As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

sábado, 6 de janeiro de 2018

Incoerência Humana - Naufrágio do Novo Amapá (Francisco Hermes Colares, 2002)

"Desculpe-me, leitor amigo
o que agora vou relatar
é um fato muito chocante
que eu preferia não lembrar
mas decidi descrever
para melhor registrar.

O ano de oitenta passou
e dele ficamos a reclamar
oitenta e um entrou alegre
somente para nos enganar
e em apenas seis dias
nos fazer a todos chorar."
(Versos iniciais do cordel)


Título: Incoerência Humana - Naufrágio do Novo Amapá
Autor: Francisco Hermes Colares
Editora: Gráfica Amapaense
Páginas: 36
Ano: 2002
Gênero: Literatura de Cordel

Histórico cordel publicado em 2002, para leitura e reflexão do valor da vida acima de qualquer interesse. Cada verso exprime tristeza dilacerante, escritos por Francisco Hermes Colares, que acompanhou de perto o desenrolar dos fatos, apresentando exatidão e emotividade na narrativa.
Vemos as expectativas dos viajantes, a superlotação com descaso das autoridades competentes, o drama daquela fatídica noite em 06 de janeiro de 1981, o sofrimento e morte das infelizes almas, as expectativas de notícias no porto de Santana, a mobilização de resgate, o funesto enterro na cova coletiva no cemitério santanense, as homenagens e a dor de todos pela maior tragédia ocorrida nos rios amapaenses.
Para quem não conhece a história, o Novo Amapá naufragou por conta de excesso de passageiros e cargas, quando viajava de Santana (AP) para a Vila de Monte Dourado (PA) através do rio Jari. Mais de 300 pessoas morreram na embarcação preparada para receber cerca de 150 passageiros. Estima-se que estavam a bordo mais de 600 pessoas...
Era uma tragédia anunciada. Viajei nesse barco pouco antes do desastre. Na ocasião, estava superlotado, com o casco quase todo afundado, tendo pavimento de passageiros rente ao nível da água (e ainda lembro de carros na parte de cima da embarcação). Prenúncios de uma tragédia! Que se confirmou pouco depois, marcando para sempre a história da navegação da Amazônia e deixando famílias enlutadas e com uma dor sem medidas em várias cidades. Testemunhei choro e comoção em Monte Dourado, onde me encontrava na ocasião. Muitos, em um mecanismo de defesa, até negavam, diante de informações imprecisas.
O fato foi também decisivo para o fim do Projeto Jari na direção do magnata americano Daniel Ludwig (que passava por insucessos em projetos e enfrentando propagandas negativas encabeçadas pelo governo militar). A maioria dos passageiros era de trabalhadores da Jari.
Uma curiosidade funesta para o ano de 1981 é que em 19/08 naufragou também o Sobral Santos, que fazia linha entre Santarém e Manaus, com um número de vítimas semelhante a tragédia do Novo Amapá.

A obra pode ser consultada 
na Biblioteca Ambiental da SEMA em Macapá.

Veja também: 
- Morte nas águas: A Tragédia do Cajari (1981 - Livro) 
- Novo Amapá: A maior tragédia fluvial da Amazônia