Encontrei esses dias uma interessante obra para o público estudantil e interessados pela história amapaense: "Rios de Histórias: ensaios de história do Amapá e da Amazônia", de Paulo Cambraia & Sidney Lobato (Editora Multifoco, 2013).
O livro reúne uma série de artigos, publicados no jornal Tribuna Amapaense, que aproximam o leitor do conhecimento historiográfico, em textos resumidos, sem perder o rigor acadêmico na informação. São cinco partes que encontramos na obra, recontando um pouco do cenário amazônico e amapaense desde a ocupação portuguesa. Um relato simples e de leitura facilitada ao público em geral que, desde os primeiros capítulos, se mostra bastante atrativo, como um rio que flui oportunizando conhecimento em toda sua extensão, em cada uma de suas curvas.
Veja aí o Sumário do livro
Parte I: A Conquista do vale Amazônico
- Amazônia fantástica
- Natureza e humanidade na intervenção da Amazônia (séculos XVI-XVIII) - Parte I
- Natureza e humanidade na intervenção da Amazônia (séculos XVI-XVIII) - Parte II
- A epopeia portuguesa na ocupação do vale amazônico
- A conquista do grande rio das amazonas - Parte I
- A conquista do grande rio das amazonas - Parte II
- Sérgio Buarque de Holanda e as raízes do Brasil
- Semeando e ladrilhando: a constituição das cidades na América - Parte I
- Semeando e ladrilhando: a constituição das cidades na América - Parte II
- Semeando e ladrilhando: a constituição das cidades na América - Parte III
- A educação jesuítica na Amazônia colonial
- Da conquista da Foz do Amazonas à fundação de Macapá
Parte II: A Amazônia na Época Pombalina
- Notícias da Fortaleza situada nas terras do Cabo Norte
- Faça a mercê uma patente de capitão para o Valentin
- Trabalho compulsório na Amazônia: a questão da "substituição" do escravo indígena pelo africano (séculos XVII e XVIII) - Parte I
- Trabalho compulsório na Amazônia: a questão da
"substituição" do escravo indígena pelo africano (séculos XVII e XVIII) -
Parte II
- A escravidão negra na Amazônia colonial
- A escravidão indígena na Amazônia colonial
Parte III: A Amazônia Oitocentista
- "Ideias incendiárias": os liberais e o Vintismo na Amazônia (1820-1823) - Parte I
- "Ideias incendiárias": os liberais e o Vintismo na Amazônia (1820-1823) - Parte II
- Movimento cabano sob o olhar dos revisionistas do Sesquicentenário
- Campo negro: urdiduras do controle e da resistência na Amazônia (século XIX)
- Notas sobre o censo de macapá de 1808
- O Contestado, Cabralzinho e além na História do Amapá - Parte I
- O Contestado, Cabralzinho e além na História do Amapá - Parte II
- O Contestado, Cabralzinho e além na História do Amapá - Parte III
- O Contestado, Cabralzinho e além na História do Amapá - Parte IV
- Seringueiros do vale amazônico
- Seringal: contrastes e confrontos na Amazônia (1850-1912)
- A Amazônia belepoqueana
Parte IV: A Amazônia e o Nacional-Desenvolvimentismo
- Ruralização da Amazônia
- Algumas considerações sobre o Relatório de atividades de 1944
- O rio é aqui e acolá
- O regatão da Amazônia
- BR 156 - o sonho que ainda não virou realidade
- Metamorfose do espaço urbano macapaense (o pós-1943)
- A (re)ordenação urbanística de macapá nos anos de 1960
Parte V: Os grandes Projetos e a História Recente da Amazônia
- Fronteira da Modernização: o grande capital e os trabalhadores na Amazônia (1958-1985)
- A ICOMI no Amapá
- O Jari de Ludwig
- Comentário à margem de um capítulo: Ludwig e o "fator amazônico"
- Pobres do Amapá (o pós-1988)
- 2008: Macapá e o carnaval campeão
O texto a seguir foi publicado no jornal Tribuna Amapaense, em 2010, e foi o iniciador da série publicada semanalmente que deu origem a este livro.
Da conquista da foz do Amazonas à fundação de Macapá
(Sidney Lobato e Paulo Cambraia)
(Sidney Lobato e Paulo Cambraia)
Desde a sua chegada à região da foz do rio Amazonas, os portugueses se depararam com diversos grupos indígenas. A presença de numerosos índios da etnia Tucuju no lado esquerdo desta foz levou os lusitanos a denominarem essa área de Terra dos Tucuju. Na Amazônia, desde o século XVI, os povos indígenas foram submetidos ao trabalho de coleta de drogas - especiarias extraídas da floresta como salsaparrilha, canela, cacau, entre outras - e madeira.
A
partir de meados do século XVIII, com a queda do preço das drogas do
sertão no comércio internacional, a economia amazônica foi reorientada
para a produção agrícola. Neste momento, o extrativismo foi identificado
como uma atividade que não engedraria a civilização na região, devido
seus métodos "primitivos". Esta nova orientação econômica foi
efetivada por meio de uma intervenção direta do governo português, que
era então capitaneado pelo Marquês de Pombal. As missões religiosas (de
jesuítas, franciscanos, carmelitas, etc.) foram substituídas por
povoamentos com lideranças leigas sujeitas às ordens do Estado.
Tela de Silvandro Pessoa |
Tratado de Madri |
Em meados do século XVIII, foi criada a Companhia Geral de Comércio do Grão Pará e Maranhão para a organização da produção e comércio regional. Graças à atuação desta Companhia, o fluxo de escravos africanos para a Amazônia aumentou consideravelmente. Estes escravos trabalhavam em atividades agrícolas e em serviços como construções urbanas, estaleiros, hospitais, bandas de música e serviços domésticos. Assim, no início do século XIX, a população da terra dos Tucuju, bem como a de toda a região do Grão-Pará e Maranhão, era etnicamente formada por três grupos: portugueses, indígenas e africanos - sendo os dois últimos dominados e escravizados pelo primeiro.
Não há dúvida de que dentro do sistema de exploração do indígena e do africano houve momentos e espaços para as trocas culturais. Os rigores do meio natural e o apego a valores e hábitos seculares inviabilizaram qualquer projeto de mera europeização dos modos de vida no vale amazônico.
A quem interessar, o livro pode se ser encontrado
em bancas de revistas e livrarias em Macapá.