As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

terça-feira, 24 de abril de 2018

Coleção Sítio do Picapau Amarelo - Monteiro Lobato 6

Gosto tanto do Sítio que me empolgo em querer registrar alguma coisa. Motivações não faltam, baseadas em leituras prazerosas na infância e também como incentivo para descobertas, que podem ser experiências positivas e instigantes, à luz de um acompanhamento pedagógico. Em parecer singelo, vamos conhecer mais dois livros dessa coleção.

Fábulas
O livro é de 1922 e a abordagem valoriza as fábulas, contadas por Dona Benta em gostosas narrativas para a turminha. Estão em torno de setenta, sendo a grande maioria de La Fontaine e Esopo, mas tem também da cachola de Dona Benta e da sabedoria popular. Ao final de cada, no estímulo almejado, a turminha se expressa no que entendeu, concordou ou não, manifestando seu agrado ou desagrado, estendendo a aprendizagens no convívio de sua realidade. São contadas em paralelo a torneirinha de asneiras da Emília (às vezes, refinada esperteza), pitacos científicos do Visconde, percepções ingênuas da Tia Nastácia e romantismo aventureiro e sonhador de Pedrinho e Narizinho.
A que mais gosto é a do Velho, o menino e a mulinha. Uma graça, cheia de ironia em relação a indefinições na vida.
É, mas as de maior impacto são as que exacerbam a injustiça ou opressão do forte sobre o fraco, tipo O Lobo e o Cordeiro, O julgamento da ovelha e Liga das nações. Essa e outras vão em um contexto político, que Lobato faz a turminha se deparar, refletir e manifestar o que pensa.
No final da leitura percebemos um aspecto interessante: de que algo já feito não esgota a possibilidade de explorações diferentes e legais. Não foi o que Lobato fez recontando histórias a seu modo para as crianças?

História do mundo para as crianças
Belíssima obra! Extraordinária pelas informações e detalhamentos em um passeio curioso pela história da humanidade, contada em serões de Dona Benta com a turminha. O autor fala de civilizações, personagens destacados, arte, ciência, política, modernidade, filosofia, religião e outros aspectos. Aquela dinâmica conhecida se repete, da turminha interagir com as informações.
Foi publicada em 1933, mas certamente foi retocada, por descrever fatos ocorridos na década seguinte, como a Segunda Guerra Mundial e a explosão da bomba atômica em Hiroshima.
Tem tanta coisa interessante, no sentido de descobertas e fomentar discussões, que teria despertado incômodo ao Estado Novo e a Igreja. Simplesmente por Dona Benta falar contra a opressão do povo, Lobato em certo momento expor simpatia ao antigo regime monárquico e a turminha discutir pontos relacionados à religiosidade, que tem sua dose polêmica, como as Cruzadas, a Inquisição, a ruptura no Cristianismo, massacres entre católicos e protestantes, além da valorização da teoria evolucionista de Darwin.
Outra coisa importante é que o autor novamente trouxe para a perspectiva dos picapaus algo já estabelecido no contexto de época: o livro Child's History of the World (História do mundo para crianças), publicado em 1924 pelo americano V. M. Hillyer, que rapidamente tinha se tornado importante obra da literatura infantil. Lobato não omite a inspiração e cita o livro no início, quando Dona Benta o recebeu pelo correio, ficou instigada e resolveu dividir esse saber com a garotada. Ah, mas garanto que tem muito marmanjo que vai se surpreender também com essa valorosa publicação.
Claro que tem o toque pessoal no olhar abrasileirado e, partindo ou não do autor, gostei dos sutis momentos de valorização a saberes em sua etimologia ou correlação com momento histórico. Como a origem de palavras como estoicismo (quando falou-se da Grécia antiga) ou protestante (no contexto abordado em que gerou-se essa denominação para reformadores na igreja).
A parte do Darwinismo (que não creio) é o pontapé inicial das histórias de Dona Benta e daí vamos avançando em diversos momentos da história da humanidade. Egito, Grécia, Israel, Mesopotâmia, Roma, Idade Média, Navegações, e só estou citando alguns...
Em resenhas anteriores lamentei a ausência e viajei em como seriam incursões de Lobato pela Literatura Bíblica. E não é que esse livro tem! Específicas em pelo menos dois capítulos (sobre a história dos Judeus, conforme o Antigo Testamento, e sobre Jesus Cristo nos Evangelhos). Provavelmente Lobato apenas reproduziu a obra de Hillyer, mas são suas as impressões na turminha, principalmente na reflexão sobre a história da cristandade. Senti o autor desiludido por conta do comportamento humano, parecendo esse aspecto o que o direcionou em sua visão sobre Deus. Os relatos bíblicos estão um tanto borocoxôs. O autor descreve contentando-se e dando atenção só para o elemento humano. A presença de Deus em suas ações não é valorizada. Só uma vez aparece a palavra Senhor. Bem se vê percepções e conclusões marcantes a partir da centralização do homem como norteador de vida. 
Falando em reações, os picapaus demonstram revolta contra as injustiças e empolgam-se com descobertas e aprendizagens. Passei a ter outra imagem sobre Narizinho. Emília, Pedrinho e Visconde parecem ver as coisas no que gostariam de vivenciar, só isso (pelo prazer da aventura, corrigir algo devido visão incômoda, testemunhar fatos importantes... tudo num plano com egocentrismo, sem ser ruim). Mas com Narizinho a coisa é diferente. A menina parece demonstrar percepção mais humanista, de ver as coisas num plano onde se insere e sofre com a injustiça, tendo um olhar mais abrangente, de valorização do outro e não essencialmente de sua vontade. O livro sugestiona isso em seu perfil. Em vários momentos a menina quase desmaia de revolta, passando mal, e Dona Benta tem que interromper a história para seu restabelecimento diante do impacto que sofrera. Aconteceu com as narrativas sobre o Nero (ao saber de suas perversidades), na descoberta da mitologia dos Fenícios (sobre o deus Moloque e Asterate, que recebiam sacrifícios de crianças - citados também na Bíblia), na história da escravidão (onde Lobato manifesta seu repúdio, referenciando como um cancro na humanidade), sobre Joana D'Arc e outros momentos. É dela que partem sempre as observações mais interessantes ao lado de Dona Benta.
Vou deixar em registro também o capítulo A era dos milagres, apenas por ter a primeira parte rotineiramente reproduzida em livros escolares (pelo menos no meu tempo de estudante).
O Lobato era adepto do comunismo? Não sei, mas tem capítulo em que parece criar uma expectativa com a Revolução Russa. O texto fala de dar tempo para ver resultados, se positivos ou não (Ora! Comunismo só oprimiu, roubou, torturou e matou, em todas as experiências mundo afora).
Enfim, uma viagem sensacional. Esse é clássico e uma experiência muito positiva e instigante na leitura.

Essas obras podem ser encontradas, em geral, nas Bibliotecas Públicas. Vale muito a leitura!
Em Macapá, estão disponíveis na
Biblioteca Pública Elcy Lacerda.
Quem sabe na Biblioteca de sua escola também...
Que tal, heim!

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Revista ICOMI Notícias Nº 14 (1965)

Edição de Fevereiro de 1965, destacando:
- Empresa adota símbolo: a história do famoso octógono que se tornou a logomarca da ICOMI, idealizado por Aloísio Magalhães.
- Aeromodelismo em Santana: Hildebrando Castelo Branco lançou a prática na Vila Amazonas.
- Ainda o Oiapoque: II reportagem sobre o Oiapoque, destacando povos indígenas em seu cotidiano. Um drama que ocorria era a presença da malária e sarampo. Entre os Palikunas o texto registra a morte de 64 pessoas em menos de 15 dias no ano de 1960. Outra referência que achei curiosa foi sobre as ciganas no rio Urucauá. É uma ave de beleza inusitada e em 2009, visitando essa região, tive uma das visões mais fantásticas nesse rio, quando navegamos no meio de aningais em que estavam às centenas pela manhã, em um espetáculo único e de rara beleza em seu voo quase de câmara lenta sobre nossas cabeças.
- IAA aprova usina de açúcar: a Comissão Executiva do Instituto do Açúcar e do Álcool havia homologado, no início deste mês, os primeiros projetos de novas usinas de açúcar para o país. Entre estes estavam um para o TFA e dois para o Estado do Pará.
- Os funcionários do mês: Walter James Mainard / Raimundo da Costa Leite - o "17".
- Escola de Civismo: sobre o Escotismo em Serra do Navio.
- ICOMI colabora com Censo Escolar.
- O craque do mês: Mário Miranda - "Piston" (jogador do Santana).


Imagens selecionadas da revista:

 Professor Aloísio Magalhães, autor do símbolo escolhido para a ICOMI.
 Um grupo de crianças de Vila Amazonas, dando mostras
de sua inclinação para a arte teatral.
Professora Eni Zanconti de Azambuja, que durante dois anos (1962-1963) pertenceu ao magistério da ICOMI no Amapá, ensinando às crianças da Escola Primária de Vila Amazonas.
 Solenidade de hasteamento da bandeira em Vila Santa Izabel (Oiapoque).
Vista do porto de Calçoene, município abordado nas edições 15 e 16.

domingo, 22 de abril de 2018

Curiaú: sua vida, sua história (Sebastião Menezes da Silva, 2001)

Mais uma do acervo da Biblioteca SEMA em Macapá. Obra sobre as origens do Curiaú, mostrando a história dos primeiros moradores, genealogia de algumas famílias e breve relato sobre pontos importantes (educação, costumes, lazer, causos, etc), finalizando-se em considerações sobre transformações e perda de identidade que o local vem sofrendo. Sebastião Menezes da Silva conta essa história em um resgate de tradições para que não sejam esquecidas pelas gerações. É um registro de memórias, de leitura rápida (apenas 34 páginas), com informações culturais em apresentação resumida sobre o Curiaú.


Francisco Inácio, escravo de um casal africano, descobriu o Curiaú há cerca de três séculos. Sebastião Menezes, com esta obra, redescobre a comunidade negra, deixando às novas gerações o registro da história, dos costumes, do folclore e das tradições que aos poucos estavam se perdendo com a modernidade.
É, sem dúvida nenhuma, um importante trabalho de pesquisa que deve ser utilizado pelas redes estadual, municipal e particular de ensino, que agora têm a seu dispor mais um capítulo da história do Estado do Amapá.
Em linguagem acessível, assimilada por qualquer pessoa que tenha a curiosidade de saber um pouco mais como surgiu o chamado quilombo amapaense, a obra impressiona pelos detalhes, o que mostra o tempo e a paciência que o autor dispôs para realizá-la. Sebastião Menezes, com muito tato e dinamismo, leva o leitor a um passeio pela comunidade do Curiaú.

(Joseli Dias - Prefácio)

DISPONÍVEL PARA CONSULTAS NA 
BIBLIOTECA PÚBLICA ELCY LACERDA
E BIBLIOTECA AMBIENTAL DA SEMA-AP.

sábado, 21 de abril de 2018

Revista ICOMI Notícias Nº 12

Edição publicada em Dezembro de 1964 com os seguintes destaques:
- Festejos de Natal em todos os setores.
- Divisão de Obras conserva e acrescenta: conservar o feito e construir o mais que for necessário.
- Repete-se com êxito a "Operação Férias Coletivas": segundo ano em que a empresa concede férias a mais de 800 funcionários nas vilas, das mais diversas categorias funcionais, ficando apenas os necessários à continuação de serviços essenciais tanto da parte operativa como das instalações sociais.
- A primeira criança nascida no Hospital de Serra do Navio.
- Funcionários do mês: Barnabé Bahia / Oswaldo Ildefonso dos Santos - "Malagueta".
- Dia do Mestre: as homenagens prestadas ao professorado de Vila Amazonas e Serra do Navio no dia 15 de outubro de 1964.
- Os primeiros passos para um grande empreendimento: sobre os preparativos para a construção e instalação da BRUMASA (Brunynzeel Madeiras S.A), planejada para a fabricação de compensados de madeira para o mercado nacional e para exportação.
- O craque do mês: Moacir Fernandes Pereira (Mussuim - jogador do Santana).


Imagens da edição:

A primeira criança nascida no Hospital de Serra do Navio
Dias após a inauguração do Hospital de SN, em Agosto de 1959, a senhora Maria Gomes de Araújo, esposa de José Gonçalves de Araújo, foi a primeira gestante a utilizar os serviços da maternidade, internando-se para dar à luz ao robusto pimpolho Hermelino. O nome, escolhido pelos pais do recém-nascido, representava uma homenagem ao então Chefe da Divisão de Saúde da Companhia no Amapá, Dr. Hermelino H. Gusmão, assim como os agradecimentos sinceros à excelente assistência que tivera a senhora Maria de Araújo.
O gerente da empresa naquela época, Dr. Daniel Sydentricker, autorizou à Contabilidade a abertura de uma caderneta no Banco da Lavoura, em favor do menino, tão logo chegou ao seu conhecimento o fato. Na foto, Hermelino com cinco anos de idade.
(Texto extraído da revista)
Número de canto pelas alunas Marina Helena, Suzana e Roane da Escola de Vila Amazonas, na festa realizada na sede social do Santana Clube em comemoração ao Dia das Crianças.
Divisão de Obras na construção de novo pavilhão na Escola de Vila Amazonas.
Motoniveladora e trator em operação à margem da Avenida Amazonas, nos preparativos para a instalação da BRUMASA.
 Cerimônia de Primeira Comunhão de crianças em Santana.
Indígenas da região do Oiapoque, abordagem para a próxima edição.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

A importância da Biblioteca Pública Estadual Elcy Lacerda - 73 anos em Macapá (Texto de Paulo Tarso)

Uma das instituições educacionais e culturais mais tradicionais do Amapá completa 73 anos de existência. Afinal, são mais de sete décadas de funcionamento contínuo. Nela já atuaram, como gestores, nomes importantes da educação e da cultura do nosso Estado (Lauro Chaves, Aracy de Mont’Alverne, Ângela Nunes, dentre outros), pessoas que deixaram sua marca e que hoje são relembradas pelo muito que contribuíram com várias gerações de alunos que passaram pela Biblioteca, seja fazendo pesquisa ou lendo obras literárias, biográficas, ensaios, manuseando jornais, revistas e outras publicações.


Fundada em 20 de abril de 1945, desde então a Biblioteca vem cumprindo seu papel como entidade que abriga um valioso acervo responsável pela formação educacional de milhares de pessoas e de suporte à pesquisa. Aberta das 8h às 18h, de segunda a sexta-feira, sempre recebeu os estudantes e a comunidade com muita atenção. Seus funcionários, a maioria oriundos da SEED, têm experiência e treinamento para orientar, apoiar e encaminhar todos os usuários aos locais mais adequados a cada tipo de pesquisa que se faz necessário, da mais simples à mais complexa.
Atualmente, em pleno século XXI, a Biblioteca está cada vez mais sintonizada com as demandas da modernidade, sendo um dos points mais frequentados por escolas, entidades culturais e educacionais, associações, Academia de Letras, professores em busca de mestrado e doutorado e alunos de todos os níveis que  encontram o espaço adequado para suprir as suas necessidades num mundo em que o conhecimento e a pesquisa ocupam cada vez mais um lugar relevante.

Biblioteca Elcy Lacerda ao lado da Igreja de São José (Foto: Rogério Castelo)

A Biblioteca conta com um acervo de aproximadamente 60 mil itens, entre livros, CDs, DVDs, revistas, panfletos, jornais (inclusive os primeiros jornais que circularam no Amapá, desde 1895 – no caso o Pinsônia) e os seguintes espaços: Sala Amapaense (livros e documentos com assuntos e temáticas do Amapá e da Amazônia); Sala Afro-indígena; Sala do Ensino Médio e Superior (que serve também como local de estudos e pesquisas); Sala Circulante (com obras literárias nacionais e estrangeiras disponíveis para leitura e empréstimo domiciliar); Sala de Artes; Sala Infanto-juvenil (que conta com o Grupo de Contadores de Histórias) e duas Salas com Jornais e Periódicos (com destaque para a Sala de Obras Raras); uma Sala de Braille e a Reserva Técnica (onde os livros são recebidos e distribuídos às salas).
A Biblioteca Estadual Elcy Lacerda é um espaço aberto, dinâmico, efervescente, muito democrático e o mais representativo das ações educacionais e culturais do Amapá. Seu atual gerente é o professor e escritor José Queiroz Pastana, que pela segunda vez ocupa o cargo.
(Texto: Paulo Tarso Barros, escritor, editor do blog Literatura no Amapá, professor e funcionário há 14 anos da Biblioteca)

Parabéns! Quem ganha é o povo amapaense!

Mais informações da Biblioteca Pública Elcy Lacerda em:

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Revista ICOMI Notícias Nº 11 (1964)

Edição de Novembro de 1964. Destaques para:
- Um hotel sobre rodas na mata: reportagem sobre o "Trem de Acampamento", uma unidade que alojava a equipe do 2º Distrito Ferroviário, composta de 40 homens encarregados de manter em boas condições de tráfego o trecho entre Porto Platon e Serra do Navio (cerca de 90 km).
- Embaixador Gordon no TFA: sobre a passagem do embaixador dos EUA, Professor Lincoln Gordon.
- Os segredos da manutenção - dia e noite em atividade para manter equipamento em forma: abordagem sobre o Departamento de Manutenção nos setores que compreendem o complexo industrial da ICOMI.
- Desenvolvimento do Amapá: sobre a criação do IRDA (Instituto Regional de Desenvolvimento do Amapá).
- ESG renova visita: sobre a visita de turma da Escola Superior de Guerra na ICOMI.
- Funcionários do mês: Antônio Gomes de Souza / Paulo da Costa Reis.
- O craque do mês: Jonathas Lopes Soeiro de Souza (jogador do MEC).


Imagens da revista:

O pessoal vai ao trabalho. Na foto à esquerda, a partida pela manhã para os diferentes trechos da Via Permanente, onde cada grupo tem sua tarefa a desempenhar. À direita, jantar no restaurante do "Trem do Acampamento". O Almoço era servido no local de trabalho.
Aproveitando parada normal, entra em ação a turma do abastecimento, lubrificação e manutenção no campo.
Desfile de vestidos de noiva no Aero Clube de Macapá em 1964. A partir da esquerda: Ivany Lima, Maria Zagalo, Graça Viana e Altair Coutinho.
Igreja Católica em Serra do Navio.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Coleção Sítio do Picapau Amarelo - Monteiro Lobato 5

Opa! Não é hoje o Dia Nacional do Livro Infantil? Sim, sim, em homenagem ao nascimento de Monteiro Lobato, quem começou a dar atenção especial a este segmento no nosso país. Vou deixar em registro algumas resenhas sobre a fabulosa coleção do Sítio do Picapau Amarelo. É uma lembrança, e apenas isso, sobre obras que precisam ser redescobertas pelas turminhas, seja no meu Amapá ou outro canto qualquer do Brasil.

O Picapau Amarelo (1939)
Sabe aquele filme do Shrek, em que seu pântano é invadido por personagens fabulosos a convite do Burro? É o que acontece neste livro, quando o Pequeno Polegar leva a mesma turma para morar no Sítio. Ah, pelo menos pediu autorização para Dona Benta, né! 
Aleatoriamente acabei acertando algo. O livro se passa depois do Poço do Visconde, minha última leitura da série, quando ficaram ricos com o petróleo e aproveitaram a bufunfa para comprar terras nas cercanias. E esse é o primeiro destaque, por conta da engenhosidade da Emília para comprar a terra dos vizinhos. Sagaz, a maluquinha! Só lendo para entender...
Daí em diante temos uma série de pequenas aventuras na interação da galerinha com personagens das Fábulas. Histórias curiosas, inusitadas e divertidas, abrangendo também famosos da Mitologia Grega e Literatura Universal.
Vale os registros do Dom Quixote e suas alucinações com o mago Fresnom; a narrativa de Belerofonte sobre o embate com a Quimera; a turma do Sítio enfrentando terríveis piratas liderados pelo Capitão Gancho; e a gula do Sancho Pança (pau a pau com a do Rabicó). Opa! E tem mais coisas ainda para diversão na leitura.
Lobato novamente valorizou as fábulas e mitologia em apresentação do tema para tenros leitores, naquela dinâmica de conhecer e brincar com as descobertas. Para o autor, não basta expor, é interessante também uma intimidade interativa. 
Tem coisa que não curti e vou registrar. No início da obra há uma abordagem sobre mitos e ficção, onde o autor subtende seu ateísmo. É só uma observação de minha parte, que ajuda a pontuar o que conheço sobre o Lobato. E vamos em frente que acabou não, moçada! Tem mais aventura ainda...
As histórias continuam em plano curioso de liberdades surreais. Entre elas:
- Capitão Gancho perde o Hiena do Mares para a turminha, que o reforma como o Beija-Flor das Ondas. Eita! O pirata tenta revidar com a ajuda de valentões que conhecera na venda do turco Elias, e vão por aí as maluquices...
- Tia Nastácia apaixonada! Ah, só não se explica pelo que, evidenciando-se a paixão como um sentimento de êxtase. O fato resultou de artimanha da Emília com flechas do Cupido.
- O casamento de Branca de Neve com o Príncipe Codadade, e nova visita de crianças, ávidas por conhecer a turminha.
Termina com um mistério, o desaparecimento de Tia Nastácia, mas isso é assunto para o próximo livro: O Minotauro.
É a essência da obra, passando a percepção de descobertas e interação curiosa com o mundo da leitura.

O Minotauro (1939) 
Conheci essa obra através da antológica série do Sítio do Picapau Amarelo versão anos 70. A percepção era de uma história de terror, assustadora para a garotada em cada aparição do monstro que, mesmo com uma figura super tosca, dava um medão por conta do suspense potencializado em perseguições no famoso labirinto, imagens obscuras e trilha sonora cabulosa, genial neste quesito. Curioso que na versão do segundo milênio, que também acompanhei, a história não teve o mesmo impacto.
Comparativamente ao livro há algumas diferenças e a principal é o foco. No seriado o Minotauro era o principal personagem no desenrolar da história, e no livro o destaque maior é a Grécia, em uma viagem de descobertas e curiosidades.
Os Picapaus (designação que Lobato dava para a turma do Sítio) embarcam no Beija-Flor das Ondas (o navio confiscado e reformado do Capitão Gancho) para resgatar Tia Nastácia, que fora raptada na festa de casamento do Príncipe Codadade com Branca de Neve, quando houve a invasão de monstros das fábulas em episódio descrito no livro anterior (O Picapau Amarelo).
Quem gosta dessa obra certamente manifesta algum interesse na visão da Grécia antiga, porque a maior parte (cerca de 90%) trata disso, em aspectos históricos e mitológicos.
A parte específica sobre o Minotauro, para quem tem a imagem construída pelo seriado, desaponta um pouco. Além de rápida, não enfatiza a questão do terror. É bem assim... Será que conto? Nããããão! Leia o livro. 
Particularmente, gostei mais da parte histórica, expressa no encontro da turma com personagens famosos, como Péricles, Fídias, Sócrates e Sófocles (respectivamente, destacados como estadista, escultor, filósofo e dramaturgo). Esse desenrolar tem o protagonismo de Dona Benta, que dá show em curiosidades para o leitor.
Há questões interessantes, tipo, a cultura grega ter influenciado o desenvolvimento da modernidade. Essa importância Lobato destacou para os tenros leitores.
Olha que sensacional! Em certo momento de diálogo com Péricles (famoso pela liderança e oratória), o estadista fala de liberdade como uma das coisas de maior valorização entre os gregos. O povo é livre para suas escolhas. A sagaz Dona Benta observou então que muito do conceito de liberdade expressa na vontade do povo resulta da capacidade de manipulação de seus líderes. O que seria a vontade do povo, muitas vezes é consequência daquilo a que está sugestionado, reproduzindo, no final das contas, o interesse dos líderes. Povo livre, manobrado para algo que subtende interesses escusos. Mas rapaz! É exatamente o que vemos hoje, onde está escancarada a tal democracia em nosso Congresso como um grupo fechado de corruptos manipulando as coisas a seu favor, fingindo que encarnam a vontade do povo. Não é o que esses mafiosos estão fazendo? E o que os interesses de certos líderes manobraram para que fosse deflagrado no mesmo ano de publicação desse livro?
A velhinha (falo com carinho) embala o conceito de liberdade, também, chamando a atenção para o sistema de escravidão que existia naquele povo, desmistificando o que eles atribuíam como sociedade perfeita.
E por aí vão os encontros, com direito a momentos um tanto hilários, na admiração dos gregos pelos milagres de nossa modernidade, como uma simples caixa de fósforos, quando existia uma lenda hiperdramática de como o fogo chegou aos homens.
Há reflexões sobre a profundidade do conhecimento, sobre a valorização das artes, sobre o progresso aflorar em aspectos miraculosos e em paralelo ocorrer a degeneração de certas coisas... No plano prático, se exemplifica numa conquista da Ciência e uso aterrador, para a maldade.
Enfim, gostei e me diverti bastante com essa parte. Ah, e tem certas curiosidades desconhecidas. Não sabia que Péricles tinha uma anomalia na cabeça, que fazia com que fosse alongada e por isso suas reproduções (pintura e escultura) o mostravam sempre com um elmo. Pesquisa aí no Google Imagens se duvidar.
A parte da mitologia é protagonizada pelo Pedrinho, em interação aventureira. O destaque desse momento vai para história de Hércules, mas Lobato dá só um gostinho no tema, pois isso será tratado em outra obra. Não gostei muito dessa parte e preferia que o protagonismo fosse encabeçado pela Emília em suas mirabolantes curiosidades e posicionamentos. Seria mais legal!
Estranhei o Lobato não ter dado destaque para Visconde, que quase não gastou seu conhecimento. Ficou na sombra de Dona Benta. Melhor assim, porque a velhinha é mais sagaz e o Visconde manobrável demais. Pergunta para a Emília se não... 
Essa é a obra. Olha o que Lobato contava para as crianças!
Devaneando um pouco, fugindo do contexto do livro, ainda fico imaginando como seria extraordinária uma viagem que o autor fizesse com os Picapaus pela Literatura Bíblica. Eita! Mas o homem tinha outra escolha de vida...
Gostei bastante da leitura e vou atrás da adaptação em quadrinhos.

Legal que podemos encontrar essas obras na maioria das bibliotecas públicas. Assim acontece em Macapá com a nossa Biblioteca Elcy Lacerda.  Visite e descubra as fabulosas criações de Monteiro Lobato.

terça-feira, 17 de abril de 2018

Revista ICOMI Notícias Nº 09 (1964)

A edição foi publicada em Setembro de 1964. Destaques para:
- Amapá - 21 anos: artigo de J. S. Marinho Nunes.
- Entusiasmo "Bandeirante": o ingresso da juventude.
- Clubes são ponto alto: Santana e Manganês são centros onde floresce vida social.
- Porto em destaque: operação inédita e recordes no TFA.
- Personalidade mundial em saúde pública propõe intercâmbio: Prof. Timothy D. Baker, da Escola de Higiene e Saúde Pública da Universidade de Johns Hopkins (Baltimore - EUA), universalmente reputada no campo de Medicina.
- Funcionários do mês: Benedito Arcângelo dos Santos - "Prezado" / Nadir Leite da Fonseca
- A craque do mês: Maria Galiléia da Silva Lino (jogadora de voleibol).

Imagens da revista

Bandeirantes de Serra do Navio visitando o Porto de Santana, em uma de suas excursões ao outro extremo de nossas instalações industriais. A confraternização entre as jovens é um dos aspectos mais salientes da benéfica prática do bandeirantismo, o que se verifica no Amapá com elogiável intensidade.
Numerosos clubes internos disputam campeonatos organizados pelo SEC e MEC, em campos como o que vemos na foto, dotados de todas as condições para a prática do futebol, incluindo iluminação para pelejas noturnas.
Chegada do Papai Noel em Serra do Navio.
Cartazes usados em campanha de promoção da saúde em Serra do Navio e Vila Amazonas. A campanha era coordenada pela Divisão da Saúde e usava a figura do Zé Latadelixo com slogans educativos, ilustrados pelo artista José Luiz da Silva Pereira.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Imagens de Serra do Navio nos tempos da ICOMI no TFA (Vídeo de Harife Viégas, 2018)




Olha que legal! Um vídeo com fotos antigas de Serra do Navio, elaborado por Harife Viégascom bela trilha sonora e as seguintes informações:

- A Vila de Serra do Navio foi construída como uma company town (cidade da empresa) pela ICOMI (Indústria e Comércio de Minérios) no antigo Território Federal do Amapá (T.F.A.) entre os anos de 1956 e 1961.
- Projetada por Oswaldo Arthur Bratke, o traçado das vias respeitou a topografia do terreno e as construções adaptaram a arquitetura moderna brasileira às condições climáticas da floresta amazônica.
- Em 1988 o Amapá foi elevado à categoria de Estado, Serra do Navio tornou-se município em 1992 e a ICOMI encerrou suas operações de mineração no Amapá em 1997.

Oche! Lembrar da querida Serra do Navio, em seus áureos tempos, embalando a nostalgia em cenas do cotidiano com essa música (Percy Faith - Theme from A Summer Place)... Não, me mata logo do coração!