As abordagens e conceitos sobre a ICOMI, em um contexto popular, ressaltam sua importância com saudosismo e ênfase ao desenvolvimento promovido, geralmente resultantes de experiências vivenciadas nos áureos tempos da Empresa.
O direcionamento nesse livro está na valorização da investigação histórica, onde se evidenciam aspectos não tão conhecidos e que, de certa forma, surpreendem e propõem visão diferenciada.
A autora, ELKE DANIELA ROCHA NUNES, professora da UNIFAP, aborda a ICOMI na perspectiva do capitalismo que a movimentou e levou a criação de estratégias para manter o domínio na região. Um governo fechado em paralelo ao governo territorial, que apresentou uma série de influências sobre o meio social em mecanismos de controle para sua ação.
O primeiro aspecto abordado foi o resgate da história da região serrana, desvinculando da ideologia de que era um lugar abandonado, citando-se cultura extrativista, de subsistência e garimpagem presentes. Atividades que gradativamente se restabelecem, ainda que timidamente, após a saída da ICOMI, em uma história que fora obliterada.
Segundo a publicação, uma das estratégias de propaganda da Empresa foi de construir uma imagem de abandono e desocupação da região, com necessidade de sua instalação em condições irrestritas para promoção do progresso e benefícios. Nesse ponto, o Amapá é citado como mais benevolente com a Empresa do que o contrário, no ganho que teve. Chama a atenção a argumentação de que o minério explorado, de qualidade excepcional no cenário mundial, que fora escape e fortalecimento aos EUA na Guerra Fria, deveria ser equiparado em valor semelhante ao do petróleo. O que redundou para o território ficou em torno de 4% do que representava no mercado mundial.
A questão da construção das vilas operárias (Serra do Navio e Amazonas) e todo o complexo da ICOMI, na caracterização de sociedades fechadas meticulosamente controladas, é abordada no contexto da ideologia fordista. Uma maneira de potencializar o controle empresarial em prol dos ganhos, com produção em larga escala e controle sem interferências. O recorte temporal (de maior evidencia desse aspecto) foi registrado pela autora entre 1960 a 1975, correspondendo a fundação das vilas até o momento que esse modelo começou a perder força.
O primeiro aspecto abordado foi o resgate da história da região serrana, desvinculando da ideologia de que era um lugar abandonado, citando-se cultura extrativista, de subsistência e garimpagem presentes. Atividades que gradativamente se restabelecem, ainda que timidamente, após a saída da ICOMI, em uma história que fora obliterada.
Segundo a publicação, uma das estratégias de propaganda da Empresa foi de construir uma imagem de abandono e desocupação da região, com necessidade de sua instalação em condições irrestritas para promoção do progresso e benefícios. Nesse ponto, o Amapá é citado como mais benevolente com a Empresa do que o contrário, no ganho que teve. Chama a atenção a argumentação de que o minério explorado, de qualidade excepcional no cenário mundial, que fora escape e fortalecimento aos EUA na Guerra Fria, deveria ser equiparado em valor semelhante ao do petróleo. O que redundou para o território ficou em torno de 4% do que representava no mercado mundial.
A questão da construção das vilas operárias (Serra do Navio e Amazonas) e todo o complexo da ICOMI, na caracterização de sociedades fechadas meticulosamente controladas, é abordada no contexto da ideologia fordista. Uma maneira de potencializar o controle empresarial em prol dos ganhos, com produção em larga escala e controle sem interferências. O recorte temporal (de maior evidencia desse aspecto) foi registrado pela autora entre 1960 a 1975, correspondendo a fundação das vilas até o momento que esse modelo começou a perder força.
Interessante que o estudo ressalta o controle em muitos e sutis (ou não) detalhes, diretamente ligados à forma de vivência no complexo. Funcionários de níveis diferentes em hierarquia eram separados para não afetar o rendimento no trabalho, por isso a separação em convivência e muitos contrastes, como as casas.
Havia rigidez para muitas coisas, até para festas informais, quando a distribuição de bebidas se dava por barril de chopp, exemplificando outra forma de estabelecer controle sobre a vida social.
Incentivos para maior eficiência incluíam premiações com bens materiais e destaque nas antigas revistas ICOMI.
O cenário é de controle social, rigidez na rotina e exploração, onde os maiores beneficiados eram funcionários vindos do sul e sudeste. A população local privilegiada era apenas dos funcionários, fechando-se essa sociedade para a realidade externa, que na prática vivia à margem do desenvolvimento aclamado. As compras restritas aos funcionários no mercado ilustra isso.
Vemos também pequenas estratégias que os funcionários usavam para fugir do controle rígido, como as compras no cartão para os colonos. Minha mãe fazia isso, como muitos serranos.
As estratégias de governo fechado também são apontadas como causa da involução das vilas após a saída da empresa, por conta da dependência gerada e pouca autonomia do governo territorial nessa região. A dependência da ICOMI impossibilitou o fortalecimento da sociedade. Basicamente, subserviente e sem conquistas em construções democráticas. Tudo era gerenciado e dominado pela empresa sem a participação popular, fadada à dependência em mecanismos pré estabelecidos.
Há referências também à degradação ambiental promovida pela Empresa, onde se destaca o estudo da contaminação no Elesbão em Santana pelos rejeitos de manganês, seja pela infração de ser estocado em larga escala em uma região habitacional ou pelo repasse como material complementar na pavimentação asfáltica.
O capítulo que mais gostei foi o quarto. Tem abordagens sobre a história e peculiaridades das Vilas de Serra do Navio e Amazonas, o Porto de Santana, a Ferrovia e circunvizinhança, como a Baixada do Ambrósio, Vila do Cachaço e Elesbão. Também é excepcional o terceiro, na visão do controle social.
Havia rigidez para muitas coisas, até para festas informais, quando a distribuição de bebidas se dava por barril de chopp, exemplificando outra forma de estabelecer controle sobre a vida social.
Incentivos para maior eficiência incluíam premiações com bens materiais e destaque nas antigas revistas ICOMI.
O cenário é de controle social, rigidez na rotina e exploração, onde os maiores beneficiados eram funcionários vindos do sul e sudeste. A população local privilegiada era apenas dos funcionários, fechando-se essa sociedade para a realidade externa, que na prática vivia à margem do desenvolvimento aclamado. As compras restritas aos funcionários no mercado ilustra isso.
Vemos também pequenas estratégias que os funcionários usavam para fugir do controle rígido, como as compras no cartão para os colonos. Minha mãe fazia isso, como muitos serranos.
As estratégias de governo fechado também são apontadas como causa da involução das vilas após a saída da empresa, por conta da dependência gerada e pouca autonomia do governo territorial nessa região. A dependência da ICOMI impossibilitou o fortalecimento da sociedade. Basicamente, subserviente e sem conquistas em construções democráticas. Tudo era gerenciado e dominado pela empresa sem a participação popular, fadada à dependência em mecanismos pré estabelecidos.
Há referências também à degradação ambiental promovida pela Empresa, onde se destaca o estudo da contaminação no Elesbão em Santana pelos rejeitos de manganês, seja pela infração de ser estocado em larga escala em uma região habitacional ou pelo repasse como material complementar na pavimentação asfáltica.
O capítulo que mais gostei foi o quarto. Tem abordagens sobre a história e peculiaridades das Vilas de Serra do Navio e Amazonas, o Porto de Santana, a Ferrovia e circunvizinhança, como a Baixada do Ambrósio, Vila do Cachaço e Elesbão. Também é excepcional o terceiro, na visão do controle social.
A obra foi publicada em 2014 pela UNIFAP. Uma leitura de descobertas e aprendizagens de maneira interessante e prazerosa.
INFORMAÇÕES DO LIVRO
Título: O controle social exercido pela ICOMI como estratégia de usos e ação sobre o território no Amapá, de 1960 à 1975
Autora: Elke Daniela Rocha Nunes
Editora: UNIFAP
Ano: 2014
Páginas: 172
Título: O controle social exercido pela ICOMI como estratégia de usos e ação sobre o território no Amapá, de 1960 à 1975
Autora: Elke Daniela Rocha Nunes
Editora: UNIFAP
Ano: 2014
Páginas: 172
SUMÁRIO
1) Contextualização da produção mineral na Amazônia
2) Estratégias de poder e apropriação do território: a ICOMI no Amapá
3) O cotidiano do trabalhador da ICOMI dentro e fora do espaço fabril: como se efetivava o controle social
4) Ação e controle para uso do território
Em valorização da informação, registro o que a autora enunciou sobre cada um dos capítulos:
"No Capítulo 1 procurou-se contextualizar os processos de ocupação da Amazônia, bem como o início da produção regional nessa região, mais enfaticamente o Projeto ICOMI no Amapá e como se deu o processo de controle e uso do manganês. Neste momento, já se inicia uma breve análise, tratando de algumas questões consideradas mais atuais.
No Capítulo 2 foram feitas análises sobre o significado do processo de implantação do empreendimento produtivo mineral no Amapá e ainda tenta demonstrar como a hierarquização resultante da combinação destas diversas formas de controle social poderia corresponder a uma estratificação das condições de inserção dos trabalhadores no processo produtivo propriamente dito.
No Capítulo 3 buscou-se fazer uma exposição de como as formas de controle social efetivadas pela ICOMI foram utilizadas como estratégias de poder junto aos seus trabalhadores, subordinando-os às estratégias, normas e modelos de comportamento mais adequados aos interesses da Empresa, para garantir a apropriação do território. Procurando mostrar como as formas de controle efetivam-se materialmente pela constituição das vilas operárias, da estrada de ferro, dos usos do território, pela instalação do porto, bem como, simbolicamente por premiações, campeonatos, publicação de periódicos entre outros.
O Capítulo 4 busca analisar a forma como a ICOMI administrava a EFA, o Porto de Santana e as vilas operárias, bem como a região das minas. Ainda esclarece a relação que foi estabelecida com essa circunvizinhança."
LEITURA INDISPENSÁVEL PARA ESTUDIOSOS
SOBRE A ICOMI NO AMAPÁ.
NA ATUAL CIRCUNSTÂNCIA, O LIVRO PODE SER CONSULTADO NA BIBLIOTECA DA UNIFAP.