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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Escravos em Macapá: africanos redesenhando a Vila de São José, 1840-1856 (Verônica Xavier Luna)

Aconteceu no dia 08/12/2011 o lançamento de mais um livro em Macapá: "Escravos em Macapá: africanos redesenhando a Vila de São José, 1840-1856" da professora Verônica Xavier Luna.
"Este trabalho tem como propósito pensar a dinâmica histórica da Vila de São José de Macapá no sentido de entender em que circunstâncias os trabalhadores africanos chegaram a essa localidade e como passaram a compor o espaço social da Vila de São José de Macapá. Utilizando-se de um recorte temporal delimitado, 1840 a 1856, é justificado pela autora em razão da ocupação dessa região por trabalhadores africanos fugitivos de diversas localidades do Grão-Pará, do Maranhão e da Guiana Francesa para a região do Amapá, na qual foi erigida a Vila de Macapá. Fugidos dos ditames do poder escravocrata, da Cabanagem e da reescravização imposta aos cativos participantes desta manifestação popular após o período de restauração política do poder governamental das elites da Província do Pará. 
A obra permitirá aos leitores uma incursão à cultura afrodescendente na cidade de Macapá.
Demonstra a necessidade de conhecer o passado destes sujeitos sociais a partir da realidade espacial da cidade, que além de apresentar uma população descendente de africanos, possui emblemas que valorizam suas práticas deixadas ao longo do tempo em cada canto do Estado do Amapá. Partindo desse reconhecimento que a história da etnia africana deixou marcada pela sua vivência, a autora registra como os trabalhadores africanos produziram esse espaço urbano da Vila de Macapá e adquiriram reconhecimento, se fazendo presente no seu porvir. E assim, Verônica Luna, vai reconstruindo com uma visão crítica a Vila de Macapá a partir dos sentidos atribuídos a ela pelos trabalhadores africanos. "
(Vanda Soares - prefácio da obra)
Verônica Xavier Luna cursou Licenciatura Plena em História na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). É especialista em História do Nordeste pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Concluiu Mestrado em História do Brasil pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Criou o Núcleo de Estudos e Pesquisas Arqueológicas do Amapá (CEPAP/UNIFAP), como também o Núcleo de Memória Histórica do Amapá (NUMEHAP/UNIFAP). Atualmente leciona as disciplinas: História da América Latina, Teoria da História e História da Amazônia, na UNIFAP.

 O evento ocorreu no Centro Franco-Amapaense e contou com a presença de professores, acadêmicos e estudiosos da área.
Professora Cecília Bastos, o Reitor José Carlos Tavares e a autora Verônica Luna, na apresentação da obra.
Ficha do livro
Título: Escravos em Macapá: africanos redesenhando a Vila de São José, 1840-1856
Autora: Verônica Xavier Luna
Editora: Sal da Terra
Ano: 2011
Páginas: 200 
ISBN: 978-85-8043-113-1
Tema: Amapá, História, Escravidão, Estudo urbano, Século XIX
SUMÁRIO

REGIÃO DO MACAPÁ: DESEJOS INCONTIDOS
- A Vila de São José de Macapá: Seu Existir
- Corpos Africanos são evocados a ser "Negros Escravos"
- As multiplicidades de papéis sociais

MINHA VIDA, MEUS CORPOS, MEUS CAMINHOS TORTOS
- Outros corpos escravos no Macapá
- Vilas no Amapá: mais corpos escravos

ENTRE O PORTEAU E O VOLANTE: AFRICANOS REDESENHANDO A VILA S. J. DE MACAPÁ
- As sociabilidades africanas na Festa do Rosário
- As ocasiões para ocupar a Vila de Macapá

Finalizando como papagaio de pirata.

Nota de 13/01/2016 - Registro no SKOOB

A cultura negra é significativamente presente no Amapá nas mais representativas manifestações (como o Marabaixo, Batuque e Festa de São Tiago) e historicamente foi fundamental para o estabelecimento da terra e identidade amapaense.
O livro traz uma abordagem histórica limitada pela autora entre os anos de 1840 a 1856, em exemplo dessa influência e representatividade. O período foi marcado por intensa migração de fugitivos da escravatura e desertores do recente movimento da Cabanagem no Grão-Pará (1835-1840); pelo estabelecimento de Macapá como cidade (em 1856) e pela abolição da escravatura na Guiana Francesa (em 1848). Condicionantes de muitas migrações para as terras do Contestado Franco-Brasileiro.
Outros aspectos determinantes na presença e influência afro foram também apresentados, como fatores influenciáveis ao recorte temporal apresentado na obra:
- A formação de Macapá como vila (1752): fato relevante por ser esta a quarta vila fundada no Grão-Pará (que tinha apenas Belém como cidade e as vilas de Cametá, Gurupá e Vigia).
- A construção da Fortaleza de São José de Macapá (1764-1782): realizou-se de maneira faraônica no contexto da vila, ocorrendo uma política arbitrária que requereu e consumiu trabalhadores e suprimentos de várias regiões. Mais de dois mil escravos foram utilizados, sendo o período marcado também por muitas fugas e estabelecimento de mocambos principalmente na região do Araguari.
- Formação da vila de Santana (1753): grande relevância no suprimento de Macapá.
- Formação da vila de Mazagão (1770): marco na política de povoamento das terras do Norte estabelecida pelo Marquês de Pombal, com parte da população vinda da Mazagão africana e um número grande de afrodescendentes, que assumiram a identidade da região posteriormente.
Nesse contexto, vemos histórias da população negra se estabelecendo, citando-se os jogos de interesses diversos entre mocambos, capitães do mato e autoridades governamentais. 
A obra que deu origem a esse livro tem um curioso subtítulo "Entre o porteau e o volante", que faz referência ao movimento de equilíbrio de malabarista. Algo presente na história da população afrodescendente  em seu estabelecimento no Amapá.
É um livro revelador e valoroso de História do Amapá, resultante da pesquisa de mestrado da professora Verônica Xavier Luna, apresentada na UFPI em 2009.
 
Mais uma publicação importante sobre a História do Amapá. Gostei bastante e pode ser consultada nas principais bibliotecas em Macapá, como a Biblioteca Ambiental da SEMA e Biblioteca Pública Elcy Lacerda.