Peter Pan (1930)
O desenrolar é subsequente ao Reinações de
Narizinho, em um contexto em que o Gato Félix menciona o Peter Pan,
instigando Dona Benta a contar suas aventuras para a turminha. Basicamente, é a clássica história com intervenções da turminha, entre um comentário irônico de
Emília, admiração de Pedrinho e Narizinho, entendimento de algum aspecto com ajuda do Visconde e um choque cultural
nas descobertas de Tia Nastácia.
Ao longo da coleção percebemos que os primeiros livros são os que apresentam mais aspectos criticados pelos comentários considerados racistas. Sendo esse um dos primeiros, há citações nesse sentido, ditas por Emília e até por Dona Benta.
Ao longo da coleção percebemos que os primeiros livros são os que apresentam mais aspectos criticados pelos comentários considerados racistas. Sendo esse um dos primeiros, há citações nesse sentido, ditas por Emília e até por Dona Benta.
A modernidade faz com que
os tons arcaicos do livro fiquem super explícitos, destoando como
algo que não é legal. Tipo assim, vemos uma apresentação super bacana da Emília e
de repente um comentário dela pra lá de mau gosto (coisas do contexto de época).
Enfim, passa a mensagem da infância como uma efêmera fase de encantos e descobertas, realçando nostalgia disso ao final.
Enfim, passa a mensagem da infância como uma efêmera fase de encantos e descobertas, realçando nostalgia disso ao final.
Dom Quixote das Crianças (1936)
O
livro é muito legal em uma bela apresentação do Quixote
para a turminha. Dona Benta conta em resumo, apresentando o
Cavaleiro da Triste Figura em suas mirabolantes aventuras. Foram citadas passagens como: a recuperação do famoso Elmo de Mambrino (a
bacia do barbeiro), a intervenção do herói contra os
exércitos que se enfrentavam no campo de batalha (rebanhos de ovelha), o
governo de Sancho Pança (inusitadamente carismático e aclamado por
sábias decisões) e o duelo com o Cavaleiro da Lua (artimanha dos
parentes e amigos do Quixote para provocar o regresso ao lar). Textos
que tem drama e humor peculiar entre razão e emoção.
Minha maior atenção foi para a percepção da turminha. Pedrinho e Narizinho acompanham a história com dó do herói, enquanto Emília vê algo inspirador que a mobiliza na valorização de seus sonhos, ainda que malucos. E ela fica maluca mesmo, mais que o normal, tendo que ser contida até recuperar o juízo (que aconteceu no choque de realidade expresso em um pequeno acidente, onde viu sua fragilidade ante os arroubos emotivos da empolgação em paralelo ao descuido). No final das contas, rendeu uma aprendizagem legal: a inspiração para viver sonhos, mas de maneira prudente.
Olha que interessante! A valorização dos sonhos fez com que Emília fosse a única a não querer saber do final da história, a morte do Quixote, pois dizia ser imortal. Isso é o que marcou o livro em minha leitura e que guardo em lembrança.
Outras curiosidades para o universo que tento entender do Sítio, é que o Visconde tem mais uma morte, logo no início, ao ser esmagado pelo livro que caiu da estante em cima dele. Justamente o Quixote, a quem a Emília queria conhecer e acidentalmente deixou cair no sabugo. Seria uma mensagem do Lobato? No mínimo, ainda que não planejada, é como se fosse a emoção suplantando a razão - pela representativade do livro e Visconde, desejo e descuido. Uma quixotada!
Ah, vou atrás desse Monteiro Lobato em quadrinhos... Sei que tem e acredito que continuará trazendo mais curtição na leitura.
Minha maior atenção foi para a percepção da turminha. Pedrinho e Narizinho acompanham a história com dó do herói, enquanto Emília vê algo inspirador que a mobiliza na valorização de seus sonhos, ainda que malucos. E ela fica maluca mesmo, mais que o normal, tendo que ser contida até recuperar o juízo (que aconteceu no choque de realidade expresso em um pequeno acidente, onde viu sua fragilidade ante os arroubos emotivos da empolgação em paralelo ao descuido). No final das contas, rendeu uma aprendizagem legal: a inspiração para viver sonhos, mas de maneira prudente.
Olha que interessante! A valorização dos sonhos fez com que Emília fosse a única a não querer saber do final da história, a morte do Quixote, pois dizia ser imortal. Isso é o que marcou o livro em minha leitura e que guardo em lembrança.
Outras curiosidades para o universo que tento entender do Sítio, é que o Visconde tem mais uma morte, logo no início, ao ser esmagado pelo livro que caiu da estante em cima dele. Justamente o Quixote, a quem a Emília queria conhecer e acidentalmente deixou cair no sabugo. Seria uma mensagem do Lobato? No mínimo, ainda que não planejada, é como se fosse a emoção suplantando a razão - pela representativade do livro e Visconde, desejo e descuido. Uma quixotada!
Ah, vou atrás desse Monteiro Lobato em quadrinhos... Sei que tem e acredito que continuará trazendo mais curtição na leitura.
O poço do Visconde (1937)
Acredito
que seja o livro mais politizado de Lobato na coleção do Sítio. O autor
expressa seu projeto de desenvolvimento do país propondo a extração do
petróleo.
A história desperta a consciência para esse patrimônio natural e tem cunho didático, onde se explica a origem e peculiaridades do produto, a forma de extração, os benefícios econômicos associados à exploração, a importância da industrialização e necessidade de melhorias na infraestrutura (portos, rodovias, ferrovias). Lobato não é um simples entusiasta ou sonhador e procurou racionalizar sua visão com informações científicas e do contexto da economia mundial, destacando o projeto como uma possibilidade viável e transformadora.
Percebemos a dimensão do livro quando vemos o momento em que foi publicado. As palavras e disposições entusiastas na história eram reais na luta pioneira de Lobato na extração de petróleo no Brasil. Porém, enquanto que no livro havia a adesão e investimento, na mobilização de Lobato surgiam muitos empecilhos para que levasse avante o projeto, sendo até preso no governo de Getúlio Vargas.
A visão de modernidade e industrialização proposta era algo que enfrentava resistência por parte do governo sujeito à influência submissa à outras nações. Prevaleciam velhos conceitos, ligados a um modo de produção secular, onde se destacava a política café com leite, pouco interessada na abertura de concorrências ou que descentralizasse o capital em múltiplos empreendimentos de desenvolvimento na infraestrutura.
Interessante que em paralelo ao nosso conservadorismo econômico, outras nações fortaleciam suas economias investindo nas indústrias e infraestrutura associada, não incentivando essas coisas em nosso governo.
A parte que mais gostei foi o capítulo IV (Petróleo! Petróleo!), o ápice da visão de Lobato sobre o projeto, em um texto empolgante de incentivo e adesão ao progresso proposto.
A história desperta a consciência para esse patrimônio natural e tem cunho didático, onde se explica a origem e peculiaridades do produto, a forma de extração, os benefícios econômicos associados à exploração, a importância da industrialização e necessidade de melhorias na infraestrutura (portos, rodovias, ferrovias). Lobato não é um simples entusiasta ou sonhador e procurou racionalizar sua visão com informações científicas e do contexto da economia mundial, destacando o projeto como uma possibilidade viável e transformadora.
Percebemos a dimensão do livro quando vemos o momento em que foi publicado. As palavras e disposições entusiastas na história eram reais na luta pioneira de Lobato na extração de petróleo no Brasil. Porém, enquanto que no livro havia a adesão e investimento, na mobilização de Lobato surgiam muitos empecilhos para que levasse avante o projeto, sendo até preso no governo de Getúlio Vargas.
A visão de modernidade e industrialização proposta era algo que enfrentava resistência por parte do governo sujeito à influência submissa à outras nações. Prevaleciam velhos conceitos, ligados a um modo de produção secular, onde se destacava a política café com leite, pouco interessada na abertura de concorrências ou que descentralizasse o capital em múltiplos empreendimentos de desenvolvimento na infraestrutura.
Interessante que em paralelo ao nosso conservadorismo econômico, outras nações fortaleciam suas economias investindo nas indústrias e infraestrutura associada, não incentivando essas coisas em nosso governo.
A parte que mais gostei foi o capítulo IV (Petróleo! Petróleo!), o ápice da visão de Lobato sobre o projeto, em um texto empolgante de incentivo e adesão ao progresso proposto.
Em linhas gerais, é assim: o Sítio idealiza o país, Pedrinho e
Narizinho representam pequenos empresários lidando com velhos e
calejados homens de negócio (se destacando em suas ações), Visconde é
a ciência que apoia o progresso (apontando novos caminhos), Emília
representa a sociedade que adere ao ideal proposto e Tia Nastácia
prefigura o povo simples que é impactado e beneficiado pela economia
forte.
Lobato ilustrou também o conservadorismo na disposição turrona de um fazendeiro chamado Chico Pirambóia (resistente à importância dos bancos, no que acabou se dando mal, devido velhos conceitos) e no compadre Teodorico (foi à falência aplicando o capital em projetos por conta própria, sem um aval científico, em outras palavras, caiu em conto do vigário).
Há locais em que se instalaram indústrias petrolíferas que fracassaram (a fazenda do Chico Pirambóia) e isso é tratado como uma possibilidade, mas que não é um quadro comum diante do potencial existente.
Outra coisa que achei interessante, na ideia do Sítio representar o país, é que a história dá um salto para a década de 1950, onde as projeções de Lobato se confirmavam. Vemos o antigo arraial de Tucano como uma cidade grande e desenvolvida, com os picapaus bem sucedidos como empresários.
A história encerra com discursos efusivos de algumas personagens, diante do sucesso. Visconde exalta a Ciência, Pedrinho e Narizinho a avó (uma empreendedora), Tia Nastácia o amor por Dona Benta e pelo Sítio (o apoio ao empreendedorismo), Quindim a liberdade que recebera e Emília propõe um desfile de Triunfo de Dona Benta, referente a um costume na antiga Roma. Certamente, naquela visão ilustrativa de um país, o nosso país, é a perspectiva de progresso e melhoria de vida ao povo.
É um livro utópico, mas que tem algo importante para o progresso isso tem: a visão de economia fortalecida na indústria e no desenvolvimento da infraestrutura.
Grande Lobato! Grande livro! Grande leitura!
Lobato ilustrou também o conservadorismo na disposição turrona de um fazendeiro chamado Chico Pirambóia (resistente à importância dos bancos, no que acabou se dando mal, devido velhos conceitos) e no compadre Teodorico (foi à falência aplicando o capital em projetos por conta própria, sem um aval científico, em outras palavras, caiu em conto do vigário).
Há locais em que se instalaram indústrias petrolíferas que fracassaram (a fazenda do Chico Pirambóia) e isso é tratado como uma possibilidade, mas que não é um quadro comum diante do potencial existente.
Outra coisa que achei interessante, na ideia do Sítio representar o país, é que a história dá um salto para a década de 1950, onde as projeções de Lobato se confirmavam. Vemos o antigo arraial de Tucano como uma cidade grande e desenvolvida, com os picapaus bem sucedidos como empresários.
A história encerra com discursos efusivos de algumas personagens, diante do sucesso. Visconde exalta a Ciência, Pedrinho e Narizinho a avó (uma empreendedora), Tia Nastácia o amor por Dona Benta e pelo Sítio (o apoio ao empreendedorismo), Quindim a liberdade que recebera e Emília propõe um desfile de Triunfo de Dona Benta, referente a um costume na antiga Roma. Certamente, naquela visão ilustrativa de um país, o nosso país, é a perspectiva de progresso e melhoria de vida ao povo.
É um livro utópico, mas que tem algo importante para o progresso isso tem: a visão de economia fortalecida na indústria e no desenvolvimento da infraestrutura.
Grande Lobato! Grande livro! Grande leitura!