As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Por dentro das Amazônias (Nilson Moulin)

Uma viagem pela Amazônia! É o que propõem essa obra, que une um texto informal, ricamente ilustrado, com aspectos curiosos da história, geografia, sociologia e meio ambiente da região. Posso dizer que é daquelas que estimula leitura de única vez, pois assim foi a minha relação com a obra.
Nela, o leitor terá acesso a acontecimentos importantes, como: a invasão estrangeira no início do século XVI; os ciclos da borracha, gado, ouro em Serra Pelada, ferro, etc; as tentativas de levar o desenvolvimento através de projetos faraônicos (Ferrovia Mad Maria e Rodovia Transamazônica) e as lutas pela preservação da floresta, dando-se ênfase ao desenvolvimento sustentável. Além de curiosidades da floresta expressas em seus animais, frutos, tribos indígenas e outras peculiaridades mostradas em diferentes olhares. 
Nas últimas página, o leitor encontrará uma relação de notas sobre a Amazônia, onde poderá aprender de forma mais aprofundada sobre a história da região, sua biodiversidade, gestão ambiental, miscigenação e outros pontos.

O autor, Nilson Moulin, é um capixaba que tive oportunidade de conhecer em um evento em Macapá, Expofeira 2012, onde despertou uma curiosidade flamejante com a apresentação do livro.  

Informações do livro:
Título: Por dentro das Amazônias
Autor: Nilson Moulin
Editora: Studio Nobel
Ano: 2008
Páginas: 96
Tema: Amazônia / Geografia / História / Meio Ambiente
  
Entre as ilustrações tenho predileção por aquelas específicas de meu Amapá.  
Separei algumas:

Guarás (Eudocimus ruber), manguezal na costa do Amapá/AP
Foto: Haroldo Palo Jr (página 21)
Já vi isso de perto uma única vez, na Praia do Goiabal, uma das mais curiosas do Amapá, cuja maré vazante alcança quilômetros (algo que já seduziu mortalmente alguns que se aventuraram a explorá-la sem maiores cuidados); 

Sala de aula bilíngue na Aldeia do Manga (etnia Karipuna), no Oiapoque/AP. 
As crianças iniciam com a língua materna e mais tarde é introduzido o português.
Foto: Lux Vidal (página 13)
Passei por essa aldeia em 2009 e conheci uma escola indígena a três horas de voadeira dessa localidade, na Aldeia Kumarumã. Foi uma das viagens mais espetaculares que já fiz, tendo oportunidade de contemplar um dos maiores espetáculos naturais, a revoada de ciganas (Opisthocomus hoazin) nos aningais pela manhã. Lembro com encanto de centenas de aves douradas cercando-nos no estreito e conservadíssimo rio, no aningal. Uma imagem daquelas seria valorosa nessa obra. Minha tristeza é não ter registrado também, pois esperava fazer isso no retorno da aldeia e descobri que elas saem nos aningais apenas pela manhã. Fiquei curtindo a novidade do momento, esperando registrar no regresso (que lástima!). Eram tantas, que passavam voando a poucos palmos de nossa cabeça e, às vezes, faziam manobras bruscas para não se chocar com a embarcação. Aquelas aves pareciam encantadas e, numa comparação idiota de minha parte, mas para instigar a criançada, pareciam uns pokémons! Essas aves são míticas e raras, pois tem dedos na ponta das asas quando são filhotes, parecendo uma ave pré-histórica. Eita! E eu perdi a chance de fotografar...

Forte Príncipe da Beira, rio Guaporé, Rondônia/RO
Foto: Ricardo Cavalcanti (página 11)
Citando outras imagens, gostei do Forte em Rondônia pela similaridade incrível com a Fortaleza de São José de Macapá. Entretanto, o nosso é maior, mais bonito, mais imponente e mais conservado (ufanismo amapaense!);

Parque Nacional da Neblina, Serra do Padre no Estado do Amazonas, 
fronteira com a Venezuela. Foto: Ricardo Cavalcanti (página 8)
A que me pareceu mais impressionante foi essa, mostrando a Amazônia em seu esplendor florestal, como é mais conhecida e imaginada.
 

Entre as informações de cunho diverso, é bom ser esclarecido sobre a realidade amazônida. O livro aborda pontos como:
- A terra não é fértil e o que garante a exuberância florestal é sua cobertura vegetal em ciclos de reaproveitamento dos resíduos;
- Não é uma terra homogênea como se idealiza em uma infindável floresta. Existem diferentes ecossistemas (várzeas, igapós, cerrados, campos abertos, florestas densas e florestas montanhosas) com variação em clima, fauna e flora;
- A região é habitada por cerca de 25 milhões de pessoas tendo que desenvolver atividades de renda. O ideal é a aplicação da sustentabilidade na relação ambiental, mas os interesses, principalmente de fora da região, a tem destruído de maneira irracional e predatória. Exemplificando com duas culturas que podem se tornar altamente predatórias por aqui, sem o manejo adequado: o plantio de soja (que requer grandes extensões para cultivo a custo da derrubada florestal) e a bubalinocultura (que costuma trazer muitos prejuízos ao meio ambiente, como o impacto que vem ocorrendo na foz do Araguari, onde se vê a criação de novos canais, e o pisoteio e destruição da cobertura ciliar - fatores agravantes ao que o rio vem sofrendo pelo descaso ambiental).  Blasfêmia permitir a entrada e proliferação deles na região de lagos do Amapá, principalmente na REBIO Piratuba. Por conta disso, os novos canais tem levado água salobra da costa para os lagos, causando desequilíbrio ambiental. Esse bichos deveriam ser retirados dali urgentemente.

Pororoca no rio Araguari. Foto: J. R. Couto (página 57)
A pororoca como é enaltecida nem mais existe no rio Araguari, por conta de manejo inadequado das criações de búfalos e, principalmente, pela construção de três hidrelétricas

Finalizando as observações, é uma região onde há um paralelo de riqueza e pobreza. Cada pirata por aqui de olho e mão grande em nossas riquezas... As seringueiras foram levadas para a Malásia, que se tornou o líder da extração do látex, e a pouco tempo os japas tentaram patentear o cupuaçu. Exemplos assim existem muitos. Não duvido que o açaí e a castanha-do-brasil já estejam dissseminados por aí. Te cuida Pará! (atual líder desse extrativismo).
 

Nas informações de cunho histórico, gostei das citações à Mad Maria, a famigerada estrada de ferro que ceifou a vida de muitos pelo interesse de poucos. Teve trabalhadores de quase 40 países e foi desativada em 1972.

Eu não disse que tem muita coisa interessante! Algumas eu até contesto pelo desapego com a veracidade amazônida. Que negócio é esse de 'harpia' na página 24 e 'sapo-grande' na página 26? Oras! É 'gavião-real' e 'sapo-cururu'. Aprendeu aí? Então, tá!)


Por essas e outras é uma bela e curiosa obra. 
Só a polpa do açaí, sumano!

Já sabe, né! A obra está no acervo da
 Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia
Macapá - Bairro Central

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Chão Cametaense (Victor Tamer)

Em 1985 tivemos o marco de 150 anos do início da Cabanagem (movimento revolucionário de ideais libertários, ocorrido no Pará).
A data foi marcada por lembranças sobre o movimento em dois aspectos. Houve celebrações (como a publicação da obra "Cabanagem, a revolução popular da Amazônia", de Pasquale Di Paolo, 1985); e resgate de histórias de rejeição aos cabanos (como a resistência da cidade de Cametá, que atribuiu ao movimento uma conotação subversiva e violenta, tendo embates em luta armada). Esse segundo aspecto foi tema de um discurso de Victor Tamer naquele ano, no Instituto Histórico e Geográfico do Pará, ressaltando a história de Cametá e seu nacionalismo anticabano, exaltado até hoje em episódios que ideologicamente dão uma conotação de bravura e união do povo.
O discurso de Victor Tamer, realizado no contexto da semana de celebração dos 150 anos da Cabanagem, é o tema dessa publicação de 1987, que o conserva (creio eu) em sua totalidade (ou quase isso) e pode ser analisado em três partes, como está destacado no livro. Ressalte-se que o orador é cidadão ilustre de Cametá e fez parte da Academia Paraense de letras.

O texto tem visão conservadora, é pejorativo em alguns momentos e ideologicamente efusivo na referência à Cametá, por suas origens e lutas. 

A primeira parte mostra a história da localidade, referenciando vários pontos, como:
- A existência da nação indígena dos Camutás na região do rio Tocantins do século XVII (inspiração ao nome da cidade);
- O primeiro contato de um europeu com essa nação indígena (através do conquistador e governador francês no Maranhão, em 1613, Daniel de La Touche);
- O estabelecimento de missões de catequese na região (que na exposição do orador deram origem a ocupação estrangeira em 1617, com destaque nessa fase a ação do frei Cristóvão de São José);
- A fundação oficial da Vila Viçosa de Santa Cruz de Cametá (em 1635, através do governador Francisco Coelho de Carvalho, capitão general do Maranhão e Grão-Pará).

Alguns episódios de conotação ufanista foram também relatados:
- A passagem do Padre Antonio Vieira (que é enaltecido como santo); 
- A organização de uma expedição por Pedro Teixeira em 1637 (que arregimentou, entre outras coisas, vários indígenas e conquistou - 'tomou' - e expandiu os limites da região e do Brasil);
- A mudança da localização da vila por questões de segurança relacionadas ao tipo de solo e erosão passível, em 1702 (a nova sede foi oficializada pela Câmara Municipal em 1713); 
- A citação de dois momentos de epidemias na história da região, sugestionando a força e resiliência do povo (varíola em1662 e cólera em 1855); 
- A elevação da vila à categoria cidade em 1848 (enfatizando-se a sociedade desenvolvida e culta nas palavras do orador); 
- E o que é mais celebrado, referente a resistência anti-Cabanagem em 1835. Esse aspecto é valorizado em histórias que reforçam feitos legendários (como o florescimento de uma sumaumeira na estaca que foi usada na cerca de defesa da cidade, que brotou e existiu por 126 anos - o fato é verdadeiro, mas é evidente que foi aproveitado como propaganda ideológica)
Essa é a primeira parte, que achei mais interessante. 

Estou supondo que as outras partes são continuações, pois a obra, com todo respeito a sua representatividade, está muito mal editada. 

A segunda parte fala da Cabanagem em si e tem tem conotação pejorativa. 
- O autor ressalta uma concepção de apego à justiça e harmonia pacata existente na cidade; 
- Resgata um ponto histórico e importante na inspiração dos cabanos, que ficou conhecido como "Massacre do Palhaço". A história de cidadãos descontentes e revoltosos do Pará, cruelmente assassinados nos porões de um navio em 1832, por ordem do mercenário inglês Greenfeel - aliado dos governo do Brasil (responsável também por ações violentas em Cametá); 
- E que esses episódios provocaram descontentamento e mobilização entre os cametaenses (citados por Victor Tamer como as raízes da Cabanagem);
- O movimento explodiu em 1835 e o orador finaliza essa parte com episódios de violência em Belém. 

A terceira parte (se de fato é...) valoriza a história de Cametá anti-Cabanagem, onde a principal figura é o padre Prudêncio das Mercês Tavares, que atuou como líder espiritual, civil e militar na região. Não se mostram muitos detalhes além da construção da cerca na luta de resistência, e o lado sanguinários está apenas com a "desvairada rebelião", que terminou na heroica ação do general pró-império Francisco José de Souza Soares Andréa. 

Olha! Essas são observações que retirei do que o livro concebe.  

A história é muitas vezes como um vaso de barro que se molda a seu gosto e as concepções restringem-se comumente a uma ideologia estrategicamente construída. A Cabanagem teve episódios sangrentos, frutos de uma desarmonia por falta de liderança melhor preparada (como o clero negou com sua não adesão, disfarçada em muitos falsos conceitos, como um nacionalismo hipócrita), o general Andréa teve ação genocida na Amazônia em histórias terríveis; o padre Prudêncio comandou eventos de vingança e foi mentor de mortes violentas; o governo da Regência de Feijó fez planos de unir forças com franceses e ingleses para extermínio maior na região amazônica; o Padre Antônio Vieira manobrou muita coisa na Europa e Brasil para favorecer seu zelo e regalias nas missões (como a libertação dos indígenas do jugo da escravidão a custo da sugestão da escravatura dos africanos); entre outras coisas que a História permite discutir, aceitar ou discordar. 

Informações do livro: 
Título: Chão Cametaense
Autor: Victor Tamer
Editora: Edição do Autor
Ano: 1987 
Páginas: 30 
Tema: Discurso / Cabanagem / História / Pará / Amazônia

Foram as coisas que me instigaram na leitura. Não concordas? É positivo. Quero aprender também. Pegue o livro, faça sua leitura e tenha suas conclusões. Posicione-se. Leia, busque, estude.

A obra está no acervo da
 Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia 
Macapá - Bairro Central 

terça-feira, 5 de abril de 2016

História do Amapá: da Autonomia Territorial ao Fim do Janarismo - 1943 a 1970 (Fernando Rodrigues dos Santos)

Ei turma! Vamos conhecer mais um livro que encontramos na Biblioteca Pública em Macapá! Não é recente, mas tem uma representatividade grande para pesquisas na História Amapaense.

A obra apresenta a história política do Território do Amapá em seu início, que foi marcada pelo Janarismo. O estudo é interessante e desvinculado da ideologia de mitificação do principal representante desse período, o primeiro governador Janary Gentil Nunes, que popularmente é uma figura incontestável. A trajetória é apresentada destacando a importância de suas realizações pioneiras e, o que é desconhecido e polêmico para muitos, os mecanismos que garantiram a longevidade em sua carreira  política. Fatos apresentados cronologicamente, com ponderações, como um resgate da história política no Amapá. 
O livro tem informações curiosas. Aspectos que estou apenas descrevendo.  

- Não sabia, por exemplo, que antes da ICOMI se estabelecer no Amapá houve outro empreendimento de exploração mineral que tentou explorar as jazidas de ferro na região do rio Vila Nova. Não passou da fase de estudos e o empreendimento fechou em um ano, por considerar as reservas abaixo das expectativas e exigir grandioso investimento (leia-se a empresa norte-americana Hanna Exploration Company, em 1946-1947). 
- Politicamente ocorreram  movimentos que tentaram extinguir os Territórios Federais recém-criados (para que voltassem à antiga condição) e o Pará foi um desses fomentadores, principalmente depois da descoberta de riqueza mineral no Amapá. 
- Há abordagem sobre a criação dos Territórios, mostrando-se a proposta de garantia de soberania nacional e a meta de desenvolvimento da região. O autor ressalta que os territórios tiveram em seu desenvolvimento inicial a exploração dos recursos naturais, com retorno, em termos gerais, abaixo do que deveria se estabelecer (pela conivência com interesses políticos e capitalistas).
- Em segundo momento a obra mostra a movimentação política, focada, logicamente, na figura de Janary Nunes. Polêmica para muitos, vemos um jogo de interesses, conchavos políticos, nepotismo, arbitrariedades, autoritarismo, referencias de aquisições financeiras ilícitas e uso das instituições públicas para barganhar e favorecer a manutenção no poder. O Janarismo, segundo a abordagem, teve também isso e o período poderia ter sido mais produtivo na visão do autor. A ascensão e declínio estão relacionados a um  jogo de interesses. Como o apoio empresarial  que Janary recebeu no início de sua gestão e a oposição a ele, pelos mesmos grupos, quando não tinha mais os mecanismos de favorecimento governamental. O jogo político é também ilustrado na postura favorável de Janary a João Goulart, antes do golpe militar, e a adesão ao golpe posteriormente. 

O livro mostra que o político teve momentos de apoio irrestrito, oposição e também escapou de cassação. No fim do período janarista, foi sumariamente derrotado pelos mesmos princípios que o haviam garantido.
Esses são alguns pontos abordados.
 
O autor, Fernando Rodrigues dos Santos, graduado em História pela Universidade Federal do Pará, tem o seguinte texto de apresentação no livro:
"O livro contém informações do período que se estende da autonomia territorial ao fim do janarismo, isto é, de 1943 a 1970, dissertado através de três capítulos. São análises do desempenho administrativo e político dos governantes e principais assessores, parlamentares e líderes políticos, resultando o compêndio de pesquisa bibliográfica e de campo. É uma sistematização desse período da história amapaense contribuindo para o resgate, valorização e ampliação do conhecimento de parte de nosso passado histórico, nem por isso esgotando o tema. O debate está apenas começando..." 
Informações do livro:
Título: História do Amapá: da Autonomia Territorial ao Fim do Janarismo - 1943-1970
Autor: Fernando Rodrigues dos Santos
Editora: Gráfica O Dia S.A
Ano: 1998
Páginas: 205
Tema: Janarismo / História Política do Amapá (1943-1970)


Sumário:
I - A criação do Território do Amapá, instalação do governo e a dinamização econômica
01. Antecedentes e causas sa autonomia
02. A escolha do governador e da capital
03. O surgimento do Janarismo
04. Adequação do ensino regional ao janarismo
05. Organização do serviço público
06. O despontar político partidário
07. Extinção de Territórios Federais
08. Consolidação do governo janarista
09. A implantação do projeto ICOMI
10. Tentativa de ordenação dos Territórios
II - A OPOSIÇÃO PARTICIPANDO DO GOVERNO, CRISE POLÍTICA NACIONAL E A RESTAURAÇÃO DA SUPREMACIA JANARISTA
01. Novas adesões e dissensão no janarismo 
02. Compondo e rompendo com a oposição
03. Forçado a recompor com o PTB
04. Amplo apoio ao janarismo
05. Fim do governo de coalisão
06. A SPVEA discrimina o Amapá
07. Reorganização da oposição ao janarismo
08. Os Nunes afastados do governo
09. A supremacia janarista se restabelece
III - MUDANÇAS POLÍTICAS E ADMINISTRATIVAS, O JANARISMO SOB SUSPEIÇÃO, RECUPERAÇÃO EFÊMERA E O DECLÍNIO
01. Desmandos administrativos e oportunismo
02. Manifestações de apoio ao regime militar
03. Acusações ao janarismo e a reação
04.Erro de avaliação da imprensa oficial
05. Melhorias no ensino público
06. Situação partidária atípica 
07. Reglutinação das forças governamentais
08. Austeridade administrativa e financeira
09. Autoritarismo e a reação local
10. Eleições municipais de 1969
11. Declínio do janarismo
CONSIDERAÇÕES FINAIS

 Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia 
Macapá - Bairro Central

quarta-feira, 30 de março de 2016

As Proezas de Baduri (Geraldo Oliveira de Souza)

Cordel com o embate entre um caboclo e um valentão - enfrentamento comum a essa literatura - com o Baduri, o caboclo sabido, dando uma lição no Cascavel, o valentão metido a estraga festa. 

O autor é o mineiro Geraldo Oliveira de Souza (mais informações) e as ilustrações são de Jamesson Marcio.

A obra tem um apelo infantojuvenil, de humor ingênuo e ilustrações caricatas e engraçadas com ambientação em Macapá, onde foi lançada em 2003.
 
É para a garotada



Título: As proezas de Baduri
Autor: Geraldo Oliveira de Souza
Ilustrador: Jamesson Marcio
Editora: Gráfica Única
Ano: 2003
Páginas: 45
Tema: Cordel / Amapá / Infantojuvenil 

 Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia 

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quarta-feira, 23 de março de 2016

Imagens antigas do Amapá

Planta da Vila de São José de Macapá (por Gaspar João de Gronfelde - 1761)
Carta da "Bahia" de Macapá (por ordem de D. Francisco de Souza Coutinho - Governador do Pará, 1800)
 Carta Hidrográfica e Descritiva da parte compreendida 
entre os rios Araguari e Calçoene (por Jozé da Costa Azevedo, 1860)
O mapa tem curiosas notas geográficas e históricas.
Litografia com vista da Fortaleza e da cidade de Macapá
 (Carvalho - Biblioteca Nacional, Data não identificada)
 Detalhe da Fortaleza
Imagem na região do Oiapoque (por Georges Brousseau, 1898)

segunda-feira, 21 de março de 2016

O lugar errado (Ray Cunha)

Froteur, frottage, palavras bonitas, mas que na prática revelam comportamento doentio. O livro aborda esse tema - sexo frottage
Cada um com suas preferências, é lícito ao livre arbítrio e satisfações, mas no plano de abuso do outro, como a obra mostrou, não é legal. Por isso não tive empatia com o livro. Qual é? O que posso dizer ou pensar de personagem que manifesta desejos e ações pedófilas, em atitude pérfida e devassa. O cara entra no ônibus e se põem a encochar crianças e adolescentes, com discurso doentio (refiro-me à mentalidade da personagem) das intenções e justificativas, em uma conversa fiada sobre Vladimir Nabokov.
Em linhas gerais, o livro mostra certo professor em Belém, Agostinho, que tem desestruturação psicológica, de origens na família, que vê nessa tara um escape a seus tormentos. Reconhece a prática errada e sente-se deprimido e atormentado com ela, mas permanecendo no vício.
O lugar errado mostra o protagonista nessa luta interior - entre razão, loucura e prazer - amando e odiando suas escolhas. Um drama sobre vícios, e loucura.



Título: O lugar errado 
Autor: Ray Cunha 
Editora: CEJUP 
Ano: 1996
Páginas: 221 
ISBN: 85-338-0339-7 
Tema: Pará / Romance / Drama

Descobri essa história em outro livro do autor, Na boca do jacaré-açú (publicado em 2013) que a resume sem evidenciar o drama específico da personagem, como ocorre nessa obra. Tem dois momentos. Em Belém vemos o desajuste para o tal froteur pedófilo, e, na Ilha de Marajó, percebemos o direcionamento dos anseios para a caça, romances e tentativa de ser justiceiro (contra um padre pedófilo e um traficante de crianças - não há uma ironia aí?).
A obra tem uma proposta de reflexão, de entrar em conflitos secretos, sobre devassidão da alma... Doentio.


Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia 

Macapá - Bairro Central

quinta-feira, 17 de março de 2016

Marajó (Dalcídio Jurandir)

Olha, meus amigos! Um romance renomado na Literatura do Norte! Alguns autores o tem na conta dos mais significativos e importantes. Acompanhe aí... 

"Considerado um dos maiores romances da Literatura Nortista, Marajó mostra o drama do caboclo marajoara explorado e marginalizado, envolto em superstições e crendices, em uma Amazônia grandiosa com sua violência telúrica." (Fausto Cunha)

"Marajó é um belo romance, pois ninguém melhor do que Dalcídio Jurandir nos comunica a sensação de deserto, do lobo, do calor deliqüescente daquela imensa solidão de nuvens baixas e verdes malhadas que é Marajó. O estilo empolga, com as suas asperezas, seus regionalismos, suas soluções poéticas de um primitivismo expressivo, sua ausência de malícia.” (Sérgio Milliet) 

"Marajó é um volume feito com a verdade cotidiana, com a paisagem exata, com as fisionomias possíveis da existência. E o seu melhor elogio para um etnógrafo.” (Luís da Câmara Cascudo)

Título: Marajó
Autor: Dalcídio Jurandir
Editora: Cátedra
Ano: 1978 (a primeira edição é de 1947)
Páginas: 360
Tema: Romance / Amazônia

Ah! Por essas e outras também quis conhecer 
e, em um parecer simplista, fiquei com as seguintes impressões:

"Marajó" mostra a grandiosidade do lugar em suas peculiaridades. A natureza tem uma beleza descrita de maneira poética, onde os dramas do homem são histórias comuns e reconhecíveis Amazônia adentro. Muito disso se deve à identidade do autor, marajoara, que tem visão jornalística associada a lembranças em suas inspirações.
A descrição é o ponto forte do livro em minha visão, destacando o cotidiano em suas características naturais e influenciáveis, seja de forma positiva ou dramática. A Amazônia marajoara é apresentada de maneira tão grandiosa que se constitui no principal elemento na obra, mais importante que qualquer personagem identificável. Diga-se de passagem que o romance é diferenciado no sentido de não ter protagonistas destacados ou focados o tempo todo pelo autor ao longo da narrativa. Tive uma certa dificuldade de identifica-los e notar suas inter-relações no início. Vou fazer uma comparação que pode soar como bobagem (meio ridícula, mas importante em minha percepção). Se você já navegou pelo Google Earth sobre uma região, em um plano geral aberto, não vai ver muito além da grandeza do lugar. Mas ao se aproximar estrategicamente, vão se revelar um mundão de comunidades, que tem suas histórias próprias. Assim foi o romance para mim, com o homem engolido por aquela região e com coisas importantes para revelar quando o autor o traz mais intimamente ao leitor. Histórias na grande Marajó, como ecos da floresta em realidades a se descobrir...
Ressalto que a obra foi publicada em 1947 e faz parte de um ciclo no Norte como uma das primeiras a expor o cenário amazônico fidedignamente, com a credibilidade e empatia de um genuíno filho dessa terra.
Encerrando essa parte de descrição, diz aí se não tenho razão ao encontrar textos como: 
"O rio, uma cobra de prata, se desenrolava na sombra e ia urrar na baía. A curicaca deslizava no vigor da cobra de prata, a maré enchendo trazia o bafo áspero de mato podre e de bichos. O estirão foi se distanciando, com ele o medo daquelas trovoadas que arremessavam árvores contra os homens..." (trecho dos primeiros parágrafos no capítulo 41)
Já no aspecto referente aos dramas humanos, as personagens são dispersas na narrativa, sendo apresentadas em um momento e deixadas de lado em outros. Mas todas representativas da realidade naquele contexto. Não há destaques comparativamente ao andamento comum dos romances, mas dá para notar singularidades e significância social em muitas, como: 
Coronel Coutinho (um típico fazendeiro mandachuva na região, que trata tudo, terra e povo, como sua possessão); 
Missunga (o filho do coronel, um jovem idealista em algumas concepções, porém, dominado pela indolência e desejos carnais); 
Alaíde, Orminda e Guíta (apaixonantes e sofridas caboclas cobiçadas e marcadas por dramas pessoais, pelo que despertam e pelas injustiças sofridas); 
Nhá Leonardina e Mestre Jesuíno (típicos representantes da cultura apegada a tradições da terra, sendo respeitados ou odiados pela pajelança);
Ramiro (vaqueiro e poeta que versa sobre as injustiças). 
Esses são alguns, engolidos por Marajó.
A história em si foi se revelando confusa na minha experimentação, sem aquele andar de empatia costumeiro dos romances. Fundamentalmente se vê um cotidiano sem devaneios, árduo em sua realidade. 
Em um primeiro momento não gostei da obra, que, por sua peculiaridade e veracidade, é celebrada por muitos como o mais importante romance do Norte (por todas as coisas somadas em seu contexto e pioneirismo). 
Muita coisa fica em evidência, como: a riqueza e poder diante da exploração; o apego a tradições, e a realidade nua e crua de uma terra desconhecida e, até então, vista de forma idílica. 
O autor não apenas traz a realidade cotidiana, como menciona fatos da história que valorizam isso, como a referência ao coronel José Julio. O mesmo foi contemporâneo da época do romance, com fama de maior latifundiário do mundo no norte do Pará (arquétipo de coronéis Coutinho).
No final da edição que li (Editora Cátedra, 1978) tem um texto em anexo intitulado "Chão de Dalcídio" (de Vicente Sales), que resenha sobre a obra e importância literária do autor. Recomendo, principalmente, a Parte 3 desse texto, que encerra tudo o que realmente gostaria de saber escrever na percepção do livro.
Li e entendi nesses termos. Quem quiser que conte outra...

 Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia 

Macapá - Bairro Central

terça-feira, 15 de março de 2016

Caminhos de Rios... (Luíz Fernando Liveira)

Um livro bonito, com mais de cem poesias expressando entusiasmo, descobertas e exaltação no cenário amazônico. Os textos tem uma simplicidade tocante, de identificação com a poesia popular, sendo realçados individualmente por ilustrações, que variam entre fotos à desenhos surreais. O paraense Luíz Fernando Liveira apresenta-se como um andarilho e observador minucioso, retratando cada um dos estados nortistas em percepções que mostram o ambiente urbano, natural e cultural. Um passeio poético, como se evoca no título, onde cada curva desse rio desdobra-se em peculiaridades atrativas ao leitor. Vemos a natureza, mitos, o homem, o entusiasmo ao amor e à fé em Deus. A obra tem um apelo didático, por isso o autor instiga o saber com palavras não tão usuais (organizadas em vocabulários), e notas diversas sobre os temas abordados.
Gostei da obra, lançada no Amapá em 2012. Destas que poderiam ser exploradas nas escolas amazônicas, principalmente entre jovens leitores.

Título: Caminhos de Rios...
Autor: Luiz Fernando Liveira
Editora: Gráfica Amapaense
Ano: 2011 
Páginas: 395 
Tema: Poesia / Amazônia
A obra é prefaciada por três pessoas. Eis algumas linhas:
"Com uma linguagem peculiar ao povo aqui nascido, muitas vezes figurada e reforçada com belas gravuras, o autor consegue enfocar o cotidiano único dessa gente, vivido nas mais diversas localidades banhadas por rios e igarapés da gigantesca Hiléia. O autor se sai muito bem ao abordar em seus textos nuances do sentimento, crendices e costumes do homem amazônico."
FERNANDO CEZAR (Oficial da Marinha, Pedagogo e Teólogo)

"Os poemas do marinheiro-poeta têm versos de um poeta-marinheiro experimentado que cumpre sua missão de educar pela poesia. Liveira dá aos seus leitores o bônus de se deleitarem com as viagens feitas por ele, nesse trabalho que considero pedagógico e eivado de amor pelo povo da Amazônia e seus encantos."
FERNANDO CANTO (Escritor, Músico e Sociólogo)

"O escritor e poeta Luíz Fernando Liveira nos dá, de forma real, contundente e mágica, o sentido definitivo de que nossas estórias caboclas se misturam, nos oferecendo o encanto de sermos parte da Mãe-Amazônia, orgulhosamente."
NILSON CHAVES (Músico)
 
 Menina do Matapi 
(Páginas: 164 e 165 / Ilustração: Jair Penafort)
Mas também não, quem não se apaixonaria...

Biblioteca Pública Elcy Lacerda
Sala da Literatura do Amapá e da Amazônia 

Macapá - Bairro Central