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quinta-feira, 7 de março de 2019

Índios e Explorações Geográficas (Boanerges Lopes de Sousa, 1955)


Título: Índios e Explorações Geográficas
Autor Boanerges Lopes de Sousa (Marechal)
Editora: Ministério da Agricultura - Conselho Nacional de Proteção aos Índios
Ano: 1955 (1ª edição)
Páginas: 178

O livro tem relatórios de viagens realizadas pelo Marechal Boanerges Lopes de Sousa, colaborador de Rondon, com estudos geográficos na década de 1920. 
Está dividido em 4 partes:

1ª Parte - "Explorações Geográficas na Região do Alto Rio Negro" - contribuição para o 9º Congresso de Geografia, realizado em 1942.

2ª Parte - "Uma viagem ao Oiapoque" - tema de uma conferência em que Boanerges conduz o leitor do porto de Belém (Pará) até o de Clevelândia, no Rio Oiapoque, proporcionando-nos excelentes informações do contexto de época.

3ª Parte - Constituída por palestras e conferências em que o autor aborda aspectos concernentes à proteção e assistência a povos indígenas. 

4ª Parte - Exposição sucinta de trabalhos da Comissão Rondon no Sul de Mato Grosso, na construção de linhas telegráficas. E uma homenagem ao Marechal Rondon pela Sociedade Brasileira de Telecomunicações, em 1954.

Veja AQUI o Sumário completo da obra.

Na parte referente ao Amapá (página 78 à 120), apresentada em Conferência realizada em 23/11/1942 pelo Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, extraí algumas imagens e texto interessantes.

No desembarque em Macapá, as carroças cooperam no transporte dos passageiros.
"...Chegada a Macapá... O navio ficou à distância. O porto é pior que o de 'Chaves'. A praia é extensa e rasa, de leito coberto de lama endurecida. Para o desembarque, recorre-se ao serviço de carroças, puxadas por muares; estas se adentram pelo mar, ao encontro das canoas, para receber os passageiros e as bagagens.
É um espetáculo interessante e um tanto cômico esta baldeação das canoas para as carroças e o acesso ao ponto de desembarque. Poder-se-ia evita-la construindo um trapiche para atracação dos vapores, mas isso demanda estudos especiais, porque são fortes os ventos que sopram do norte e a ação demolidora do mar, acossado pelo vento, faz a costa recuar, dia a dia, o que é agravado pelo fluxo e refluxo das marés. A cidade bicentenária já perdeu algumas ruas, recuando cerca de quatrocentos metros para o interior. Entre os edifícios que desapareceram com o efeito da erosão, cita-se o Hospital Militar da antiga guarnição."
Pedra do Guindaste.
"Uma testemunha da costa de outrora é a 'Pedra do Guindaste', um bloco de argila tão endurecido que ali permanece cerca de 500 metros afastado do cais de proteção contra a ação hidro eólica. Contam que foi ali que os portugueses desembarcaram para construir a Fortaleza."
O 'Cassiporé' atracado no pátio de Santo Antônio ou Vila Oiapoque... 
Na outra margem, a Vila 'Saint George'.
"... O 'Cassiporé' lançou ferros no porto da Vila Oiapoque, também conhecida por 'Demonti' ou 'Ponta dos Índios', seu primitivo nome. É o primeiro povoado brasileiro da fronteira e nele o Governo instalou um Posto Fiscal e o Estado do Pará, uma Coletoria...
... Em frente à povoação, está situada a Vila Saint George, de aspecto bizarro, com algumas casas em estilo chinês, cobertas de zinco umas, de palha outras e onde se agita uma população de cerca de 600 almas, de crioulos e de mestiços de franceses... O comércio é ativo e muito procurado pelos viajantes brasileiros. Saint George é servido por dois vapores que fazem viagens quinzenais diretas para Caiena, no Atlântico."
O porto de desembarque em Clevelândia.
"Afinal, Clevelândia à vista!
... Cleveland ou Clevelândia foi fundada em 1922, no governo de Epitácio Pessoa, com o objetivo de fixar as populações do baixo Oiapoque, criando e incrementando naquela região privilegiada para agricultura os produtos da lavoura e mesmo da pecuária. Destinava-se a abastecer a região e a prover o Destacamento Militar da Fronteira...
O hospital de Clevelândia.
"Clevelândia... Dispunha de uma estação de rádio, de excelentes casas para a administração e escritórios, de uma escola e de várias casas para seus funcionários. Possui ainda um ótimo hospital, que, no momento, não agasalhava um só doente, e de uma hospedaria para imigrantes...
...Tudo havia sido previsto para o desenvolvimento da Colônia... As terras foram loteadas e teriam produzido e fomentado a riqueza desejada se a fatalidade não houvesse conspirado contra os seus destinos e a falta de firmeza e de tenacidade da administração pública não lhe tivesse paralisado a vida."
Esquema do Itinerário de Inspeção da Fronteira (1927)
Boanerges Lopes de Sousa foi um dos eficientes colaboradores de Rondon, servindo na Comissão de Linhas Telegráficas de Mato Grosso ao Amazonas (Comissão Rondon) no período de 1910 a 1922; foi chefe de Estado Maior do Marechal Rondon na Inspeção de Fronteiras (Comissão organizada no governo do Presidente Washington Luiz); e entre outras atribuições, também foi Presidente do Conselho Supremo de Justiça Militar e integrou o Conselho Nacional de Proteção aos Índios, do qual, durante 9 anos, foi um dos mais estudiosos e dedicados membros. Os trabalhos que apresentou no decorrer do longo período que serviu sob a chefia de Rondon estão consubstanciados em minuciosos relatórios contendo valiosa documentação ilustrada com mapas, fotografias e dados estatísticos, os quais merecem ser divulgados.

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