As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A verdadeira história do Bar Caboclo

Vendo velhos recortes de jornais, encontrei uma reportagem sobre o Bar Caboclo. Sabe-se que se tornou histórico em uma Macapá de outros tempos (década de 60), com suas histórias e boêmia, inspirando também a mais conhecida peça teatral no Amapá.  
Era freqüentado por caboclos vindos das ilhas do Pará e por trabalhadores da ICOMI e da Usina Coracy Nunes. Os estilos musicais em voga na época eram o bolero, samba e merengue. As mulheres mais famosas eram: Maria Batelão, Quinta Feira, Cinco Mil , Vadoca, entre outras.  
Num resgate da história, posto a matéria na íntegra. A data precisa não deu para indentificar, mas foi publicada pelo Jornal Folha do Amapá, em 1995. O texto é assinado por Cláudio Mendes e a resenha sobre a peça teatral é de Archibaldo Antunes
O jornal foi consultado na Biblioteca Municipal de Macapá.

A VERDADEIRA HISTÓRIA DO BAR CABOCLO

Bar Caboclo:
inauguração de
seu segundo endereço
Bastou apenas a decisão de um comerciante para que uma história de mais de quatro décadas chegasse ao fim e deixasse estampada a tristeza no rosto de seus protagonistas. O popular Bar do Chico, localizado na esquina da rua São José com a avenida Mendonça Júnior, foi demolido na última semana para dar lugar a uma edificação moderna. Com isso, o que restava da memória viva do velho Bar Caboclo deixa de existir e a esquina da boemia passa a ser a esquina da saudade.
Local de mulheres extrovertidas e homens valentes, o Bar do Chico era o único sobrado de madeira no centro comercial da cidade que vinha resistindo ao progresso. O ambiente era movimentado de domingo a domingo e no período de pagamento a freguesia aumentava. Todos sabiam que naquele velho sobrado a profissão mais antiga do mundo ainda podia ser exercitada à moda antiga.
Como nos velhos tempos em que se usava o palavreado “cabelo, barba e bigode” para deixar subtendido que as prostitutas topavam tudo com o freguês. Resumindo, o Bar do Chico era, de fato, resquício do Bar Caboclo, cuja história ninguém conta melhor que seu próprio fundador, Abrão Serrão de castro. Hoje, aos 73 anos de idade (Jornal de 1995), ele relata o quanto foi importante para ele aqueles anos boêmios.
Bar Caboclo: inauguração de seu segundo endereço
O INÍCIO DA HISTÓRIA

No final dos anos 40, um homem vindo da cidade de Mazagão Velho resolveu montar um negócio. Comprou a área onde funciona atualmente a sede do Sindicato dos Bancários e lá montou uma venda, construída em madeira. Um ponto comercial simples, porém, bem equipado. Lá tinha confecções, picolé, sorvete, produtos alimentícios, suco, refrigerante, aguardente e um nome sugestivo: Bar caboclo. Abrão havia despertado a atenção do povo de uma simples cidade onde quase não havia entretenimento e tudo era novidade.
O bar ficava em área alagada, onde pontes de madeira serviam como passarela para o vai-e-vem dos dias e das noites. O novo ponto comercial da cidade foi visto como uma mina de ouro por mulheres que sobreviviam da prostituição. Não havia local melhor na cidade para se conseguir fregueses. Ali próximo atracavam todas as embarcações que chegavam à Macapá trazendo caboclos ribeirinhos e também marinheiros estrangeiros que ao desembarcarem faziam logo procuração pelo bar.
De acordo com Abrão, o Bar Caboclo nunca serviu como pista de dança e muito menos chegou a ser hospedaria de prostitutas. Segundo ele, o que não faltava eram quartos naquelas imediações para que elas desenvolvessem suas atividades.
“Eram apenas minhas freguesas. Me davam certo problema porque afastavam outro tipo de freguesia. Mas não poderia proibi-las de entrar no bar, mesmo porque elas também me davam lucro”, conta pensativo.
O proprietário do bar tinha lucro com as prostitutas porque quando um freguês se engraçava com alguma delas não tinha pena de esbanjar dinheiro. Abrão cita um costume das freqüentadoras de seu bar: “Adoravam pedir para os caboclos pagarem cerveja para elas e me diziam no ouvido para eu esquecer a bebida e entregá-las o dinheiro mais tarde. Nunca gostei disso”.
Quando os marinheiros não tinham dinheiro para pagar o serviço de bar e o serviço das mulheres, sempre deixavam jóias para cobrir a dívida. Abrão exibe até hoje um anel que recebeu de um gringo (jornal de 1995). Quanto aos caboclos, esses, quando não tinham dinheiro para cobrir suas despesas, o dono do bar até que aceitava um pagamento posterior. Mas com as prostitutas não tinha acordo. A pancada comia e a Guarda Territorial entrava em ação. 
O bar enfrentava outros problemas. Macapá era abastecida de energia das 22h até às 6 da manhã. Por determinação da Guarda Territorial o ponto poderia funcionar apenas até a meia-noite. “Era a época em que tínhamos como Governador Evanhoer Gonçalves e havia um delegado de polícia chamado Isnar Leão que não dava mole. Ninguém ficava fora de casa depois da meia-noite”, enfatiza Abrão.

UM NOVO BAR


O ponto comercial de Abrão deu certo e em três anos ele inaugurou um outro bar, todo em alvenaria, muito mais equipado e pintado em cor rosa. No seu interior tinha uma gravura, de um casal de índios, feita pelo pintor Herivelto. Era um prédio, segundo Abrão, bastante chamativo. Havia poucos como aquele na cidade. O empreendimento mudou de cara e de local, mas o nome permaneceu o mesmo.
Agora o bar caboclo passava a funcionar onde está localizada atualmente uma loja de discos. A freguesia aumentava mais ainda. Em menos de uma hora de funcionamento o comerciante conseguia vender quase quatro grades de cerveja. O bar já era freqüentado até por p3essoas consideradas da “alta”, mas alguns homens não admitiam que suas mulheres pisassem no local. Há um antigo comentário de que um radialista da Rádio Difusora de Macapá chegou a ir buscar sua esposa aos tapas na porta do bar. Ali também era considerado o ponto da fofoca. Depois de alguns copos de cerveja, os homens costumavam fazer comentários sobre os casos de adultérios da cidade. Outro assunto de mesa de bar era virgindade. Todos pareciam saber quais as garotas que eram e as que não eram virgens.
Com o passar dos anos foram aparecendo outros estabelecimentos comerciais na cidade como as boates Merengue e Suerda. Como tudo o que aparecia em Macapá era novidade, essas casas chegaram a roubar a freguesia do Bar Caboclo. A Suerda funcionava como prostíbulo e suas prostitutas tinham fama de ser bonitas. Muitas vinham de outros estados para disputar o mercado com as amapaenses do Bar Caboclo. Mas essa concorrência não foi fato para prejudicar o sucesso do ponto comercial de Abrão. As freqüentadoras do bar caboclo não inflacionavam o preço de seus serviços e recuperavam seus fregueses.
Seria um erro falar sobre o ponto comercial de Abrão sem citar que o bar era uma espécie de reduto dos literatos e jornalistas da época. Muitos deles não iam para o bar com intenção de pegar uma prostituta e levar para um quarto. A movimentação de ir para a cama com alguma prostituta, as brigas, o comportamento de quem olhava o movimento de fora, a fofoca, enfim os intelectuais sabiam que estavam freqüentando um ambiente que ia entrar para a história do Amapá.
O poeta Isnar Lima declarou, em um artigo que escreveu para um jornal de Macapá, que foi no Bar caboclo que foi acometido de sífilis pela primeira vez. 

Apesar da fama, o local tinha um comércio diversificado.

O FIM DO BAR 


Abrão diz que com o aparecimento do Plano Cruzado ficou sem condições de trabalhar devido a crise financeira.

“A crise me pegou de jeito e tive que fechar o negócio”, lamenta. O velho Bar Caboblo foi alugado então ao comerciante Edivar Juarez que lá montou a loja Discão Sucesso. Foram anos de trabalho insuficientes para dar a Abrão a vida de homem rico. A história do bar Caboclo hoje é enredo de peça teatral. O que não é de agrado daquele que foi proprietário do bar. “Ninguém veio me procurar para saber da história. Tudo foi desvirtuado e é compreendido como fato verídico. Isso não poderia ter acontecido”, enfatiza.

Atualmente Abrão reside na avenida Iracema carvão Nunes, em frente a caixa Econômica (jornal de 1995). Divide uma casa simples com uma filha de criação e a esposa, Mirian Fonseca de Castro, que trabalhou também no bar, ao lado do marido, e hoje vive em uma cadeira de rodas compartilhando com Abrão as memórias dos velhos tempos.

Com o fechamento do bar caboclo, as prostitutas passaram a freqüentar o Bar do Chico que dificilmente era chamado pelo nome. As pessoas sempre se referiam ao ponto como se ali fosse o bar caboclo. Agora o sobrado foi demolido e lá será construída uma loja. As prostitutas nada puderam fazer para evitar o fechamento. Mas prepararam uma feijoada para dar adeus a uma história onde foram as personagens principais.
No último endereço, já perto do fim.
UMA MONTAGEM EQUIVOCADA
(Por Archibaldo Antunes) 
A opinião aqui expressa são considerações do autor do texto.
Resolvi conservá-las por expressar um ponto de vista. Cada um faça seu julgamento e tenha suas considerações.
A existência do Bar Caboclo seria restrita ao conhecimento de uma minoria se não tivesse sido pinçada para o palco. O teatro popularizou esse momento da história amapaense que, sem o toque de Midas das artes cênicas, estaria fadado ao ralo do esquecimento. Foram cerca de 100 apresentações em vários municípios do estado e fora dele, arrebatando públicos de vários níveis sociais e diferentes faixas etárias. No Piauí, em maio deste ano (1996), Bar Caboclo recebeu o “troféu aplausos”.

    O autor da peça, Disney Silva, garante que tentou ser fiel à realidade. Não foram seus lampejos de imaginação que construíram a trama mais conhecida do teatro amapaense, mas a história resultou de algumas pesquisas feitas por Disney. Não obstante a seriedade dos esforços, a peça é um exemplo de pobreza artística. Os personagens soam artificiais, inclusive o travesti Veruska, sem o qual “Bar Caboclo” seria um fracasso de público. Os excessos são inúmeros. Abusa-se dos palavrões quando estes deveriam ser usados em momentos-chave, causando no público o impacto que não mais existe pela insistente repetição. Há diálogos e situações desnecessárias, que parecem ter sido incluídas no texto à força de tapas e pescoções.

    Ademais, Bar Caboclo tem uma trama simplória, que se resume no seguinte: Xandico é um boêmio desocupado e sua vida desregrada é motivo para as brigas com Bebel, amante e prostituta. A chegada de um marinheiro agrava as divergências do casal, pois Bebel transa com o desconhecido, enquanto em primeiro plano Xandico é acometido por crise de ciúme. A cena termina em tragédia, com o boêmio assassinado pelo marinheiro. A tragicomédia reinventou uma realidade que está desvinculada da história do Amapá. Na tentativa de retratar hm momento social, as lentes do dramaturgo não poderiam deixar de registrar outras nuances daquele período. Pode ser que daqui a alguns anos a peça Bar caboclo seja lembrada apenas como uma forma de entretenimento, o que se ajusta muito bem ao seu perfil.

A peça teatral já teve inúmeras encenações e, vez por outra, tem a participação de convidados prá lá de inusitados, como Os cabuçus.

Acredito que sempre é válido conhecer e prestigiar o teatro amapaense que, bem ou mal, faz um resgate dessa história, de uma Macapá de outros tempos.

Jornal "Folha do Amapá", 1995


quarta-feira, 25 de maio de 2011

LENDAS DO AMAPÁ - A Pororoca

Antigamente a água do rio era amena, calma, e corria mansamente. As canoas à vela e remo navegavam sem perigo algum. A Mãe D'água, mulher do Boto Tucuxi, morava com sua filha mais velha na Baía do Marajó. Certa noite, na hora da janta, ouviram-se gritos: os cães latiram, as galinhas e galos cocoricaram. Tinham roubado Jaci, a canoa de estimação da família.
Remexeram, procuraram e não encontraram nada. Diante do resultado, a Mãe D'água resolveu convocar todos os seu filhos: Repiquete, Correnteza, Rebujo, Remanso, Vazante, Enchente, Preamar, Reponta, Maré Morta e Maré Viva. Ela queria que encalhassem a embarcação desaparecida. No entanto, passaram-se vários anos e nehuma notícia de Jaci. Ninguém a viu entrando em nenhum igarapé, algum furo, ou mesmo atracada em algum lugar. Certamente estava escondida.
Então resolveram chamar também os parentes mais distantes: os lagos, lagoas, igarapés, canais, estreitos, para discutir o caso, ficando provada a necessidade de se criar umas três ou quatro ondas fortes que entrassem em todos os buracos que encontrassem, quebrando, encalhando, destruindo tudo. Assim poderiam encontrar Jaci e o ladrão.
Ficou determinado que a caçula da Mãe D'água, Maré da Lua, moça danada, namoradeira e briguenta, avisasse qualquer coisa anormal que acontecesse.
De repente, pela primeira vez, surge em alguns lugares o fenômeno, empurrando madeira, invadindo rios, naufragando barcos, repartindo ilhas, ameaçando palhoças, derrubando árvores, abrindo furos e amedrontando pescadores.
E até hoje, sempre que a Maré da Lua vai ver a família é um "Deus-nos-acuda": ninguém sabe de Jaci e a cunhantã segue em frente,destruindo quem não ousa sair da frente, cumprindo as ordens do Boto Tucuxi, que resmungando danado da vida, diz: "Pois então continuem arrastano tudo". E assim a pororoca continua.

 Texto de Joseli Dias, no livro "Mitos & Lendas do Amapá"
...Mas que engraçado!! Na mitologia a pororoca é causada por Maré da Lua, filha do Boto Tucuxi, que ficou fulo por lhe roubarem a canoa preferida e nunca mais recuperar. /  Foto: latimesblogs.latimes.com
Veja também:
Cutias do Araguari (Parte 1 - O fenômeno natural da pororoca)

terça-feira, 24 de maio de 2011

A POROROCA - Programa Globo Mar

O Programa Globo Mar exibiu em 19/05/2011 uma reportagem sobre a pororoca. Destaque para um desses muitos surfistas que se arriscam nas ondas do Araguari.

"O Globo Mar foi até o Amapá e navegou em um pedaço pouco conhecido do nosso litoral, onde o Oceano Atlântico e o Rio Amazonas se encontram. O litoral no Amapá é marrom, da cor do barro, e a costa é toda tomada pelo mangue. A paisagem diferente é pintada pelo maior dos nossos rios, o Amazonas rasga a floresta e despeja no Atlântico um mundo de água doce." (Fonte: g1.globo.com)


Este vídeo pode ser visto na Biblioteca SEMA-AP,
 localizada no Bairro Central em Macapá.

Alguns pontos abordados:

A onda simplesmente não para, de margem a margem do rio. O surfista Denys se prepara para surfar. Ele espera a onda aumentar para entrar na água. Enquanto isso, a onda vem lambendo o barranco. Como os búfalos ouvem o ruído bem antes de nós, eles correm quando escutam a chegada da pororoca. E este é um dos sinais que os surfistas usam para perceber que a onda está se aproximando.
Nosso convidado pula na água e um sobe Jet Sky para pegar a onda, mas ele sofre para subir na prancha. A onda avança mais de 40 quilômetros rio adentro. “A onda veio maravilhosa, com dois metros. Fiquei um tempão na onda. No mar, são ondas de três, quatro ou cinco segundos, no máximo. Aqui tem onda de 20 minutos”, comenta o surfista.
De volta ao barco, recebemos a visita da chefe da Reserva Biológica do Lago Piratuba, Patrícia Ribeiro Salgado Pinha. “Devemos, principalmente, preservar o manguezal, que é um ecossistema que, considerando a ocupação brasileira no litoral, está bastante ameaçado. Aqui nessa região a gente tem uma das maiores extensões de manguezal das Américas”, comenta.
Depois de dois dias e meio de navegação fluvial, estamos de volta ao mar. Deixamos o rio e chegamos ao Atlântico. Mas olhando o mar nem dá para perceber, a água continua escura e barrenta.
Só a foz do Rio Amazonas tem 200 quilômetros de extensão, metade da distância entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Por ano, ele lança no mar 1,2 bilhão de toneladas de sedimentos, uma mistura de lama e nutrientes que vai alimentar peixes e outras espécies que vivem no Atlântico. A água do Amazonas tinge todo litoral do Amapá. Ela se espalha por até 200 quilômetros da costa e, levada pela corrente norte, chega até a Guiana Francesa.

Veja mais em g1.globo.com

A POROROCA - Onda lendária no Rio Araguari

Pororoca é um fenômeno natural produzido pelo encontro das correntes fluviais com as águas oceânicas, durante as luas novas e cheias. 

Um verdadeiro tsunami no rio
O termo pororoca vem do Tupi Porórka, gerúndio de porórog que significa estrondar. Quando avança no rio seu barulho é lendário, sendo escutado à distância.


...O embate entre o rio e o mar.

O fenômeno acontece quando as águas de maré crescente do oceano tentam invadir a foz do rio, no momento em que a massa fluvial se opõe com grande resistência. 




Como a água doce é mais leve, estende-se inicialmente a grande distância mar adentro,  atrasando a onda de maré . Em determinado momento o mar vence, rompendo o equilíbrio, e a onda de maré oceânica cresce gigantesca, alimentada pelos ventos, avançando pelo rio, cuja correnteza fica invertida.
..Sai da frente que não é brincadeira!! / Foto do surfpe.blogspot.com
  O rio tem sua corrente empurrada de volta pelo mar / Fotos do surfpe.blogspot.com

O fenômeno apesar de ter maior amplitude no rio Amazonas, também ocorre em vários rios do mundo.

A pororoca do Rio Araguari é procurada por surfistas de todas as partes por apresentar uma onda, dizendo eles,  uniforme.
Tu é doido, mano!! Quando ela vem, sempre pode haver perigos ocultos pela água barrenta.

Período de maior intensidade: época das chuvas, nos meses de Janeiro a maio e no mês de Setembro, durante as luas novas e cheias.
Altura das ondas: três a seis metros;
Duração da onda: 40 minutos
Espaço percorrido: 30 Km por mais de uma hora e meia
Área de ocorrência com maior intensidade: Próximo da Fazenda Redentor (margem direita) e o Sítio Paraíso (margem esquerda) até a Foz do Rio Araguari.
Velocidade: aproximamente 20 Km/h
Freqüência: de 12 em 12 horas.
Mapa Localização do Rio Araguari (Google Mapas / 2011)
Acesso:
Rodoviário:
BR 156, com duração de 01h30 (Ferreira Gomes)
BR 156, com entrada no quilômetro 50
AP 070, através da Rodovia do Curiaú, com duração de 2 horas

Fluvial:
Voadeira, duração 6 a 8 horas, duração de 3 horas (Ferreira Gomes)
Embarcação de médio porte via Foz do Rio Amazonas até a Foz do rio Araguari, com duração de 15 a 18 horas.

Aéreo:
Saindo de Macapá com duração e vôo 50 minutos, (pista de pouso localizada na Fazenda Santa Isabel)

Fonte: GEA

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Sabor Açaí (Nilson Chaves)


 Nilson ChavesNilson Chaves é um artista paraense, conhecido por toda a Amazônia, dono de uma voz suave e que mostra de forma poética, em suas composições, a vida amazônida. Suas canções são conhecidas  no Estado do Amapá.


Sabor Açaí
(Nilson Chaves)

E prá que tu foi plantado
E prá que tu foi plantada
Prá invadir a nossa mesa
E abastar a nossa casa...

Teu destino foi traçado
Pelas mãos da mãe do mato
Mãos prendadas de uma deusa
Mãos de toque abençoado...

És a planta que alimenta
A paixão do nosso povo
Macho fêmea das touceiras
Onde Oxossi faz seu posto...

A mais magra das palmeiras
Mas mulher do sangue grosso
E homem do sangue vasto
Tu te entrega até o caroço...

E tua fruta vai rolando
Para os nossos alguidares
Tu te entregas ao sacrifício
Fruta santa, fruta mártir
Tens o dom de seres muito
Onde muitos não têm nada
Uns te chamam açaizeiro
Outros te chamam juçara...

Põe tapioca
Põe farinha d'água
Põe açúcar
Não põe nada
Ou me bebe como um suco
Que eu sou muito mais que um fruto
Sou sabor marajoara
Sou sabor marajoara

Veja também:

O AÇAÍ - Fonte de muitas pesquisas

esteO açaí está intimamente ligado a cultura e história do povo nortista. Tal é a importância, que muitas pesquisas foram e são realizadas todos os anos em busca de conhecimento detalhado de suas propriedades e , principalmente, manejo em áreas nativas.
  Sugestões como fonte de pesquisas:

No Amapá, o açaí é amplamente comercializado, por isso, a melhoria na qualidade do produto oferecido à população torna-se necessária e deve ser um objetivo comum de todas as pessoas que o fabricam. A cartilha BOAS PRÁTICAS PARA PRODUÇÃO DO VINHO DE AÇAÍ NAS AMASSADEIRAS, apresenta os princípios e regras que devem ser seguidos para o correto manuseio e fabricação deste alimento. Publicada em 2003 pelo GEA/SETEC/IEPA, tem 19 páginas e foi organizada por Ediluci do Socorro Tostes Malcher. Integra o conhecimento técnico ao popular, com orientações sobre a melhor qualidade do açaí. No Sumário encontramos:
1) Importância econômica e social do vinho do açaí
2) Micróbios: inimigos invisíveis do alimento saudável
3) Responsabilidades do batedor de açaí
4) Regras para produção de qualidade: Potabilidade da água / Qualidade da matéria-prima / Higiene pessoal / O prédio e instalações da amassadeira / Limpeza e sanitização do ambiente e equipamentos  / Controle de pragas
5) Aspectos positivos das boas práticas para a produção do açaí

Está disponível para consultas 
na Biblioteca Ambiental da SEMA, em Macapá. 

O GUIA PRÁTICO DE MANEJO DE AÇAIZAIS PARA PRODUÇÃO DE FRUTOS é uma publicação da EMBRAPA Amapá, do ano de 2001. Apresenta, de forma bem ilustrada, a importância dos açaizais, manejo adequado, materiais necessários, técnicas de cultivo, demarcação da área produtiva e cuidados indispensáveis para uma boa produção.
No Sumário encontramos:
- O açaizal e sua importância
- Aprendendo o manejo do açaizal em etapas: Limpeza / Demarcação / Classificação das árvores / Selecionando as árvores / Selecionando os açaizeiros / Plantio
- Manutenção do açaizal
Está disponibilizado, pela Embrapa, neste link.

O Instituto Estadual de Florestas do Amapá (IEF) publicou em 2009 o folheto MANEJO DE AÇAIZAIS NATIVOS. Aborda o manejo adequado, técnicas recomendadas, equipamentos, roçagem, desbaste das touceiras e obtenção de mudas. No Sumário encontramos:  
I) Manejo de Açaizais nativos
II) Recomendações prévias: Licenciamento Ambiental / Equipamento de Proteção Individual / Materiais para prática de manejo / Demarcação da área / Roçagem / Inventário / Raleamento da vegetação / Anelamento / Desbaste das touceiras / Enriquecimento / Obtenção de mudas / Manutenção 

Está disponível para consultas 
na Biblioteca Ambiental da SEMA, em Macapá.

O livro AÇAÍ faz parte da Coleção Sistemas de Produção da EMBRAPA/Pará (Vol. 4). A edição é de 2005 e reúne os trabalhos de vários autores, abordando diferentes pontos importantes. Um documento para o estudo dessa cultura vastamente explorada na Amazônia. 
O Sumário mostra:
- Introdução e importância econômica
- Composição química
- Clima
- Solos
- Sistema de produção
- Cultivo
- Controle de pragas
- manejo de açaizais nativos
- Colheita e pós-colheita
- Processamento, embalagem e conservação
- Mercado e comercialização

Está disponibilizado, pela Embrapa, neste link.

Esta publicação mostra parte da Dissertação de Mestrado em Economia intitulada MERCADO E DISTRIBUIÇÃO DOS RETORNOS SOCIAIS DO MANEJO DO AÇAÍ PARA PRODUÇÃO DE FRUTO, defendida na Universidade da Amazônia (UNAMA), Belém/Pará, em outubro de 2001, por Maria Lúcia Bahia Lopes, sob orientação do Prof°. Dr. Antônio Cordeiro de Santana. O objetivo deste trabalho é analisar a distribuição dos retornos sociais do manejo do açaí para produção de fruto entre consumidores e produtores.

Está disponibilizado, pela autora, neste link.

AGUARDO COM A  TIGELA O BOM FRUTO
DO DESENVOLVIMENTO DAS  PESQUISAS.

sábado, 21 de maio de 2011

NOTAS DO AMAPÁ - AÇAÍ, o doce vinho da Amazônia

Açaí ou Juçara é o fruto bacáceo de cor roxa, que dá em cacho na palmeira conhecida como açaizeiro, cujo nome científico é Euterpe oleracea.

Pergunte ao caboclo amazônida se conhece este nome Euterpe, certamente não, mas considera-se agraciado se todos os dias não faltar uns bons litros em sua casa, desse alimento tão apreciado e desejado.

As propriedades nutritivas do açaí já foram comprovadas em vários estudos e tem sido utilizado de várias maneiras na culinária nortista (biscoitos, bolos, tortas, sorvete, etc.... além do tradicional jeito... uma boa porção na tigela ou cuia, com uma farinha "pai-d'égua" ou tapioca. Hummmm!!!

O açaizeiro desenvolve-se em solos úmidos, sendo muito comum em áreas de várzea, como nesta comunidade na APA da Fazendinha. Foto: Rogério Castelo / 2009

...que caviar que nada, eu quero é açaí todo dia!!
Nas cidades do norte, tão comuns quanto um posto de gasolina, ou padaria, etc e tal, são as amassadeiras ou batedeiras de açaí...para bons conhecedores as "vitaminosas". Sempre indicadas pelas plaquinhas vermelhas. Verdadeiro "Pare, experimente e vicie!!!" .

Ultimamente este alimento, tem se tornado artigo de luxo para muitas famílias, frente à descoberta do Brasil e mundo desta iguaria. O preço médio do litro  está em torno de 5 a 7 reais aqui em Macapá. Há preços inferiores, mas proporcionais a qualidade.....Ah! Chula não é a mesma coisa né!!!!



Hoje, mais uma dessas vitaminosas abriu suas portas lá no Bairro do Trem. "Açaí no Ponto" do Rosivaldo.

Houve degustação do produto para apreciação da qualidade e, para isso, foi convidada a fina flor da Família Castelo residente no Trem.

Prestigiaram a inauguração, entre outros,  a matriarca Ana (Nikita), Maria José (Dedeca), José Maria (Zabu), Alzira (minha mãe), o "paranaense" Augusto (Teco), Val (Onça-malhada), Bené (Sepitilha), César (Catiçara), Douglas (O Petrônio), Preta, Analice, a família do Marcelo (Periquito loiro), Socorro, Yasmin e Gustavo. Pretigiaram também o  bombeiro Josiran, Inara (sua esposa), a acadêmica Isis e a bailarina Isabelly. Além do especialista, catedrático e doutor em degustação e apreciação de açaí, o Doutor Rogério Castelo. 

Depois de 5 rodadas de tigelas de açaí, os especialistas da Família Castelo deram o parecer: "Pai-d'égua"...tá aprovado e recomendado. Mais uma opção do bom vinho para a cidade, no Bairro do Trem (Rua Hamilton Silva, bem em frente a garagem da Prefeitura).


 Inauguração da "Açaí no Ponto", no Bairo do Trem, em frente a Garagem da Prefeitura.

Ótimas instalações, com ambiente climatizado e higienizado.

 Valdiney, Ana Castelo (Nikita) e Maria José

....Só especialistas em açaí (Yasmin, Socorro, Gustavo e Nikita)

Esse é o genuíno açaí da Amazônia, a colher fica em pé na tigela!! Agora é só "remar" pro bucho!!
Arrepia sumano!!!!!

quinta-feira, 19 de maio de 2011

HISTÓRIAS DA VÓ NIKITA - O Encantado

Se você vivesse ao “Deus dará”, numa região desconhecida, cercando-se de muita coisa estranha e sem que soubesse as causas, em que acreditaria para agir sempre com o mínimo de bom senso? Às experiências vividas e dividas por outros? .... O caminho natural e fácil.
Nos tempos de menina, minha avó Ana presenciou  e viveu algumas dessas. Uma criança tentando entender o mundo em que vivia e, em posse disso, como muitos outros, propagadora de um saber local e único.
Histórias e crendices presentes e marcantes na cultura ribeirinha... Fundamentos a reger a vida de comunidades inteiras, durante gerações seguidas.  
Histórias do interior.... Histórias da Amazônia.
Na grande baía do Jacaré Grande, subindo um pouco um pequeno igarapé, ficava o barracão dos Nunes. Era uma família numerosa, algo comum nesses interiores, onde as caboclas tinham de dez filhos para cima.
Minha avó Ana, matriarca de dez filhos, foi testemunha desta história, na adolescência de seus catorze anos. Hoje, com seus oitenta e três, ainda têm em suas lembranças esses fatos muito nítidos, conforme passo a vos narrar a seguir.
Naquele tempo as famílias viviam da caça e, principalmente, da pesca. Havia uma fartura dessas coisas. Os ribeirinhos distribuíam-se por ali, ocultos nessa exuberância natural, todo dia lutando e buscando novas coisas por sua sobrevivência. Verdadeiros desbravadores, ocupando lugares tão longínquos e desfavorecidos de nossos confortos atuais, que o contentamento geral era ter com que prover sempre suas famílias no dia-a-dia e - abençoe Deus para isso - gozar sempre de boa saúde. Assim era na Amazônia, assim era naquelas matas... Selvagens, virgens e misteriosas.
Outras culturas que ajudavam na obtenção de um pouco de renda eram: a coleta das castanhas da andiroba e muru-muru, para o azeite a ser vendido na cidade, e a borracha extraída das seringueiras. Cedo o caboclo ia para a mata riscar as árvores marcadas para isso.
Uma novidade naquelas bandas era a extração de madeira para fazer dormente. Dava algum lucro, mas sempre era muito trabalhoso. Tinham que arrastar a madeira para a beira do rio e, desprovidos de embarcações, faziam uma jangada e nelas se arriscavam pelas águas sempre perigosas do Jacarezinho. Levando o “progresso” para a cidade... Levando os dormentes para as linhas ferroviárias da época.
O Alípio acordou bem cedo para tirar madeira naquele dia, era um dos varões da família Nunes. Rapaz impetuoso, menos de vinte anos, embrenhava-se sempre nas trilhas da mata sem conhecer o que era perigo.
Pegou o seu machado, facão, lanterna e tomou um rumo tantas vezes percorrido. Primeiro tinha que encontrar bons troncos, talhar o dormente e depois avaliar a situação para melhor transportá-los dali. Isso consumia sempre umas boas horas do dia.
Os Nunes reuniram-se para a caldeirada de peixe no jantar e constataram então a demora do rapaz, imaginavam sempre que estava com um ou outro. Mas, todos ali, nada do Alípio. Já era fim de tarde e o sujeito não retornara desde cedo. Numa mata fechada, com onças, cobras, escorpiões e “visagens”, perder-se é sempre algo perigoso e preocupante. Os caboclos deram uma batida nas proximidades e nada encontraram, para tristeza e desespero de Dona Cordeira, que imaginava seu filho envolto em muitos perigos.
Anoiteceu e deixaram as buscas para o dia seguinte. O Alípio devia ter se metido em mata muito distante. Era um rapaz destemido, mas também convicto até demais disso!
Procuraram no dia seguinte, avançaram na mata, gritavam até se esgoelar, batiam nas sumaúmas com os facões (se você não sabe, esse é um “telefone” da selva), entraram por todas as trilhas conhecidas e nada. A essa altura Dona Cordeira era só prantos. 
Alguns rapazes, avançando um pouco mais na mata, relataram aos outros que acharam o machado e facão do Alípio por cima de uma tora, mas ele não estava ali. Só o que viram foram umas pegadas que seguiram e estranhamente viram terminar às margens de um igarapé distante. Deixaram lá os pertences do mesmo, pois se aparecesse podia precisar. 
Mais uma noite e o Alípio sumido.... Onde estaria e o que teria lhe acontecido? Era o que todos se indagavam.
Três noites e a mesma aflição. Numa ânsia danada, já tinha até quem o dava por morto naquelas paragens. Na casa de minha avó ajudaram também nas buscas.
No quarto dia, quando se encontrava apenas uma de suas irmãs no barracão, preparando o almoço no jirau, qual não foi sua surpresa quando deparou com um assustado e desfigurado Alípio espiando e dizendo:
- Não fala nada prá ninguém que tô aqui! Onde tô é muito bonito! É uma cidade muito bonita onde eles me levaram no fundo do rio! Não queriam me deixar vir, mas eu pedi muito, só prá buscar minhas roupas e voltar. Lá é muito bonito, muito bonito! Não fala nada prá ninguém...
E foi com esse louco palavreado que o Alípio apareceu a sua irmã. Referia-se sempre a “eles” sem citar nomes e a falar de uma cidade nunca vista. Quando viu em sua irmã a intenção de chamar alguém correu e desapareceu na mata.
Os Nunes quando se reuniram e souberam da história, ficaram com uma mistura de alívio e preocupação, o que se passava com seu irmão? Chegaram até a brigar com a moça acreditando que a mesma não tinha nada feito para que ele ficasse.
Continuaram as buscas nos dias seguintes e o rapaz desaparecido naquela mata fechada, onde a noite não se enxergava nem a própria mão.
Acreditando se tratar de algo sobrenatural, chamaram o Manoel Dias, um curandeiro e benzedor muito conhecido naquela localidade. Mistura de médico, psicólogo, padre e "espantador de visagem". Com suas mandingas ele disse que o Alípio estava encantado por Uiara e que deveriam abandonar as buscas que não encontrariam o rapaz. Estava encantado, escondido e possesso do espírito do rio. O que deveriam fazer era aguardá-lo escondidos na casa. Ele ia aparecer. Também deveriam deixar atada a rede mais forte que tivessem e uma cordas bem resistentes.
Dona Cordeira fez segundo as recomendações e, no dia seguinte, deixaram suas ocupações e ficaram no barracão escondidos, à espera do Alípio.
No fim da tarde, finalmente apareceu “o encantado”. Estava desconfiado, com um agir diferente. Pelas frestas das casas viram o estranho Alípio ficar à espreita para ver se tinha alguém. Constatando que não, sorrateiramente saiu da mata e entrou no barracão. Seus irmãos então, assim que o rapaz entrou, fecharam as portas e janelas impedindo a fuga.
O encantado tentou de todas as formas se desvencilhar do braço de seus irmãos. Eram caboclos criados no açaí de maior sustância, mas fizeram muita força para conter o encantado, principalmente porque diziam que ele estava com a pele muito lisa, escapando várias vezes e quase fugindo. Se fossem só três ou quatro, ele teria conseguido.
Todos seguraram o Alípio e o colocaram na rede atada, amarrando-a com muitas voltas da corda. Seguraram também os punhos, pois balançava tanto a ponto de quase rasgar a rede. Falava sempre para deixar-lhe voltar para a cidade.
O Manoel Dias foi chamado às pressas e começou a fazer suas benzeduras até o Alípio se acalmar. Seja de que loucura o rapaz estivesse, foi se acalmando até não manifestar mais o desejo de correr para a mata. Os Nunes mantiveram a guarda nos dias seguintes e o Manoel Dias continuou com suas benzeduras.
Após uma semana foi declarado a quebra do encanto, o Alípio estava livre do espírito do Uiara.

Ana Castelo
Bem, amigos...

Inúmeros casos como esse ocorreram na Amazônia e, por acreditarem em benzedores como o Manoel Dias, outros muitos jovens foram libertos de ter uma vida, sabe-se lá como, de perambular como loucos pela floresta, transformados em almas errantes num breu mortal. Tal Victor (de Aveyron), mas na floresta amazônica, homens perdidos vivendo um encantamento em suas cabeças.  

Morte certa e em poucos dias.