As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

quarta-feira, 13 de março de 2019

Ad Majorem Dei Gloriam (Bruno Rafael Machado Nascimento)

Título: Ad Majorem Dei Gloriam - Missões jesuíticas setecentistas no Oiapoque e os usos de documentos históricos para ensino de História no Amapá
Autor:  Bruno Rafael Machado Nascimento (mais informações NESTE LINK)
Editora: Autografia
Páginas: 254 
Ano: 2018

"Este livro versa sobre a presença jesuítica francesa na região do Oiapoque durante a primeira metade do século XVIII com enfoque nas cartas escritas pelos missionários e de como utilizá-las no Ensino de História escolar na Educação Básica. Objetiva-se compreender a partir desses escritos as relações entre indígenas e jesuítas enfatizando as táticas de sobrevivência e ressignificação dos ameríndios enquanto protagonistas do processo histórico."
 ...
'Traz duas grandes contribuições: uma historiográfica, pois revela por meio de análises das fontes a presença jesuítica francesa na região do Oiapoque durante a primeira metade do século XVIII e as ações dos 'filhos de Loyola' na segunda metade do século XVII nas 'terras do Cabo norte'. A segunda contribuição diz respeito aos usos das cartas dos inacianos que estiveram na região do Oiapoque para o ensino de História no Amapá. É importante destacar que a reflexão esteve pautada não em uma suposta ação 'civilizadora' dos missionários, mas se buscou desvendar as complexas relações entre indígenas e os religiosos tomando os ameríndios como agentes do processo histórico."
...
"É uma temática em muitos aspectos original, pois pouco se conhece sobre as relações entre ameríndios e os missionários jesuítas franceses que atuavam na fronteira colonial em plena Amazônia. Costumo afirmar que onde o Estado não se fazia presente lá estava um jesuíta para tentar converter as gentes das regiões. Por que vieram para o Oiapoque e o 'Cabo Norte'? Quais as intenções pessoais, comunitárias, econômicas e políticas? Como os indígenas reagiram? Permitiram a conquista física e espiritual? Como utilizar os documentos em sala de aula? Que metodologia aplicar? São algumas questões que busquei responder ao longo da obra. Boa leitura!"

(TEXTOS DE APRESENTAÇÃO EXTRAÍDOS DO LIVRO)

Expansão dos jesuítas no norte do Brasil
(Ilustração do livro)


"Contribuição de grande relevância para a historiografia amapaense, com fatores interessantes na temática, na metodologia utilizada e, sobretudo, na proposta estabelecida pelo autor.
 

As missões jesuíticas na região do Oiapoque constituem tema de raríssima produção bibliográfica. A partir do fato, o autor fez uma interessante investigação sobre as missões e correlação com povos indígenas, conforme percepção no contexto escolar. Os resultados, seja em livros de abrangência nacional ou regional, além de conteúdo limitadíssimo e com ausência de aspectos relacionados à historia amapaense,  em geral, apontam conhecimento que vem se perpetuando com europeização (a História resumida a ações europeias no chamado "Novo Mundo"), invisibilidade dos povos nativos (apresentados sem protagonismo) e estereótipos diversos no paralelo entre 'civilizados ' europeus e 'selvagens' indígenas.  Esse é o primeiro atrativo do livro, a abordagem que se desvincula do tradicionalismo e vai em busca do conhecimento histórico em fontes do contexto: desconhecidas cartas missionárias.

Em seu processo construtivo, de cerca de dois anos, a obra teve como metodologia a análise dessas cartas, de origem francesa setecentista, onde o conhecimento expresso permite ressignificações sobre as missões e povos indígenas. Entre outras descrições: o cenário revelado é de região até então pouco valorizada no contexto governamental e com disposições missionárias em condições desafiadoras, onde ocorreram mortes, doenças e impactos culturais como a poligamia. Havia a valorização da catequese para as crianças (mais suscetíveis a proposta jesuíta) e com o tempo, nos interesses crescentes sobre a região, ocorreram 'concessões' dos padres para manter a influência. Entre os ameríndios, a adesão às missões também tinha interesses, como fuga do domínio português e visão diferenciada atrativa que os padres aparentavam em suas práticas espirituais, interpretados como xamãs, ressignificando posicionamentos. São alguns dos aspectos descobertos e abordados na fase de pesquisas.

Na proposta, ênfase para a valorização no ensino escolar dessa documentação epistolar, outrora desconhecida, motivando-se construção do conhecimento na análise destas. Possibilidade viável, instigante a criticidade e interpretações mais coerentes com a realidade histórica, especialmente na região do Oiapoque, campo abordado pelo autor, em novidades destacadas para a história. Há apresentação dos passos e importância de uma interessante metodologia.
Ressalte-se que o Amapá tem grande parte de suas terras homologadas como unidades indígenas, secularmente foi cenário de disputa territorial e tem curso voltado para a área indígena.

O livro é mais abrangente que essas meras considerações e vale muito a conferida. Acredito que o termo 'ressignificações', expresso pelo autor em vários momentos, seja o diferencial em tudo que apresenta e propõe.
Obra preciosa para redescobertas e proposta escolar."

(Registro no SKOOB)


Pode ser adquiro em:

- autografia.com.br
- amazon.com.br

SUGESTÃO DE LEITURA DA
BIBLIOTECA AMBIENTAL DA SEMA EM MACAPÁ

segunda-feira, 11 de março de 2019

Amazônia: manual para as futuras gerações (Sebastião Antônio Ferrarini)

Título: Amazônia: manual para as futuras gerações
Autor: Sebastião Antônio Ferrarini
Editora: Dinâmica
Páginas: 130
Ano: 2011

"Recebi este livro é fiquei muito grato por ser uma obra que retrata nossa Amazônia através da sátira, do humor e da interpelação. Sebastião Ferrarini procura transmitir conceitos, expressões, projetos e iniciativas referentes à Amazônia e denunciar a avassaladora pilhagem dela. Parabéns a este autor e a esta obra" 
(CABO MACIEL) 

"Coisa complicada quando o reconhecimento de valores outrora ignorados se dá através da perda. É o que diz o dito popular "Quem não aprende por bem, aprende por mal" e o que veio na mente ao terminar a leitura desse livro, que faz uma mistura de curiosidades, humor e aprendizagens surreais.
Expressando melhor a proposta, o autor, através de perguntas e respostas, aborda vários temas referentes à Amazônia, mas em um diferencial futurista, como se em seu contexto todas as projeções destrutivas tivessem se realizado, ao ponto da Amazônia ter se tornado remota lembrança e lenda, respondendo para seus contemporâneos o que teria sido.
Leitura instigante e curiosa.
As interpelações passam pela fauna, flora, cultura, personagens, entre outros aspectos da identidade amazônica em seus tempos pujantes, respondidas com sarcasmo ao descuido e ignorância ambiental.
Para não dizer que tudo é cenário caótico, destaque para a última parte, em que o autor volta à atualidade e, naquilo que está implícito na mensagem da obra, fala de Educação Ambiental em texto que assume tons poéticos - construção singelamente bonita e instigante à aprendizagens necessárias."
(REGISTRO NO SKOOB)

SUGESTÃO
 BIBLIOTECA AMBIENTAL DA SEMA EM MACAPÁ

quinta-feira, 7 de março de 2019

Índios e Explorações Geográficas (Boanerges Lopes de Sousa, 1955)


Título: Índios e Explorações Geográficas
Autor Boanerges Lopes de Sousa (Marechal)
Editora: Ministério da Agricultura - Conselho Nacional de Proteção aos Índios
Ano: 1955 (1ª edição)
Páginas: 178

O livro tem relatórios de viagens realizadas pelo Marechal Boanerges Lopes de Sousa, colaborador de Rondon, com estudos geográficos na década de 1920. 
Está dividido em 4 partes:

1ª Parte - "Explorações Geográficas na Região do Alto Rio Negro" - contribuição para o 9º Congresso de Geografia, realizado em 1942.

2ª Parte - "Uma viagem ao Oiapoque" - tema de uma conferência em que Boanerges conduz o leitor do porto de Belém (Pará) até o de Clevelândia, no Rio Oiapoque, proporcionando-nos excelentes informações do contexto de época.

3ª Parte - Constituída por palestras e conferências em que o autor aborda aspectos concernentes à proteção e assistência a povos indígenas. 

4ª Parte - Exposição sucinta de trabalhos da Comissão Rondon no Sul de Mato Grosso, na construção de linhas telegráficas. E uma homenagem ao Marechal Rondon pela Sociedade Brasileira de Telecomunicações, em 1954.

Veja AQUI o Sumário completo da obra.

Na parte referente ao Amapá (página 78 à 120), apresentada em Conferência realizada em 23/11/1942 pelo Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, extraí algumas imagens e texto interessantes.

No desembarque em Macapá, as carroças cooperam no transporte dos passageiros.
"...Chegada a Macapá... O navio ficou à distância. O porto é pior que o de 'Chaves'. A praia é extensa e rasa, de leito coberto de lama endurecida. Para o desembarque, recorre-se ao serviço de carroças, puxadas por muares; estas se adentram pelo mar, ao encontro das canoas, para receber os passageiros e as bagagens.
É um espetáculo interessante e um tanto cômico esta baldeação das canoas para as carroças e o acesso ao ponto de desembarque. Poder-se-ia evita-la construindo um trapiche para atracação dos vapores, mas isso demanda estudos especiais, porque são fortes os ventos que sopram do norte e a ação demolidora do mar, acossado pelo vento, faz a costa recuar, dia a dia, o que é agravado pelo fluxo e refluxo das marés. A cidade bicentenária já perdeu algumas ruas, recuando cerca de quatrocentos metros para o interior. Entre os edifícios que desapareceram com o efeito da erosão, cita-se o Hospital Militar da antiga guarnição."
Pedra do Guindaste.
"Uma testemunha da costa de outrora é a 'Pedra do Guindaste', um bloco de argila tão endurecido que ali permanece cerca de 500 metros afastado do cais de proteção contra a ação hidro eólica. Contam que foi ali que os portugueses desembarcaram para construir a Fortaleza."
O 'Cassiporé' atracado no pátio de Santo Antônio ou Vila Oiapoque... 
Na outra margem, a Vila 'Saint George'.
"... O 'Cassiporé' lançou ferros no porto da Vila Oiapoque, também conhecida por 'Demonti' ou 'Ponta dos Índios', seu primitivo nome. É o primeiro povoado brasileiro da fronteira e nele o Governo instalou um Posto Fiscal e o Estado do Pará, uma Coletoria...
... Em frente à povoação, está situada a Vila Saint George, de aspecto bizarro, com algumas casas em estilo chinês, cobertas de zinco umas, de palha outras e onde se agita uma população de cerca de 600 almas, de crioulos e de mestiços de franceses... O comércio é ativo e muito procurado pelos viajantes brasileiros. Saint George é servido por dois vapores que fazem viagens quinzenais diretas para Caiena, no Atlântico."
O porto de desembarque em Clevelândia.
"Afinal, Clevelândia à vista!
... Cleveland ou Clevelândia foi fundada em 1922, no governo de Epitácio Pessoa, com o objetivo de fixar as populações do baixo Oiapoque, criando e incrementando naquela região privilegiada para agricultura os produtos da lavoura e mesmo da pecuária. Destinava-se a abastecer a região e a prover o Destacamento Militar da Fronteira...
O hospital de Clevelândia.
"Clevelândia... Dispunha de uma estação de rádio, de excelentes casas para a administração e escritórios, de uma escola e de várias casas para seus funcionários. Possui ainda um ótimo hospital, que, no momento, não agasalhava um só doente, e de uma hospedaria para imigrantes...
...Tudo havia sido previsto para o desenvolvimento da Colônia... As terras foram loteadas e teriam produzido e fomentado a riqueza desejada se a fatalidade não houvesse conspirado contra os seus destinos e a falta de firmeza e de tenacidade da administração pública não lhe tivesse paralisado a vida."
Esquema do Itinerário de Inspeção da Fronteira (1927)
Boanerges Lopes de Sousa foi um dos eficientes colaboradores de Rondon, servindo na Comissão de Linhas Telegráficas de Mato Grosso ao Amazonas (Comissão Rondon) no período de 1910 a 1922; foi chefe de Estado Maior do Marechal Rondon na Inspeção de Fronteiras (Comissão organizada no governo do Presidente Washington Luiz); e entre outras atribuições, também foi Presidente do Conselho Supremo de Justiça Militar e integrou o Conselho Nacional de Proteção aos Índios, do qual, durante 9 anos, foi um dos mais estudiosos e dedicados membros. Os trabalhos que apresentou no decorrer do longo período que serviu sob a chefia de Rondon estão consubstanciados em minuciosos relatórios contendo valiosa documentação ilustrada com mapas, fotografias e dados estatísticos, os quais merecem ser divulgados.

SUGESTÃO
BIBLIOTECA AMBIENTAL DA SEMA EM MACAPÁ

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Lurdinha (Rui do Carmo)

O primeiro romance escrito por Rui do Carmo. As 140 páginas desta narrativa linear, escrita em terceira pessoa, convidam o leitor a acompanhar a vida da personagem-título. 
O narrador começa apresentando Lurdinha, uma garota de 14 anos, moradora de um vilarejo em Barcarena (PA) no ano de 1950, que sonha estudar e se tornar professora. Ela recebe a proposta do comandante Salim para viajar a Belém, onde trabalhará nos afazeres domésticos em sua residência e onde também poderá estudar. Os pais de Lurdinha consentem e ela parte para a capital paraense, rapidamente criando um vínculo de amizade com a esposa do comandante. Tudo corre conforme o planejado até que a jovem retorna à casa paterna para férias de verão e conhece Oswaldo. A partir de então, muitas são as reviravoltas que ocorrem em sua vida até os 75 anos. 
A narrativa demonstra um grande trabalho de pesquisa histórica ao mencionar produtos e empresas há muito extintos. Percebe-se também uma idealização do ribeirinho e da vida no interior em trechos como: 
'Esta relação com a natureza faz do caboclo amazônico um sujeito sem grandes preocupação e não se ouve falar em pai que por algum fútil motivo, bater em um filho, quebrou a casa ou surrou a mulher, coisas de cidade grande' (pag. 29)."
Fonte: Wikipédia

Título: Lurdinha
Autor: Rui do Carmo
Editora: Gráfica e Editora Cometa
Ano: 2005
Páginas: 140

Romance de Rui do Carmo com o protagonismo de Lurdinha. A história acompanha sua trajetória de vida num hipotético retrato sobre o interior paraense, em recorte temporal entre as décadas de cinquenta a oitenta.
Os capítulos são curtos e a trama não tem grandes aprofundamentos, caracterizando-se por passagens de tempo em que destaca-se a constância da personagem ante as adversidades. Algo relacionado a posicionamentos de fé e propósito de vida (ser professora).
Três momentos tem maior atenção. O romance se inicia na década de 1950, quando encontramos Lurdinha adolescente, no município de Barcarena, cultivando sonhos com os estudos e convivendo com realidade de dificuldades e desafios. O texto é um tanto idílico sobre a vida interiorana (em particularidades que reconheço e gosto de ler) e o autor destaca sempre uma breve descrição de época. O desafio aos estudos é a maior ênfase.
Alguns desdobramentos importantes e encontramos Lurdinha na década de 1970, na vida adulta em realidade comum de: casamento muito jovem, vários filhos, viuvez e dramas familiares que o autor misturou com o contexto de época, direta ou indiretamente, abordando a ditadura, prisão e perseguição política, garimpo e prostituição, frustrações e morte precoce de filho.
Na década seguinte (1980), a maturidade, sugestionando-se percepção de ideais valorosos e dignos de inspiração, explícitos numa constância de vida decidida e revigorada pela fé - a história de Lurdinha.

Leitura fluida, porém, sem abordagens de maior complexidade, valorizando, basicamente, idealismo na vida.
Fonte: SKOOB


Sugestão de leitura na
Biblioteca Ambiental da SEMA em Macapá (AP)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Encantos Encontros: Poemas e Contos (Leacide Moura e Iramel Lima)


Título: Encantos Encontros: Poemas e Contos 
Autoras: Leacide Moura e Iramel Lima
Editora: JM Editora Gráfica
Ano: 2008
Páginas: 80

O livro tem autoria de duas professoras amapaenses, apresentando contos e poesias. 

Leacide Moura traz poesias entre a Amazônia idílica (exaltando encantos com entusiasmo singelo e bonito) e a maturidade feminina (expressa em devaneios, introspecções e desejos). A segunda vertente é o destaque, como no poema sensual "Uno". 
Os contos tem humor leve e jovial, como o da visita de um boto do Sudeste à Amazônia (gosto dessas abordagens surreais, instigantes em minhas buscas).

Iramel Lima traz a Amazônia em contexto de valorização indígena nas poesias e maior parte dos contos, que se expressa na linguagem e mitologia. Destaque para o conto "Os neuróticos", ilustração amorosa interessante, em que a construção em comunhão é substituída por uma desconstrução egoísta (fórmula para o desamor).

O livro foi publicado em 2008 e, no aspecto editorial, faltou tornar a parte de cada autora mais distinta. Pode parecer, pelas capas duplas e inversão das páginas, mas a identificação está muito sutil e confusa para o leitor.


Em Macapá, a obra pode ser apreciada na 
Biblioteca Pública Elcy Lacerda.

-----------------------------------

Hoje, 04/02/2019, Macapá completa mais uma primavera: 261 anos! Cidade abençoada, que estimo com suas virtudes variadas e falta delas também. Minha amada terra, meu lar! Que a benção transformadora do Senhor esteja sempre em ti!

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Vim para adorar-te (Diante do Trono)


Luz do mundo viestes à Terra
Pra que eu pudesse te ver
Tua beleza me leva a adorar-te
Quero contigo viver

Vim para adorar-te
Vim para prostrar-me
Vim para dizer que és meu Deus
És totalmente amável
Totalmente digno
Tão maravilhoso para mim


Eterno Rei, exaltado nas alturas
Glorioso nos céus.
Humilde vieste a terra que criaste,
Por amor pobre se fez
Eu nunca saberei o preço
Dos meus pecados lá na cruz
O preço foi a morte de Jesus, 
que ressuscitou para conceder a vida eterna
a todos que creem! 
Graças a Deus!

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Mazagão: a cidade que atravessou o Atlântico (Laurent Vidal)

1769. Na fortaleza portuguesa de Mazagão, situada no noroeste da África, Marrocos, cercada pelos mouros, os moradores se irmanavam num movimento incomum. Para estes 1642 habitantes, a data ficará gravada com fogo na memória de cada um, apesar desta praça, desde 1509 sob a posse da Coroa portuguesa, já ter passado pelas mais dolorosas privações. Durante 260 anos, as sucessivas gerações de moradores, vivendo isolados do restante do continente, numa fortaleza debruçada sobre o mar, ao qual se ligavam por uma estreita porta, haviam sido fustigadas pelo isolamento, pela fome, pelas epidemias, pelos conflitos internos, mas também pelo tédio e pela inércia, todos subprodutos da sua reclusão. Mas nada se comparava ao que estava para acontecer. Apesar de todas as dificuldades, ao longo dessa longa jornada, haviam sempre resistido bravamente. 
Nesse livro, como Homero, inspirado pela musa da História, Laurent Vidal nos revela, de maneira brilhante e instigante, os destinos de Mazagão, uma cidade-odisseia que atravessa o Atlântico.
(Trecho do artigo de Júnia Ferreira Furtado, disponível NESTE LINK)



Informações da obra
Título: Mazagão: a cidade que atravessou o Atlântico
Autor: Laurent Vidal
Ano: 2008
Páginas: 294

Registro no SKOOB
A obra amplia o conhecimento sobre Mazagão e sua história em detalhes pouco conhecidos. Vemos o contexto vivenciado na cidade em Marrocos, fatores determinantes para a mudança e os passos que se somaram até a vinda de várias famílias para o Amapá. As informações foram pesquisadas nos três continentes envolvidos, evidenciando-se aspectos históricos, políticos, sociológicos, econômicos, geográficos e culturais do século XVII.
Leitura rica em percepções, descobrimentos e reflexões que podem servir de paralelo no estudo das cidades em fluxo migratório na atualidade, uma das propostas ressaltadas. O autor procura desmistificar muita coisa que se estabeleceu e, à luz dos fatos apresentados, instiga a criticidade em história com episódios impactantes.
Registrando algo mais específico, a Mazagão de Marrocos é apresentada em suas características físicas (onde se destacava a imponência das muralhas que chegavam a 14 metros de altura), a importância como entreposto para Portugal, a instabilidade política e a insatisfação que despertava entre os povos no Marrocos, além do cotidiano estabelecido.
Destaca-se o fato de, na prática, ser uma cidade prisão, onde Portugal enviava exilados e condenados em estratégia política com desfaçatez. Ocorreram episódios de fome e epidemias devido rupturas comerciais, quando Portugal fora atingido por terremoto e sofreu com pressões da Espanha e França, redirecionando o foco político para a colônia brasileira.
Uma das partes mais interessantes está na política de remanejamento, em que os governantes portugueses articularam algo que os exaltava como salvadores e também vencedores da tensão estabelecida na África. Porém, o povo se sentia abandonado e sofria graves consequências com os conflitos crescentes no interior e exterior da cidade.
As estratégias políticas escusas estão presentes também na articulação da vinda para a Amazônia, quando os mazaganenses foram encorajados pelos governantes como soldados da fé e teriam a dádiva de evangelização entre os povos nativos em um novo mundo. 
Algo que nunca tinha ouvido falar: Laurent Vidal relata arbitrariedades contras famílias na vinda para a colônia, que incluiu abusos e assassinatos.
Na chegada ao Brasil o livro tece considerações da passagem por Belém, onde podemos destacar que o remanejamento para Nova Mazagão, ao contrário do que aconteceu nos deslocamentos anteriores, em bloco, dessa fez foi redirecionado em unidades familiares, em uma espera de até sete anos. Transposição feita através de canoas gigantescas, que comportavam cerca de 50 pessoas em trajeto por igarapés que durava em média 10 dias.
A nova localidade logo recebeu status de vila e teve caracterizações peculiares, assumindo outra identidade da Mazagão africana, destacando-se o isolamento, a identidade mestiça, insatisfações e conflitos pelas dificuldades enfrentadas, clima hostil à população desconhecedora da realidade, episódios de fome, fugas em massa de indígenas e escravos afrodescendentes, saída de muitos mazaganenses deixando para trás familiares, declínio crescente pela escassez de mantimentos e enfrentamento de endemias amazônicas. O autor referencia que no século XIX assumiu a identidade quilombola e uma nova cidade assumiu maior importância nas proximidades, Mazagão Novo em 1915, restando a antiga localidade a lembrança como Mazagão Velho.
Na parte final há descrição da Festa de São Tiago, festejo popular na mistura de religiosidade e paganismo. Os principais momentos são citados e as impressões do autor mostram uma valorização ilusória, pois tanto a Mazagão africana, quanto a Mazagão amazônida tiveram histórias de derrotas e declínio, iludidas em política que inflava os ânimos e encobria a realidade através da religiosidade.
Estas e outras informações enriquecem o livro, com ilustrações diversas. 

Percurso das canoas entre Belém e Nova Mazagão (ilustração do livro).


Em Macapá, está disponível para consultas
na Biblioteca Pública Elcy Lacerda
e Biblioteca Ambiental da SEMA.

sexta-feira, 29 de junho de 2018

A biblioteca e o castelo

Que boa surpresa! Encontrei em jornal local, Tribuna Amapaense, referências a este canal. Agradeço as considerações e reproduzo o texto assinado por Leno Callins, editor do blog "Eram os gatos astronautas?". Valeu, amigo!


O desconhecimento que as pessoas que residem em Macapá possuem a respeito da própria cidade é tão grande que já nem me espanto mais com a quantidade de pessoas que nunca colocou os pés na Biblioteca Pública Elcy Lacerda ou desconhece a variedade de museus que Macapá possui.
Pensando nisso, tive a ideia de fazer uma espécie de lista das bibliotecas existentes no Estado e publicá-la no meu blog contendo informações a respeito delas, como horário de funcionamento, endereço e o tipo de acervo. E eis que, durante a minha pesquisa, que ainda não acabou, fiquei surpreso ao descobrir que existe uma biblioteca no prédio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente – SEMA.
Não perdi muito tempo após a descoberta e dei um jeito de passar lá na mesma semana para ver se realmente tinha alguma coisa interessante relacionada à chamada “literatura amapaense”, pois a informação da existência dela veio junto com a de que nela haveria pelo menos um livro de cordel de autor amapaense.
Ao entrar lá, na companhia da minha parceira na diretoria do clube do livro Lítera-Amapá, eu tive novas surpresas: apesar de o ambiente não muito espaçoso em muito lembrar o de uma biblioteca escolar, observa-se uma boa quantidade de livros nas estantes e, o que é melhor, ela conta com um vastíssimo acervo digitalizado, acervo esse que inclui muitas obras da chamada “literatura amapaense” – ou talvez todas elas, eu voltarei lá qualquer dia desses só para ver isso melhor (e com um HD externo, claro).
Outra surpresa foi descobrir que quem cuida de tudo isso é um sujeito chamado Rogério Castelo, o autor do blog chamado “Castelo Roger”, que eu queria conhecer pessoalmente desde que topei acidentalmente com o blog dele anos atrás. Portanto, finalizo este texto com a recomendação de que você, que o está lendo, visite tanto a biblioteca da SEMA, quanto o blog “Castelo Roger” e os indique aos amigos, pois os dois endereços, o físico e o virtual, valem muito a pena.  

(Fonte: Tribuna Amapaense, em 21/06/2018, por Leno Callins)

quarta-feira, 27 de junho de 2018

HISTÓRIA DA ASSEMBLEIA DE DEUS NO AMAPÁ (Revista de EBD)

Há 101 anos nascia a Assembleia de Deus no Amapá, a primeira igreja evangélica amapaense, fundada pela iniciativa pioneira e determinada de um pequeno grupo em 27/06/1917, em culto presidido pelo pastor Manoel José de Matos Caravela. História com desdobramentos abençoados, que servem hoje de inspiração para a congregação estabelecida, estudada em Revista de Escola Dominical no ano passado. A edição é valorosa no resgate histórico, com várias ilustrações do contexto.

Lições estudadas
01) Como tudo começou
02) O poder de uma visita
03) A fundação da igreja no Amapá
04) Os primeiros pastores fixos
05) O 1º templo é construído
06) As décadas da consolidação
07) A caminho do interior
08) A igreja cresce pelos departamentos
09) Os jubileus: Prata, Ouro e Diamante
10) Heróis anônimos
11) O legado da família Alencar
12) A igreja mãe e suas filhas ministeriais
13) A geração do centenário

Na elaboração, a supervisão editorial foi feita pelo Pr. Oton Miranda de Alencar e os comentários pelo Pr. Besaliel Rodrigues, que presidiu uma comissão histórica, entre membros e apoiadores, composta por: Gedielson Oliveira, Áurea Tito, Leiliane Bruce, Kelly Rodrigues, Cláudio Roberto, Carlos Laerte, Mércia Vanessa, Anderson Oliveira, Iaci Pelaes, Gesiel Oliveira, Odete Penafort e Aroldo Vasconcelos.

Mais informações sobre a igreja em