As postagens desse blog são em caráter informal, de apego ao saber popular, com seu entusiasmo, exageros, ingenuidade, acertos e erros.

quinta-feira, 15 de março de 2012

BAIRROS DE MACAPÁ: Pedrinhas (Parte 2 - O Canal das Pedrinhas)

O Canal do Beirol é responsável pela drenagem de uma área urbana, em Macapá, que passa pelos bairros: Centro, Trem, Jardim Equatorial, Muca, Beirol, Buritizal e Santa Rita.
Mapa: GEA
Tem início na Av. Ataíde Teive (entre as Ruas Hildemar Maia e a Rua Professor Tostes) e se prolonga até a Rodovia JK, onde forma uma bacia de acumulação. Ao todo tem pouco mais de 4 km (somando-se o trecho Beirol-Pedrinhas).

Bacia de acumulação nas proximidades da Rodovia JK. 
O local está ocupado por vegetação aquática (aguapés e aningas), com entorno urbanizado e mureta de proteção ao redor da bacia (destruída em vários pontos).
Praça entre a bacia de acumulação e Rodovia JK.
 Certamente, é evidente que precisa de reparos.
Alguns moradores acreditam que a retirada de toda esta vegetação ou aterramento da área são as melhores soluções em relação a bacia. Muitos queixam-se de ser refúgio para a bandidagem. Entretanto, entre as  importâncias das bacias, está a de receberem as águas da chuva e as direcionarem para os canais, lançando-as no rio Amazonas. Sua destruição implicará em enchentes na temporada chuvosa, por serem os escoadouros naturais destas águas. A queixa dos moradores não se resolve no plano ambiental e sim na esfera da administração e segurança pública. 
O canal precisa de limpeza periódica
para facilitar o fluxo das águas e evitar acúmulo de resíduos.
Sem a colaboração da comunidade e ação presente da governança, 
as coisas não mudarão.
"Recado das crianças" - Desenho da Educadora Ambiental
 e grande artista, colaboradora do blog, Isabelly

As vegetações ciliares protegem o solo 
do impacto da chuva, da erosão e, consequentemente, 
do assoreamento dos corpos hídricos.
Deste ponto em diante, pós Rodovia JK, o canal torna-se navegável (na maré alta) e passa a ser denominado Canal ou Igarapé das Pedrinhas.
Canal das Pedrinhas (Google Maps)
No dia 03/03/2012 percorri o canal, junto com meu amigo Dimas (historiador), da Rodovia JK até a foz, pelo lado direito. As imagens e impressões que tive estão aqui postadas.
Acredito que o termo "igarapé" já não se adequa à esta realidade, caracterizada por margens densamente ocupadas por moradias (em sua maioria em condições precárias), com retirada da vegetação ciliar e condições de saneamento básico ausentes.
"Uma imagem vale mais que mil palavras"
As madeireiras ocupam as margens...
...numa competição constante, ...
...vendendo as "florestas de outrora", ...
...provenientes das ilhas do Pará e interiores do Amapá, sendo a grande parte de origem clandestina e irregular.
 A intensificação na fiscalização ambiental pelos orgãos competentes tem feito (segundo relatos) muitos procurarem outros rumos em negócios, porém, é só uma ponta do iceberg. O problema maior está na origem da extração de toda essa madeira (angelim, cedro, macacaúba...). Ambientalmente falando, as coisas ficarão ainda piores, para benefícios dos desmatadores,  com a aprovação do Novo Código Ambiental Brasileiro, que vai permitir a redução e consequente exploração do que é hoje parte integrante das áreas protegidas (se hoje clandestina, amanhã escancarada sem freios)Será que foram os madeireiros os redatores desta lei? O Amapá é o estado brasileiro que mais vai ser penalizado devido ser o que tem o maior percentual de áreas protegidas. Olha gente, poderão ser reduzidas pela metade!!!!
É meu Amapá... cresceram os olhos para cima de tuas riquezas 
e a tudo que até aqui se preservou.
Desenvolvimento Sustentável deveria ser a palavra de ordem mundial neste novo século. Com a hegemonia de uma nova potência mundial - China - parece que o desenvolvimento está se abrigando debaixo das asas de um novo modelo de exploração, o do engrandecimento a todo custo.
Aqui os ambientalistas não estão nada satisfeitos com estas decisões sobre os rumos de cá.
Veja AQUI
Reportagem da TV-AP no Programa "Amazônia TV", em 07/03/2012, mostrando um ato público no Monumento Marco Zero, organizado por orgãos e ongs ambientais. A reportagem é de Evandro Luiz e as imagens de Rômulo Castanheo.
Nota: Em 25/05/2012 a presidente Dilma vetou partes deste código. Foram 12 artigos vetados e 32 alterações. Vamos acompanhar o desenrolar da situação e se informar nos noticiários pessoal. São rumos importantes e decisivos para o meio ambiente deste país.
Mais imagens do Canal das Pedrinhas
Boa parte das casas são assim, moradias na parte superior e madeireiras no térreo.
 
Dos anos 90 para cá que o crescimento populacional começou a se evidenciar no local. Houve muita migração. Foram buscas de oportunidades (em um estado recém formado), motivadas também por histórias que se divulgavam, como a da formação de uma nova zona franca. Nas Pedrinhas formou-se um comércio de pessoas que viram na exploração madeireira uma oportunidade de desenvolvimento econômico. Muita gente vinda do interior enveredou por isso.
 
Encontramos muitos cães de rua. Caçadores, para sua sobrevivência... Esse aí pegou um pequeno camaleão, se arriscando na frente de carros. Outro veio e roubou... e eu só pensando: aqui muita coisa parece ser sem dono, tem bicho assim, muito lixo também... lugar onde muita gente acredita que pode fazer de tudo e a governança nada.
 
 
Da metade do canal para frente é que vemos algum local com vegetação ciliar, que também são usados para despejo de lixo.
 Antes da ponte das Pedrinhas só navegam pequenas embarcações, na maré alta.
  
Muita gente acredita que com a maré alta "não tem problemas tomar banho nas águas do canal, pois as águas vem do rio Amazonas" (palavras de um morador). As águas são muito poluídas, lá no trecho do Beirol dá para encontrar até fossas sendo despejadas no canal.
 Por onde se anda é aquela barulheira característica de madeireiras. 
Vrrrrrrrrreeeeeiimmm....eieeiim....eeeiiiimmmmmm!!!
 
 
 Tá precisando de um carro novo?
Ninguém quer saber deste... Nem do lixo gerado.
Aonde não tem madeireira é que a rua está um pouco melhor... Também, com o trânsito diário e contínuo de caminhões não dá para permanecer muita coisa em boas condições né...
 
E o mato começou a cresceeeer, a cresceeer, a cresceeeer!
E o mato começou a crescer, a cres-cer!
Açaí R$ 6,00
 
 Sem a maré alta tá tudo encalhado, 
que nem as benfeitorias públicas.
 
 
 Mais madeireiras! É uma do lado da outra.
 
 O lixo é de todo mundo e também de ninguém!
Exemplo de despejo de dejetos no canal. 
Cuidado! Tá arriscado varar aí com as coisas e tudo.
 
Ah! A Ponte das Pedrinhas. Esse local não corta apenas o canal. Ela marca também o rumo de negócios. Antes dela as madeireiras ocupam totalmente as margens direita e esquerda e, como disse, vemos pouca vegetação. Depois dela já não tem muita madeireira, só algumas pelo lado esquerdo de quem se desloca rumo a foz. Desse ponto em diante vemos as embarcações maiores que fazem linha para os interiores (como Portel e Breves). Encontramos oficinas de barcos (sei lá o nome que se dá!!!...também não é estaleiro....) pela margem direita rumo a foz. Vi carpinteiros navais consertando o casco de suas embarcações e outros construindo.
Essa via que passa pela ponte é a Avenida Equatorial. Ela é também cortada (longitudinalmente) pela linha do Equador. Olha lá o Monumento Marco Zero alinhado no fundo! Os turistas estão lá e o descaso nos lados de cá! Era para ser (e há projetos) uma via turística. Mas não nestas condições. O bairro precisa de melhor infraestrutura.
Avenida Equatorial em visão de cima do Monumento Marco Zero.
Essa imagem tem um quê de carga sendo transmitida 
que não consegui transformar em palavras no momento. 
O Gregor Samsa, autor desta e das outras, me disse que tirou a foto de cima da ponte.
A vegetação, pós-ponte, também começa a aparecer de forma mais viçosa. As árvores já tem algum espaço nas margens.
 Isso tudo aqui já foi um bonito curso d'água.
OOOlha a farinha! Quem vai quereeeer? Farinha torradinha do interioooor!!
Como disse, os barcos que fazem linha para os interiores estão depois da ponte.
 
 ...E de novo o lixo de todo mundo e de ninguém!
 
 Não notas mais vegetação?
 Sim... Sim...
De fato vejo! Depois da ponte as árvores aparecem com mais frequência.
 
 E os barcos ocupam mais espaço. Esta é uma das tais oficinas de reparo.
As casas também já não são encontradas, em sua maioria, como aquelas na porção inicial do canal (que são como palafitas na margem)
 
Toda vegetação ciliar deveria ser preservada.
Rapaz!!! E os ilustríssimos deputados que votaram pelo novo código ambiental queriam reduzir a importância prática destas áreas.
 
 
 Verde, que te quero ver!!!
 
Brota aninga!!! Tudo isso aqui já foi domínio teu.
 Mais uma oficina de reparo de barcos.
 Esse batelão tá sendo construído.
Ah! Não lembro o motivo de fotografar essa madeira... Queria dizer alguma besteira, mas já não lembro. Ela está sendo usada na construção de barco.
 Isso aqui já é quase o final da rua (rumo à foz) pela margem direita.
 .... Também é cemitério de embarcações.
 Comandante Samsa para a tripulação... Barco saindo rumo à insanidade.
 
Esse já foi um posto de fiscalização de embarcações. Ainda tem vigilante... para não deixar que roubem o resto da estrutura.
 Olha Caroline! Tem um barco com teu nome!
 
Agora me diz se a mata ciliar não faz uma diferença nos rios...
Então vamos preservar!!!
 Deveriam mudar também os péssimos hábitos de muitos em jogar o lixo em qualquer canto. O canal vem recebendo lixo desde onde inicia.
Olha um exemplo a seguir:

 
Essa 03 fotos acima são do Canal do Beirol. Sou ruim de cálculos, mas vou dizer que o trecho mostrado está - mais ou menos - 1,5 km antes do ponto da foto a seguir,  no Canal das Pedrinhas (sei lá!!! se quiser vá lá e faça sua pesquisa, que isto são só observações). A água estava negra e fétida. Não é por causa da sombra e sim por mostrar despejo de fossa no canal.
 "Não quero luxo nem lixo Quero saúde pra gozar no final"
(Rita Lee)
Vejo terrenos e casas em melhores condições. 
 
 
 E já vou remando pra foz... 
Rapaz, essa foi uma caminhada em um sábado de tarde.
Fui eu e o Dimas, um historiador que vai lançar uma revista sobre o Amapá.
Será uma preguiça trepada na árvore? Ei tonto desce daí!!!! 
E no é que é o Gregor Samsa!!!
Buscava um ângulo melhor para fotografar a foz.
 
 
 Olha, perto daqui tem uma bacia de coleta de esgoto de Macapá.
 
 ... A foz, em visão pela margem direita.
Não dá para ter acesso caminhando, só pelo rio ou... se tiver seco... metendo o pé na lama da margem. Isso não é aconselhável. As águas estão muito poluídas!
 Vejo alguém vindo.
 Sim... Duas moças.
 Oh mocinhas, não entrem aí!!!
 Essa é uma realidade cotidiana.
"A ignorância protege de algumas verdades, a alienação poupa por um tempo e as defesas apenas adiam as dores. Só a verdade revela, esclarece, cura e salva."
(Aurélia Vasconcelos)
 
Tem lixo de moradores... mas e esse maquinário? quem foi o responsável pelo descarte?
 Isso não é lixo de morador qualquer.
Ah! Encontrei uma sede de retiro evangélico! Parece que teve origens em uma missão internacional relacionada com o trabalho de médicos, foi isso que falaram. Vieram já uns médicos que muito impressionaram (isso é relato de moradores) pela forma como atuaram com os doentes. Muitos alcançaram êxito em moléstias de anos. Mas eu não sei muito mais que isso, o Dimas é que ficou por lá entrevistando e sabe mais. Talvez saia em umas de suas revistas uma reportagem. Deste ponto em diante nos separamos. Ele ficou lá e eu segui fotografando.
 Aqui já estou retornando (margem direita)
 Entra aí pra te ver....
São imagens pela margem esquerda, inverti o trajeto na ponte. As mesmas observações feitas anteriormente se aplicam aqui também. Da rodovia até a ponte são a mesma coisa (Cheias de madeireiras, com pouca vegetação e com a presença de palafitas). Na ponte é que muda alguma coisa. Tem algumas madeireiras pelo lado esquerdo, menos vegetação e menos oficinas de reparo de barcos. O lado direito é o inverso disso (isso considerando-se o sentido rumo a foz).
Imagens do lado esquerdo rumo a foz.
 
 
 
 
 
 
Fim... Saída. Faltou registrar melhor a foz e o canal na maré alta. 
Mas isso é para outro dia...
 
Canal das Pedrinhas em Macapá. 
Senhores governantes, se não der para ir lá, enviem as melhorias a esse povo carente de suas intervenções. O município tem agora mais vereadores, que lutaram para aumentar (e conseguiram... neste ano de eleição) de 16 para 23 o número. Lutem pelas causas daqui também (asfalto, saneamento, segurança, escola, etc... enfim, melhorias na infraestrutura).
Essa é uma Macapá que pode e deve ser melhorada.
Veja também o link: