicitado esse notório equívoco? A resposta encontrei na data de publicação da obra, em 1941, quando a guerra desenrolava-se criticamente. Dessa forma, há um certo vaticínio (não intencional) para o ano de 1945, marcado pelo fim da guerra e realização de conferências em que se discutiu os rumos do mundo e paz mundial. Teve conferência para definir o fim da guerra (Yalta) e outra no pós guerra (Potsdam) que foram "conferências da paz".
Saber do contexto da guerra na publicação dessa obra me levou a pensar que o autor, ainda que sem ter a noção (ou não) do contexto terrível dos nazistas, falava sobre a questão de se interferir e forçar a vontade imperiosa, ainda que estapafúrdia, decidindo sobre a vida (como fizeram os nazista com sua visão de mundo e em suas práticas de eugenia).
Vamos fazer uma distinção entre a inocente brincadeira da Emília e a ação contundentemente perversa do nazismo. Estão em situações distintas, mas que o primeiro poderia ser usado (eu disse ser usado, não que foi criado para isso) como ilustração para falar disso poderia. Ou será que tô viajando demais? Nem sei se essas práticas do Hitler já haviam sido reveladas ao mundo em 1941. Seja como for, é mais um inusitado vaticínio no livro. Só reflexões despertadas... Ah, se não entendeu, estou falando que Hitler queria fazer uma reforma no mundo e achava que poderia fazer experiências e coisas terríveis.
Finalizando, algumas coisas que gosto de registrar sobre a cronologia do Sítio, sejam bobas ou surreais:
- O nome completo do Tio Barnabé é Barnabé Semicúpio da Silva, e sua casinha é perto da ponte.
- Os livros "A chave do tamanho" e "Dom Quixote das crianças" foram citados. Ah, mas tem histórias referenciadas também em outros livros da série, mas não vou citar.
- Lobato, à essa altura, sabia da representatividade de Pedrinho e Narizinho, por isso, de maneira surreal, foi citado pela Emília que pararam de crescer há anos (seriam eternas crianças). É tipo aquela: por que heróis da década de 40 até hoje existem nos mesmos moldes, do mesmo jeito, atravessando gerações? Oras, muito simples. Para mim é assim, representam ideais, anseios e motivações que perduram, seja em um Batman no combate ao crime ou na criança que nos encanta com suas descobertas e aventuras, reconhecidamente nostálgicas a cada um.
- Qualé, Lobato? Deixastes Narizinho de escanteio e ela praticamente não aparece no livro. Por isso, quatro estrelas na avaliação. KKKK!
- Espero não ter escrito muito bobagem, mas não quero esquecer de nenhuma dessas coisas na memória associada ao livro.
- Resgatando mais uma palavra (ou expressão) que aprendi dessa vez com a Emília, é "sossorossossó!".
Essa aventura não acaba aqui.