Gosto tanto do Sítio que me empolgo em querer registrar alguma coisa. Motivações não faltam, baseadas em leituras prazerosas na infância e também como incentivo para descobertas, que podem ser experiências positivas e instigantes, à luz de um acompanhamento pedagógico. Em parecer singelo, vamos conhecer mais dois livros dessa coleção.
O livro é de 1922 e a abordagem valoriza as fábulas, contadas por Dona Benta em gostosas narrativas para a turminha. Estão em torno de setenta, sendo a grande maioria de La Fontaine e Esopo, mas tem também da cachola de Dona Benta e da sabedoria popular. Ao final de cada, no estímulo almejado, a turminha se expressa no que entendeu, concordou ou não, manifestando seu agrado ou desagrado, estendendo a aprendizagens no convívio de sua realidade. São contadas em paralelo a torneirinha de asneiras da Emília (às vezes, refinada esperteza), pitacos científicos do Visconde, percepções ingênuas da Tia Nastácia e romantismo aventureiro e sonhador de Pedrinho e Narizinho.
A que mais gosto é a do Velho, o menino e a mulinha. Uma graça, cheia de ironia em relação a indefinições na vida.
É, mas as de maior impacto são as que exacerbam a injustiça ou opressão do forte sobre o fraco, tipo O Lobo e o Cordeiro, O julgamento da ovelha e Liga das nações. Essa e outras vão em um contexto político, que Lobato faz a turminha se deparar, refletir e manifestar o que pensa.
No final da leitura percebemos um aspecto interessante: de que algo já feito não esgota a possibilidade de explorações diferentes e legais. Não foi o que Lobato fez recontando histórias a seu modo para as crianças?
A que mais gosto é a do Velho, o menino e a mulinha. Uma graça, cheia de ironia em relação a indefinições na vida.
É, mas as de maior impacto são as que exacerbam a injustiça ou opressão do forte sobre o fraco, tipo O Lobo e o Cordeiro, O julgamento da ovelha e Liga das nações. Essa e outras vão em um contexto político, que Lobato faz a turminha se deparar, refletir e manifestar o que pensa.
No final da leitura percebemos um aspecto interessante: de que algo já feito não esgota a possibilidade de explorações diferentes e legais. Não foi o que Lobato fez recontando histórias a seu modo para as crianças?
História do mundo para as crianças
Belíssima obra! Extraordinária pelas informações e detalhamentos em um passeio curioso pela história da humanidade, contada em serões de Dona Benta com a turminha. O autor fala de civilizações, personagens destacados, arte, ciência, política, modernidade, filosofia, religião e outros aspectos. Aquela dinâmica conhecida se repete, da turminha interagir com as informações.
Foi publicada em 1933, mas certamente foi retocada, por descrever fatos ocorridos na década seguinte, como a Segunda Guerra Mundial e a explosão da bomba atômica em Hiroshima.
Tem tanta coisa interessante, no sentido de descobertas e fomentar discussões, que teria despertado incômodo ao Estado Novo e a Igreja. Simplesmente por Dona Benta falar contra a opressão do povo, Lobato em certo momento expor simpatia ao antigo regime monárquico e a turminha discutir pontos relacionados à religiosidade, que tem sua dose polêmica, como as Cruzadas, a Inquisição, a ruptura no Cristianismo, massacres entre católicos e protestantes, além da valorização da teoria evolucionista de Darwin.
Outra coisa importante é que o autor novamente trouxe para a perspectiva dos picapaus algo já estabelecido no contexto de época: o livro Child's History of the World (História do mundo para crianças), publicado em 1924 pelo americano V. M. Hillyer, que rapidamente tinha se tornado importante obra da literatura infantil. Lobato não omite a inspiração e cita o livro no início, quando Dona Benta o recebeu pelo correio, ficou instigada e resolveu dividir esse saber com a garotada. Ah, mas garanto que tem muito marmanjo que vai se surpreender também com essa valorosa publicação.
Claro que tem o toque pessoal no olhar abrasileirado e, partindo ou não do autor, gostei dos sutis momentos de valorização a saberes em sua etimologia ou correlação com momento histórico. Como a origem de palavras como estoicismo (quando falou-se da Grécia antiga) ou protestante (no contexto abordado em que gerou-se essa denominação para reformadores na igreja).
A parte do Darwinismo (que não creio) é o pontapé inicial das histórias de Dona Benta e daí vamos avançando em diversos momentos da história da humanidade. Egito, Grécia, Israel, Mesopotâmia, Roma, Idade Média, Navegações, e só estou citando alguns...
Em resenhas anteriores lamentei a ausência e viajei em como seriam incursões de Lobato pela Literatura Bíblica. E não é que esse livro tem! Específicas em pelo menos dois capítulos (sobre a história dos Judeus, conforme o Antigo Testamento, e sobre Jesus Cristo nos Evangelhos). Provavelmente Lobato apenas reproduziu a obra de Hillyer, mas são suas as impressões na turminha, principalmente na reflexão sobre a história da cristandade. Senti o autor desiludido por conta do comportamento humano, parecendo esse aspecto o que o direcionou em sua visão sobre Deus. Os relatos bíblicos estão um tanto borocoxôs. O autor descreve contentando-se e dando atenção só para o elemento humano. A presença de Deus em suas ações não é valorizada. Só uma vez aparece a palavra Senhor. Bem se vê percepções e conclusões marcantes a partir da centralização do homem como norteador de vida.
Falando em reações, os picapaus demonstram revolta contra as injustiças e empolgam-se com descobertas e aprendizagens. Passei a ter outra imagem sobre Narizinho. Emília, Pedrinho e Visconde parecem ver as coisas no que gostariam de vivenciar, só isso (pelo prazer da aventura, corrigir algo devido visão incômoda, testemunhar fatos importantes... tudo num plano com egocentrismo, sem ser ruim). Mas com Narizinho a coisa é diferente. A menina parece demonstrar percepção mais humanista, de ver as coisas num plano onde se insere e sofre com a injustiça, tendo um olhar mais abrangente, de valorização do outro e não essencialmente de sua vontade. O livro sugestiona isso em seu perfil. Em vários momentos a menina quase desmaia de revolta, passando mal, e Dona Benta tem que interromper a história para seu restabelecimento diante do impacto que sofrera. Aconteceu com as narrativas sobre o Nero (ao saber de suas perversidades), na descoberta da mitologia dos Fenícios (sobre o deus Moloque e Asterate, que recebiam sacrifícios de crianças - citados também na Bíblia), na história da escravidão (onde Lobato manifesta seu repúdio, referenciando como um cancro na humanidade), sobre Joana D'Arc e outros momentos. É dela que partem sempre as observações mais interessantes ao lado de Dona Benta.
Vou deixar em registro também o capítulo A era dos milagres, apenas por ter a primeira parte rotineiramente reproduzida em livros escolares (pelo menos no meu tempo de estudante).
O Lobato era adepto do comunismo? Não sei, mas tem capítulo em que parece criar uma expectativa com a Revolução Russa. O texto fala de dar tempo para ver resultados, se positivos ou não (Ora! Comunismo só oprimiu, roubou, torturou e matou, em todas as experiências mundo afora).
Enfim, uma viagem sensacional. Esse é clássico e uma experiência muito positiva e instigante na leitura.
Foi publicada em 1933, mas certamente foi retocada, por descrever fatos ocorridos na década seguinte, como a Segunda Guerra Mundial e a explosão da bomba atômica em Hiroshima.
Tem tanta coisa interessante, no sentido de descobertas e fomentar discussões, que teria despertado incômodo ao Estado Novo e a Igreja. Simplesmente por Dona Benta falar contra a opressão do povo, Lobato em certo momento expor simpatia ao antigo regime monárquico e a turminha discutir pontos relacionados à religiosidade, que tem sua dose polêmica, como as Cruzadas, a Inquisição, a ruptura no Cristianismo, massacres entre católicos e protestantes, além da valorização da teoria evolucionista de Darwin.
Outra coisa importante é que o autor novamente trouxe para a perspectiva dos picapaus algo já estabelecido no contexto de época: o livro Child's History of the World (História do mundo para crianças), publicado em 1924 pelo americano V. M. Hillyer, que rapidamente tinha se tornado importante obra da literatura infantil. Lobato não omite a inspiração e cita o livro no início, quando Dona Benta o recebeu pelo correio, ficou instigada e resolveu dividir esse saber com a garotada. Ah, mas garanto que tem muito marmanjo que vai se surpreender também com essa valorosa publicação.
Claro que tem o toque pessoal no olhar abrasileirado e, partindo ou não do autor, gostei dos sutis momentos de valorização a saberes em sua etimologia ou correlação com momento histórico. Como a origem de palavras como estoicismo (quando falou-se da Grécia antiga) ou protestante (no contexto abordado em que gerou-se essa denominação para reformadores na igreja).
A parte do Darwinismo (que não creio) é o pontapé inicial das histórias de Dona Benta e daí vamos avançando em diversos momentos da história da humanidade. Egito, Grécia, Israel, Mesopotâmia, Roma, Idade Média, Navegações, e só estou citando alguns...
Em resenhas anteriores lamentei a ausência e viajei em como seriam incursões de Lobato pela Literatura Bíblica. E não é que esse livro tem! Específicas em pelo menos dois capítulos (sobre a história dos Judeus, conforme o Antigo Testamento, e sobre Jesus Cristo nos Evangelhos). Provavelmente Lobato apenas reproduziu a obra de Hillyer, mas são suas as impressões na turminha, principalmente na reflexão sobre a história da cristandade. Senti o autor desiludido por conta do comportamento humano, parecendo esse aspecto o que o direcionou em sua visão sobre Deus. Os relatos bíblicos estão um tanto borocoxôs. O autor descreve contentando-se e dando atenção só para o elemento humano. A presença de Deus em suas ações não é valorizada. Só uma vez aparece a palavra Senhor. Bem se vê percepções e conclusões marcantes a partir da centralização do homem como norteador de vida.
Falando em reações, os picapaus demonstram revolta contra as injustiças e empolgam-se com descobertas e aprendizagens. Passei a ter outra imagem sobre Narizinho. Emília, Pedrinho e Visconde parecem ver as coisas no que gostariam de vivenciar, só isso (pelo prazer da aventura, corrigir algo devido visão incômoda, testemunhar fatos importantes... tudo num plano com egocentrismo, sem ser ruim). Mas com Narizinho a coisa é diferente. A menina parece demonstrar percepção mais humanista, de ver as coisas num plano onde se insere e sofre com a injustiça, tendo um olhar mais abrangente, de valorização do outro e não essencialmente de sua vontade. O livro sugestiona isso em seu perfil. Em vários momentos a menina quase desmaia de revolta, passando mal, e Dona Benta tem que interromper a história para seu restabelecimento diante do impacto que sofrera. Aconteceu com as narrativas sobre o Nero (ao saber de suas perversidades), na descoberta da mitologia dos Fenícios (sobre o deus Moloque e Asterate, que recebiam sacrifícios de crianças - citados também na Bíblia), na história da escravidão (onde Lobato manifesta seu repúdio, referenciando como um cancro na humanidade), sobre Joana D'Arc e outros momentos. É dela que partem sempre as observações mais interessantes ao lado de Dona Benta.
Vou deixar em registro também o capítulo A era dos milagres, apenas por ter a primeira parte rotineiramente reproduzida em livros escolares (pelo menos no meu tempo de estudante).
O Lobato era adepto do comunismo? Não sei, mas tem capítulo em que parece criar uma expectativa com a Revolução Russa. O texto fala de dar tempo para ver resultados, se positivos ou não (Ora! Comunismo só oprimiu, roubou, torturou e matou, em todas as experiências mundo afora).
Enfim, uma viagem sensacional. Esse é clássico e uma experiência muito positiva e instigante na leitura.
Essas obras podem ser encontradas, em geral, nas Bibliotecas Públicas. Vale muito a leitura!
Em Macapá, estão disponíveis na
Biblioteca Pública Elcy Lacerda.
Quem sabe na Biblioteca de sua escola também...
Que tal, heim!