Texto de Edgar Rodrigues publicado no Informativo GEA
(Jornal Participação - Ano 1 - Nº. 6 - Setembro / 2011).
(Jornal Participação - Ano 1 - Nº. 6 - Setembro / 2011).
Livro de Joseli Dias |
O título de "Mãe Luzia" foi-lhe dado pelo coronel Coriolano Jucá, intendente (espécie de prefeito) de Macapá em 1895, que a convidou para trabalhar como parteira, com remuneração de um salário, da Intendência de Macapá.
Também lavadeira, Mãe Luzia passava boa parte do dia curvada sobre a tina de água, nos coradouros (espécie de varais feitos de talas, onde eram colocadas as roupas, após lavadas para serem "coradas" pelo sol equatorial"), manipulando, com maestria, os pesados ferros de engomar que funcionavam pelas brasas de carvão.
Morava no "Formigueiro", localizado atrás da Igreja de São José, e sempre foi visitada pelas autoridades do Amapá, em busca de conselhos, entre elas o próprio governador Janary Nunes.
Morava no "Formigueiro", localizado atrás da Igreja de São José, e sempre foi visitada pelas autoridades do Amapá, em busca de conselhos, entre elas o próprio governador Janary Nunes.
Formigueiro (Foto Biblioteca PMM) |
Foi casada com Francisco Secundino da Silva, um jovem também filho de escravos, que por força política de Mãe Luzia chegou aos postos de comandante da Guarda Nacional e vereador de Macapá. Ao falecer em 1954, seu sepultamento antecedeu um grande cortejo popular pelas pelas principais ruas da cidade, seguido de um luto de três dias nas repartições públicas.
Mãe Luzia inspirou artistas de todas as áreas, que em versos eternizaram sua coragem e dedicação. Entre eles, o de Álvaro da Cunha:
Mãe Luzia(Álvaro da Cunha)Velha, enrugada, cabelos d'algodãoFim de existência atribulada, cujaApoteose é um rol de roupa sujaE a aspereza das barras de sabão.Mãe Luzia! Mãe Preta! Um coraçãoQue através dos milagres de ternuraDa mais rudimentar puericulturaFoi o primeiro doutor da região.Quantas vezes, à luz da lamparina,Na pobreza do catre ou da esteira,Os braços rebentando de canseira,Mãe Luzia era toda a medicina.Na quietude humílima do rostoSulcado de veredas tortuosas,Há um clamor profundo de desgostoE o silêncio das vidas dolorosas.Oh, brônzea estátua da maternidade:Ao te encontrar curvada e seminua,Vejo o folclore antigo da cidadeNa paisagem ancestral da minha rua.
Jornal GEA (Set/2011) |