Os autores desse livro estudam e documentam uma das mais típicas
manifestações da economia política da ditadura militar instalada no
Brasil desde 1964. Sob vários aspectos, os dados e as análises
apresentados aqui mostram como o estado foi levado a atuar em
contradição com os interesses da maioria da população do país.
O Projeto Jari é bem uma expressão dessas iniciativas. Mostra, de forma
bastante clara, vários aspectos muito importantes do modo pelo qual a
ditadura foi levada a interferir na vida econômica e política do país,
prejudicando interesses presentes e futuros da sociedade.
OCTÁVIO IANNI
(Trecho da apresentação do livro)
INFORMAÇÕES DO LIVRO
Título: Projeto Jari: A Invasão Americana - As Multinacionais estão saqueando a Amazônia
Autores: Jaime Sautchuk, Horácio Martins de Carvalho e Sérgio Buarque de Gusmão / Apresentação de Octávio Ianni
Editora: Brasil Debates
Páginas: 110
Ano: 1979
A obra foi publicada no período da ditadura militar, em 1979,
voltando a atenção para o Projeto Jari em exemplificação à uma crítica
alarmante e de denúncia à ação de grandes empreendimentos estrangeiros
na Amazônia. A visão é nacionalista, justificando-se em autores
militantes da causa, com uma abordagem que em certos momentos
radicaliza, instigando percepção de vilania e exploração indiscriminada
de nosso patrimônio, como se tudo se resumisse a isso.
Interessante que a publicação coincide com o momento em que o empreendimento da Jari
tomava novo fôlego em seus projetos, devido a recente instalação da
fábrica de celulose no final da década de 1970. A vinda desta se deu em
uma jornada épica e lendária, despertando entusiasmo ao progresso pelos
vários desdobramentos associados. Coisa ainda não experimentada em uma
região secularmente marcada por riquezas naturais em paralelo à
exploração da natureza e do homem.
Os autores situam a questão do beneficiamento se direcionar, sobretudo, aos mega empreendimentos estrangeiros, representantes do imperialismo americano. Essa compreensão, em linhas gerais, está nos incentivos fiscais que recebiam do governo. Financiamentos que minimizam os custos, potencializando maior lucro na exploração das riquezas e da mão de obra local - o que restava para a sociedade brasileira. A caracterização é de entreguismo e uma maquiada exploração, como fora em outros tempos, nas fases do coronel José Júlio de Andrade e dos portugueses.
Os autores situam a questão do beneficiamento se direcionar, sobretudo, aos mega empreendimentos estrangeiros, representantes do imperialismo americano. Essa compreensão, em linhas gerais, está nos incentivos fiscais que recebiam do governo. Financiamentos que minimizam os custos, potencializando maior lucro na exploração das riquezas e da mão de obra local - o que restava para a sociedade brasileira. A caracterização é de entreguismo e uma maquiada exploração, como fora em outros tempos, nas fases do coronel José Júlio de Andrade e dos portugueses.
Daniel Keith Ludwig Um pouco mais novo, gordo e alegre (pág. 18) |
Há radicalização nesse contexto, a começar na primeira parte, em que o
empresário Daniel Keith Ludwig é apresentado em uma biografia excêntrica, tendenciosa
à percepção de riqueza associada à exploração de países
subdesenvolvidos, contando com aliados corruptos (citando-se gângsteres e
ditadores) em governos subservientes ao imperialismo americano,
dispostos à arranjos favoráveis. Na política de entreguismo do governo
ditador, foi citado um projeto de formação de grandes lagos, que
inundariam boa parte das comunidades ribeirinhas para facilitar a
entrada de mega navios no escoamento das riquezas.
Um hotel no estilo dos conquistadores da África, em Monte Dourado. Uma fábrica que pode ser levada de volta quando acabar a matéria-prima (Pág. 47) |
A abordagem dos trabalhadores e cotidiano na Jari é o segundo aspecto
tratado, em prol do entendimento da visão exploratória. Citam-se
privilégios aos cargos mais elevados, como
exclusividade para comprar bebidas e frequentar o mais famoso clube - a
Jariloca. A condição de vários trabalhadores é apresentada,
destacando-se a exploração e suporte precário em alguns cotidianos (como o fornecimento de alimento aos trabalhadores da mina de caulim). A
realidade do Beiradão também é mostrada em seu desenvolvimento, associado
à exploração comercial e sexual. Os autores registraram até o
preço do programa com as prostitutas. Muita
coisa parece generalizada e fatos isolados supervalorizados para ressaltar o
cenário de exploração do homem.
A obra finaliza instigando a percepção dos empreendimentos estrangeiros
na caracterização de proteção pelo governo, com mão de obra explorada,
instalação em grandes latifúndios sem o devido reconhecimento do tamanho
real (para a fuga dos impostos), tendo política contra a reforma
agrária, degradação ambiental, prejuízo aos povos da floresta e
recebimento de financiamentos governamentais que nem sempre resultavam
em beneficiamentos à região. Nesse último aspecto o livro cita a
história de um empresário estrangeiro no Pará, que recebia incentivos da
SUDAM, usou técnicas de guerra para desocupar a região para a posse e nela
desenvolveu apenas atividade madeireira, não planejada no incentivo
governamental que recebia.
Área do Projeto Jari (Pág. 60) |
Essa é a Amazônia vista na abordagem do livro
sob ação estrangeira. É muito coerente e de importantes reflexões, mas também rolou exagero sensacionalista. O Projeto Jari teve uma
sucessão de fracassos que não foram abordados e que estavam em
andamento. Não se resume a isso, mas foi o que entendi.
O dinheiro do Imposto de Renda, manipulado pela SUDAM, também engorda as finanças da Jari (Pág. 76). |
O povo do Jari é pobre. As casas do Beiradão são construídas sobre o rio ou terrenos alagadiços (Pág. 28). |
É mais uma importante obra que pode ser consultada na Biblioteca Ambiental da SEMA em Macapá.