As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

terça-feira, 21 de junho de 2011

HISTÓRIAS DA VÓ NIKITA: Castelos em Macapá...

O destino e suas faces!

Acreditamos em tantas coisas... Sonhamos em alcançar o que nos faça felizes, buscamos e nos empenhamos na caminhada. Nossa história vai se construindo nesta lida diária e, muitas vezes, nem percebemos que de coisas simples e, às vezes, corriqueiras, novos caminhos vão surgindo, uma história vai se iniciando e a gente vai conhecendo uma face nova do destino. Os sonhos podem ser grandes, maiores, porém, são os desígnios de Deus! Cabendo a nós, envolvidos em mil nuances diante destas portas que se abrem, com ou sem nossa vontade, caminhar firmes, aprendendo, transformando, construindo e sempre optando pelas boas coisas.

"Palafita" - Foto de Nil Muniz
Foi um simples evento que determinou a vinda de minha avó Ana para cá, dando continuidade à construção de sua família: os Ferreira-Castelo do bairro do Trem em Macapá, outrora, ribeirinhos lá nas bandas do Jacarezinho, tantas gerações seguidas e muitos anos atrás.

São lembranças da Vó Nikita todos os acontecimentos aqui presentes.  Rotineiros também na época de sua bisavó Ana e avó Tereza (essa é a culpada do apelido que minha avó nunca gostou e que vou retratando aqui).

"Palafita" - Tela de Manuel Fernando Croskey 
Alexandre Paulo, seu pai (meu bisavô, que tive o prazer de conviver por um tempo) era um homem de singular descrição: branco, loiro, olhos claros e de uma beleza notável principalmente por seu caráter. Era trabalhador, de bons exemplos, gentil, parecendo ter sempre nos lábios um eterno sorriso. Tinha um irmão gêmeo, mas estes só conviveram até a adolescência. O destino mostrou uma de suas faces e levou Pedro Paulo. Homem de fé forte, isso lhe valeu sempre, principalmente nos momentos difíceis de sua vida. Sua vista perdeu-se para sempre quando estava em pleno vigor de seus quarenta e poucos anos, mal que também acometeria minha avó, e mostrou-se forte em seus momentos finais de vida, com a destruição em seu corpo por esse mal que chamamos de câncer. Assim era Alexandre, bonito por sua fé e gentileza. Seu casamento com Vó Marieta durou mais de cinquenta anos. Esta também tem em suas características fatos a descrever: morena, dessas caboclas interioranas com os cabelos compridos e aparência com traços indígenas. Mesmo em sua avançada velhice não teve cabelos brancos... e sem apelar para tinturas. Seu retrato não foge do que é típico nessas bandas do norte, onde as morenas não são altas, com cabelos negros, encaracolados ou lisos, e donas de uma brejeirice a “mundiar” o caboclo. Fala-se tanto do boto, mas não é páreo aos encantamentos de uma bela amazônida com um olhar sedutor a lhe conquistar.

Esse é o casal que vivia às margens do Jacarezinho, meus bisavós maternos, em um barracão muito simples e tão escondido naquelas curvas do rio.  Testemunhas e personagens dessas histórias que estou a lhes contar.

"Amazônia" - Tela de Cecília Queiroz
Não quero mostrar um quadro enganoso, era muito difícil a vida naqueles tempos. Muito difícil mesmo!! Tudo era isolado e sem ajuda diária, valendo-se da força de vontade e providência divina para sobreviver. A malária não dava tréguas, o caboclo podia ser acometido várias vezes. Um local de leishmaniose, pesadelo e perigo circundante naquelas matas, outro mal muito temido. Morria-se de sarampo, de meningite, rubéola e febres desconhecidas, que jogavam o caboclo na rede e o prostravam de maneira sofrida ou irreversível. E ainda não falamos dos encontros com a combóia, escorpiões, arraias, os vampiros... A raiva é até hoje um mal sem cura. O ribeirinho preferia enfrentar o sucuriju com o terçado em mãos do que cair nas mãos do destino num triste episódio de ser picado por esses bichos. Hospitais e médicos eram muito distantes, só nas cidades, dia e meio de remada e de muito sol na cabeça. Uma vez por ano é que apontava por aquelas bandas algum batelão com padre, médico e, quem sabe, juiz. Época de batismos, casamentos e "consulta com o dotô". Pouco tempo de cidadania, grande período de ostracismo...

"Barracão" - Desenho de Rogério Castelo
Euclides da Cunha fincou pés também nesse mundão verde da Amazônia e conheceu um pouco da realidade desse povo à margem da história. Se viu no sertanejo um forte, pode testemunhar que o ribeirinho é um bravo.

Nesse contexto que vivia Alexandre, esse ribeirinho bravo em lutar pelos seus. Foi seringueiro, "soldado da borracha", num tempo em que o mundo explodia na crueldade da guerra. A borracha tinha valor e, como ele, muitos homens entravam nas matas para colher o látex. Todo dia a rotina. Pegava seu facão e cedinho estava em busca das árvores. Riscava  mais  de cem, deixando a seiva cair no cadilho. No caminho inverso, ia recolhendo no balde o que tinha escorrido. Muito trabalho... Quando terminava soava a sapopema ao longe, avisando para os seus de sua vinda. Ana, uma de suas filhas (minha avó), corria a preparar-lhe o café com farinha e, junto com os irmãos,  acendia  o braseiro para a borracha. Do que era colhido formavam umas bolas e todo final de semana vendiam. Tantos dias como esse... Isso durou enquanto Alexandre tinha as vistas. O destino mostrou mais uma face difícil e tirou-lhe da condição de provedor da família, passando a ser cuidado por sua esposa Marieta e filhos. 
 
Seringueiros (respectivamente, ilustração do Pará Histórico e desenho de Percy Lau)

O que o sofrimento não destrói, fortalece, e de forças em Deus que Alexandre sobrevivia com sua família nas margens do Jacarezinho, rio no grandioso Estado do Pará.  
Fui testemunha de sua fé, todo dia fazia orações em vários momentos. Quando passou uns dias em casa, preparava-lhe um pequeno oratório e o conduzia até lá. Não o vi falhar ou faltar com o ânimo nisso.
Alexandre deu seu adeus no ano de 1984, muito debilitado, mas sempre contínuo na fé.  Em sua história muitos fatos que sempre gostei de ouvir e me por a imaginar. 
"Sapopema" - Foto de biblioteca.ibge.gov.br
Conta-se que certa vez em que estava sozinho no trapiche em frente ao barracão, lá no lendário Jacarezinho, ouviu um barulho no matagal próximo, estalos de pau quebrando. Aguçou os ouvidos e percebeu vir em sua direção passos rápidos e pesados. As tábuas do trapiche rangeram ante o peso das passadas apressadas, seguidas de uma respiração profunda e muito sonora a cercar-lhe. Seja o que fosse não respodia às perguntas feitas e ouvia-se apenas aquela respiração cansada e puxada rodeando-lhe sem dizer-lhe palavra. Seu corpo arrepiou-se com o frio sentido, indícios do medo, mas sua fé foi sua força  e com atitude de oração afastou aquilo dali.
Todos daquele barracão cresceram como homens e mulheres fortes. As circunstâncias fizeram de todos caboclos "virados". Todos os ofícios eram desempenhados. Alexandre formou uma família de trabalhadores e não faltou a manutenção em seu lar quando suas vistas se foram. Seus filhos eram Nilzinho (Sebastião), Lóla (Maria Vitória), Ana, Mundinha (Raimunda), Raimundo (Badat) e Lourival.
Os ofícios da vida ribeirinha foram aprendidos. Só não lhes foi dada a oportunidade de estudo quando crianças e adolescentes. Nos fenômenos naturais quanto desconhecimento... Foi numa situação engraçada que viram o eclipse lunar pela pimeira vez. Quando a lua começou a ficar vermelha, Alexandre chamou a filharada e começaram a rezar no trapiche... até que tudo voltou ao normal!! Só depois que explicaram-lhe o fenômeno. E o eclipse solar... Ah! esse foi uma verdadeira lenda. Os seringueiros na mata viram aquele dia claro começar a fechar estranhamente. Chuva? No regresso para casa anoiteceu repentinamente. As galinhas e jacamins estavam todas recolhidas ao puleiro e árvores altas... em plena manhã, com aquela noite misteriosa. As sapopemas ecoaram ao longe, eram os caboclos perdidos na mata, sem poronga e sem visão de nada. Da casa batiam as panelas e paus para tentar orientar o caminho. Tão repentina quanto começou, foi o fim daquela breve noite. As aves desceram ao terreiro e tudo voltou ao normal... fora o susto.
Voltemos nossa atenção para Ana. Daquela geração é a última e dela passo a narrar daqui para frente.....


continua .....

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A Flor e o Beija-flor (Zé Miguel e Ana Ariel)

 
A Flor e o Beija Flor 
(Zé Miguel / Joãozinho Gomes)

Que maneira de chegar
Justo na roseira
Cujas rosas vou beijar
Antes das abelhas

Sem querer me envolver com teu perfume
Sem querer nos espinhos me arranhar
Vou voar e colher o teu açúcar
Sem poder pelo menos te tocar
Tu não desabrochou pra mim

Maravilha da flor que espera
Beijo do beija-flor quisera
Simplesmente tocar o teu botão.

domingo, 19 de junho de 2011

A Biblioteca SESC / CENTRO em Macapá (Biblioteca Nunes Pereira)

O SESC é uma entidade, voltada ao comerciário e sociedade em geral, que atua nas áreas da educação, saúde, lazer, cultura e assistência.
Reconhecidamente, desde sua criação em 1946 (Decreto-Lei Nº 9.853), vem promovendo diversos eventos que permitem o acesso a cultura e assistência social em diferentes níveis. Isso tem sido realizado através de seus projetos e programas, sendo exemplos disso o Odonto/SESC, Mesa Brasil/SESC, Biblio/SESC, entre outros.  

Os projetos e programas do SESC objetivam
a promoção da melhoria da qualidade de vida.
A entidade mantem base em todas as capitais estaduais e sua implantação no Estado do Amapá ocorreu no ano de 1977.

Quando tratamos de acervo bibliográfico, o SESC é uma das entidades que mantem uma das maiores rede de bibliotecas no país. Além das bibliotecas instaladas, apresenta também um importante projeto de biblioteca volante (Biblio/SESC), permitindo ao cidadão de bairros e comunidades afastadas (principalmente crianças e adolescentes)  o acesso à leitura. Os detalhes sobre as bibliotecas volante serão tratados em outro momento.

Em Macapá temos duas Bibliotecas SESC, sendo uma delas a Biblioteca SESC/Centro Nunes Pereira.
  
Eis a Biblioteca SESC/CENTRO Manoel Nunes Pereira,  instalada no andar superior deste edifício. No térreo encontramos um restaurante e o Projeto Botequim.
A localização é na Av. Padre Júlio Maria Lombard (esquina com a Rua General Rondon), Nº 2009 - Bairro Central, em Macapá - AP.

Horário de funcionamento: 9h às 18h, com os serviços de consulta, pesquisa, cadastro (comerciários) para empréstimo e devolução de livros.
Entre romances, contos, poesia, livros, folhetos, história, biologia, ciências, enciclopédias, dicionários e outros, ENCONTRAMOS NO ACERVO:

- Literatura Estrangeira
- Literatura Brasileira 
- Literatura Amapaense
- Livros Didáticos
- Hemeroteca (Recortes de Jornais)
- Periódicos (Revistas e Jornais)

  
Quanto conhecimento,
quanta história,
quanta vida,
se revelando
nesses corredores
nas páginas dos livros....

Encontramos publicações em temas variados.

Espaço para a Literatura Amapaense.

 
História, Biologia, Literatura, muita coisa nestas estantes...
Paisagem literária...
Uma boa coleção sobre pensadores...
Algumas destas obras não são encontradas facilmente!
Periódicos da biblioteca.
Jornais e livros diversos.
José Clementino (parceiro de andanças pelas bibliotecas).
Na HEMEROTECA (recortes diversos) encontramos textos sobre os municípos, bairros, cultura, saúde, ICOMI, etc. Documentos que sempre resgatam um pouco da história deste Estado.
Este é o Luís, funcionário da Biblioteca SESC/Centro.
 Psicologia também tem seu espaço.

Aqui, Elcy Cardoso, responsável pela biblioteca (2011). O acervo recebe também a assistência técnica e gerenciamento de Bernadeth
(Bibliotecária do SESC em Macapá).

Uma boa surpresa! Encontrei este livro que foi leitura obrigatória no vestibular que fiz... No século passado, em um tão remoto 1992.....
"A sombra dos castanhais", de Laises do Amparo Braga.

Sala de leitura.
Estacionamento das bikes.
Informativo da Biblioteca SESC/Centro
Esta é a Biblioteca SESC/Centro em Macapá. Mais uma boa opção para estudo e acesso a leitura para a sociedade amapaense.

Agradecemos a atenção e recepção dada aos técnicos da Biblioteca SEMA (Rogério Castelo & José Clementino) por Elcy Cardoso, Luís, Bernadeth e Michele Lobo (funcionários do SESC), no acesso às informações e acervo, para a realização desta postagem.

sábado, 18 de junho de 2011

Lançamento do livro: O ROTEIRO NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS (Ivan Carlo/Gian Danton)

Nesta sexta-feira (17/06) ocorreu o lançamento do livro "O Roteiro nas Histórias em Quadrinhos", de Ivan Carlo (muito conhecido também como Gian Danton)
O evento foi realizado no SESC Centro em Macapá, no projeto intitulado 4º Banquete Literário. Prestigiaram, entre amantes da literatura e quadrinhos, alguns escritores como Paulo Tarso e Samila Lages. 
Foram expostas e vendidas obras do autor, houve apresentação da publicação em lançamento e o tradicional autógrafo.

Ivan Carlo Andrade de Oliveira (Gian Danton) é um autor premiado e com  reconhecimento nacional. Tem trabalhos conceituados como roteirista de graphic novel, atuando neste segmento desde 1989. Possui também obras técnicas na área de comunicação, metodologia  e ficção científica. No livro em lançamento, apresenta dicas básicas  para se tornar roteirista de quadrinhos. Uma obra muito interessante e oportuna aos amantes de HQ's. 
Olha aí algumas obras do autor!
Como bom sacoleiro adquiri várias...
Aqui a apresentação do autor, em uma biografia descrita por Michele Lobo (Coordenadora de Cultura do SESC-AP), seguida de uma saudação pela escritora Samila Lages.  Descobri muita coisa que nem imaginava. O cidadão é roteirista de HQ's (algumas já havia lido), tem parceria com desenhistas de renome internacional (como o Joe Bennett e o Eugênio Colonnese) e é/foi colaborador de revistas cult como a  MAD e CALAFRIO.
.... De fato um banquete literário, a oportunidade de conhecer todas essas obras.
O autor expôs um pouco de sua experiência e atuação, demonstrando talento singular.  Reside neste Estado há 12 anos, é professor na UNIFAP , jornalista e consultor do SEBRAE.
... Quanta coisa bacana na obra do Ivan Carlo.
Garanti também umas obras pra ler durante as férias...
Quem sabe não consiga fazer uma HQ!!  Um sonho tão distante....
Oras, oras!!! Mesmo sendo um Gregor Samsa,
 fui lá prestigiar e ter a oportunidade de conhecer esse exepcional artista.
AGRADECEMOS AO SESC NOS OPORTUNIZAR EVENTOS CULTURAIS COMO ESSE E AO ESCRITOR GIAN DANTON (IVAN CARLO) A POSSIBILIDADE DE CONHECER UM POUCO MAIS DESTA ARTE TÃO CATIVANTE NO UNIVERSO DA FICÇÃO E QUADRINHOS.
Mais informações do autor e sua obra em ivancarlo.blogspot.com

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Imagens do Marabaixo

O Marabaixo continua ocorrendo no Laguinho, Santa Rita (antiga Favela) e na comunidade do Curiaú. 
 Vídeo de Drika Bourquim
 
Se identifica com elementos do catolicismo romano e da cutura negra.  Apresenta a referência dos santos católicos e o calendário litúrgico. Sua constituição se dá com novenas, a quebra de murta, às danças e o levantamento do mastro. 
 
 Vídeo de Drika Bourquim

Tempos outrora, os foliões do marabaixo entravam dançando na Igreja de São José de Macapá, e alguns rapazes subiam até a torre para tocar o sino, festivamente.  A foto mostra encontro em frente à igreja matriz (São José) em 1948. Foto do porta-retrato-ap.blogspot.com. Visite esse blog, faz um resgate importante da história e cultura do Amapá.
Houve um período de conflito entre representantes da igreja católica e do marabaixo. Misssionários de origem européia, com visão extremamente ortodoxa, não conheciam o catolicismo popular, onde o marabaixo se enquadrava. O marabaixo foi considerado como "macumba" e  visto como  um evento de batuque e bebedeira, com exploração de dinheiro (... e se vissem hoje os arraias juninos...). Alguns padres que pensavam assim foram o Pe. Júlio Maria Lombard  e Dom Aristides Pirova.  Combateram o marabaixo publicamente e não permitiam a entrada na igreja, causando revolta em alguns momentos. (Fonte: Modernidade e Marabaixo (breve ensaio) - Pe. Aldenor Benjamim dos Santos)
Só tempos depois o marabaixo foi reconhecido como elemento folclórico na sua essência.
O traje dos homens constava de uma camisa branca com bordados, calça branca, chapéu depalha enfeitado com fitas e sandálias de couro. Os trajes das mulheres era composto de camisa de renda, saia estampada toda rendada, anáguas, arranjos naturais na cabeça (flores) e calçadas com sandálias de couro.
Os principais aperitivos servidos durante o ritual principalmente, no batuque, são a gengibirra, a catuaba e a macura. Depois, veio o tradicional cozidão feito com muito caldo, carne desfiada, diversas verduras, frutas e legumes.
A participação é livre, sendo que qualquer pessoa pode participar espontaneamente ou a pedido dos festeiros.
 
Vídeo de Alípio Junior

Fonte:  
* Modernidade e Marabaixo (breve ensaio) - Pe. Aldenor Benjamim dos Santos
* Amapá, cultura, poesia e tradição (livro) - Maria Vilhena Lopes & Deisse Gemaque V. Andrade
* Youtube